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‘ee aoa ‘Amigracio e suas teorias. Grupos de cagadores e coletores no Brasil Comunidades litordneas e sambaquis. Aagriculture nna Amaz6nia. Fontes de pes: N ove, Mark ree Abist6ria dos seres humanos na chama- dda Pré-Histéria € feita de longas caminha- das e migragbes.Partindo da Africa, eles se dirigiram para a Europa e para a Asia. Da Asia, povoaram a Oceania e a América, ‘Até hoje no hé consenso sobre como e quando a América foi povoada. Os espe- cialistas no assunto levantam varias hip6- teses, muitas vezes divergentes. Os métodos utilizados pelos estudio- sos para fundamentar suas teorias S80 diversos. Alguns se baseiam na andlise de material genético dos povos asiéticos € indigenas. Outros realizam comparacdes entre tipos de cranios de diversas popula ges ou, ainda, analisam vestigios mate- riais, como restos de fogueira, pontas de lanca e pinturas rupestres. Esses métodos = Relacionando mapa e texto, responda 41. Como os especialistas deduzem a origem dos antepassados do homem americano? 2. Por que hi tantas hipSteses sobre essa ori 3. De acordo com o mapa acima, descreva os pioneiros de seres humanos até a América | uma teoria de migracdo dos grupos humanos para a América np Sto Palo 182, ab 2011 veges OF Ho. Amencas i: Nowa Mion, Rio de ano, n.22, 999-200 variados abrem um amplo leque de possi- bilidades e permitem formular méltiplas hipoteses para as mesmas questoes. (0 mapa acima mostra a hip6tese dos ‘arqueslogos Walter Neves e Mark Hubbe, baseada em comparacdes de formas e tamanhos de crénios dos seres humanos que se estabeleceram na América. Para 05 dois estudiosos, 2 América foi povoa- da em duas grandes migragoes: a primei- +a, hd cerca de 14 mil anos, de povos com tragos fisicos africanos e australianos, ¢ a segunda, hé pouco mais de 11 mil anos, de povos com tracos mongoloides, isto € com caracteristicas semelhantes 3s dos asisticos atuais. As duas migracoes ocorreram pelo estreito de Bering, entre a Asia ea América, ~’ eooooeore CHAE on-acdaar ep igem? aminhos percorridos pelos grupos Asmuitasteorias A idade dos fésseis humanos encontrados nna América comprova que o nosso continen- te foi o tltimo a ser ocupado pela especie humana. Os especialistas sobre a Pré-Hist6- ria da América defendem teorias diferentes a respeito do caminho percorrido na povoa ao do continente > Pelo estreito de Bering AAteoria mais tradicional defende a hipo- tese de que grupos humanos da Asia migra ram para a América pelo estreito de Bering, ‘Alulmente, oestreto ¢ um canal martimo aso de 85 quilometros de largura que sepa- rao Alasca estadunidense da Sibéria asiatica. No entanto, na ultima glaciagao (entre 80 e 12 mil anos atras) houve diminuicao do nivel do mar. Como resultado, oestreito transformou-se em um istmo, possibiltan- do a passagem a pé da Asia para a América. > Através do oceano Pacifico Alem da passagem pelo estreito de Bering, alguns estudiosos sugerem que a ocupagao dda América foi feta também pelo ocean Pa- ‘fico. Os humanos teriam navegado em ca- noas desde as ilhas da Polinésia,atingindo a costa oeste da América do Sul A. arquedloga brasileira Niéde Guidon defende esse trajeto e também acredita que essa longa viagem ocorreu ha mais de 40 mil anos. Datas to remotas geraram muita dis- cussio entre os especialisias, Em oposicio a essa hipétese, alguns cientistas enfticam a li- ritacio tecnolégica para navegar longas dis- tancias na época, além da inexistencia de fos- seis humanos que comprovem a data > Acultura de Clévis ‘As primeiras teorias de ocupagio da América surgiram apds escavagdes em um sitio arqueolégico encontrado na década de 1920, proximo a cidade de Clovis, na re sitio do Novo México, nos Estados Unidos ‘Com base em testes de carbono 14 em artefatos encontrados no local, arqued- logos. estadunidenses desenvolveram a teoria que se tornou clissica para explicar povoamento da América A cultura de Clovis teria surgido coma migragdo pelo estreito de Bering ha cerca de 12 mil anos. Partindo do Alasca, os huma- nos teriam iniciado 0 povoamento da Amé rica, migrando cada vez mais para o sul sitios arqueol6gicos mais ant POS FES & Segundo essa teoria, a América do Sul foi povoada milhares de anos apos a ocupa- glo dos territorios do norte. > Ocupacao antes de Clovis Pesquisas atuais indicam que os seres hu- manos chegaram & América em um periodo anterior & cultura de Clovis. Descobertas arqueologicas como as do st- tio de Taima-Taima, na Venezuela, anteci- pam a data da ocupacio humana em nosso continente para cerca ce 15 mil anos. Em Monte Verde, no Chile, existem provas dda presenga humana hi 12300 anos, 0 que significa que a travessia do estreito de Bering ccorreu antes da chegadla do povo de Clovis. No Brasil, a presenca humana pode ser estudada nos sitios arqueologicos de Pedra Pintada, no Para. Ness sitios foram encon- trados vestigios da ocupagdo humana nas re- sides da floresta Amazonica ha 11 300 anos. ‘Além dos sitios de Pedra Pintada, ha ou- tuos sitios arqueolégicos importantes des- cobertos no Brasil. Entre eles, os de Lagoa Santa e Lapa Vermelha, em Minas Gerais € 0s sitios do Parque Nacional da Serra da Capivara, em Sao Raimundo Nonato, no interior do Piaut Ponte de leche produzida pela cultura fe Clovis, 12000 a. Trate-se de um objeto de pedralascada sto £1 feito por melo do atrte de pedras, bordes irregulares do instrumento 39 Capitulo 2 «0s seres humanos povoam a América Os primeiros grupos humanos que povoaram 0 que hoje corresponde a0 teritério do Brasil eam cacadores e coletores nomades, Esses gru- pos desenvolveram diferentes técnicas a0 longo do tempo, como langas ¢ flechas com pontas de peda e rtuais funeririos proprios. Atualmente, esto identificados cera de 20 mil sitios arqueologicos no Brasil, contendo sepulturas, pinturas rupestres, restos de habitagdes e utensilios diversos. > Os estudos sobre a Pré-Hist6ria brasileira comegaram com o natura. lista dinamarqués Peter Lund, que pesquisou as cavernas proximas a re- gido de Lagoa Santa, em Minas Gerais, por volta de 1835. Lund encontrou fosseis de animais da chamada megafauna, como tigres-dentes-de-sabre e preguicas-gigantes, Além dos fosseis animais, 0 AAs descobertas de Peter Lund serviram de base para pesquisas mais aprofundadas realizadas em Lagoa Santa, em 1975, por uma equipe in- ternacional de arqueslogos. (© material recolhido por eles fot estudado anos depois pelo arquec: logo Walter Neves, que descobriu, entre 05 esqueletos, o cranio de uma mulher. A descoberta recebeu do pesquisador o nome de Luzia. Andli- ses comprovaram que Luzia viveu cerca de 11.680 anos atris. E 0 fossil humano mais antigo da América Luzia, assim como outros esqueletos datados entre 11500 e 11 mil anos atras, possui 0 crinio com formato semelhante a0 dos povos africanos ¢ dos aborigenes australianos atuais. Os esqueletos mais recentes, com cerca de 8 mil anos, tém tragos semelhantes aos dos atuais povos asidticos. ‘Walter Neves ja trabalhava sobre a hipotese de que a América havia sido povoada inicialmente por um grupo humano vindo da Asia, porém com tragos dos atuais africanos. Posteriormente, uma nova migragao te- ria sido feta por grupos com tracos orientais (mongoloides). A descoberta de Luzia reforgou a hipotese de Walter Neves, explicada rno quadro Ligando os pontos. > Segundo a arquesloga brasileira Nié- de Guidon, no sitio arqueologico do Bo- queirao da Pedra Furada, na Serra da Capivara, no estado do Piaut, foram en: contrados restos de fogueiras produzi- das por seres humanos ha 48 mil anos Muitos arquedlogos discordam de Gut don. Argumentam que o carvao encontra do € resto de um incendio natura 4% ic No Parque Nacional da Seva da IR Copivara (A) encontram-e at mas antigos pinta apestres 6 Bra ddeclarodas Patrimonio Cultural da Humanidade, Para entender as pinturas rupestres, (0s estudiosos pesquisam a simbologia {dos grafismos, o local onde foram fel- tos ea sociedade que os produziu. s arqueslogos contam ainda com ‘© auxflio de quimicos para analisar a ‘composic4o das tintas utilizadas nes- as pinturas. Pela analise quimica dos pigmen- tos, € possivel identificar os tipos de rminérios, de plantas e até mesmo de animais (por meio de restos de oss0s Carbonizados, usados para a obtenca0 da cor preta) empregados pelos paleo- {ndios. € mais um recurso no esforco de entender como essas pessoas viviam e seu grau de dominio sobre o ambiente sua volta. No futuro, quando 0s historiadores estudarem a sociedade do inicio do século XXI, 0s quimicos podergo aju- dé-los definindo, por exemplo, a com- pposig0 quimica de nossos alimentos industrializados. 4.Voc® costuma ler os rétulos dos ali- mentos industrializados (biscoitos, doces, sucos, refrigerantes, etc.) ue cconsome? Forme grupos com seus colegas. Cada grupo deve escolher um ali mento industrializado e anotar a omposig§o quimica informada na embalagem, fazer uma pesquisa so- bre afungao de cada ingrediente e re lacionar 0 que descobriu com 0 estilo de vida da sociedade atual. Bi 0s povos dos sambaquis Ha cerca de 8 mil anos, grupos coletores e cacadores se instalaram ao longo do litoral do territ6rio que hoje constitui 0 Brasil. Em contato com o mar, esses povos se especializaram na pesca e na coleta de moluscos (ostras, mariscos, mexilhdes, etc). A proximidade entre a costa e as zonas de floresta permitia, porém, que esses povos pescadores continuas- sem a cacar € a coletar sementes, frutas ¢ ratzes. Como resultado, a oferta estavel ¢ farta de alimen- to propiciou a formacio de comunidades sedentarias Algumas delas ocupariam a mesma Area por séculos. A principal caracteristica dessas comunidades lito- rineas € a formacto de sambaquis, Os sambaquis sto aterros elevados compostos basicamente de conchas de moluscos acumuladas ao longo de muito tempo. > Povos ligados a agua Os sambaquieiros espalharam-se por grande parte do litoral teste da América do Sul, entre os atuais estados do Para de Santa Catarina Alguns sambaquis estao situados nas margens de ios, caso do rio Ribeira de Iguape, no sul do atual esta- do de Sto Paulo, do rio Amazonas. ‘Contudo, os maiores sambaquis encontram-se no i toral do estado de Santa Catarina, onde alguns montes de conchas atingem 30 metros de altura (0 equivalente a um edificio de dez pavimentos). > A fungao dos sambaquis Durante algum tempo, os estudiosos acreditaram que esses montes de conchas funcionavam como simples de- Pésitos de lixo. Pesquisas recentes indicam, porém, que os samba- quis eram formados intencionalmente ¢ tinham fun- ao ritual Os arquedlogos ainda nao conhecem com exatidao todas as fungdes dos sambaquis. Mas 0 grande niimero de sepultamentos ali realizados indica que uma dessas fungoes era servir como cemiterio, Adornos como colares de dentes de tubarao, utenst- lios do cotidiano, pequenas estatuas e assos de animais ram enterrados com os corpos. Nos sambaquis ha também sinais de fogueiras. Pos- sivelmente eram realizados rituais funerarios usando fogo,"como o preparo de refeigdes em homenagem aos ancestrais mortos. > Acultura dos povos sambaquieiros s povos sambaquieiros tinham uma cultura mate: rial muito variada. Eles produziam pequenas esculturas de pedra ou 050, em forma de animais, chamadas zo6lites (do gre g0 z00, “animal”, e lis, “pedra”), ‘Alem de estatuas, fabricavam utensflios como macha- dos e facas com pedras finamente polidas. Para a pesca, criavam arpdes com ossos de animais ¢ teciam redes com fibras vegetais Alem das esculturas, os sambaquieiros faziam ins- cricdes em pedras. Algumas dessas inscrigdes foram realizadas em ilhas distantes da costa. Tudo indica, por- tanto, que os povos dos sambaquis utilizavam barcos para viajar pelo litoral e pescar. > O fim dos sambaquis Os sambaquieiros acumularam montes de conchas para enterrar seus mortos por mais de 7 mil anos. Por volta do ano 1000, porém, os sambaquis foram abandonados. Com eles desapareceram também a pro- dugao de zoolitos e arpoes de osso, a pesca intensiva € outras manifestagdes culturais dos antigos povos do litoral Os pesquisadores nao sabem 0 que causou o fim da cultura sambaquieira. O que se sabe € que, 2500 anos atrds, as regides antes dominadas pelos sambaquieiros comegaram a ser ocupadas por um povo guerreiro vin- do da Amazonia: os tupis. odio encontrado em Ssambagui da regio de Flriandpolis, Santa Catarina Os zodlitos fazem parte das fontes materials, ‘que woct estudou no item As fonts da Histéria no Capitulo O tempo humano, Navegue ml Acultura marajoara Entre os séculos V e XV, na rea leste da itha de Maraj6, as margens do rio Amazo- nas, floresceu a cultura marajoara Da mesma maneira que outras culturas agricolas amazonicas, a cultura marajoara abrangia uma numerosa populagio seden- taria. Os marajoaras certamente obtinham grande quantidade de alimento, seja pela caca e pesca abundantes na regido, seja pela agricultura, baseada na mandioca no arroz selvagem. A grande disponibilidade de alimento permitia que algumas pessoas se dedicas- sem a tarefas especializadas, como 0 culto religioso e a produgao de ceramica, A cera- mica marajoara € variada, com complexos padroes de decoracto. > Cacicados e tesos Alem de profissdes especializadas, havia também um governo forte que impuniha suas decisées aos habitantes das aldeias. Esse sis- tema de poder € conhecido como eacicado. Os caciques marajoaras eram fortes 0 bastante para unir a populacao em torno de ‘um grande trabalho comunitario, 0 teso. O artesanato marajoara Os povos agricolas da Amazénia Os tesos eram grandes aterros feitos de argila que mediam até 12 metros de altura Cequivalente a um edificio de quatro pavi- rmentos). Eram formados para servir de base as casas e sepulturas marajoaras, que dessa forma ficavam a salvo das cheias que anual: mente atingem a illa de Maraj. > Uma rede de trocas AA sociedade marajoara ndo vivia isolada na foz do tio Amazonas. Pesquisas arqueologicas recentes indicam ter havido extensa rede de trocas entre as varias sociedades amazonicas. Exemplares da ceramica marajoara foram encontrados em locais distantes, como o rio Tapajés. Por outro lado, escavacdes na ilha de Marajé localizaram machados, martelos, moedores ¢ esculturas elaborados com pe- ras retiradas de regides longinquas. Povos agricolas da Amazénia ~ séculos V-VII Capito 20 0s sere hummnos povoan 2 América (O interesse pela cerdmica antiga dailha de Marajé cresceu no decorrer do século XX. Foi cria cdo um mercado de antiguidades marajoaras, o que contribuiu para o saque de muitos tesos, s atuais moradores das proximidades dailha de Marajé descobriram uma maneira de resga’ tara milenar tradigdo ceramista local e, com isso, conseguir também uma nova fonte de renda. Tudo comecou com o arteso Raimundo Saraiva Cardoso, o mestre Cardoso, Na década de 1960, ele se mudou para Icoaraci, um distrito da cidade de Belém, capital do Pars. Nesse po- voado jé funcionave um ndcleo ceramista, para o qual mestre Cardoso trouxe o conhecimento necessério para imitar a ceramica marajoara antiga Com o passar dos anos, Icoaraci tornou-se grande polo produtor de réplicas das antigas cceramicas marajoaras. Sa pecas feitas com materiais e técnicas muito semelhantes aos usados hé séculos. Essa atividade divulga a cultura marajoara sem provocar a destruigdo dos sitios arqueolégicos. Atualmente, 0s ceramistas de Icoaraci produzem também uma cerdmica original. 4,Debata com seus colegas: como conciliar a preservagao do patriménio com a explorago turfstica e comercial das cultures passadas? Fonte depesqis: Als popficoedar Ri de Jani: IBGE, 2009p. 157 tela =] Mara: arqueotogia, ‘conografia,histéria. € patrimonio, de Denise Pat Schaan Sto Paulo: Habis, 2008, Ow apresents textos sobre opassado Nareg atual cidade de Santa- ao do rio Tapajés, onde se encontra como cultura tapajénica ou cultura Santarém, (Os tapajonicos viveram entre os séculos X e XVII. Eram agricultores Amica de alta qualidade As cerdmicas tapajOnicas mais conhecidas tém forma de vasos de gargalo cde cariatides, e de pratos decorados. Esse povo produzia também os mut raquitis, amuletas em forma de sapo esculpicios em pedra verde cxistiu uma importante sociedade paleoindia conhecida ¢, assim como os marajoaras, produziram Vaso de ceramica com estatuetas ooméificase antropomérfcas Produzir uma ceramica to elaborada exigia profissionais espe- cializados, o que indica a existéncia de uma sociedade com grupos diferenciados. Exemplares da ceramica tapajonica foram encontrados a mais de 100 quilometros de Santarém, demonstrando que essa sociedade man- tinha trocas com seus vizinhos, exportando produtos de sua cultura © crescimento urbano da cidade de Santarém destruiu grande parte desse importante sitio arqueologico da cultura tapajOnica, de modo que muitas informacées sobre esse povo se perderam. No en- tanto, as pesquisas continuam. > Recentemente, arque6logos identificaram no Alto Xingu, centro do estado do Mato Grosso, uma cultura com caractertsticas urbanas. Es- ses paleoindios teriam ocupado a regio entre os séculos XIII e XVIL Trata-se de um sistema de grandes vilas, que contavam entre oito- centos e mil habitantes, cercadas por um conjunto de aldeias menores, ccom cerca de 250 pessoas. Cada niicleo populacional era organizado em toro de grandes pracas e cercado por foss0s escavados possiv mente com fi A base da alimentacdo era a mandioca, Mas havia também tanques € represas, possivelmente para a criacio de peixes etartarugas Um dos aspectos mais originais desse sistema urbano sto as estradas. Pesquisas arqueologicas detectaram 0 que seria uma rede de estradas — retas ¢ largas ~ que ligariam as vilase aldeias a centros cerimoniais. defensivos. Tanto as estradas como as aldeias eram orientadas com base em po- astronomicas, 0 que indicaria um planejamento cuidadoso. rar ‘A Amazénia das tribos “primitivas” As culturas amazonicas comegaram a ser estudadas por arquedtogos dos Estados Unidos na década de 1940. O principal desses estudos foi ela- borado pela arquebloga Betty Meggers, em 1946. A ideia de Meggers esta ba seada no determinismo geografico: 8 floresta, excessivamente quente, limi dae fechada, dificultariaa vida de seus habitantes. A atividade agricola seria quase impossivel Lutando com dificuldade para so- breviver, 0 paleofndio amazénico es taria condenado a formar grupos seminémades e nao teria condicées de criar uma sociedade complexa, Meggers explicava a existincia da cerémica da ihe de Marajé com um argumento curioso: 0s marajoaras se riam migrantes vindos dos Andes, do tados de uma cultura “superior” Em contato com afloresta, porém, pouco a pouco os marajoaras teriam se degenerado, regredindo para o “primitivismo” Atese de que a floresta impedia o desenvolvimento das culturas huma- nas comecou a ser negada de forma mais firme nos anos 1980, por outra ‘arquedloga dos Estados Unidos: Anna Roosevelt. Atualmente, as ideias de Roosevelt so aceitas por grande parte dos pesquisadores. Durante muitos anos, os defensores do determinismo geografico acredita ram que os paises tropicals, incluindo © Brasil, nunca seriam industrializa dos. Para eles, a industria s6 poderia prosperar nas regides de clima fri. 1.Vocé conhece alguma ideia deter rminista em relacdo a pessoas vin- das de pafses ou regides de clima (quente? Trata-se de uma ideia post tiva ou negativa? Discute com seus colegas alguns exemplos de deter- minismo geografico e como isso pode alimentar preconceitos raciais e regionais, 43 PS Cui Cyr) Técnica e revolucao agricola Os historiadores muitas vezes usam os conhecimentos prod ciencias para entender o passado A Sociologia, por exemplo, analisa as relacdes entre os humanos e suas formas de organizacio. A Biologia estuda os seres vivos € ajuda a compreender a intera- ‘do das pesssoas com a natureza, seus esforcos de adaptacao a diversos meios € 0s, efeitos dessas agdes jos por outras A domesticacao de animais e plantas Como aconteceu a partir de 10 mil anos atras, com 0 inicio da revoluglo | agricola neolitca, essa transformacio, realizada a0 longo de séculos, permitin 0 avanco de sociedades que viviam da predacao ou coleta de recursos naturais para outra etapa historica. Nesse novo estagio, tais sociedades passaram a de- pender principalmente dos produtos de cultivos ¢ criagdes ~ de plantas € ani mais que domesticaram. A revolucao agricola neolitica irradiou-se p: de seis centros, localizados em varios continentes: 0 centro do oriente-proximo, © centro-americano, 0 chinés, o neo-guineense, 0 s ricano. Um passo fundamental na diregio da revolugdo agricola foi a descoberta da importancia das sementes para 0 cultivo de graos e outras espécies vegetais. Conhecendo a ligacio entre semente ¢ ve passou a guardar para 0 cultivo os graos que the pareciam mais promissores € bonitos. Nascia, assim, de maneira empirica, a técnica de melhoramento de plantas, que imita os processos da evolugao natural ande parte do mundo a partir mericano € © norte-am Regides de domesticacio de animaise plantas ae ly: ee ie “aeaarnonco ey se, Als mundo atu, So Paulo: Au, 2003p. 10-11 ¢ arctan no mundo do Neolic risecontemporine. Fores de pesguse Mazen, March Rot da Une ‘Apés a revolucao agricola, os ganhos de producio e produtividade da agrope- cudria tiveram importante desdobramento na propria estrutura social: “[.. con- dicionaram o aumento do ntimero de homens ¢ o desenvolvimento de categorias socials que nao produziam elas proprias sua alimentagao” (Mazover € Rous. Historia das agriculturas no mundo. p. 52). [No século XIX [..J com a des- coberta das regras da genética, métodos racionais de melhora mento genético comeraram a ser utilizados pelos geneticistas em plantas cultivadas, animais do mésticos e microrganismos titeis Ld Complexos sistemas de cru- zamentos [..J, associados a dife- rentes métodos de selegéo, sio utilizados quando os genes de in teresse localizam-se em diferentes individuos de uma mesma espé cie que se deseja melhorar geneti- camente. Tomemos um exemplo: dentro de uma mesma espécie como Zea mays (0 milho culti vado) podem existir plantas resistentes a determinada doenca, mas de baixa _Omiho, que em tpi significa produtividade, ao lado de outras sensiveis a mesma doenca, mas de alta produ- Hat, € um ceteal de origem, tividade. Nesse caso, um programa de melhoramento genético pode combinar —¢tlindria de dverses paves. a caracterfstcas favoraveis de cada uma ~ resistencia e alta produtividade -, Segundo estos genetics. esse produzindo assim um milho geneticamente melhorado. cera tem aproximadamenie especies, que apresertam ‘amon de grd0s vores. E nesse contexto que se insere uma das aplicagdes da tecnologia do DNA re- combinante, conhecida popularmente como engenharia genética. Ela possibi- lita 0 isolamento de um gene de um dado organismo e sua transferéncia para outro organismo, transpondo barreiras de cruzamento entre os reinos vegetal, animal, protista e fungi. O resultado ¢ um individuo geneticamente igual a0 utilizado para receber a molécula de DNA recombinante, porém acrescido de uma nova caracteristica genética, proveniente de outro, que nao é da mesma espécie. Esse individuo € chamado transgénico. Plantas, animais e microrganismos transgenicos ~ estes iltimos, em ge- tal, denominados microrganismos geneticamente engenheirados ~ tém sido produzidos em espécies de valor comercial. principalmente a partir da década de 1980. Auman. L de; Fc, MHP; View, ML. Tasgnies colt dg Mitra, Cenc Sede - Mango, Ro de Jaci, x, 2. 451-46, uot 2000, Dsponvel em: citp/ ‘clo bse phppid-S0104-597020000008001Ascnpteeatex>. Aceen em 3 fx 2017, Por que a revolugao agricola neolitica fo! importante? Como o desenvolvimento da agricultura modificou estruturas sociais? Os produtos transgénicos s8o alvos de criticas de determinados setores da sociedade. Pesquise em grupo sobre o tema e discuta se as modificagdes genéticas podem provocar outra “revolucdo” nos habitos alimentares da populagao mundial. Anote suas conclusoes. 45 vad mensieainecnaneeat [Lverifique oqueaprendeu_______g 1, Relacione a ocorréncia da ditima grande glaciag3o com o inicio do povoamento humano do continente americano. 2. Explique @ teoria baseada na cultura de Clévis e dé dois argumentos que a contestam, 3. Escreva um pequeno texto sobre 2 descoberta do fossil de Luzia e sua importancia para entender 0 proceso de povoamento do continente americano. 4, Relacione a hip6tese da migracdo pelo oceano Pact fico com 0 sitio arqueol6gico chileno de Monte Ver- de ea teoria da arquebloga brasileira Niéde Guidon Em geral, os povos coletores e cacadores s8o néma- des. Por que algumas comunidades de sambaquiei- 10s eram sedentérias? 6, Descreva as principats caracteristicas dos sambaquis 7. Justifique a afirmacdo: “Os povos sambaquieiros ti- nnham conhecimentos de navegacao”. 8. Relacione o sistema politico do cacicado com a construcao dos tesos na sociedade marajoara, 9. Escreva um pequeno texto comparando a cultura marajoara e a tapajénica. 10. Descreva as principais caracterfsticas da sociedade ‘com tracos urbanos que teria existido no Alto Xingu, [Lleiaeinterprete ig 11.0 texto a seguir, de autoria da arque6loga brasileira Maria Dulce Gaspar, discute o significado dos sinais, gravados nas pedras pelos primeiros habitantes das terras que atualmente compdem o Brasil. Leia-o e res: onda as questdes propostas. Gabriela Martin, estudiosa da arte rupestre do nordeste do Brasil, assinala que grafismos tao comuns nos registros rupestres como espirais, ciculos radiados e linhas paralelas onduladas po- dem significar, ao mesmo tempo, dependendo do grupo cultural, simbolos femininos ou masculi- ‘os, incesto, o movimento das 4guas ou a piroga [canoa] anaconda que transporta a humanidade. Quem poderia imaginar que uma simples linha, considerada em nossa cultura uma das mais sim- ples formas geométricas, pode conter tantos sig nificados? Se por um lado tracos simples podem conter varios significados, André Prous ressalta que sinais vistos como simbélicos em algunas in- retagoes de arte rupestre podem ser simples esquematizacdes. Um bom exemplo é a figura do triangulo, que pode ser tanto um desenho geomé- trico ou uma simples representagdo realista. Este € 0 caso do desenho composto de dois triangulos opostos, feito pelos Bororo, que representa uma realista vértebra de peine. Gas, Madu A ate rete mB 2003.p-12-13, ode Janie Jorge Zaha, a) 0s sinais geométricos como linhas, circulos ¢ tr: ngulos tinham apenas funcOes decorativas? Jus- tifique sua resposte b) 0s sinais inscritos ou pintados nas rochas tinham. ‘sempre o mesmo significado? Por qué? ©) Faca um exercicio de representagao: em seu ca~ derno, elabore desenhos com linhas geométricas simples representando acontecimentos de seu co: tidiano. Mostre esses desenhos aos seus colegas e pea a eles que identifiquem 0 que vocé dese: nhou. 12.A pintura abaixo foi feita em uma pedra do Parque Nacional da Serra da Capivara, no estado do Piaut. Observe-a atentamente e responda as questées propostas. Pintura rupestre no Parque Nacional da Sera d Capivaa,Piut a) Descreva as figuras representadas na imagem acima, b) Identifique o que elas estao fazendo, ©) Com base nas figuras e nos atos representados na imagem, elabore uma hip6tese de como seria a vida das pessoas que criaram essa pintura. 13.0 texto a seguir, de autoria do arqueGlogo brasileiro Eduardo Goes Neves, refere-se a um tipo de solo da ‘AmazOnia: a terra preta. Leia-o com atencao e res- ponda as questdes propostas. [No atual estado brasileiro de Rondénial [1 fo ram encontradas o que parecem ser as mais antigas terras pretas de indio da Amaz6nia, com cerca de 4000 anos de idade. (1 As terras pretas talvez sejam 0 melhor indica dor de que os ambientes amaz6nicos foram modi ficados pelas populacées indigenas que ocupavam a regito antes da conquista. Atualmente, esse tipo de solo é procurado por agricultores em razdo de seu potencial de cultive, mas pouca gente sabe que foi formado pelos indios no passado, Além da alta fertilidade, talvez a propriedade mais interes sante das terras pretas seja a estabilidade. Escava 8es realizadas na Amazénia central indicam que as terras pretas mais antigas nessa area datam do século VII, ou seja, tém cerca de 1400 anos de idade, Tais solos mantém, no entanto, alta fer tilidade, 0 que normalmente seria incompativel com a intensa lixiviagao [lavagem corrosiva do solo pelas chuvas] que ocorre nos trépicos. Em outras palavras, a expectativa seria de que solos, com essa idade fossem atualmente pouco férteis, apés séculos de exposicao as condigdes climéticas, da regio, Por conta dessa propriedade, esforcos interdisciplinares tém sido feitos por agrénomos, ped6logos (cientistas de solo), ge6logos, quimi cos, antropdlogos ¢ arquedlogos com 0 objetivo de determinar os processos responsaveis pela for- magio das terras pretas e as caracterfsticas que promovem sua estabilidade, ‘Ainda nao se sabe, porém, 0 que levou 3 forma: do das terras pretas. A hipétese mais provavel € que elas resultem do acimulo continuo de restos. ‘orginicos ~ 550s de peixes e outros animais, cas cas de frutas e raizes, fezes,urina, carvio etc. - em aldeias sedentérias ocupadas durante muitos anos ou décadas. Sob essa perspectiva, sitios com esse tipo de solo seriam locais de habitagao no passado. Nos, Eduardo Goes. Auli da Ancamis Rio ent: a) O que so as terras pretas? 8) Qual é a importéncia das terras pretas para a comprovacao das teorias de Anna Roosevelt, que defendem a existéncia de sociedades complexas na floresta Amaz6nica? ) Qual éo significado da existéncia de terras pretas, com’ mil anos de idade? 0 texto a seguir trata da mais importante socie: dade paleoindia no que é hoje o litoral brasileiro, Leia-o com atencdo e responda as questées pro: postas. Um dos traros marcantes descobertos nas es cavagbes sto 0s sepultamentos elaborados, quan: do algumas pessoas da comunidade sambaquieira que se destacavam na rotina do grupo recebiam tratamento especial na hora de serem sepultadas. Tais corpos foram enfeitados com colares feitos de ossos, conchas e dentes de tubarao e de maca- c0 e depois depositados no topo do sambaqui em superficies forradas com berbigdes [moluscos], arela e conchas. A ceriménia fanebre inclufa gran de oferenda de comida, 0 acendimento de uma fogueira sobre ou ao lado da cova e a colocagio de uma cerca que impedia a acao de animais carnicei- ros. Por vezes, uma grande pedra servia de lapide funerdria, Esculturas em forma de aves, peixes e outros animais, os zodlitos, completavam a parafernd- lia do ritual funerdrio e também podem servir de indicadores do prestigio social do morto ou do grupo ao qual ele pertencia. Os sambaquieis [..] [utilizavam) a técnica de polimento. Bsculpir um zoblito exigia tempo e dedicarlo, o que demons- tra 0 apreco pelos mortos e o relevante papel que esas pecas desempenhavam entre os sambaquiei- ros. Pesquisas sugerem que so necessérias pelo ‘menos 200 horas de trabalho para se preparar uma dessas esculturas. © cerimonial de sepultamento inclufa outros presentes aos mortos além dos zodlitos. Na ilha Grande, no Rio de Janeiro, sobre alguns corpos hhumanos foram cuidadosamente colocados corpos de golfinhos, o que sugere a existéncia de uma es- treita relacao entre os habitantes dos sambaquis e esses animais, Laminas de machado e outros arte fatos de pedra - batedores, bigornas, almofarizes, quebra-coquinhos ¢ pingentes ~ também podiam acompanhar 0 morto. Jane: Man rad Bras. Ro de a)A diferenca de materiais depositados nos se pultamentos fornece pistas de como uma so: Ciedade se organiza. Descreva como seria a sociedade sambaquieira com base nos elemen: tos apresentados no texto. b) Quais eram as matérias-primas utilizadas pelos sambaquieiros em seus rituais simbélicos e na producdo de seus objetos, como os zodlitos e ins- trumentos de pesca? ) Os sambaquieiros empregavam as matérias-pri- mas de seu ambiente com diversas finalidades. Liste as finalidades descritas no texto. 4) 0 cuidado com os mortos pode indicar a existén- cia de determinados tipos de crenca religiosa. Formule hip6teses de como seriam as crencas re: ligiosas dos sambaquieiros com base nas infor- mages do texto. a7

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