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3 Aria Antign capi Acivilizagao as margens do Nilo. Caracteristicas da sociedade exipcia Os deuses 05 feraés. O cotidiano as margens do Nilo. As pirdmides de Gizéfazem parte de um sitio arqueologicolocalizado nos arredores do Caro, Egito. Foram Construldas como tumbas raise demonstcam como os antigos egipcios dominavam conheclmentos complexos fas reas de matematicae engenharia. Foto de 2010. Pod So Milénios apos terem surgido na Africa, os grupos humanos se dispersaram, domesticaram animais plantas, criaram técnicas diversas, dominaram 0 fogo 05 metais, construfram desde aldeias até grandes cidades, org se de forma hierarquizada e desenvolveram sociedades cada vez mais complexas. Entre as civilizagoes do mundo Antigo, uma das que mais despertam curiosidade é a egipcia. As mo- ‘numentais pirdmides, os complexos rituals funerdrios @ 0s seus deuses tornaram o Egito Antigo uma fonte de continuo interesse, em varios perfodos da Hist6ria. J4 no século V a.C., 0 historiador grego Herédoto, em suas indmeras viagens, ao visitar 0 Egito ficou admirado com o que viu e escreveu a famosa frase: "0 Egito & uma dédiva do Nilo”. Consideramos hoje que o Egito nao é uma dédiva apenas do Nilo, mas de seu povo, que cultivou suas margens, ergueu templos para seus inimeros deuses, escreveu textos com hierdglifos em pedras e papiros, mumificou e honrou seus mortos e preservou os mem- bros da classe dominante em monumentos funerérios {que testemunham até hoje a grandeza e a complexi- dade dessa civilizacao. Os egipcios construfram as maiores pirémides ha mais de 4 mil anos, portanto elas ja eram muito antigas quando Herédoto as conheceu. Boa parte da hist6ria do Egito j8 foi estudada, mas ainda hoje se encontram vestigios com novas informag6es sobre os varios perfodos dessa civlizacao. Observando a fotografia acima, responda as questdes propostas a seguir. 4. Vocé sabe qual era a fungao das piramides? 2. Como elas foram construfdas? 3. Como os egfpcios conseguiram sobreviver em uma regio desértica? As margens do Nilo tio Nilo nasce no lago Vitoria, na fronteira entre os atuais Que- nia, Uganda ¢ Tanzania, € corre cerca de 6450 quilometros até formar uum gigantesco delta que desigua no mar Mediterraneo. No decorrer da Historia, as cheias anuais que se originavam na Africa Equatorial, local das nascentes do rio, fertlizavam as terras ao longo de seu curso, per- mitindo a producio agricola A sociedade egipcia desenvolveu-se as margens do rio Nilo gracas 20 trabalho intenso dos camponeses, sob o dominio dos fara (© mapa identifica as duas regides em que se dividiam naturalmente as ferteis terras do Egito Antigo: o vale, de- nominado Alto Egito, eo delta, denominado Baixo Egito > Formacao das primeiras comunidades Na época neolitica, apds a revolugao agricola, as ter- tas irrigadas naturalmente pelo rio Nilo atrairam povos de diversas etnias, oriundos do sul, do oeste e do leste da Africa, Esse processo de sedentarizagao ocorreu por vol: ta de 6 a 5 mil anos antes de Cristo, As enchentes anuais do rio Nilo facilitaram a fixagao de comunidades que prosperaram as suas margens, As fguas das cheias transportavam e depositavam grande quantidade de matéria organica nas Areas inundadas. Essa matéria orginica se decompunha transformando-se em hiimus, que adlubava as terras permitindo a obtengao de boas colheitas, fexceto nos anos em que o volume de agua era pequeno, A agricultura tomou-se a principal atividade economi- ca desses grupos, que desenvolveram técnicas para 0 apro- veitamento integral das cheias do Nilo, como a construgto de reservat6rios de agua, diques para evitar inundagoes € canais de irrigacio para aumentar a area de cultivo. Essas obras hidraulicas exigiam esforco coletivo, o que Tevou as comunidades a se agruparem. ‘Aos poucos, no decorrer de séculos, essas comunida- es formaram unidades maiores, os nomos. Estes, por sua vez, agruparam-se em dois reinos: no norte, o Reino do Baixo Egito, que ocupava a regio do delta; no sul, 0 Reino do Alto Egito, no vale do Nilo. Por volta de 3200 a.C., 0 farad Menés, do Alto Egit, conquistou o Baixo Egito para dominar a fértil area do delta, Essa conquista deu origem ao Estado egipcio, al hy O Egito Antigo Fonte de pesqus: As 17 Sto Palo: Ais, 2007p. ot, Jt Jobson de A. Als his Cena agricola no timo tebano 1 1.em Der et Medina. Os Felevos e pituras egipcios apresentavam temas eligiosos atividades do catiane. “0 O longo periodo da historia do Egito posterior a unificacao reali Contos lendas do Egit Antigo, de Brigitte ek Evaro, Sao Paulo: Compantla das Letras, 1998, mm diferentes dinastias. As verses mites rata noi anita na compreenso ds mertaisace reigiosa do > Fait Antigo. zada por Menés foi dividido em trés grandes fases, durante as quais © Antigo Império vai de 3200 a.C. a 2000 a.C. Nesse pertodo, os faraos, a nobreza e os funcionarios estatais organizaram uma monat- quia poderosa, cuja base era o poder teocritico. O faras exercia 0 poder como representante de uma divindade. Destacaram-se nesse periodo 0s farads Quéops, Quéfren € Miquerinos, famosos pela construgio das grandes piramides de Gizé, entre 2700 a.C. e 2600 a.C. Entre 2400 a.C. e 2000 a.C., 0 poder central sofreu um processo de enfraquecimento pela acio dos nomarcas, chefes dos nomos, apoiados pela nobreza (© Medio Impeério, de 2000 a.C. a 1580 a.C., foi marcado pela reto- mada do poder pelos fara6s, que reorganizaram o Estado. Entre 1800.C. € 1700 a.C., 0s hebreus migraram para o Egito em busca de melhores, condigdes de vida. Em 1750 a.C., 0 territrio egipcio foi invadido pe- Jos hiesos, povo origindrio da Asia. Eles conquistaram rapidamente 0 Egito porque usavam carros de guerra puxados por cavalos, que no eram conhecidos pelos egipeios. No Novo Império, que vai de 1580 a.C. a 1085 aC, 0s farads expul- saram os hicsos e iniciaram uma fase de conquistas militares. esse periodo, o faraé Amends 1V pro- moveu uma revolugio religiosa, adotan- do o culto a um tinico deus, Aton, 0 disco | solar. Mudou seu nome para Ikhndton, fe servidor de Aton”. Ao diminuira influen- seu poder politico-religioso. A tentativa de implantagio do monotefsmo acabou quan- do ele morreu e seu sucesso, Tatancamon, retomou o culto aos deuses tradicionais, Ramsés Il, que ficou no poder por 666 anos, mandou construir grandes tem plos e estatuas na Nubia, atual Sudiio, a0 sul do Egito, alem de ter se apropriado de outros, apagando o nome dos farads origi- ome. nais e substituindo-o pelo seu Entre essas construgdes, destac impressionante templo de Abu Simbel, para marcar aconquista da Nabia, tual Sudo, Ramsés Il (, 1279-1213 a.) mandou escavado na rocha ao lado do Nilo construr um gigantesco templo entalhado na rocha em Abu Simbel. Foto de 2010. > Aproximadamente em 1080 a.C. comeca o periodo de declinio do Imperio Egipcio, que foi conquistado pelos assirios em 670 a.C Em 662 a.C. o Egito retomou sua independencia, com um pertodo de renascimento cultural. No entanto, foi derrotado pelos persas, em 525 a.C.,; incorporado ao Império de Alexandre, o Grande, em 331 a.C. ¢ finalmente foi dominado pelos romanos em 30a.C., tornando-se uma provincia do Império Romano, Sociedade {A populacio egipcia estava dividida em madias sociais bem definidas. No topo da erarquia social estava 0 farad, senor di do 0 que era produzido na terra Os sacerdotes formavam a camada so- tl mais elevada e mais culta. Eram respon- feis pela transmissio dos conhecimentos pelas priticas religiosas. Alem das terras ladas pelo farao, os sacerdotes também gebiam doacdes dos nobres ¢ da popula- o em geral para interceder favoravelmen. junto aos deuses. Eles eram personalida- s influentes em suas comunidades e seus hos herdavam a sua profisso. msesnakht,sacerdote de Amon. A rigidez mpassibidade so caracteristices de epocia derivadas da tradicdorelisose ultra em alabastro do século XI a. Os nobres cram altos funcionarios Estado, que auxiliavam o farao na admi- stracao, na'defesa e no comercio exterior. cebiam altos salarios e viviam cercados de x0 e conforto, Os escribas eram os que aprenderam a Fe a escrever € ocupavam os cargos de ncionarios da administragao do Esta >, tornando-se os executores das ordens )farad. Dat provinha o prestigio de que sirutavam. Eram eles que conferiam os rebanhos ¢ a produglo agricola e coleta- Domin rita egipcia, prineipalmen- te os hierdglifos, a escrita oficial, era muito am desenhos, ideo- dificil. Os hieroglifos ‘gramas que representavam ideias, sons ou bjetos, dependendo da situagio. No de- correr da hi 8 surgiam e caiam em desuso, Sao conhecidos ria egipcia, novos hierégl cerca de 6 mil hieréglifos, mas isso nao sig- nifica que todos foram utilizados a0 mesmo tempo. A média, por periodo, era de menos de mil hieroglifos, ou seja, o escriba domi- nava quase mil ideogramas com diferentes significados. Os soldados eram geralmente mercena- rios recrutados no estrangeiro que recebiam lotes de terra e prestavam servico ao farad, que, para manter 0 equilibrio das ativida- des produtoras, evitava o recrutamento de ‘camponeses para o servico militar Os artesios pertenciam & camada infe rior, mas viviam em condicoes melhores do que os camponeses, pois conviviam com os ricos, para os quais trabalhavam. anesanato era diversificado ¢ elabora- do. Os bons artesios eram bastante requisita- dos e abriam oficinas proprias. Havia oleiros, pedreiros, pintores, escultores, ourives, tece Toes, vidreiros, carpin ros. No entanto, 0 fara6 e os templos contro- Tavam as oficinas de alto luxo destinadas as elites, como as oficinas de joias, de tecidos de linho, de méveis folheados a ouro, de escul turas e pinturas efinadas, de objetos de vidro e pratos de faianca da mais ata qualidade. Os camponeses — felis ~ trabalhavam exaustivamente nos campos, logo apés 0 fim das enchentes. Eles semeavam ¢ irriga vamas cultur. sma limpeza das plan woes até a colheita. Apos a colheita, paga- vvam os impostos ao farad ou aos donos da a, nobres ou sacerdotes Sobrava pouco paraa familia camponesa. Todos os anos, eles também eram obrigados a trabalhar em obras estatais, como conserto de canais de irrigacao ou obras monumen: is, como palicios ou tumulos. Os eseravos eram minoria na socieda de. Eram mais numerosos em periodos de guerra, ja que quase todos eram prisionei- utili- ros, Por serem caros, apenas a nobre: ssa Cet 67. eed net fe potion rom rte Severe caecum shoe shasee ter Sonate ‘saa tet fearon pout cote Paresh borers Egito atual.. st A vida as margens do Nilo oO A vida dos campon vazantes do Nilo © comeco do ano egipcio era em junho, a estacto das cheias. Quan- do as inundagoes eram abundantes, a populacio orava e agradecia aos deuses, principalmente ao deus Hapi, que representava o proprio Nilo. Durante as cheias, os campos ficavam inundados e os camponeses cram convocados para trabalhar em obras do Estado. Em setembro, eles comecavam a arar os campos para misturar 0 hhamus — lama fértl que o Nilo deixava sobre o solo, O trabalho devia ser feito assim que as aguas baixavam, senao o Sol ressecaria o humus. Depois de arar, era hora de semear, As sementes cram jogadas na terra, € (0s porcos ou as cabrassoltos nos campos ajudavam a afundaras semen. tes de cevada, trigo, lentilha, pepino, cebola e frutas como melancias e meloes. O litho, utlizado para fazer tecidos, demorava um ano para ser colhido. A cevada eo trigo eram colhidos em trés meses. Na segunda estacao do ano, de outubro a fevereiro, as teras eram irrigadas com as aguas da inundaco armazenadas em canais. Em margo, comegava a taco, a estagdo da colheita. A colheita devia terminar antes de junho, 0 auge do verao, Nessa esta- ‘0s camponeses aproveitavam que 0s cana estavam praticamente ‘secos para conserta-los e deixa-los preparados para a proxima enchente. Se as cheias nao fossem abundantes ou ocorressem pragas, como nuvens de gafanhotos ou ataques de ratos do campo, ocorriam os temidos periodos de fome e milhares de pessoas morriam, principal- mente 0s camponeses, que eram em geral muito pobres e trabalhavam no limite de suas forcas. Alimentavam-se de pao de trigo, cebola, peixe e cerveja ou sea, com 0 minimo que conseguiam depois de pagar as ta- xas que deviam pelo uso da terra. Viviam em casebres com pouca mobi- lia, construidos com barro e palha, com um buraco no teto para a saida a fumaga. Os grupos mais favorecidos estabeleciam-se em vilas suas cases ti nham méveis de madeira nobre e eram decoradas com tapetes, vasos de vidro e outros objetos de adorno. Alimentavam-se de carnes, frutas, vinho, cerveja, bolos — uma variedade de alimentos nao acessivel aos camponeses.Vestiam.-se com tecidos finos ese enfeitavam com perucas e joias de ouro, prata e pedras semipreciosas. Homens e mulheres usa vam cosméticos e um dleo para proteger o corpo do Sol. ses do Egito era regulada pelas cheias ¢ My Aldeia nia na v A 189 BP BRe FPeR § TORS Pod He PEE PPREHE (0 shod um instrumento de irigago do Fito Antigo usado até hoe. Tratose de tums haste mével, como uma "gangora Em uma ponta da haste ha um bald, {que € enchido com gua eerguido coma 3juda 6 peso da pedra amarrada na outa textremidade, Rio Nilo, Fto de 2008, WLOutras histérias A cidade mais antiga da América Enquanto florescia a civilizagdo egipcia, uma cultura complexa des- pontava na costa do atual Peru, A cerca de 200 quildmetros de Lima, arque6logos encontraram vestigios da cidade de Caral. Construfda entre 2600 e 2100 aC. por uma sociedade que jase organiza- va como Estado, Caral controlava um amplo terit6ro. Al foram achadas piramides, mu: 0s com 20 metros de altura e gran- des plataformas de pedra. 0s habitantes desenvotviam a agri- cultura, a pesca e o comércio do algo- do. Foram encontrados produtos dos ‘Andes e da Amazinia, 0 que mostra 0 intercdmbio com essas regides. ha Elefantina, as mmargens do Nila, Fote de 2010. s egipcios aprenderam a registrar todas as suas conquistas. Desen- volveram um sistema de escrita que inicialmente era composta de sinais pictograficos, os hierOglifos, que representavam objetos e depois stla- bas. Foram os precursores do alfabeto, que mais tarde foi inventado € difundido pelos fenicios. Escreviam principalmente sobre papiro, pro- duzido com uma planta de mesmo nome, comum nas margens do Nilo; mas também sobre linho e couro, além dos textos esculpidos na peda {A ciencia estava voliada para as realizacdes praticas, como determi- nar a época das cheias do Nilo, construir canais de irrigacio e diques para represar a agua, projetar os monumentes, como templos e pirami des, Isso originou o desenvolvimento da astronomia e da Matematica (Os astronomos egipcios criaram um calendatio solar, com a divisio do ano em 12 meses de 30 dias, acrescidos de 5 dias a cada ano. Identi ficaram estrelas fixas no c&u, como Sirius, que provavelmente servi de referencia para a elaboracao do calendrio, Na Matematica, langaram as bases da aritmética e da geometria, Executa- ‘vam as operagées aritméticas de adigio, subtragao e divisio e realizavam a muliplicagao por meio de somas sucessivas. Estabeleceram formas de caloular as areas de triangulos, retingulos e hexagonos. Em fungao da pritica da mumificagao, eles conquistaram avangos consideraveis na medicina, como 0 tratamento das doencas com 0 uso de ervas medicinais e o desenvolvimento de procedimentos cinirgicos. Conheciam a importancia do coragao no funcionamento do organismo ¢ fizeram o primeito tratado sobre 0 preparo de medicamentos. talento artistico dos egipcios expressava-se nas grandes obras arquitetOnicas, como os templos dedicados aos deuses, (O templo representava a casa do deus, visitada por ele quando apare- cia na Terra, No interior dessa edificaglo, existia uma camara que guar- dava a estitua da divindade, lugar permitido somente aos sacerdotes. (Os templos mais grandiosos foram erguidos em Luxor e Karnac. AS pa- redes eram ornamentadas com pinturas e figuras em relevo. Na literatura destacavam-se os textos de cardterreligioso, como o Livro os mors. Havia também obras de cariter pedagogico, tanto com orienta- ‘es de ordem moral, como Ensinamentos do escriba Any, quanto de ordem politica, que ¢ 0 caso de Ensinamentos de Kéti Il aseu filo Merikare Os contos populares, como a Stra dos oficis, os romances, como Aventuras de Sinuhé, ¢ relatos foleléricos, como 0 Conto do camponts, proliferaram a partir de 2000 a.C. ‘A mmiisica também fazia parte da vida desse povo. Muitas atividades eram enriquecidas com apresentacOes musicais realizadas com instru- mentos de corda (harpas), de sopro (flauta) e de metal (trombetas). | Esquema da pirémide de Quéops © Grande galeria DiEntrada Este papiro do século IC. esté escrito em \demotco tipo de esrita mals simplificada ‘que os hieroglifos que se tornou comum em todo o Egito parti de 600 a. bs (Os egipcios eram politeistas, isto é, acreditavam em numerosos deuses, reminiscéncia dos tem- pos em que viviam em comunidades agririas independentes, anteriores & unificacao do Império. A divindade mais popular era Osiris, que, segundo a mitologia egipcia, teria sido rei na regiao do delta e ensinado aos camponeses o cultivo da terra. Ele era o deus do Nilo. (Os egipcios acreditavam que, no inicio de tudo, existiam apenas as aguas escuras do caos, até {que uma montanha surgiu, No alto da montanha apareceuAtum, o primeiro deus, que tossiu ¢ surgiu Shu, o deus do ar; tossiu novamente e surgiu Tefnut, a deusa da umidade, Shu e Tefnut tiveram dois filhos: Geb, o deus da Terra, e Nut, a deusa do céu Geb e Nut tiveram quatro filhos: Osiris, [sis, Set e Nefis. Osiris era 0 deus da Terra e Isis era ‘sua esposa. Set, que tinha muita inveja de Osfris, matou o irmao, despedagou seu corpo e jogou 1 pediagos por todo 0 Egito. Auxiliado por Antibis, o deus chacal que farejou os pedagos de Osiris, Isis encontrou todos os pedacos. Amibis uniu-os com faixase fez surgir a primeira mamia. Com a ajuda da irma Netti, Isis ressuscitou Osiris, que foi para o mundo subterraneo, e Set ficou em seu lugar, na Terra Isis teve um filho de Osiris, Horus, 0 deus faleao, que voava sobre 0 Egito e representava 0 Sol nascente. Quando Horus ficou adulto, derrotou Set, mas os deuses decidiram que Horus seria o deus do Baixo Egito, e Set seria o deus do Alto Egito, Osiris continuaria como o deus do mundo subterraneo ou 0 deus dos mortos. A lenda de Osiris explica as origens da pritica da murnificagao € da ctenga na vida apés a morte, segundo a qual, «alma deveria retornar a0 corpo para que vivesse no mundo des mortos, tum mundo que era um Egito ideal ~ sem fome nem desconforto, dor ou aborrecimentos. (Os egipcios acreditavam que a alma do morto seria admitida no Reino de Osiis. De tempos. ‘em tempos ela voltaria ao corpo, que deveria ser conservado. A sobrevivencia da alma estava es- treitamente ligada a do corpo. Para isso, os egipcios desenvolveram as técnicas de mumificagao criaram timulos de pedra, feitos para durarem milénios. Os tumulos continham tepresenta- (ges € objetos da vida terrena, > ‘Os maiores e mais importantes ttimulos egipcios pertenciam aos faraos Esses tsimulos evolutram das mastabas, que tinham forma de tronco de pirimide, para as grandes pirdmides e, por fim, para os hipogeus, cconstrugdes funerdrias subterraneas ou escavadas na rocha. Havia a preo: ccupacio de proteger os tesouros que eram colocados nos tumulos contra ladroes de sepulturas. A religido era a base do poder politico do faraé, que era considerado filho do deus Amon-Ra. Nao havia, portanto, separacao entre poder po- Iitico e religioso. O faraé possuia poder teocratico, um poder considera- do divino que fundia fungdes politico-administrativas com fungdes reli- fosas, como a de supremo sacerdote de Amon-Ra. Ao fara0 cabia 0 controle do cultivo e das obras as margens do Nilo ¢ também o comando do exército, da justica, das minas, dos celeiros € dos templos. Tamanho poder possibilitou a concentragao de forgas para a construcao de gigantescos templos e monumentos funerérios, como as piramides. Mithares de trabalhadores egipcios, recrutados entre agricultores ¢ artesios, foram os responsaveis pela construgao dos simbolos do poder do farae. No mito de Osiris e Isis, a morte ea cessureicao de Osiris signticariam as inundagdes periédicas do Nile. Papiro do século XV aC A representacdo de (Osiris corresponde a um homiem munificado com barba posta e bragos eruzados sob opeito, suas maos seguram um cajado e um agate Alem da sociedade egipcta, outros povos fazem parte da historia da Africa Antiga. Havia grandes reinos e impérios, bem como agrupamen- tos nomades e pequenas aldeias. ‘A organizagio social na maioria das diferentes sociedades africanas era estabelecida com base nas relagdes de parentesco ou na relagao de subordinagao a um che Nas aldeias, 0 chefe, geralmente um dos membros mais velhos € experientes do grupo, exercia a lideranca garantindo que as tradi- Bes e as normas estabelecidas fossem seguidas. Suas determinagdes podiam ser elaboradas em parceria com outros lideres das varias familias que compunham a aldeia. Deliberava-se sobre as atividades de caca e coleta de alimentos, assim como sobre a criagio de animais ou o cultivo de plantas. Muitas sociedades afticanas organi: com a crenca em espiritos da natureza, antepassados e herdis miticos Varias aldeias podiam formar uma confederacdo chefiada por um lider e um grupo de representantes. As decisoes giravam em torno de agdes para administrar a justica, a defesa, a expansdo militar, a produ. ‘lo de alimentos ¢ a distribuiicao de terra. ‘A expansio de algumas vilas dava origem a uma cidade, que podia ser independente ou tornar-se parte de um Reino, No vale do Nilo, assim como a sociedade egipcia, outros povos se desenvolveram e se fixaram nas terras férteis do rio. Agricultores e pas tores garantiam o abastecimento das aldeias e das cidades No norte da Africa, onde se localizam atualmente a Libia, a Tunisia, 4 Argélia e © Marrocos, e no deserto do Saara, viviam grupos ndmades como os berberes, os azenegues ¢ os tuaregues, que se dedicavam so- bretudo ao comércio. As atividades praticadas por esses grupos garan- tiam o intercambio entre os povos que viviam nas regides de floresta, no deserto e na costa do Mediterraneo. (Os povos que habitavam as regioes ao sul do Sahel praticavam ativi- dads mais adequadas aos ambientes das savanas ¢ florestas, dominavam metalurgia e possuifam técnicas elaboradas para construcio de edificis. vam seu modo de vida de acordo A divesidade etnica ‘tual dos povos do ontinenteaticano rellete 0 patsado de iferentesorigens lorganizagoes Soca Cecio sie) 0 historiador Alberto da Costa e Silva, especialista brasileiro em es- tudos africanos, procure destacar, no trecho escrito a seguir, a diversidade inico-cultural com base nas linguas faladas no continente. Em oposigéo & perspectiva eurocéntrica, que acredita na impossibilidade de um estudo cien- tifco por falta de fontes e documentos escritos, a andlise linguistica contribu para o reconhecimento da Africa como lum continente formado por culturas originais e de histéria milenar. s africanos que vivem ao norte do Saara sao diferentes dos que vi- vyem ao sul? Os que vivem ao norte so predo- minantemente brancos, e os que vi- ‘vem ao sul, negros. Mas estes tam- bem sto diversos entre si. Um ama- 1a da Btiopia é tao distinto de um ambundo de Angola quanto,na Euro- pa, um escandinavo de um andaluz. Bum jalofo do Senegal ¢ diferente de um xona de Zimbabué (Zimbabue) como um russo de um siciliano.[.] A Africa 6 riquissima de linguas e culturas. Falam-se no continente mais de mil idiomas, Mais de dois mil, segundo alguns estudiosos. Al- ‘gumas dessas linguas, como hau- (4 e 0 suafli, slo faladas por dezenas de milhges de pessoas e numa érea ‘geografica bem extensa. Outras, por uns poucos milhares. Numa érea onde predomina determinado idio- ma, pode haver pequenos bolsdes de ‘outro. Ou de outros. (...] Cos Sen, Abe da. 4 Afi exp ‘mcs fide. io de Jane: Ag. 2008.18 4.Pesquise 2 quantidade de linguas in- digenas faladas hoje no Brasil. Com base na informacdo obtida,justifique se a afitmardo a seguir esté correta: ‘Assim como 0 estudo das linguas fa- ladas no continenteafricano auxiliaa pesquisa hist6rica, no Brasil, o estu- do da linguistica pode contribuir para (© estudo dos povos indigenas. sossimig Sahel regtosituada entre o desert do Saara ceastereas mais fértels ao sul do continente africana 55 | contaioa» A No vale do Nilo, ao sul do Egito, desenvolveu-se outro importante Estado da Africa Antiga: o Reino de Cuxe. Documentos egipcios e fontes arqueologicas indicam que a socieda- de cuxita se estabeleceu na regido da Nubia, no norte do atual Sudao, entre os séculos VII a.C. e Il dC., e teve como principal caractertstica econdmica 0 comércio Piramide na antiga capital cuita de Méroe,lecalizadsatualmente no terrtério do Sudo. lfluenciados pelas crencas egocias, os cuxites também construlram sepulro ‘em forma de prdmide. Foto de 2010. > As trocas comerciais realizadas pelos cuxitas eram responsiveis pelo intercambio entre os povos que viviam nas savanas e florestas da regio central da Africa e na tegito da costa mediterranea. Do interior da Afri- ca, saiam os artigos de luxo como incenso, marfim, ouro e madeiras, apreciados pelos chefes e nobres de diversos povos. solo cuxita era rico em pedras preciosas € metais como ouro € ferro. A condicao natural favoreceu o dominio de técnicas de metalur- ia, com as quais eram produzidos arados, espadas e enxadas que se tornavam itens de destaque nas trocas comerciais. > AAs relagdes de comércio indicadas pelas fontes materiais permitem ‘firmar que a historia do Reino Cuxe esteve estreitamente relacionada & do Egito. Pesquisas arqueologicas em regido ntibia encontraram grande nntimero de objetos como vasos e pérolas de origem epipcia, jt o mar- fim e ouro nabios foram encontrados em abundancia nas escavacoes em terras egipcias Alem das trocas comerciais, a relagdo entre cuxitas ¢ epipcios foi mar- cada por pertodos de guerras e dominacao. Apesar das relagdes conflituosas, os cuxitas assimilaram algumas caracteristicas da cultura egipcia. © Reino de Cuxe ont de pesquis: Bc, Jeremy (Ong), Alas da ira ‘mundo! Londres: Doing Kinder, 2005.31 «http porta: mec.gov-brindexphpPoption= com, contentSviewsartileBid=16146>. Acesso em: 5 fev. 2013, Em 1964, a Unesco inciou um projto into contarahistria da Africa live de esterestipos do char estrangeiro. Abra que englaba ito volumes fi langada no inci da década {de 1980 e contou com a paricipacSo de cerca de 350 pesquisadores. Os livros tornaramse referénca para oestude dos povos eda cultura do continent asicano e esto dsponivels no B 8B 82 RB Mulheres no poder: sacerdotisas e candaces As tradigdes comuns em divers nas, também eram praticadas no Reino de Cuxe. As m real podiam desemp ‘Coma sacerdatisas, sociedades africa- heres da familia ggriinear ong mnhar varias fungoes e ocupar cargos de li jzapto socal na qual n se tornavam Iideres _& tansmissio do poder. algumas princesas també espirituais — deviam dedicar-se ao celibato e eram responsiveis pelo mais importante amas mulheres que recebiam 0 s atividades de culto do deus Amon, considerado a divinda (Os cuxitas foram governados por a titulo de candace, cujo significado € rainha-mae. Entre poder exercidas por essas mulheres, estavam a administragao civil, do comércio e do exercito ¢ o estabelecimento de relacoes diplomaticas, Apesar do destaque politico da mulher de linhagem real, plebeias no contavam com nenhum privilégio ou vantagem sock 1 Candace no Carnaval A lideranga politica, econdmica e militar das candaces inspirou a pro ducdo de representacdes sociais das soberanas rainhas no Carnaval cario Em 2007, no Rio de Janeiro, a es: cola de samba Salgueiro elegeu como tema de desfile as lideres cuxitas, © samba-enredo estabeleceu em seu discurso uma associacao das cando ces com as maes de santo e as maes do samba que exercem agdes solids: rias, obtendo respeito de diferentes comunidades negras brasileras. No ano seguinte, o bloco afro Ile Aiy®, do bairro Liberdade, de Salva: dor, escolheu destacar no enredo 0 papel das mulheres que defenderam a consolidaco dos movimentos negros 0s direitos das mulheres negras. No site oficial do bloco, o grupo justifica va sua escolha: O Ile mostraré o poder politico e a organiza¢ao da mulher na Africa seus reflexos no Brasil. Candaces como 0 grupo de mulheres do Alto ss Pombas, Dete Lima, Ruth de Souza, Leci Brandio, Gaiaku Luiza e Lélia Gonzales terao a visibilidade e © reconhecimento que merecem na historia do Brasil ber, Crislano, Candences dos dsc das tepresentages Nea, Reva fntigdad, Ro de nero, 4 2008. Boponive! ems

Aatividade maritima Do porto de Adulis eram exportados marfim, ouro, objetos de cobre ¢ ferro, gado, pedras preciosas e incenso. Importavam-se artigos de luxo, como seda, porcelana, vinho e 6leos, fornecidos por negociantes romanos, indianos € arabes (Os marinheiros axumitas conheciam a dindmica dos ventos que atin- glam o mar Vermelho e o oceano Indico, por isso conseguiam navegar com rapidez e seguranca até portos distantes. Garantiam também a se- jguranca da regiao, combatendo piratas que ameacavam a estabilidade comercial. desenvolvimento economico obtido com a expansio comercial a intensificagdo da cunhagem de moedas, que comecou no século Ill e continuow até o século VIL. As moedas geral- mente traziam a efigie de um governante e inscrig6es na lingua oficial do Império, o geez. Algumas moedas axumitas eram grafadas em grego, lingua internacional utilizada no Mediterraneo oriental maritima promov Atica antiga. 2, Brain: Unesco, 2010. p. 402. Moedas de ouro axumitas,Algumas delastrazem 2 epie de governanteseinsrigdes em geez. maior parte da populacio dedicava-se ao cultivo ea criagio de animais Alem dessas priticas, os axumitas dominavam técnicas como a construgao de terraces em montanhas, a utilizagdo de canais de irrigacio ¢ do arado puxado por animais e o armazenamento de égua em cisternas e barragens, Eles plantavam principalmente cereais e conheciam a viticultura. Em relacto & pecuatia, os rebanhos axumitas eram formados por bovinos, caprinos e muares. O desenvolvimento dessa atividade garantia o abaste- | cimento de carne, lete ¢ a produgio de derivados como manteiga, Além de satisfazer as necessidades alimentares internas, a producao agricola e a criagdo de animais se destinavam também ao comércio com | outros poves. | | Devido a instabilidade causada pela expansio dos érabes muculma: nos, a partir do século VII, o Império de Axum perdeu sua hegemonia. (s arabes conquistaram a cidade portuaria de Adulis e passaram a dominar as rotas comerciais do mar Vermelho. No mesmo periodo da invasio arabe, a produgio agricola que abas- tecia a cidade de Axum decaiu devido a problemas ambientais e explo- racdo excessiva do solo. A populacao da cidade diminuiu progressiva- mente, até que a nobreza também se transferiu para outra cidade. Em fins do século VII, a antiga capital do poderoso Império estava red da.a um simples vilatej. * Em 1980, as ruinas da cidade de Axum foram consideradas Patri monio Mundial pela Unesco. Entre os monumentos tombados estavam grandes estelas de pedra esculpidas a partir do século 1. Situados em um local conhecido como campo de Mai Hedja, acredita-se que no passado os monumentos sinalizavam tumbas da realeza ou indicavam acomtec- mentos importantes para a comunidade. Els eram feitos em um tnico bloco de peda e muitos eles eram decorados com porta, janelas ins- crigdes que narravam lendas e tradigdes axumitas. Em cerca de 330, a0 assumir o poder, o rei Ezana converteu-se ao cristia- i nismoe extinguu a tradigto da producto de esiels. Atualmente,exsiem 0S ds enlase potas das xls de 126 obeliscos em Axum, mas a maior parte esta caida e partida em pedacos. penfsula Arabica, Foto de 2011 Ee Moradias Outro costume consistia em executar as bases das As principais caracteristicas da arquitetura axumita @fandes construgdes com a maior solidez possivel, o consistia na utilizacao de elementos danatureza, como pe- ue Se conseguia colocando-se grandes blocos de pedra dra e madeira. Leia o textoe responda & questdo a seguir. _talhada nos cantos ou em longasfileiras no topo. ‘Ac F A clizato de Anum do stu 4 IT Mea, Gaal (Ed). stra gral da Aca igs. x.2; Arc Ang. 2, rasa Unesco 2010: 386357 Os axumitas inclufam a madeira entre os materiais de‘construgio, empregando-a nas molduras das por- tas e janelas e em certos pontos das paredes, especial- mente nos cantos das salas, onde se introduziam vigas ‘de madeira na alvenaria para reforgécla. As traves que sustentavam os assoalhos dos aposentos superiores ‘ou 08 tetos, provavelmente planos, eram igualmente de madeira. As estelas esculpidas que mostram as ex- tremidades das vigas dao uma imagem fiel dos méto- dos de construcio da época. 1.De acordo com @ Geografia, os recursos naturs renovaveis so aqueles que detém a capacidade de re- nnovagao apés serem utilizados pelo homem. Desde que 0 uso de tais recursos seje planejado, certamente no se esgotardo. Identifique, no texto acima. qual re- curso natural nao renovavel era usado como material nas construgdes axumitas. A seguir, screva um pars: grafo comentando se esse recurso ainda € utilizado fem construgdes que vocé conhece 59 eee ils) Onde ficava o Egito Antigo? Depois de tudo 0 que estudamos sobre 0 Egi to, talvez pareca estranha a ideta de historiadores “brigando” para saber se a civilizacdo egipcia seria ‘ou nio africana. De fato ¢ estranho, pois 0 Egito fica na Africa "Nao podemos esquecer, porém, que 0 conhe- cimento e os conceitos que usamos para explicar ‘© mundo sao historicos, isto €, foram socialmente criados e passam por reformulagdes sempre que 1ndo sao mais considerados satisfatorios Vejamos dois exemplos. Se o universo ¢ infinito ea Terra é redonda e esta solta no espaco, por que representamos 0 mundo com o norte em cima? E por que a Europa é um continente separado da Asia? Nos dois casos a resposta deve ser buscada na sociedade em que esses conceitos foram elabo- rados e nos mecanismos que permitem que essas convengoes continuem em vigor. Sem davida, trata-se de um tema comple- x0: a relagdo entre conhecimento ¢ poder. Na maioria das vezes 0 conhecimento mostra-se como um dado inquestionavel. Por exemplo, em getal, o norte € representado na parte superior do mapa, No entanto, sabemos que, para estu- dar Geografia ou Historia, nao faria qualquer diferenga se a América do Sul, a Africae a Ocea- nia estivessem na parte superior do mapa. Elas apenas teriam maior destaque. Ficou mais facil agora entender a disputa em relagio ao legado do Egito Antigo. Estamos fa- lando da civilizagao que fornecew as bases para a matematica pitagorica, para a filosofia de Epicuro € de Platdo, para 0 judatsmo e para o islamismo. Falamos de um povo cujas realizagoes na medi- cina, na arquitetura e nas artes plisticas sto até hoje motivo de admiracdo. Trata-se de uma cultu- ra que pode ser consicerada uma das bases impor- tantes do pensamento ocidental. Durante séculos, 0 fato de o Egito pertencer a Affica ndo foi considerado um problema. Mas, ha cerca de 250 anos, o fortalecimento econdmi- co vivido pela Europa foi acompanhado de uma mudanga nas suas relagdes com os nao europeus. Dai por diante, a exploracdo passou a ser acom- panhada por um refinamento tecnoligico ¢ pelo fortalecimento da ideia de que os europeus eram a vanguarda do progresso da humanidade. Cabe- tia a eles guiar o restante dos povos em direcao a civilizagao —ao seu modelo de civilizacao, € claro. © conhecimento sobre © mundo se especiali- zava. As ciéncias naturais se desenvolviam, expe- digdes europeias partiam para todos os cantos do planeta para coletar dados, classificé-los, ordeni-los € depois os tornar comercialmente exploriveis, uma vez que se tornavam patrimonio da “civilizacao" ‘A riqueza monumental produzida pelos anti- 0s egipcios transformou-se em objeto de uma especializacao — a egiptologia. A historia, a escri- ta e a civilizagao egipcia foram sistematicamen- te investigadas. Milhares de documentos foram levados para museus europeus para que pudessem ser admirados pelo grande publico. Até o Império do Brasil, sem nunca ter mandado uma expedi- ao para la, conseguiu ter uma importante coleca0 de pecas egipcias, incluindo mumias e sarcéfagos. Os egiptologos evidenciavam os vinculos do Egi- to Antigo com a tradicto ocidental greco-romana. Mas essa mesma sociedade europeia ainda obti- nnha parte significativa de sua riqueza escravizando milhdes de afticanos e vendendo-os mundo afora, ‘com o argumento de que se tratava de “povos infe- riores”, “menos inteligentes”, “sem historia” e “inca- pazes de produzir uma cultura propria”. Iso poderia. ser considerado, no minimo, uma contradigdo coma ‘monumentalidade da obra dos antigos egipcios. Dessa forma, o Egito passou a ser entendido como se fosse alheio ao mundo africano, integra- do a Asia ocidental e ao mundo mediterraneo habitado por um povo com caractertsticas distin tas, No inicio do século XIX, apés admirar varias pinturas e esculturas do povo do Nilo, o estudioso frances Jean Francois Champollion escreveu: (Os homens guiados pelo pastor dos povos, Horus, pertencem a quatro familias muito dis- tintas. A primeira, a mais proxima do deus, é de cor vermelha escura, de estatura muito bem pro- porcionada: fisionomia suave, nari ligeiramente aquilino, longa cabeleira entrangada, vestidos de bbranco; as legendas designam esta espécie pelo rome de Rot-enéne-Rome, a raca dos homens, ‘os homens porexceléncia, quer dizer os egipcios. Cuno Fcc} Ciado por Boro, iia. Aca egress: E, UFBA, So Pal: (Cons Acs, 2008-1 p38. A selecio das fontes ¢ sua interpretagdo davam carter cientifico a producao realizada por esses es- pecialistas e confirmavam a nao africanidade egip- ia, Assim, no se fazia necessério repensar o lugar da Africa no imaginario dominante ocidental ‘Apesar do prestigio desfrutado por muitos des- ses intelectuais, suas ideias foram combatidas vee~ ‘mentemente por outro conjunto de pensadores = europeus e africanos. Recorrendo a outras fon- tes, eles buscavam comprovar o vinculo do Egito com a Africa Negra. Baseavam-se prioritariamente na literatura grega e na iconografia produzida no reino dos farads, Do grande historiador grego Herddoto extra fam dados sobre a aparencia de muitos egipcios que “tinham a pele negra € 05 cabelos crespos” € 50- bre sua estreita vinculagio com a cultura de outros povos da Africa Negra, como os etfopes. Segundo ele, dos 330 farads egipcios, dezenove foram etio- pes, entre eles uma mulher chamada Nit6crs. Reforgavam os vinculos entre os egipcios € 0 ‘mundo negro africano, com base em Diodoro da Sicilia (c. 90-30 a.C.), que dizia: “Os etiopes afir- ‘mam que os egipcios sio colonos oriundos do seu grupo e que esta colonia foi orientada por Osiris” Recorriam também as representagoes dos egip- cios feitas por escritores gregos como Esquilo (©. 525-456 a.C), que os caracterizava como “queimados e enegrecidos pelo sol do Nilo”. AA disputa incluia, ainda, diferentes perspecti- vas da esfinge, interpretagdes de muitas esculturas imagens em estado de conservacio bastante pre- rio, de feigdes de mascaras funerarias, etc © combate, apesar de acirrado, foi se tornan- do gradualmente mais cordial, embora as tensoes permanecam, Trata-se de uma batalha com forte significado politico, quer para os defensores de tum Egito mediterraneo e branco, quer para aque- les que enfatizam 0 pertencimento africano e a cefetiva contribuigao de mulheres e homens negros para aquela que foi uma das mais grandiosas civi- lizagées da Antiguidade. tecnologia a disposigao dos. pesquisacores avangou muito, mas as pessoas a utilizam para responder a perguntas que formulam de acordo com sua cultura, sua posicao politica, suas ideias. A cconclusto definitiva, se um dia chegarmos a ela, dependera de um avanco extraordinario nao ape- nas das técnicas, mas também de uma superacao das desigualdades etnorracizis. Até 0 momento, 0 que se pode afirmar é que 0 rio Nilo promovia a ligagdo entre 0 Império egip- ‘As montanhas da Lua. Dregzo de Bob Rafelson, ‘iu a elt sobre 3 importncia oF PS ara alguns, oesinge de Gat apresenta tacos que lembram Os povs negro, Iss eloraras ela de um Ego mals, reaconado Arca Negre qv 20s povos mediteraneos, cio e a Aftica Negra faciltando ao longo dos mi- lenios 0 deslocamento de populagées e culturas nos dois sentidos, Na Antiguidade, a regio ao sul do Nilo era conhecida como Niibia, hoje dividida entre 0 Egito e 0 Sudo. Os nibios eram, historica- mente, povos negros que desenvolveram sociedades complexas que rivalizavam com o Egito dos farads O reino nibio de Cuxe, fundado no século XV aC, era sediado na grande cidade de Napata mantinha estreitas relagoes comerciais, culturais € diplomaticas com 0 norte. No século VIL a.C. seus reis conquistaram o Império egipcio, que go- vernaram por 60 anos, constituindo a 25* dinas- tia de farads. Mesmo expulsos do Egito, os cuxitas ‘mantiveram sua independéncia, formando o reino de Merve. Tanto em Napata quanto em Meroé, os nubios construfram grandes templos e piramides de pedra. Apesar de menores que as grandes pirimides egip- cias, as piramides nubias sio muito mais numero- sas. Esses templos e pirdmides sto recobertos por inscrig6es que revelam uma complexa escrita hie~ roglifica, diferente da egipcia e ainda nao decifrada Em 2003, a Unesco concedeu as ruinas de Na- pata e Meroé o titulo de Patrimonio Cultural da Humanidade ‘Que objetivos pretendiam alcancar e que argumentos apresentavam os defensores da vinculagdo do Egito & tradigao ocidental europeia? Que objetivos pretendiam alcancar e que argumentos apresentavam os defensores da vinculagao do Egito a uma tradigao africana negra? 1990, 136 min istia da viagm do explorador Richard Burton em busca das nascentes dora Nilo, na segunda metade do século IK. Oflme 905. nc e das expedies no processo de conhecimento a respeito do continent afriano | captatose Arca Ania 4. Ovary Verif rendeu 0 historiador grego Herédoto afirmou, no século Va.C., que o “Egito é uma dadiva do Nilo”. Como se explica, tendo por base essa ideia, a existéncia do Estado egipcio? Vocé concorda com essa visao? Justifique. Ao invadir 0 Egito em 1798, Napoledo teria dito a suas tropas: “Soldados, do alto destas pirémides quarenta séculos vos contemplam”. Essa frase sintetiza a im- portancia da historia do Egito e 0 fascinio que cau sava e ainda causa. Descreva com suas palavras os aspectos da cultura egipcia que mais impressionam até 0s dias de hoje e justifique suas ideias. Além dos aspectos politico e econdmico, o Egito influenciou também a vida cultural e religiosa do Reino de Cuxe. Apresente informacdes retiradas do capftulo que comprovem essa afirmagao. Apesar de praticar tradigbes matrilineares, € posst vel afirmar que no Reino de Cuxe todas as mulheres possufam prestigio social? Justifique sua resposta, Por meio da anélise de moedas, os estudiosos po dem chegar a quais informagdes sobre o Império de ‘Axum? Com base na leitura do capitulo, formule hipéteses a respeito de como fatores internos e externos ocasio: rnaram o fim do Império de Axum. Lleiae interprete s Leia com atengao o texto a seguir, também de Herédoto, ‘A medicina no Egito ¢ dividida em especalida des; cada médico trata de uma nica doenga, e nio de muitas. Todo o seu terztério é cheio de médicos, uns especializados em doencas dos olhos, outros em doenas da cabeca, outros dos dentes, outros do ventree alguns em doencas indefinidas. nor. Beh: Und 1985.9. 113 a) Com base no texto, € possivel deduzir que im- portancia tinha 0 conhecimento médico no Egito Antigo? Justifique. ) 0 que podemos concluir a respeito do acesso aos ‘cuidados médicos naquela época? 0 texto a seguir descreve a estrutura politica do Império de Axum, © Estado se dividia entre Axum propriamente dito e seus “reinos vassalos’, cujos monarcas esta vam sujeitos ao “rei dos reis” de Axum, a quem paga- vam tributo. Os gregos designavam o potentado de ‘Axum por basileus (somente Atandsio, o Grande, € Philostorgius o chamavam tirano): os reis vassalos ram conhecidos como arcontes, tiranos ou etnar- ‘as. Os autores sfrios, como Jodo de Bieso, Sime’o de Beth-Arsam e o autor do Livro dos Himiaritas, chamavam rei (mlk’) a0 "rei dos reis” de Axum, mas também aos reis de Himiar e de Alwa, seus siditos. No entanto, é preciso considerar que 0 termo axu rita empregado para todos eles era negus. S6 em determinados casos, quando se escrevia para leito- res estrangeiros, & que se empregavam as variagdes terminolégicas. Cada “povo", reno, principado, cidade, tribo tinha seu préprio negus. Existem re- feréncias a negus no exército axumita(..). Além do comando dos exércitos em tempo de guerra esses negus dirigiam os empreendimentos de construcdo. ons ¥ M. Axum d tel La secu V: eonomia sbema plc ecu, Moxa, Gara (Ed). i eral Arc 2 Ac anign 2 ed Basi: Unesco 2010.9. 403. a) Descreva a formacao politica do Império de Axum, b) Como os estrangeiros designavam o “rei dos reis de Axum" e os monarcas dos “reinos vassalos”? ). 0 texto a seguir é um trecho do Hino a Aton, de au- toria do faraé Ikhnaton. A obra é uma homenagem a Aton, divindade da religiao monotefsta que o faraé implantou durante seu reinado, no século XIV a.C. ll Como sto miltplas as coisas que fizestel Estio ocultas da face do homer. © Deus nico, nenhum outro se te igualal Tu proprio criaste 0 mundo de acordo com tua vontade, Enquanto ainda estavas sé: Todos os homens, gado e animais selvagens ‘Tudo que na terra caminha sobre seus proprios pés, Eo que fica nas alturas, voando por suas propriasasas Nas terras da Sitia e da Nubia ea terra do Egito, Colocaste cada homem em seu lugar, Supriste suas necessidades: Cada um tem seu sustento e seu tempo de vida é caleulado. Estao separados por seus idiomas, ‘Assim como por suas naturezas; Suas peles sio distintas, Porque distinguiste os povos estrangeiros Fizeste o Nilo abaixo do solo, ‘Trouxeste-o a luz, quando o desejaste, Para alimentar o povo do Egito Conforme o fizeste especialmente para ti, (© Senhor de todos, cansando-se com eles, © Aton-do-ia, gloriosa Majestade. ld Pa, Jame 100 tex de ht ang, Se So Pal a) Identifique o verso que mostra a passagem de uma tradigao politefsta para uma crenca monoteista, b) Qual era, para Ikhnéton, o papel do deus Gnico na criacdo das paisagens, dos animais e das pessoas que existem no mundo? €) Identifique os versos que se referem a0 Nilo e discorra sobre a importancia dele no aspecto ma terial para a populacao do Egito Antigo. 10.0 texto 2 seguir trata de calendérios antigos. Leia-o com atencao e faca as atividades. Dentre os calendirios primitivos conhecidos, pod: e caldeu), egipcio, chinés, hindu, h famos falar do babilénico (sumério, assirio ico, prego, maia, asteca, inca etc. Limitemo-nos ao calendé rio egipcio, que esta na origem do nosso. Na ver: so mais primitiva, o ano tinha 12 meses de 30 dias, totalizando 360 dias, Ainda no perlodo pré dinistico, por volta de 4200 a.C., foi criado um calendério lunar com 12 meses: 6 com 29 e 6 30 dias, totalizando 354 dias. O més, em mé tinha 29,5 dias, uma boa aproximagio para o més sinédico, Um 13° més era rio dos vigilantes sacerdotes e centado cada 3, as astronomes, para sincronizar esse calendario com ‘onascer heliaco de Sirius (Séthis para os egipcios) a mais brilhante estrela noturna. Esse evento, de- nominado Iniciador do Ano, coincidia com a chega- da da cheia do rio Nilo, em sincronia bes do ano. ym as esta: Por volta de 2900 a.. foi ofiializado um calen dério com 365 dias. Mas o ano propriamente tinha apenas 12 meses de 30 dias (360 dias) divididos em trés quadrimestres correspondentes as trésestagdes regidas pelo Nilo: Chea Pantio eColheita. No fim do 12'méseram acrescentados cinco dias suplementares {ue nio entravam no cSmputo oficial dos dias. Esse era um calendio solar e o més nele nio mantinha sincronia com as fases da Lua. Mas um nove calen dério nar ft criado por volta de 2500 a.C. que pro curava mantersincronia com o ano divi de 365 dias Ainrcan Bail Sto Plo: Doe, nde 2002 a) Os calendérios foram criados com base na ob: servacdo de fendmenos da natureza. No caso especifico do Egito, quais foram os principais fenémenos considerados? ) Que fendmenos assinalavam o inicio do ano egip: cio? Explique os motivos dessa caracterfstica, 11. Leia o texto e responda as questées. Ainda atividades ao seu redor, pequenas i: 1e dependessem economicamente das agricolas e pastoris que se desenrolavam ies como Haiti, Mel Marata e Yeha tormavam-se progressivan 0s de ativos artesanato e comércio. E cresciam. Uma delas desenvolveu-se mais depressa que ai mais: Axum. Ou Askum. Ou Aguaxumo, Ficava na parte ocidental do planalt solos bem regados e de fécil a Tigre, numa area de tho 80 a0 Mar Vert 0 Nilo...) Em pouco tempo, Axum tornou-se um importante empério do marfim e de outros artigos africanos. Dos altos planaltos do Tigre, a dominar o: vales dos rios Mareb e Tacazé, os axunitas contro lavam o trifico do interior para 0 mar Vermelho e intermediavam entre o Nilo e Aduli prague Ride Jan a) Quais eram as atividades econdmicas desempe- nnhadas pelas cidades do Império de Axum? b) € possivel dizer que a localizagao da cidade de Axum favoreceu sua supremacia econémica e politica sobre as demais cidades? 2.A obra a seguir, Escribo sentado, data provavelmen te do perfodo da IV dinastia, entre cerca de 2620 2500 a.C. A escultura esta exposta no Museu do Louvre, em Paris. Escrbo sentado (séculos KXVILXXVI 2.) a) Identfique na imagem algumas caracteristicas da fungdo exercida pelo escriba b) Pela observacdo da imagem, € possivel deduzir como era o clima da regiao? Justifique. ©) Pelo aspecto do escriba representado, explique como seria sua condicdo de vida na sociedade do Egito Antigo.

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