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eed iaass TEMAS DO NOVO CPC JUSTICA MULTIPORTAS Mediacado, conciliagao, arbitragem e outros meios de solu¢do adequada para conflitos COORDENADORES a Hermes Zaneti Jr. NOVS Tricia Navarro Xavier Cabral cPc 2017 | EDITORA jusPODIVM _ wows editorajuspodivm com.br Gx. 545093 ie Didier Jr Biblioteca CAPITULO 2 Justica Multiportas e Tutela Constitucional Adequada: Autocomposicao em Direitos Coletivos Fredie Didier Jr e Hermes Zaneti Jr.’ SUMARIO: 1 ENERALIDRDES JUSTIA MULTIORTAS (MULT DOOR JUSTICE) COMO JUSTCA ADE (UADA; 2.08 ALTERUATIVDADE A ADEGUAGAO; 3, 4 POSSBLIDADE DE TRANSACAO NOS POCESSOS COLETIVOS EO IPoSSIBKIDADE DE RENUNA AO DRT EM QUE EFDA AACR COLETA 40 ConeRONSSD = AUSTAMENTO DE CONDUTA: EXTRAUDIILE UII, GENERALDADES 42, ‘ORs PUBLICS LECITIMADOS: STERO PUBLIC, DEFENSORIA PBL, ADVOCACA PUBLICA (UErTMADoS PARA 0 CONPRONISO EXTRAUDIGAL OU JUD) € 05 DENAIS COLEGTIAADOS {UecAAD0S PARA OCOMPROMLSSOJUICAL}: 43, ACONCREG KO E DIETS EDEVERE PARTIR ‘00s COMPROMSSO DE AJUSTANENTO DE CONDUTA 4, & UTIUZACA DA PRODUCADANTECPADA DE FROVAS COMO ISTRURENTO QUE ESTMULA kAUTOCONPOSIGO; 5. AUDEN PRELIMIUAR DE wea OU CONCIAGR ART, 34 PC: 6 EOS URIDICOS FROCESSUN COLETVOS, 7.8 ‘ATOCOMPOSICKO Ea ARO DE IAPROIOADEACNINSTRATA; 7:1. REVOGAGHO D0 AR, $1, ‘EI, ania NECESSARIATERPRETACHO HISTORIA. A COLABORACHO PREMIADA 0 AOR ODE LENE Como NEGOCIOSURIIOS PROCESSUS ATPICOS NO PROCESS OE IAPROBIDADE ADNINITRATIVK, 72. AUTOCONFOSIHOE0 PEI DE RESSARCIMENO AO ERARIO:& CONTROLE ‘Dk AUTOCONPOSIAO PELO JUL. ODEVER DE CONTROL DO MERIIO D0 ACORDO EO LEGTINACAO -ADEQUADK; 9. LNITESk AUTOCOWPOSICKO NOs PROESSOSCOLETDS 0 CUTRAS PONDERAGDES ‘owTPAG ACORDDJUICAL:FISCALL2AG O00 DESEQULIBRID ECONENICDE DEINFORIAGOES ETRE ‘AS PARIES 1.0 PRINCI DA PAINAZIA DO ULGAMENTO DE MERIT, TUTELAHTEGRAL DO DRE, DSPARIOADE ECONOMECAEARECESSDADEDE PRODUC HO De FROVAADEQUADA FARA A CONCILACAO (0 MEDIGHO: COIS ULGADA REBUS Sic STANTU; 12. RPOSIBLIDADE DE IMPUGHAGAO ELAS COLEGTNADOS FoR MLO DO RECURSO DE TERCRDINTERESADO DUTRAS ACO DE MPUGNAGKO AUTNOWAS; 13. CONCLUSCES; REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS. Prolessorassociado da Faculdade de Direlto da Universidade Federal da Bahia (graduaczo, mestrada e \dovtorat).Coordenador do curso de gracuardo da Faculdade Balana de Dreito, Membro da Associnca0 Invernacional de oireito Processual (AP), do msiutoIberoamericano de Direte Pracessual do Instituto Basler de Direto Processual e da Associa Norte e Nordeste de Professores de Processo. Mestre (UF8A), Doutor(PUC/S), Lie docente (USP) e Ps doutorado (Universidade de Lisboa). Advogado ¢ on- sultor jurgico, wow frediedidiercom br Mestre © Doutor (UFR). Professor do Programa de Pés-GraduacHo Stito Sensu da UFES (Mestrado), Frofessor do Curso de Pos-Greduacdo lato sensu -Pracesso e Consiuicio~ da Faculdade de Dieta a FRCS. Promotor de ustica no Estado do Espirito Santo, Membro de Instituto Arasilera de DireitaProces sia ‘GRANDES TEMAS DO NCPC, v.9-JUSTICA MULTIPORTAS. 1, GENERALIDADES. JUSTICA MULTIPORTAS (MULTI-DOOR JUSTICE) COMO JUSTIGA ADEQUADA 0 processo civil esta passando por uma radical transformacao. A justica estatal classica, adjudicada pelo juiz, ndo é mais 0 tinico meio adequado para a solucao de contlitos. Ao lado desta justi¢a de porta tnica, surgem novas formas de acesso: a justica se torna uma justica multiportas.’ Nesta nova justica, a solucao judicial deixa de ter a primazia nos litigios que permitem a autocomposicao e passa a ser ultima ratio, extrema ratio.‘ As- sim, do acesso a justiqa dos tribunais passamos ao acesso aos direitos pela vi adequada de composigao, da mesma forma que, no campo do proceso, mi gramos da tutela processual, como fim em si mesmo, para a tutela dos direitos, como finalidade do processo. A doutrina reafirma esta mudanca, que significa, além da necessidade de adequacao da justica, a emergéncia da atipicidade dos meios de solucao de 3. experiencia da uultdoorcorthouse fl sugerda em 1976 por Frank Sander, Professor Emésto da Harr ‘aw Seo, SANDERS, Frank. The Pound Conference: Perspectives on usc inthe Future. St. Pau West Pub. 1979, fi ctado por VENTUR, Eon. Yraneagio de direitos Indisponivelsl. In Revita de Process . 252, ano 4 So Paulo: Ea jan, 2016p. 391-426 Vale lembrar, como fez Eduardo Oela, que a origem do discurso forte americano sobre 05 meos alteratives para solugio dos problemas juicros ja se encortrava fem POUND, Roscoe. The causes of popular dissatisfaction withthe administration of use. Disponivel er hp lawaunl.edu/RoscoePound pat. Acesso er: 2.032036, apresentado na Annual Convention ofthe Ane rican Bar Assocation, er 190, anda, OTE, Edvard Puta ce vista WARC/ADRy dversidae de cuturs: € eempio latino americano,Texe de le conferencia dctada em el Congress de ta Associcin internacional de Derecho Procesa sobre Modos Aernatvos de soli de Confit en la Universidad Fri , Sorbonne, 218 2o,isponive em: ww eademia.ed Acess0 em: 003.2095, tem 3 Sobre anfugnca cura ro processo, em especial na que diz respeito 20s sistemas de resolucao de coats afirma a doutrina “sistemas de resoluco de dsputas nto exstem na natureza~ ees sto criados pelo ser humano e possuem cspecifcidade cultural] processo é uma das mais importantes isttugBes através das quais 2 const: ‘lo da vida social se opera.” CHASE, Oscar C.Dreito, Cultura e Ritual Sistemas de Resolutio de Confitos no Context de Cutura Comparada. Trad: Sergio Areahart; Gustavo Osna. Go Paulo: Marcial Pons, 2034, p15) 4 MARINON, Luiz Cuiherme; ARENMART, Sérgio Cruz; MMDIER, Daniel. Novo Curso de Processo Civ Tatla {os Dretos mediante o procedimento comum. Volume 2, $40 Paulo: R, 2015, D. 173 ANORENS, Nel. \aweano, Vincenzo (a cura dD. Vara Giusti: ! Meco i Solizioni dele Contoversie nel to Compara Milano: Gir, 207, p. 17-18. 0 carder residual da justica comum & comprovado pela experiéncia dos Estados Unidos e da Inglaterra. Citado por Andrews, os Praice Directions - Protocol afirmamy "0 processo jurieciional deve ser a extrema ratio, e. a5 clemancias jciciais nao devem ser promovidas prematira ‘mente, quando é ainda provivel uma transacio" 5. Rikdeia de adequar o aesso & justia aos direitos & defencida intemaionalmente A justica nfo-etatl ‘Rio é apenas alternativa, mas, em determinados casos, é a justca mals adequada. O principio que fs ‘ta €38a possblidade & justamente o principio da adequacio, Na doutsna, defendendo o principio da adequacde e apontando inclusive algumas das principals creas a0 sistema multipotas, em especial as euidades eulturas dos operadores brass, a necessidade de qualfcare preparat os prfissionals para o exericlo da mediacio e da conclacio, a criacdo de centros para as sessdes de mediacio © audliéncias de conclacio, etc, ct: ALMEIDA, Diogo Assumpcio Rezense de. 0 principio da adequacao (9s métortos de solucio de confitos. Resa de Proceso, vol. 19, ano 34. 0 Fal I, malo, 201, P87 238; NETO, Joo Luiz Lessa. 0 novo CPC adotou o medela muliportailE agora. In Revista de Proceso, ol 244 ao 40. Ho Paulo jun, 2085, 427-4 36 (Cep.2+JUSTICA MULTIPORTAS ETUTELA CONSTITUCIONAL ADEQUADA Fred Didier Je Hermes Zant ito de acesso ao Direito, pilar fundamental do Estado de Di- reito, vem sofrendo profundas transformacdes. Deixou de ser um direito de acesso a0 Direito através do direito de acesso aos tribunais para passar a ser um direito de acesso ao direito, de preferéncia sem contato ou sem passagem pelos tribunais (...] Agora, 0 direito de acesso aos tribunais € um retaguarda, sendo seu exercicio legitimo antecedido de uma série de A busca pela tutela dos direitos adequada, tempestiva e efetiva, exige a adequacéo do acesso a tutela, ocorrendo uma passagem necessaria da justica estatal imperativa, com a aplicagéo do Direito objetivo como dinica finalidade do modelo de justica, para a aplicacdo da justica coexistencial, uma mending justice (uma justica capaz de remendar o tecido social), focada na pacificacao na continuidade da convivéncia das pessoas, na condicao de individuos, comu- nidade ou grupos envolvidos.’ 2. DAALTERNATIVIDADE A ADEQUACAO 0 que importa atualmente, como visto, nao é mais o selo da “alternativi dade”, de todo duvidosa, aposto & conciliacao ou & mediacao. Primeiramente, & preciso respeitar a escolha dos interessados e garantir que ela seja feita em igualdade de condigdes (princfpios da autonomia da von- tade e da decisdo informada, previstos no art. 166 do CPC). Depois, é preciso considerar a “adequacao” do meio ~ a sua “alterna vidade”.* Aos olhos do CPC nao ha superioridade da justica estatal em relacao aos demais meios de solucao de controvérsias. Como afirmou a doutrina: “a dnica relagdo que, num Estado de Direito, pode legitimamente existir é uma relacio de adequacao. A mediagao e a conci- liagao serao modos legitimos de resolucao de conflitos se forem os modos ade- quados de resolucao desses conflitos. Esta observacao nao é inconsequente, pois ela repercute efeitos sobre a compatibilidade constitucional de solucdes {COSTAE SIVA, Paula. A Mova Faced jstica. Os Melos txrojudiis de Resolugdo de Canrovérsis.Usboa Coimbra Editor, 2009, p. 19-23. Sodre o principio da atipiidade, idem, p. 24 7. GOPELLETT, Mauro, Notas sobre concliadores e conciiagao. Tad. Hermes Zanetl ft Ins CAPPELLET, auto, Process, Ideoogis e Sociedade. Trad, Nemes Zanet Vol. 2. Porta Alegre: Sergio Antonio Fabris Ett, 2000, p 15-200 8 007C rata a adequacio e aflexilidade dos procedimentos como uma das suas premissas para ating 0 objeto da tutela adequadse etetiva, Ao contriro do CPC-1973, a qual 0 processa eo procedimento ram consierados normas de orem pila, de cadter cogente e inderrogivel pelas partes ¢ pelo Iz, 0 que acaretava uma série de nulidades absolutas por inversao au alteragie procechmenta,o CPC alual permite &s partes e 20 juz estabelecerem 0 procecimento que mals se ajuste & solugto do Igo, Sendo controlads a escolha pela sua capacidade de prover na acequada solucao,crério material de audequagio a0 diretotuelado, eno por um eritério formal de adequacio, 37 (GRANDES TEMAS DO NCPC, ».9+JUSTICA MULTIPORTAS que impliquem a criacao de entraves processuais ou desvantagens patrimoniais no acesso aos tribunais.”* Esse movimento ocorreu no ambito da tutela dos direitos individuais; as- sim, pergunta-se: podemos negar este processo de evolugéo dos mecanismos de prestacao jurisdicional na justica coletiva? No processo coletivo nao é nem poderia ser diferente. Embora cuide de direitos indisponiveis, cabe autocom posigao em causas coletivas, nao hé diivida Recentemente, como veremos a seguir, alteracdes legislativas no Direito brasileiro reforgaram a previsdo ja existente na aco civil publica, que era a regra geral na matéria (art. 59, § 6°, Lei n. 7.347/1985). 3. DA POSSIBILIDADE DE TRANSAGAO NOS PROCESSOS COLETIVOS E DA IMPOSSIBILIDADE DE RENUNCIA AO DIREITO EM QUE SE FUNDA A ACAO. COLETIVA Nao & possivel haver rendincia ao direito sobre 0 que se funda a a¢ao co- letiva, que nao é de titularidade do legitimado extraordinario coletivo, mas do grupo; é possivel, porém, cogitar o reconhecimento da procedéncia do pedido, por se tratar de beneficio para o grupo - salvo em casos de situacdes juridicas coletivas passivas, em que a tOnica da indisponibilidade se mantém, pois inte- resses do grupo estarao no polo passivo do processo. Em razao disso, ndo se pode negar que hoje, no Brasil, a espécie m: comum de autocomposicao no processo coletivo é a transacdo, ndo obstante a regra do art. 841 do Cédigo Civil.” Veja, inclusive, que, no caso de processo duplamente coletivo, somente sera admissivel a transacao como meio de autocomposicao. Pois ha grupos em ambos os polos, representados por substitutos processuais. Assim, 0 que determina ou nao a possibilidade de rentincia do direito € 0 fato de ele se tratar de um direito do grupo ou de um direito individual. Os di- reitos do grupo sao tutelados em juizo pelos colegitimados, sendo indisponive para os colegitimados, dai nao se admitir a sua rentincia - os colegitimadlos nao possuem legitimacao extraordindria material. 5, COSTAE SIVA, Paula, A ova Face da justica. Os Melos Exroucicis de Resolutio ce Controvérsns, 35. 20. Art, Bar. 6 quanto a direitos patrimoniis de caraterprivado se permite = transacao (Cédigo Civil Bras leio, 2002) Neste sentido, justamente pelo criterindisponivel © no-patrimorial, importante doutrina se posicionou restriivamente = transagdes em dlreitos coletivos e com importantes consideracées tetas sobre as alternatvas & jrisdicdo, ch TARUFF, Michele. Un’Akernativa cle Alternative: Modelh ‘solzione dei Con ns Revista Argurnenta Journal Law. 7,207 38 (Cap.2«JUSTIGA MULTIPORTAS ETUTELA CONSTITUCIONAL ADEQUADA Fedele Je Hermes Zant Porém, por se tratar de legitimado por substituicao processual, a transa- co tera limites mais rigorosos, por nao serem eles os préprios titulares do direito que veiculam a acao."* Com estas observacdes podemos afirmar que € possivel aplicar, entéo, por analogia, o regramento da transacéo aos chamados direitos coletivos (lato sensu), basicamente, mas nao sé, pelas seguintes razées, enumeradas pela doutrina: a) no momento em que se reconhece constitucionalmente a tutela dos direitos coletivos, nao se pode impedir a efetivacdo deles, cerceando a atuacéo de quem por eles compete lutar, especialmente se a transacao se mostrar 0 meio mais adequado; b) a indisponibilidade nao sera afetada, na medida em que visa, com a transa¢io, a sua maior efetivacdo;” ©) a efetivacio dos direitos exige sua concretizacio.” 0 COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA: EXTRAJUDICIAL E JUDICIAL, 4.1, Generalidades A Lei de Acdo Civil Pablica (art. 52, § 6%, da Lei ne 7.347/1985), modificada pelo Cédigo de Defesa do Consumidor, instituiu 0 chamado compromisso de ajustamento de conduta, neg6« ico extrajudicial com forca de titulo exe- cutivo, celebrado por escrito entre os érgos piiblicos legitimados & protecao dos interesses tutelados pela lei e os futuros réus dessas respectivas acdes. Trata-se de modalidade especitica de transacao, para uns, ou de verda- deiro negécio juridico, para outros.” Quer se adote esta ou aquela concepcao, 1. Compreendeu 9 ponto: GRAVONSK, Alexandre Amaral. Autocomposiclo no novo CFC € nas Aces Cole thas, ns ZANEN fe, Hermes (coord), Repercssdes no Novo CPC: Prcesso CoeiNo. Salvador: lusPodv, 2016, 9 350-351 12, PERERA, Ma¥co AntBnlo Marcondes. “Transa¢Z0 no curso da a¢3o cl plies”. in: Revista de Direto do ‘Consumidor, S30 Paulo: R36, p. 24-135, Como afiema Ata Luiza Nery: "2 inésponboilidade cos creitos ‘a € ronesto absoluto,e sim relative, permitindo que dirlts transindlviduals possam ser objeto de transa¢ao pelos legtimados para sua defesa”. (NERY, Ana Lua de Andrade. Compromisso de justamento ‘de condita. 2 ed, So Paulo: R, 2012 . 351.) €arremata: “a negociagdo da melhor solucdo por meio do ‘ustamento € apenas a meio mais ripido © dstante de demandas Improfcuas e perenizadas, multas vezes com resultados infriores, © que semeia uma justia desmoralizada™ (idem. p. 155). 13, ema & debatico a muito tempo pela doutrina que ida com 2 metodologa Juridica, com @ teorla do ‘eto com 0 ireto constiucioal, mas basta, aqu, para reforcar esta imperatividade da tutela dos iretos, em especial dos direitos complexos, citar os trabalhos de Alexandre Cravorsi. Cl: GRAVONSH, Dlexandre Amaral, Téenieas Exraprocessvals de Tela Coletva. Sto Paulo: RF, 2013, esp. p. 136-184; CRA YONI, Alexandre Amaral. Autocomposieio no novo CC e nas Agbes Coletivas. nz ZANET! J, Hermes (coord), Repercissbes do Nove CPC: Process Coletve. Sahador: jusPocivm, 2036, p. 339362 14, Sobre @ asunto, entendendo tratarse de negécio jurdica bilateral RODRIGUES, Geisa de Assis. Ago civil publica e ermo de austamento de cond - tora e prea, Rio de Janeiro: Forense, 2002p. 97240; NERY, ‘na tulea de Andrade. Compromisso de gjustamento de conduta 24. it. B56 39 (GRANDES TEMAS 00 NCEC, v.9-JUSTIGA MULTIPORTAS. © certo € que se trata de modalidade de acordo, com nitida finalidade conci- liat6 ‘A autocomposicao € alcancada no mais das vezes pela negociacao direta®* entre 0 6rgao pubblico e o possivel réu de acao coletiva. A partir dos Pactos Republicanos pela justica, frutos de uma estratégia in- ternacional para a América Latina,’ uma série de medidas foram adotadas no Brasil para disciplinar a transacao, inclusive nos processos coletivos. A Resolucao n. 02 de 21.06.2011, medida conjunta dos Conselhos Nacionais de Justica e do Ministério PUblico, determina a criacao de um cadastro nacional com informagées sobre acdes coletivas, inquétitos civis e termos de ajusta- mento de conduta firmados pelo Ministério Piblico. A Resolucao n. 125/2010 do Conselho Nacional de Justica e a Resolucdo n. 118/2014 do Conselho Nacional do Ministério PGblico tratam da mediacao, conciliagao, negociacao e outras formas de conciliacao. Pelo compromisso de ajustamento de conduta, nado se pode dispensar a satisfagio do direito transindividual ofendido; nao cabe a renincia, mas, tao-somente, a regulacio do modo como se deveré proceder a reparacdo dos preijuizos. a concretizar dos elementos normativos para a efetivacdo do direito coletivo.”” Isso nao quer dizer que 0 “espaco de negociacao” seja pequeno. Como afirma Ana Luiza de Andrade Nery, “o espaco transacional possivel no compro: misso de ajustamento de conduta nao se refere a aspectos meramente formais do negocio (...) As partes poderao entabular, no compromisso, direitos e obri gages para ambas as partes, que he confiram carater de maxima eficiéncia para os fins pretendidos pelos celebrantes. Assim, poderao ser previstas obr gacbes a serem cumpridas tanto pelo particular como pela entidade piblica que celebra o ajustamento”*. 25, Sobre a negoriagio direta confer: ABRAL, AntBnio do Passo; CUNNA,Leanardo Carneiro da. Negociagdo direta ou resoludo colaboratve de cispuas (colaberative law): “mediagdo sem mediador I ZANET IR Hermes; XAVIER, Trica Navarro. justica Muliporas.(Coletanea Internacional Colegdo Grandes Temas de Novo CPC. Coord, Geral Freie Didier I). Salvador us Poi, 2036 16, TEAR, Eduardo, Punto de vista: MARGIADRy dversdade de cultures; el ejemplo latino american. Texto de a conjerenciadictada em el Congresso de la ASSclaién Internacional de Derecho Procesal sobre Modos ‘Aternativos de Solucién de Conflicts en la Universidad Paris 2, Sorbonne, 212-2005, www. academe, acess0 em 20052016 a7. "De conseguinte, 0 compromisso tem que ser um melo através do qual se possa alcancar, pelo menes, tudo agullo que seja possve obier em sede de eventual julgamento de procedéncia em a¢30 Judea re lacionada Aquelaconduta especiia” (ROOR UES, Geisa de ASSIS, Aro cl pla termo de auisomenta de conc, cit, p17) 8. NERY, Aa Lufza de Andrade. Compromisso de oustamento de condute. ed. i. P. 198 (Cap. 2 JUSTICA MULTIPORTAS ETUTELA CONSTITUCIONAL ADEQUADA Frei Dir Jee Hermes Zanes A ligao € correta é importantissima. A autora dé excelente exemplo: ima- gine-se que, no compromisso, se ajuste um tempo maior para que o particular se adapte a exigéncia legal; nesse caso, se 0 ente ptiblico ajuizar acao civil pablica, violando a cléusula em que se comprometia a esperar a adequacéo do particular, “evidentemente o ajuste serd o fundamento da defesa judicial a ser apresentada pelo particular, que alegard, ainda, a violacdo ao dever legal de boa-fé, incidindo na conduta proibitiva do venire contra factum proprium por parte da Administracao Pablica”». Rigorosamente, nem hé necessidade de alegar o venire contra factum proprium; a situacao 6 mais simples: trata-se de inadimplemento do compromisso, Enfim, 0 compromisso de ajustamento de conduta nao pode ser compreen- ido como mera anuéncia, submiss&o ou concordancia plena pelo administrado a0s termos propostos pelo legitimado coletivo, A partir da previsdo normativa que autoriza o ajustamento extrajudicial da conduta, as partes litigantes podem firmar acordos em demandas coletivas, de modo que se ponha fim ao processo com resolucao do mérito (art. 487, I, “pr, CPC). Sobre 0 assunto, com preciso, Geisa de Assis Rodrigues, comparando a autocomposicao judicial, nestas situacBes, com 0 compromisso de ajustamento de conduta previsto no art. 5», § 6%, da Lei ne 7.347/1985:" “A conciliacdo judicial tem as mesmas limitagdes que 0 compro- miso de ajuste de conduta. (... Portanto, é cabivel falar em ajus- te de conduta judicial e extrajudicial, posto que mesmo se tratan- do de questao posta em juizo nao ha possibilidade de transigit sobre 0 objeto do direito, apenas sendo admissivel a definicao de prazos, condigdes, lugar € forma de cumprimento, ainda que se utilize 0 termo de transagao”» Geisa Rodrigues aponta as distingSes entre o ajustamento de conduta ju- ical e o extrajudicial: a) a legitimidade para o ajuste judicial € mais ampla do ue o extrajudicial, restrito aos érgos publics,” b) as implicagdes processuais 1p, NERY, Aa Luiza de Andrade. Compromisso de ajustamento de conduta ed, cit, . 198-19. 2e. NERY, Ana Luiza de Andrade. Compromisso de austamento de conduta. > ed. cit. p.u?-143. 2. Sobre a possblidade de acorco em demandas coletivas, apenas para iistran MANCUSO, Rodolio de Camargo. Ago civil publica. 8 ed. S4o Paulo: RT, 2002 p. 225-238; PEREIRA, Marco Anno Marcondes. A ‘wansacio no curso da agio evil palin, ct, p. 116128 a, §6do art 5: da Lel re 7347/1685: “Os bros piblicoslegtimados poderdo tomar dos ineressados com pramisso de ajustamento de sua conduta is exigéncas legais, mediante cominacBes, que ters etcicia e iulo exeeutivo extrajudicial. 2, RODRIGUES, Gesa de Asis. Ato cl plea e term de ajustamento de condita, ct, p. 234 24, Discord, no particular, josé Marcelo Vil, para quem hi também limitacio da legitiidade aos 6rglos pallies para a conellagao jucicial (VIGUAR, José Marcelo, Ao chil publica. 5» ed, S50 Paulo: Kas, 200, a ‘GRANDES TEWAS DONCPC v9 JUSTICA MULTIPORTAS que surgem do acordo judicial (extingao, com consequente produgao da coisa julgada, ou suspensao do feito até o efetivo cumprimento do ajuste), estranhas ao extrajudicial; ¢) a formacao, pelo acordo judicial, de titulo executivo judicial, enquanto 0 outro é extrajudicial. De todo modo, 0 compromisso de ajusta: mento de conduta extrajudicial pode ser levado & homologacao judicial (art. 515, Ill, CPC) € importante, registrar, que a legitimidade para a celebracao do acordo Gudicial ou extrajudicial) se submete as mesmas exigéncias de “representa dade adequada” para a caracterizacao da legitimidade ad causam". Além disto, esta submetida ao mesmo controle judicial de adequacao em razao do objeto, além da possibilidade de impugnacao, como se vera adiante. Ha julgado que esclarece muito bem a importdncia de permitir a transagao em direitos difusos relacionados ao cumprimento de obrigacdes de fazer e nao fazer, desde que controlada pelo juizo e pela presenca do interesse piblico primario € no s6 e exclusivamente pelo Ministério Pdblico (St), 2° T., REsp ne 299.400/R), rel. Min. Pecanha Martins, rel. p/ acérdao Min. Eliana Calmon, j. em 01.06.2006, publicado no 0} de 02.08.2006, p. 229), cuja ementa se iranscreve € cujo contetido deve ser lido pelo estudioso, em razao da bela polémica trava da: “PROCESSO CIVIL - AGAO CIVIL PUBLICA POR DANO AMBIENTAL - AJUS TAMENTO DE CONDUTA - TRANSACAO DO MINISTERIO PUBLICO ~ POSSI BILIDADE. 3. A regra geral 6 de nao serem passiveis de transacao 0s direitos difusos. 2. Quando se tratar de direitos difusos que importem obrigacao de fazer ou nao fazer deve-se dar tratamen- to distinto, possibilitando dar & controvérsia a melhor solugao ‘na composi¢ao do dano, quando impossivel © retorno ao status quo ante. 3. A admissibilidade de transacao de direitos difusos € excecdo & regra’, Assim, em casos especiais, a regra geral pode ceder a realidade e, me- diante controle do juiz e do Ministério Piblico, ser possivel transacionar para atender a tutela especifica da obrigacao de fazer ou nao fazer, de forma a pro- piciar o “equivalente” a efetivagéo da tutela especifica,* bem como, a tutela que tenha por objeto a prestacao pecuniaria 50) Wao vemos coma possa vingar essa linitac20, que judicalmente haverd, na minimo, a part: acdo da Ministério Pablo como custos eg. 25, RODRGUES,Gelsa ce ASSs. ACO chil publia terma de ajustamento de condita, Cp. 3326 25. NERY Ana Lui de Andrade. Compromisso de ajustamento de conduta, 2 ed, ck, 277 27. NERY, Ana Luiza de Andrade, Compromisso de ajustamento de conduta. 2 ed, ct, p. 291-202. 28. Quesiaa preocupante nos acordos em causascoetivas diz respelo 8 elciia erga omnes da coisa julgada surpida com a homologacao judicial do acordo, Como & cedigo, 0 regime de producto da cosa lulgada ‘as demandas coletivas€ dstinto do repramento comum; 2 eficca subjetiva da coisa julgada € um dos a ‘Cop 2-JUSTIGA MULTIPORTAS ETUTELA CONSTITUCIONAL ADEQUADA Fred ide hermes Zane 42. Orgios pablicos legitimados: Ministério Puiblico, Defensoria Publica, Advo- 0§ 6+, do art. 5», da Lei n. 7.347/1985, determina que qualquer dos érgaos publicos legitimados poderd tomar dos interessados compromisso de ajusta- mento de sua conduta as exigéncias legais. Apresentam-se trés conclus6es: 1) apenas os drgaos puiblicos poderao fir- mar 0 compromisso de ajustamento de conduta; 2) 0 Ministério Piblico nao é tinico érgéo piiblico que poderd firmé-lo; 3) ndo ha disponibilidade sobre o ob- jeto, sendo que o compromisso deverd estar estritamente vinculado as exigén- cias normativas, incluindo os precedentes, € aos padrdes dla Dogmatica Juridica, 0 Consetho Nacional do Ministério PUiblico acrescentou a expressio exigén- cias normativas (abrindo o sistema), acrescentando ainda a possibilidade de compensacao ou indenizagdo para os danos em que nao for possivel a tutela especifica (art. 14 da Res. ne 23 do CNMP). Nao se pode esquecer que o art. 784, IV, CPC, reconheceu o carater de titulo executivo extrajudicial também as transaces referendadas pelo Ministé- rio PAblico, pela Detensoria Piiblica, pela Advocacia Publica, pelos advogados dos transatores (valido para os processos coletivos apenas em se tratando de direitos disponiveis) ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal. A Defensoria Publica pode celebrar compromisso de ajustamento de con: duta, ja que é um “6rgao piblico” (art. 52, § 6°, Lei n. 7.347/1985). Por outro lado, nao ha nenhuma limitagao quanto aos colegitimados em se tra. tando de transacao efetuada em juizo. Uma especial razao para isto é a presenca, pontos dstinivos determinantes. Assim, havendo homologacio de acordo judicial em causa coletva, haveré produgaa da cosa jlgada erga omnes, impedindo a repropositura da demanda por qualquer dos Calegimados, incisive por aqueles que nao participaram da celebragi do negéciojuriseo. 0 acordo fiat rao produ efekos apenas em relacdo 20s acordantes, pois 0 seu objeto & cieito transiné val. ssas dreunstdncias fazem com que admitamos a possiblidade de o tercero colegiado ingressar ‘mum reauso, com vistas 2 questionar a homologaca0 do acordo,postulando, assim, 0 prosseguimento 4o eto em eiregio & heterocomposiga. Caso nao se permita essa impugnagao recursal do terceiro, ‘stari sendo vedaco 0 acesso do colegimado a0 judiciro, pois, com a coisa julgada, nent juice po deri reapreciar a causa esse ponte também é fundamental, pois, ros Igios individu, a coisa ulgada surgida da homologacio da transacio ado aleta 0 tercero. 86 Ihe restaia @ a¢20 resoséria. Concar ‘amos, pos, com as conclusées de Geisa de Assis Rodrigues: “A dlscordancia das demas colegiimads deve ser feta através da utllacao dos mecanisios de revisio da decsHo judi, ou sejas recursos ‘abives ov acces autdnomas de impugnacdo, dependendo do caso conereto. a dedsée homologcnio © ‘use formula em juz ¢ uma decisao de merit, e porta, poder ser acobertaca pela imtangibiiade onorocessun! da cosa julgnla materia” RODRIGUES, Geisa de ASSIS. A(00 ci plc ¢ erm de jute imerto de condte, ct, p. 237; também aémiindo o questionamento do acerdo pelo colegtimace: VCLAR, José Marcelo. Ado cl pba, cp. 9) 8 [GRANDES TEMAS DO NCPC v.9-JUSTICA MULTIPORTAS. em todas as ages coletivas, do Ministério Pablico como fiscal do ordenamento juridico; outra razao é a presenca do juiz, como fiscal do acordo a ser homologado. 4.3. A concregéo de direitos e deveres a partir dos compromissos de ajusta- mento de conduta Ha, ainda, a possibilidade de concrecao de direitos a partir do compro- isso firmado, 0 dogma da vinculacao estrita do Direito a lei cede espaco A nogao con- temporanea de juridicidade, ou seja, a ideia de vinculacdo dos aplicadores do direito a0 sentido da norma constitucional e infraconstitucional em conformida- de & unidade narrativa da Constituigio.” No atual estado do nosso ordenamento juridico, na presenca de normas porosas, de tessitura aberta, na forma de pautas carentes de preenchimento, tais como os conceitos juridicos indeterminados e clausulas gerais (enunciados normativos) e os principios (norma juridica), é natural que existam graus de in- teresse piiblico e uma disponibilidade motivada daf decorrente na determina cao dos deveres descritos nas normas juridicas. Além disto, a maior participa Go dos grupos poderd influenciar na concretizagao da norma (e.g. audiéncias puiblicas e amicus curiae, nao por acaso ambos previstos no CPC). No compromisso de ajustamento de conduta, deve o 6rgdo legitimado a celebré-lo proceder a uma aplicacao nao jurisdicional do principio da unidade narrativa da Constituicao; assim, se devem evitar compromissos que nao aten dam a finalidade da ordenamento juridico, Note, contudo, que ao firmar um compromisso de ajustamento de conduta, mesmo quando a lei nao tenha previsto o regramento especifico para o caso, 28, OTERO, Paulo, Legaldede © administragdo pice: o sentido da vinculacdo adminstiva & jurdicidode Lisboa: almedina, 2003, p. 15, no12 5. Arelagio entre a partiparao democrtica no processo,contradk6ro, as audiéndas pibicas ¢ 0 amas curiae esté marcada claramente nos enuncados do FPPC (drum Permanente de Processualistas Cis): FPPC:BW Eunciado 1250 (at 38a 15) Admite-se a intervene co amicus curiae nas causes wabalises, na forma do art. 13, sempre que o juz ov relatar visimbra a relevancia a matéra, a espeifidade do tema objeto da demanda ou a reperussao geral da controversia, fn de obter uma dei respldad no Dluraidede do debate e, portant, meis demacctica. (Grupe: Impacto do CRC no prcesso do trabalho) “V Frncivtéria Enundado me 4. (ar. 927, § 1,198) 0 microsistema de aplicacto e formagao dos prece: dntes deveri respeitar as téenicas de ampliagio do contraditério para amadurecimento da tes, como a realizacio de audigncas poblcas prévias © participacio de amicus curiae. (Grupo: Precedents, 1OR Recursos Repetitive e Assuncio de competéneia";"V FPFC-it6ra Enunciado ne 393. (as. 138,026, 8, € 921, §.») E cabve a itervencao de amicus curiae no procedimento de edicio, revsdo & cancelamento de {enuncados de simula pelos irounas. Grupo: ttsconsércoe iatervencio de tereirs) W FPPCAH Eun ‘arto m 175 (ar, 627, § 29 0 relator deve fundamentar @ deiso gue inadmitr« patipagao de pessoas, Crgtos ou entdadese deverd jstificar a nao realaaczo de audiéncias publica. (Grupo: Preedertes)” (Cap. 2 JUSTIGA MULTIPORTAS ETUTELA CONSTITUCIONAL ADEQUADA Fred Dialer e Heres Zonet J. jimado nao tem 0 poder de dispor do direito material coletivo; por isso, o érgao vincula-se aos precedentes nos casos andlogos e aos detalhes pré: prios do caso concreto € aos padrdes da Dogmética Juridica, para concretizar © direito coletivo. Isto porque, nos modelos abertos de aplicacao do direito, a dogmatica se amplia para além da lei, incluindo os precedentes € o trabalho da doutrina em uma compreenséo hermenéutica do problema juridico enfrentado.” Por esta razdo, acertada a ampliacao do texto do art. 14 da Resoluc&o ne 23 do Conselho Nacional do Ministério Pblico, para incluir, na definicao do “ajus- tamento da conduta”, além das exigéncias legais, outras exigéncias normativas, incluindo-se as resolucdes e decretos, bem como a interpretacdo dada pelos ér- gaos competentes as clausulas gerais de tutela dos direitos coletivos lato sensu: Art. 14 da Res. ne 23 do CNMP: “0 Ministério Pdblico podera firmar compromisso de ajustamento de conduta, nos casos previstos em |ei, com o responsavel pela ameaca ou lesio aos interesses ou direitos mencionados no artigo 1» desta Resolucao, visando a re- paracao do dano, & adequacao da conduta as exigéncias legais ou normativas €, ainda, & compensagao e/ou 3 indenizacao pelos anos que nao possam ser recuperados". E fundamental repisar 0 que se tem dito alhures: € preciso compreender que 0 Direito nao se resume a lei. A passagem “da lei para o ordenamento juridico” também ocorreu no CPC/2015. Basta observar que 0 CPC, nos arts. 8, 140 € 178, ndo fala em mais em lei, aplicacao da lei, ou em fiscal da lei, como referia 0 CPC/1973 (art. 59, LINDB, art. 126 € art. 82, CPC/1973); mas, em todos casos, seja na interpretacao do direito (art. &), seja na aplicagao (art. 140), seja fa atuacéo do Ministério PUblico como interveniente, o legislador processual contemporaneo refere ao “ordenamento juridico”. Esta mudanga nao € pequena nem se deu por acaso; ela segue a linha da constitucionalizago do processo, pois, j4 no art. 1°, 0 CPC afirma que sera interpretado e aplicado segundo os valores e normas previstos na Constituicao. A utilizagao da produgéo antecipada de provas como instrumento que estimula a autocomposigo A producao antecipada de provas foi reconstruida no CPC. A partir de agora, a producao de prova poder ser utilizada de modo a servir como im- Poriante instrumento para a obtengao de autocomposicao (art. 381, Ile ill, CPC). 3. TARE Je, Hermes. & consttueionazagao do Process, S40 Paulo: Atlas, 2014; ZANET IR, Hermes. 0 Valor Vnclante dos Precedentes, 2 ed. Salvador: usPodivm, 2016 45 (GRANDES TEMAS DONCPC, v8 -JUSTICA MULTIPORTAS 0 novo CPC prevé dois novos fundamentos para a aco de producio ante- cipada de prova. 0 CPC ampliou a autonomia do direito & producao da prova, de modo a permitir acao probatéria autGnoma em situagdes que nao pressupo- nham urgéncia®, deixando claro o seu cabimento para o caso de a prova a ser produzida servir para a autocomposi¢ao ou outro meio adequado de solucao do conflto ou quando o prévio conhecimento dos fatos possa justificar ou evi tar 0 ajuizamento da acao (art. 38, Ie Ill, CPC). Claramente a ampliacao das hipéteses de producao antecipada de prova serve ao propésito da tutela adequada, tempestiva e efetiva dos direitos, Com as informagdes sobre a causa, ficara muito mais simples para as partes alcan- sarem um acordo qualificado, afastando uma das criticas aos acordos que € a desproporcionalidade entre a informacao das partes envolvidas. Ao mesmo tempo, isso atende ao principio da “decisdo informada”, também previsto no art. 166, caput, do CPC. A autonomia do processo de producao antecipada de prova dispensa, in- clusive, a propositura de futura demanda com base na prova que se produziu, A producao da prova pode servir, alias, exatamente como contra-estimulo 20 ajuizamento de outra ado; 0 sujeito percebe que nao tem lastro probatorio minimo para isso; nesse sentido, a producao antecipada de prova pode servir como freio & propositura de demandas infundadas. Segundo Yarshell®, trata-se de aco que se reveste de duplicidade peculiar. Isso porque, ao invés de ambas as partes adotarem simultaneamente a dupla face de autor e réu, 0 que se observa € que a posicio ocupada pelas partes nao é muito relevante. A pro- cedéncia da demanda tem o mesmo significado para ambas, pois a prova sera produzida e atingir4, para beneficiar ou prejudicar, todas as partes*. © art. 381 do CPC € muito mais amplo que 0 seu correlato no CPC-1973. Nao se limita apenas as provas periciais e orais, englobando todas as espécies de provas e consolidando os procedimentos que 0 CPC/1973 tratava de forma isolada como justificacéio e producao antecipada de provas. Diferentemente do CPC-1973, que previa a producao antecipada de prova oral ou pericial, 0 CPC nao faz essa restricao: € possivel pedir a producao antecipada de qualquer Prova. 0 CPC-1973 previa trés espécies de acdes probatérias: a producdo ante cipada de prova, que se fundava em urgéncia e se restringia as provas oral € 532 YARSIEL, Fvio Luiz. Amecpagae da prove sem 0 requisite da urgéncia e dreto autnomo @ prov. Sio Paulo: Malheiros, 2005. 38. YARSHELL Flavio Luiz, Amecpacto do prow sem o requis da ugéncia edirete automo & prova, ct. . 530351 5h, DIDIER JR, Fred; OUVEIRA, Rafael Alexandra de; BRAGA, aula Sarno. curso de Olreto Proessval Ci Teoria de Prov, oireto Probate, Deciso, recedeme, coisa jlgnd e Tuee Pravda. 12. ed. SaNader- JusPodivm, 2016 v. 2. p13 6 (Cap.2 + JUSTICA MULTIPORTAS ETUTELA CONSTITUCIONAL ADEQUADA Fred Didier Je Hermes Zant pericial; a justificacao, que dispensava a urgéncia e se restringia a prova teste munhal; a acdo de exibicdo de documento (que era prevista no rol dos meios de prova e como “acao cautelar”). 0 CPC atual fundiu (unificou) a producao antecipada de prova e a justificacdo, em um tinico procedimento, em que se permite a producao de qualquer prova, independentemente da demonstracéo de urgéncia. 0 CPC atual previu, também, a ago de exibicdo de documento ou coisa apenas no rol dos meios de prova - e nao mais como acao cautelar, no ‘ue agiu muito bem, Além disto, a gestéo do processo e as estratégias a serem utilizadas pro- cessualmente dependem do conhecimento dos fatos. 0 inc. il, art. 381, CPC, valoriza a discovery (a pesquisa probatéria anterior ao ajuizamento da deman da), resultando em uma espécie de fase pré-processual (pre-trial), permitindo conhecimento dos fatos relevantes antes do ajuizamento da demanda. Note-se que isto se aplica mesmo para as partes que nao possuem a prerrogativa de investigacao do Ministério Piblico, isto &, para as partes que nao podem utilizar 0 instrumento do inquérito civil. Portanto este instrumento autoriza aos colegitimados a requerer provas em juizo para o fim de analisar 0 cabimento da acdo coletiva, Como se vé, a producao de prova que prepare (dé lastro) a futura agao coletiva pode resultar de um procedimento judicial. Ou seja, nem sempre 0 lastro probatério minimo para o ajuizamento de uma aco coletiva € produzido por inquérito civil e, por isso, nem sempre de correré da atuagéo administrativa do Ministério Piblico. E preciso sintonizar, também aqui, os instrumentos de producao antecipa- da de prova judicial e extrajudicial para a tutela coletiva. 5. AUDIENCIA PRELIMINAR DE MEDIAGAO OU CONCILIACAO (ART. 334, PC). uma das marcas do CPC-2015 € 0 estimulo & autocomposicao. Nao por acaso, no rol das normas fundamentais do processo civil, estado 105 8§ 2° € 3° do art. 3° do CPC: “§ 2° 0 Estado promovera, sempre que possivel, a solucdo consensual dos conflitos. § 3° A conciliaco, a mediacio ¢ outros mé todos de solucao consensual de conflitos deverao ser estimulados por juizes, advogados, defensores piblicos e membros do Ministério PUblico, inclusive no curso do processo judicial”. Uma das técnicas de estimulo a autocomposigao é a designacao de uma audiéncia obrigatéria de mediacao ou conciliacdo, antes do oferecimento da 4” GGRANDESTEMAS DONCPC, v 8 USTICA MULTPORTAS resposta pelo réu (art. 334 do CPC). Trata-se de uma importante alteracao no procedimento comum promovida pelo CPC-2015. Surge, entao, a seguinte questo: o art. 334 do CPC aplica-se no procedi- mento da a¢ao civil publica? Ou seja: agora, na acao civil piblica, o réu deve ser citado para comparecer & audiéncia, antes de apresentar a resposta? A resposta é pos Ha varias razoes. Em primeiro lugar, a especialidade do procedimento da acao civil piblica, em relacdo ao procedimento ordinario do CPC-1973, residia em basicamente dois pontos: a) possibilidade de tutela provis6ria satisf Lei n. 7.347/1985), que ndo existia, em 1985, ano da edicio da lei de acao civil piiblica, no procedimento ordinario do CPC-1973 ~ essa possibilidade somente veio a existir com a nova redacao do art. 273 do CPC-1973, feita em 1994; b) a apelacao contra sentenca nao ter efeito suspensivo automatico. Asequéncia dos atos do procedimento da acao civil publica é a mesma do procedimento comum, portanto. Alterado 0 procedimento comum, altera-se 0 procedimento da aco civil piblica, mantida eventual peculiaridade. 0 pensamento estende-se a a¢do popular, pelas mesmas razées. Nao se estende ao mandado de seguranca coletivo, cujo procedimento é essencial- mente diferente do procedimento comum - 0 que nao impede que haja auto- composi¢ao, apenas nao hd a obrigatoriedade de realizacéo dessa audiéncia preliminar, justamente por se tratar de rito sumario documental. Em segundo lugar, nao hd proibicdo de autocomposi¢io em causas cole- tivas, como visto. Ao contrario, a solucao dos conflitos coletivos mediante 0 termo de ajustamento de conduta judicial ou extrajudicial é valorizada e incen- tivada. Em terceiro lugar, ndo ha qualquer razao que justifique a exclusdo dos processos coletivos da politica nacional de estimulo a solucao negociada dos contflitos, imposta pelos §§ 2° e 39 do art. 32 do CPC. 0s argumentos de cunho doutrinario ligados a indisponibilidade do direito, a forte presenca de interesse piiblico e a auséncia de participacdo dos grupos na tomada de decisdo j4 foram enfrentados acima, mas cabe repisar que em nenhum caso se afasta a autocomposiczo como regra, apenas é exigivel que ela seja adequada para a tutela dos direitos. Como vimos, muitas vezes ela é a forma mais adequada de tutela Em quarto lugar, no Gnico caso em que disciplina expressamente um pro- cesso coletivo, 0 CPC impée a realizacao da audiéncia preliminar de mediacao 8 (Cap.2+JUSTIGA MULTIPORTAS ETUTELA CONSTITUCIONAL ADEQUADA Freie Didier ee Hermes Zonet € conciliacdo, antes mesmo da anélise do pedido de tutela proviséria - aces possess6rias contra uma coletividade, reguladas pelo art. 565 do CPC. Trata- -se de verdadeiro paradigma normativo de estimulo a solucdo consensual de conflitos coletivos: a) para todos os tipos de contlito, impondo a audiéncia de tentativa de autocomposicao; b) para os conflitas coletivos passivos, impondo essa audiéncia, como audiéncia prévia de justificagdo, antes mesmo do exame do pedido de tutela provisoria. € importante notar que nos conflitos de terra muitas vezes ha conflito entre direitos fundamentais que devem ser preserva dos na maxima medida possivel e justamente por isto reforcamos que a auto- composicao é viavel e adequada nestes casos. Em quinto lugar, 0 paragrafo tinico do art. 33 da Lei n. 13.140/2015 expres- samente determina que a “Advocacia Pablica da Unido, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municipios, onde houver, podera instaurar, de oficio ou median- te provocacdo, procedimento de mediacao coletiva de conflitos relacionados a prestacdo de servicos ptiblicos”. A prestacao de servicos piiblicos ¢ matéria de direito administrativo, interesse piblico, mas, na vida real, existem graus de satisfagao que podem ser atendidos ¢ implementados, logo a autocomposicao, além de evitar processos interminaveis, resulta em menor resisténcia das par- tes no atendimento da medida acertada, garantindo mais efetividade. Assim, somente nao seria determinada a audiéncia de mediacao e conci- liagdo, prevista no art. 334 do CPC, no processo da acao civil piblica, quando autor e réu do processo coletivo disserem expressamente que nao pretendem resolver por autocomposicao (art. 334, § 4°, |, CPC). Se 0 legitimado coletivo for um ente piiblico (inclusive Ministério Pabli co e Defensoria Piblica), a recusa 4 autocomposicdo deve ser motivada. Isso porque, de acordo com 0 § 3° do art. 3° do CPC, os entes publicos tém o dever funcional de estimular a autocomposico. No caso do Ministério Ptblico, 0 Con: selho Nacional do Ministério PGblico instituiu a Politica Nacional de Incentivo & Autocomposicao no Ambito do Ministério Piblico, na Resolucao n. 118/2014, da qual também decorre a exigéncia desse tipo de comportamento, 6, NEGOCIOS JURIDICOS PROCESSUAIS COLETIVOS art. 190 do CPC é uma cléusula geral de negociacao processual. Com base nele, € possivel a celebracao de negocios juridicos processuais atipicos.” Neste momento, cabe abordar o seguinte ponto: admite-se a celebracao de negécios processuais atipicos em processos coletivas? 55 DDIER IR, Fredie. Curso de bret Procssual Cv 8 ed. Salvador: lsPodivm, 2016.1, 386-398, (GRANDES TEMAS DONCPG, v9 -JUSTICAMULTIPORTAS ‘sim, sem diivida. Nao se deve afastar a possibilidade de negécios processuais coletivos™*. Basta pensar em um acordo coletivo trabalhista, em que os sindicatos discipli- nem aspectos do futuro dissidio coletivo trabalhista. Trata-se de negécio que visa disciplinar futuro processo coletivo, vinculando os grupos envolvidos, titu- lares do direito Alguns exemplos: a) escolha convencional de um perito; b) pacto de dispo- nibilizacao prévia de documentos; c) pacto de producao antecipada de prova; d) 0 pacto sobre o dever de financiar o custo da prova; e) criagdo de hipétese negocial de tutela proviséria de evidéncia (art. 311, CPC) ete. Para que tais convencées processuais coletivas sejam celebradas, é pre ciso que haja legitimacao negocial coletiva por parte do ente que a celebre. A Resolugao n. 118/2014 do Conselho Nacional do Ministério Pablico disciplina a le gitimidade do Ministério Pablico para a celebracdo de convengées processuais. Aplica-se, aqui, por analogia, também, o regramento das convencées coletivas de trabalho e convencées coletivas de consumo (art. 107, CDC). 7. AAUTOCOMPOSIGAO EM AGAO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 7.1. A revogacdo do art. 17, § 1°, Lei n. 8.429/1992. A necessaria interpretagdo hist6rica. A colaboracdo premiada e o acordo de leniéncia como negécios juridicos processuais atipicos no proceso de improbidade administrativa O art. 17, § 18, Lei ne 8.429/1992, proibia expressamente “transacao, acordo ‘ou conciliagao” no processo de improbidade administrativa. Ele foi revogado pela Medida Provisoria n, 703/2015. Jé nao era sem tempo. 0 dispositivo ja estava obsoleto. Infelizmente, a MP 703/2015 caducou em maio de 2016, por nao ter sido votada pelo Congresso Nacional. 36. Knunkiado 1.255 do Férum Permanente de Processualstas Cs: “€admissvl a celebrago de come Go pracesual eleva. certamente, ser muito frequeme sero de convendbes processus en Convencoes cola ce rabaino ou de consi, par exerpo 7 “Co algans exemplos meressantes que conse abe dos acordos olethos procesuals marae: (a) as eoneisdes irae das partes devem anureardaramente as razdes de fat ede cieto; come rcacdo entre triunal e advogade por va eeténica; (©) acerdo para periasferado entre rural order dos advogedos e assodacio de pertos, para reqamenta a producdo da provae unomiar txtérios de faagdo de hroriio;( nstuig de conisko mista de estado para acomparhar proces Sos esudar as eventual disfundes apresemtarproposas de aleragées”. (ANDRE, ro. As nras Derspectvas do gereaiamentoe da eotratuaiza" do process. Rewste de Proceso so Pal Bani nop 80) Sobre o assume, CADET, oe Los acverdosprocesles en derecho frond: sia duit dela conraciacién del process deo usa en Fran it, p-yo3s. Disponvel em: wi iprocedutereviewcom acess0 en: 21062014 50 (Cap. 2.JUSTIGA MULTIPORTAS ETUTELA CONSTITUCIONAL ADEQUADA ei Oiler Je Heres Zane A proximidade entre a acao penal € a acao de improbidade & evidente inquestionavel, em razao das sancOes decorrentes, muito embora os regimes jurt- dicos sejam distintos, um de direito administrativo (civil em sentido amplo), outro de direito penal. A prépria estruturacdo do proceso da aco de improbidade ad ministrativa, com uma fase de defesa prévia, semethantemente ao que acontece no processo penal, é a demonstracdo cabal do quanto se diz, Ha mais garantias ao réu na acdo de improbidade por serem as sangdes aplicdveis mais graves. A época da edicao da Lei n. 8.429/1992, 0 sistema do Direito Penal brasileiro era avesso a qualquer solucdo negociada. Nao por acaso, falava-se em indispo- nibilidade da aco penal e em indisponibilidade do objeto do Processo Penal. Sucede que, a partir de 1995, com a Lei n. 9.099/1995, instrumentos de justica penal negociada comecaram a ser previstos no Direito brasileiro, Desen volveram-se técnicas de justia penal consensual. Atransaco penal (art. 76, Lei n. 9.099/1995) e a suspensao condicional do Processo penal (art. 89, Lei n. 9.099/1995). Em ambos os casos, ha negociagao que produz consequéncias no ambito do Direito Penal material. © Proceso Penal também sofreu transformacées, com a ampliacdo das Possibilidades de negociacdo entre autor e réu. A “colaboracdo premiada”, ne- gécio juridico material e processual previsto em algumas leis (embora prevista em diversas leis, 2 regulamentagéo mais completa esta na Lei n. 12.850/2013) €0 principal exemplo desse fendmeno. Ao lado da “colaboracao premiada” surgem institutos de compliance das empresas envolvidas, como é 0 caso do acordo de leni@ncia (Lei Anticorrupcao, Let 12.846/2013). A proibicio de negociacao prevista na Lei de Improbidade Administrativa era, na verdade, um reflexo da proibicéo no ambito penal. Nao havia sido ad mitida na improbidade em razdo do principio da obrigatoriedade para o MP € da visto que a tutela do interesse paiblico era absolutamente indisponivel, nao admitia graus de tutela. Se agora & possivel negociar a as consequéncias Penais, mesmo nas infragdes graves, nao haveria razio para nao ser possivel negociar as sancSes civis de improbidade. Pode-se estabelecer a seguinte re gra: a negociacao na acio de improbidade administrativa € possivel sempre que for possivel a negociacao no ambito penal, em uma relacdo de proporcao. A interpretacao literal do comando do § 1° do art. 17 da Lei n. 8.429/1992 levava uma situacao absurda”: seria possivel negociar sangdes tidas como mais 28. Percebeu o ponto: CABRAL, Antonio do Fasso. “A Resoluc2o n. 138 do Conselho Naclonal do minisério Puoio e as convencoes processuais™ In: CABBAL Anti do asso; NOGUEIRR, Pecro Henrique Pedrosa (Coord), negscios proessuais. Salvador: Eclitora|vsPodim, 2015, p 55-546 39, Sitacio “cosa”, como anotou CABRAL, Antonio do Passo. Reselucao n. 216 do Conselho Nacional do Ministério Piblico eas convencoes processusis, cP. 547. 3 ‘GRANDES TEMAS 00 NCP v.9-JUSTICA MULTIPORTAS. graves pelo sistema, porque decorrente da pritica de crimes (por definicdo, 0 ilicito mais reprovavel), mas nao seria possivel negociar no Ambito de uma aio de improbidade administrativa. Além de absurda, a intepretacao desse texto ignoraria completamente a diferenca entre os contextos histéricos da promul: gacao da lei (1992) € de sua aplicacao. A Lei 12.846/2013, chamada de Lei Anticorrup¢do, embora com Ambito de aplicacao distinto (art. 30 da Lei n. 12.846/2013), compée com a Lei de Impro: bidade Administrativa um microssistema legal de combate a atos lesivos a Ad ministragao Publica. 0 propésito da lei é regular “responsabilizacao objetiva administrativa e civil de pessoas juridicas pela pratica de atos contra a admi- nistragao piiblica, nacional ou estrangeira” (art. 19). Os arts. 16-17 dessa lei re- gulam 0 chamado “acordo de leniéncia”, negécio juridico de eficacia complexa. A intersecao entre as leis permite que se entenda cabivel acordo de leniéncia como negécio atipico em processo de improbidade administrativa. “A corregu- lacdo dos atos de improbidade decorrentes de corrupgéo denota, ainda uma vez, a clara opcao do legistador brasileiro por permitir acordos em matéria de improbidade administrativa”.© A relagao entre ambos ficou clara na edigdo da MP 703/205. Segundo 0 texto da Medida Proviséria (embora discutivel do ponto de vista constitucional, por gerar a revogagao de uma norma processual por medida proviséria), a celebracdo dos acordos de leniéncia impede que os entes celebrantes ajuizem ‘ou prossigam com acdes coletivas amticorrupcio, agdes de improbidade de improbidade ou outras ages de natureza civil em face das empresas. E mais, havendo participacdo do Ministério Piblico, o acordo impediré o ajuizamento € 0 prosseguimento de acdes ajuizadas por qualquer legitimado (art. 16, §§ 11 © 12, Lei n. 12.846/2013). A MP 703/2025, porém, caducou, em 30.05.2016, por ndo ter sido examinada pelo Congreso Nacional. Por outro lado, como jé defendiamos anteriormente, na dimensao res- sarcitéria/ desconstitutiva da acao de improbidade, que é idéntica A qualquer acao civil piiblica ou acao popular, a autocomposicao nao apresenta qualquer problema. Especialmente se considerarmos que o CPC apresenta a possibilida- de de homologacao de autocomposicao parcial (art. 354, pat. fin., CPC). Assim, podemos chegar a algumas conclusdes: a) admitem-se a colaboracéo premiada* e 0 acordo de leniéncia como negécios jurfdicos atipicos no proceso 48. CABRAL, Antonio do Fass0, “A Resolugton, 118 co Conselho Nacional do Miniséro Piblico € as conver: es processuais, ct. p. 547. 42. Sobre o tema, especiicamente: INO, Nicolao. “A colaboracio premiada na improbidade administrava porsibidade e repercussio prabatéria”. In: SALCADO, Daniel de Resende QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de (coord). & prov no enfrentamento 6 macrocriinalidade, Salvador: Edtora JusPodivm, 2035, p. 439460 2 (Cap 2 JUSTICA MULTIPORTAS ETUTELA CONSTITUONAL ADEQUADA rede Didler ik eHermes Zanet e de improbidade administrativa (art. 190 do CPC c/c 0 art. 4° da Lei 12.850/2013 e com os arts. 16-17 da Lei n. 12.846/2013); b) admite-se negociaco nos processos de improbidade administrativa, sempre que isso for possivel, na respectiva aco penal, observados, sempre, por analogia, os limites de negociacao ali previstos; ¢) admitem-se os acordos parciais, sendo considerados parcela incontroversa; d) admite-se a “colaboracao premiada” em processos de improbidade administra- tiva, respeitados os limites e critérios da lei de regéncia. 7.2. Rautocomposicao e o pedido de ressarcimento ao erario Mesmo 20 tempo de vigéncia do § 1» do art. 17 da Lei de Improbidade Administrativa, 0 dispositivo nao se aplicava a parcela do objeto litigioso do processo relativa ao pedido ressarcitério/ desconstitutivo. Nesse caso, a pro bigao nao incidia. Impedir a autocomposicéo, nessas situacdes, seria criar um grande e des- necessario embaraco para a efetividade da tutela coletiva, mormente quando se sabe que, em muitos casos, 0 prejuizo ao Erario nao é de grande monta e © pagamento da indenizacao em parcelas, por exemplo, acaba por revelar-se uma forma eficaz de adimplemento da divida. E ainda havia um argumento dogmatico bem forte: o pedido ressarcitério Poderia ser veiculado, autonomamente, em processo de aco civil piblica, em que 0 acordo é plenamente possivel, conforme ja visto. Nao se trata de pedido que pressupoe procedimento especial”. 8, CONTROLE DA AUTOCOMPOSIGAO PELO JUIZ. O DEVER DE CONTROLE DO MERITO DO ACORDO E DA LEGITIMACAO ADEQUADA 0 juiz podera controlar, na fase homologatéria, o contetido da transacao sobre 0 objeto litigioso: deixando de homologé-la, homologando-a parcialmen- te ou recomendando as partes alteracdes em determinadas cléusulas. As partes colegitimadas poderao, portanto, peticionar ao juiz, antes da ho- mologacao, caso nao tenham participado do acordo, solicitando a intervencao no proceso (art. 52, § 2, Lei 7.347/1985) e requerendo a nao homologagao do acordo, sua homologacao parcial ou a adaptacao de determinadas cléusulas para garantia de sua adequacao & tutela dos direitos. 0 Ministério Pablico como interveniente obrigatério podera fazer 0 mesmo. 12, esse sentido, mais recentemente: NERY, Aa Luiza de Andrade. Compromiss de alustamento de condu, > ed, dt, D. 2 53 (GRANDES TEMAS DO NCPC. v 9 JUSTICA MULTIPORTAS Em relagdo aos negécios processuais, cabe ao 6rgao julgador o controle da sua validade, nos termos do paragrafo Unico do art. 190 do CPC, Nas aces individuais, os acordos ndo dependem de controle judicial, em regra. Na maior parte dos casos as partes litigam sobre direitos disponiveis, nao ha necessidade de intervengao do judicidrio para assegurar os direitos. Nos processos coletivos isto € diferente. Primeiro, ha necessidade de tutela do objeto litigioso do processo, presen- te o interesse piblico, por se tratar de direitos de natureza coletiva; segundo, ha necessidade da participacao dos grupos que serao afetados pela decisdo e da participagao dos colegitimados, pelo menos potencialmente, no Ambito do acordo a ser firmado; terceiro, ha a intervencao obrigatéria do Ministério Pa- blico em todas os processos que tratam dos direitos coletivos em sentido lato.* jem duas formas de obter um titulo executive judicial a pa conciliacao em direitos coletivos lato sensu. ir de uma A primeira é formular 0 compromisso de ajustamento de conduta em uma aco coletiva judicial j4 intentada, nos termos do art. 515, II do CPC, pois seré titulo executivo judicial “a decisdo homologatéria de autocomposicao judicial” A segunda, requerer a homologacio judicial do compromisso, valendo-se dos 4. No Ambito das css actions norte americanas ocorreu relorma em 2003 para estabelecer uma série de evigncias nos acordas (setiements) em processos eoletves (lass ation tigation), alterando a Rule 23 fdas Feder! fules of Cl itigction. Amis importante di respeite a admissio dos acordos apenas apés 2 aprovacio da Cone, porant, a necessidade de controle judicial destes acordos tanto do ponto de vist ‘do mérte, quanto do ponto de vista do devido processo legal. A Corte deveré garamtr a oportunidade fe todos que serdo vineulados pelo acordo tomer conhecimento deste, mediante a notieacfo adequa ta, Como proposia seri vinclart, 0s membros deverao ser auvides e deverd ser veriicado sea pro posta € just, razodvel e adequada, No caso de ltigios envalvendo dans individuals homogéneos (css factions for damages) a particinagdo dos envolvidos ser ainda mais intensa, permitindo o op cut, mesmo ‘qe nao tenha sklo essa a op¢a0 anterior ao acordo, permitindoe igualmente aimpugnacdo por parte {dos membros do grupo que somente sera desconsideradz por dedsfo da propria Corte. assim: “(e) Settlement, voluntary Dismissal, oF Compromise. The claims, ssues, oF defenses of 2 certified class may be settle, voluntary dsmissed, or compromised only wit the cours approval The folowing procedures apply to a proposed settlement, voluntary dismissal, or compromise: (2) The court must dliect notice In 18 reasonable manner to al class members who would be bound by te proposal. (2) ifthe proposal would bind class members, the court may approve it ony after a hearing and on finding thot ti far, reasonabe, ‘nd atequate (3) The parties seeking aporoval must fie a statement ideniying any agreement made in Eannetion withthe proposal (4 I the classaction was previously cerified under Rule 23(0%3), te court may refuse to approve a setiement unless it efords © new opportu to request excision fo incvidual ess members who had an earlier opportunity to recuest exclusion but dd not do so. (5) Any class member may bbject tothe proposal fit requires cour approval under thie subcvision e); the objection may be wthcrawn ‘nly withthe court's pprava” Ct: LONOF, Robert H, Class Actors and GtherMuly-arty Ligation St. Paul: ‘Thomson Reuters, 012, 263 e 5s. Observe'se que hé grande polémica atyal em relacio a arbitragem taletive, a Suprema Corte tem acmiido cléusulas arbitra que exclem cass actions em contratos de fonsumo ou relagBes trabalhista, cf, RESIK, judith, Diflusing disputes: the public inthe private of arb tration, the private in cours, andthe erasure of rights, i: The Yale Law Journal, 124 804, Dispoivel em: file. fUsetsfheanel/Downloads/SSRH-1d26o1152 pst. AcessO er: 24.03.2016 ‘Cap.2- JUSTIGA MULTIPORTAS E TUTELA CONSTITUCIONAL ADEQUADA Free Didier ee Hermes Zonet permissivos do art. 515, lll, que determina ser titulo executivo judicial “a deci Sio homologatéria de autocomposicao extrajudicial de qualquer natureza”, € do art. 725, Vill, que prevé o procedimento de jurisdicao voluntaria de homolo: gacao de acordo extrajudicial. Aatividade do juiz nestes casos nao sera, contudo, meramente confirma- t6ria do acordo, em juizo simplista de delibacao, no qual se verificam apenas 0s aspectos formais de representacdo das partes. 0 juiz, nestas oportunidades, devera procecer a um verdadeiro exame de mérito do compromisso, possi- bilitando até mesmo sua discordancia, caso em que nao sera homologado o acordo, cabendo agravo de instrumento contra essa decisdo, por interpretacéo anal6gica do disposto no inciso ll do art.1.015 do CPC. Note-se, justamente por isso, que o acordo judicial prescinde de aprova- Go pelo Conselho Superior do Ministério Péblico, uma vez que, judicializada a matéria, no ha mais risco de arquivamento implicito do inquérito civil, passan- do o controle do érgao superior do Ministério Pablico ao juiz da causa. Além disto, este controle € necessério, pois mesmo as partes nao-piblicas, aquelas que nao sao legitimadas para o compromisso de ajustamento de conduta, na esfera extrajudicial, poderao requerer a homologacao de acordo. Nao sendo 0 Ministétio Piiblico o autor do compromisso de ajustamento de conduta, a homologacao em juizo dependera obrigatoriamente da sua oitiva como fiscal da ordem juridica, decorréncia l6gica do microssistema do proceso Coletivo. Se 0 Ministério Piiblico interfere em todas as acdes coletivas, também na homologacio judicial de acordo extrajudicial no qual se transacionem direi- tos coletivos lato sensu sua oitiva é obrigatéria. A deciséo que nao homologa acordo extrajudicial, em acao em que se pede essa homologacao (art. 725, Vill, CPC) & sentenca e, assim, apelavel (art. 724, CPC). Um dos elementos que deverd ser controlado pelo juiz no momento da ho- mologacao do acordo judicial ou extrajudicial seré a adequada representacio as partes envolvidas, ou seja, a legitimagéo em concreto dos envolvides para celebrarem 0 compromisso de ajustamento de conduta. Por exemplo, se o acordo versar sobre danos ambientais nos quais se dis- cuta para além da responsabilidade da empresa a responsabilidade do Estado © dos érgaos de fiscalizacao por omissao ou comissao a representacao adequa- da por parte do Estado pode estar prejudicada, havendo conflito de interesses, ‘4 DIE jr, Fred; CUNMA, Leonardo Camelro da. Curso de DiretaProcessuel Cv 1 ed Sahador:jusPo hm, 2086, v3, p. 207 55 [GRANDES TEMAS D0 NCPC 1.9+JUSTICA MULTIFORTAS. pois o acordo pode ser indevidamente antecipado para fins de salvaguardar a responsabilidade do proprio Estado em acées futuras de responsabilidade. E importante, registrar, que a legitimidade para a celebracao do acordo Gudicial ou extrajudicial) se submete as mesmas exigéncias de “representativi- dade adequada”, exigidas no enfrentamento da legitimidade ad causam®. 9, LIMITES A AUTOCOMPOSIGAO NOS PROCESSOS COLETIVOS A autocomposicao nado pode ser encarada como panaceia. Posto indiscutivelmente importante, a autocomposi¢ao nao deve ser vista como uma forma de diminuic&éo do ntimero de causas que tramitam no judi- ciétio“ ou como técnica de aceleracao dos processos a qualquer curso". S40, outros os valores subjacentes a politica piblica de tratamento adequado dos contlitos juridicos individuais e coletivos. No caso dos processos coletivos: a) o incentivo, aos grupos de pessoas e 0s colegitimados, & participacao e elaboracéo da norma juridica que regulard © caso; b) 0 respeito a liberdade de conformacao das suas situagdes juridicas € dos seus interesses, concretizada no direito ao autorregramento;* c) a percep- 45. NERY, Ana Luiza de Andrade. Compromisso de ajustamento de conduta. 2 ed, cit, p- 201-202; DIDIER Fredie; ZANET JR, Hermes. Curso de DielteProcessul Ci -ProcessoColetivo. 9 ed Salvador: JusPocivm, 2014, ¥- 4 B.295 4. Com preocupacio semethante, Favio Yarshell, que acrescenta: “a concllagto no pode € no deve Ser priaritariamente vista como forma de desafogar 0 Poder ludcitio. la & desejvel essendalmente Dorque é mals castrutiva. 0 desafogo vem como consequencla,e nao como 2 meta principal ssa cons tatacao & importante: um enfoaue disorcido do problema pode levar a resultados indesejacos. Vita como insrumento de administra da maquina judicéla, a conclacao passa a ser uma preocupacio ‘com estatistiea, Sua reciss pela partes - dreito mais do que letimo ~ passa 2 ser vista como uma espécie de descumprimente de um dever civco e, no processo, pade fazer com que se tome come i imigo do Estado aquele que alo esti disposto a abrir mao de parte de que entence ser seu ciret, Oai 4 reputar a parte inransigente camo iigante de mite vai um passo curto Isso & a negagho da garania ansitucional da aco e configura quebra de compromisso assumido poo Estado de prestar justia. Esse mesmo Esado proibe que o cidadio, salvo raras excegoes, faca justia pelas préprias macs” (YARSHEL Flivio Liz. Para pensar a Semana Nacional da Concliacao™. In: Flha de Sto Favlo, 08.12.209, p.A3). 4 Com o grave risco de celebracao de “acordes inexequiveis e antssocais cue busquem tdo-somente 2 jobtenczo de um dado no plano estatsico de casos “resolvidos” ou que oferecam uma falsa sensacao apaziguadora e de adequacio constnucional” (NUNES, Diele:TEXEIR, Ludila Concliagoa deve se preo ‘upar com a qualidade dos acordos. 2012 Disponive er: tp:/wonconjurcom br/2012-ago-31/movimen. to-pro-concliacae-preocupar-qualidade-acordos)s.Acesso em: 23 dez 7035). 4 Na doutrina, demonstrando a existénca de ltgios coletives globais, locals © de disso iradiada, ‘ITOREL, Edison, Tipologia dos iigiostransindiiduais: um novo ponto de partca para aiutelacoletva Ins ZANET JR, Hermes (coord). Repercussdes do novo CPC - Process Coletivo, Salvador: [us Podim, 2016, . 45-108. Como fo! argumentado, nao hi “uma” sociedade estitca, mas diversos ineresses em confite ‘ve precisam ter oportunidad de serem levados em consideragao nas solugdes autocompositvas, racteristiea presente nos processos coletivos e denominada de “eoalitvesidade inema”, que alasia as antgas presungdes de “indivisbiidade” como dogma da tutela dos direitos de grupo Cap. 2-JUSTIGA MULTIPORTAS ETUTELA CONSTITUCIONAL ADEQUADA rede Diier Je Hermes Zonet do de que com a participacdo pode-se chegar a uma justica mais adequada, mais célere e mais duradoura, do ponto de vista coexistencial, em matérias complexas ¢ litigios nos quais 0 comportamento das partes precisa ser monito- rado para além da decisao judicial que poe fim ao proceso. 0 respeito aos principios da mediacéo e da conciliagao, em especial a independéncia, a imparcialidade, a autonomia da vontade, a oralidade, a infor: malidade, e a decisao informada, € essencial para obter um resultado justo e equilibrado, que respeite o principio da adequacao. E perigosa e ilfcita, com base na disposi¢ao expressa do art. 165, § 2°, CPC, a postura de alguns juizes que constrangem as partes a realizagdo de acordos judiciais. Nao € recomendvel, alids, que o juiz da causa exerca as fungées de mediador ou conciliador, muito embora isto nao gere nulidade. O ideal € que existam profissionais especialmente preparados para exer: cer esta funcao, 0 que nao impede que 0 juiz homologue os acordos realizados pelas partes ou supervisione 0 processo de mediacao ou conciliacao. O principio da confidencialidade deve ser mitigado em razao do objeto nos processos coletivos, restringindo-se aos sigilos que digam respeito ao segredo industrial, a questdes relacionadas @ protecao da concorréncia ou de outro interesse difuso e as vedacdes legais & publicidade. A regra € que os acordos devem ser pliblicos € preferencialmente os grupos atingidos deverao ter aces: so prévio ao seu contetido. 10. OUTRAS PONDERAGOES CONTRA O ACORDO JUDICIAL: FISCALIZACAO DO DESEQUILIBRIO ECONOMICO E DE INFORMACOES ENTRE AS PARTES, Demais disso, convém sempre ficar atento, em um processo de mediacao e iacao e negociacao direta, a desequilibrio de forcas entre os envolvidos (disparidade de poder ou de recursos econdmicos)”. Trata-se de fator que co- mumente leva um dos sujeitos a celebrar acordo lesivo a seu interesse. A propésito, eis o que afirma Owen Fiss: A disparidade de recursos entre as partes pode influenciar 0 acordo de trés formas. Primeiro, a parte mais pobre pode ser menos passivel de reunir e analisar as informagdes necessarias & previsdo da decisdo do litigio, o que a debxaria em desvantagem no processo de negociacao. Segundo, pode necessitar, de ime- diato, da indenizacao que pleiteia e, desse modo, ser induzida A {. Sobre 0 tema convém consular © conhedido enslo de Owen Fs: ISS, Owen, “Contra @ acord”. Um nova ‘rocess cil Daniel Porto Godinho da Siva e Mena de Medeiros Rs (rad) So Paulo: Ry, 204 p. 12 © sexs, 3 CGRANDESTEMAS DONCPG v9 -JUSTICA MULTPORTAS celebracdo de um acordo como forma de acelerar 0 pagamento, mesmo ciente de que recebera um valor inferior a0 que conse- Buiria se tivesse aguardado 0 julgamento. Todos os autores de agbes judiciais querem suas indenizagdes imediatamente, mas um autor muito pobre pode ser explorado por um réu rico, pois sua necessidade € tao grande que o réu pode compeli-lo a aceitar ‘uma quantia inferior aquela a que tem direito. Terceiro, a parte mais pobre pode ser forcada a celebrar um acordo em razao de ‘nao possuir os recursos necessérios para o financiamento do pro. ‘cesso judicial, 0 que inclul tanto as despesas previstas como, por exemplo, honorérios advocaticios, quanto aquelas que podem ser impostas por seu oponente por meio da manipulagao de mecanis- mos processuais como o da instrugao probateria.’* Parcela desses problemas nao ocorre ou pelo menos é mitigada nas agdes coletivas brasileiras. Antes de mais nada no modelo brasileiro ocorre a participagao do Minis- 1ério Puiblico seja como autor, seja como fiscal do ordenamento juridico, em defesa dos direitos coletivos. Em segundo lugar, o magistrado podera controlar, como vimos, o contetido dos acordos no momento da homologacdo, justamente para impedir que ocorra prejuizo ao interesse dos membros do grupo que nao participam do processo, € possivel o recurso do colegitimado como terceiro interessado e, além disto, a propria coisa julgada se submete a revisao secundum eventum probationis € as alteragdes dos fatos. Em terceiro lugar poderé ocorrer, e € salutar que ocorra, a divulgacdo publicizagao do acordo, se possivel com audiéncias piblicas e intervencao de amicus curiae, para o fim de permitir que os grupos interessados participem da tomada de deciséo, 11. O PRINCIPIO DA PRIMAZIA DO JULGAMENTO DE MERITO, TUTELA IN- TEGRAL DO DIREITO, DISPARIDADE ECONOMICA E A NECESSIDADE DE PRODUGAO DE PROVA ADEQUADA PARA A CONCILIAGAO OU MEDIA- ‘GAO: COISA JULGADA REBUS SIC STANTIBUS 0 CPC adotou uma das premissas do processo coletivo consistente na pri mazia do julgamento de mérito. Esta premissa representa néo somente o di reito ao julgamento de mérito, mas também, o afastamento de todas as firulas processuais que possam prejudicar a tutela dos direitos. ‘sp, M185, owen. “Contra o acordo*, cp. 125. 58 (Cop 2 JUSTICR MULTIPORTAS ETUTELA CONSTITUCIONAL ADEQUADA Free Dire Heres Zane J, Daf que nos processos coletivos a inexisténcia de prova, consistente na locu- fo “salvo por insuficiéncia de provas”, permite ao juiz deixar de julgar 0 mérito da demanda ao invés de aplicar 0 énus da prova como regra de julgamento. Da mesma forma, o juiz poder rever no futuro a deciséo de mérito quando as par- tes apresentem prova nova capaz de por si so alterar o resultado do julgamento. Em razo disto, quando o acordo celebrado se basear em prova insufi- iente, ele podera ser revisto, desde que surja nova prova capaz de por si sé alterar 0 resultado do acordo, demonstrando que ocorreu tutela insuficiente do direito por falta de conhecimento das partes envolvidas a respeito da extensao do ilfcito ou dano objeto do acordo. A prépria autocomposicgo em processos coletivos deve ser a mais bem infor- mada possivel (art. 166, principio da decisio informada). Acordo muito precoces, sem as informacGes necessarias sobre os impactos, a extensdo e as consequéncias do ilicito ou do dano e sem condicdes de afirmar quais as medidas necessarias ou mais adequadas para sua mitigacdo e reparacdo, tendem a ser prejudicais & tutela dos direitos ¢ devem ser controladas pelo juiz no momento da homologacéo. A coisa julgada, caso exista homologacdo de acordo nestes casos, sera re~ bus sic stantibus: sobrevindo circunstancia de fato que altere a situacao definida na sentenca poder ser reproposta nova acao. Assim, se, em processo jurisdicional ambiental, o Ministério Pdblico ou outro colegitimado celebrar acordo para instalagao de um determinado equi- pamento para mitigar a poluicdo de uma indéstria e, no curso do tempo, vem a ser descoberto que a tecnologia que fora utilizada esta superada, deverd ser celebrado novo acordo ou, caso seja impossivel, ajuizada nova aco para pro- tecdo integral do bem ambiental, com a atualizagao tecnolégica A decisaio de homologacao anterior pode ser revista, no caso de haver no- vas provas € novos fatos, capazes de por si sé alterar os elementos do acordo homologado.s* 12, APOSSIBILIDADE DE IMPUGNAGAO PELOS COLEGITIMADOS POR MEIO DO RECURSO DE TERCEIRO INTERESSADO E OUTRAS ACOES DE IMPUG- NACAO AUTONOMAS Aceita-se, nos planos doutringrio e jurisprudencial, que as partes litigan- tes firmem acordos em demandas coletivas, de modo a que se ponha fim ao 5. elas defencidas por Marcelo Abelha Rodrigues, durante uma conversa informal na UFES, € também en Contiveis em: ABELNA, Marcelo Rodrigues, Festa ~ 0 TAC ea Cosa julgnda Rebus St Stanibus. 0 Paulo: Panera Verde, Xu Congress de ireito Ambiental (comuniagao ora Olsponvel em: www.marceloabelta comb Rcesso em: 24.03.2016, 9 ‘GRANDES TEMAS DO NCPC, ¥.9-JUSTICA MULTIPORTAS. Processo com julgamento do mérito (art. 487, Il, “b”). 0 assunto foi tratado longamente neste texto. Consoante se pode demonstrar, o regime de producéo da coisa julgada nas demandas coletivas € distinto do regramento comum; a eficacia subjetiva a coisa julgada € um dos pontos distintivos determinantes. Assim, havendo homologacdo de acordo judicial em causa coletiva, haverd producao da coisa julgada erga omnes, impedindo a repropositura da demanda por qualquer dos colegitimados, inclusive por aqueles que nao participaram da celebracao do negécio juridico. 0 acordo firmado nao produz efeitos apenas em relacao aos acordantes, pois 0 seu objeto € tutelar o direito coletivo, transindividual, de todo 0 grupo. Essas circunstancias fazem com que se admita a possibilidade de o tercei- ro colegitimado ingressar com um recurso, com vistas a questionar a homolo- gacao do acordo, postulando, assim, o prosseguimento do feito em direcao a heterocomposicao. Nesse caso, nado demanda o terceiro aco nova; exerce, pelo recurso, a acdo cuja legitimidade também é sua e jé fora exercida por outro colegitimado. Assume 0 processo no estado em que se encontra, sem alter4-lo objetivamente. Nao ha, com isso, supressao de instancia. Alias, 0 pardgrafo Gnico do art. 996 do CPC expressamente diz que cabe recurso de terceiro que se afirme substituto processual para a discussao da situacao juridica litigiosa - refinamento promovi- do pelo CPC de 2015 que foi pouco notado pela doutrina, mas que, para o proceso coletivo, € fundamental, Caso nao se permita essa impugnacao recursal do terceiro, estara sen do vedado 0 acesso do colegitimado ao Judiciario, pois, com a coisa julgada, nenhum juizo podera reapreciar a causa - este ponto também é fundamental, Pois, nos litigios individuais, a coisa julgada surgida da homologacao da transa- a0 nao ateta o terceiro. $6 Ihe restaré a aco resciséria. Concordamos, pois, com as conclusdes de Geisa de Assis Rodrigues: “A discordancia dos demais colegitimados deve ser feita através da utilizacao dos mecanismos de revisao da decisao judicial, ou seja: recursos cabiveis ou acoes auténomas de impugnacao, dependendo do caso concreto. A decisio homolo- gando o ajuste formulado em juizo é uma decis4o de mérito, e portanto podera ser acobertada pela intangibilidade panprocessual da coisa julgada material”. 52. RODRIGUES, Geisa de Assis. Ao cil pile erermo de ajustamento de conduit, cp. 237. Yambém adm Uindo 0 questionamento do acorda pelo colegiado, VKLIAR José Marcela, Acdo Civil Pile, ct, p. 9, a Cap. 2 JUSTICA MULTIOORTAS ETUTELA CONSTITUCIONAL ADEQUADA Freie bide ke Hermes Zane Homologada a transacdo e transitada em julgado a decisio homologaté- fia, a transacéo podera ser impugnada mediante acdo auténoma no caso de novas provas (coisa julgada secundum eventum probationis) ou mediante acao rescis6ria‘. 0 requisito, no primeiro caso, é a demonstracdo de que as provas novas sao suficientes para gerar um outro resultado que 0 acordo firmado foi realizado sem contetido probatério suficiente para a definic&o dos direitos obrigagdes. No poderia ser diferente, uma vez que o titulo judicial decorrente do processo de conhecimento nao pode ser mais fraco que o titulo judicial de- corrente da homologacao de transaco em juizo. 13. CONCLUSOES 1-Apesar de serem conhecidas como ADR - Alternative Dispute Resolution ~ as técnicas ligadas & Justica Multiportas (multi-door justice) nao sao alternativas. O que rege a possibilidade de opcao é o juizo de adequacéo; se o meio for adequado, aplica-se a politica nacional de conciliacéo e mediacao. Como 0 foco esté na tutela dos direitos, serao as técnicas mais adequadas para a solucao de litigios complexos que devem ser utilizadas, sejam elas téc- nicas judiciais ou extrajudiciais, seja a decisao por terceiro imparcial (jurisdicao estatal ou arbitragem), seja a solucdo apresentada por autocomposicao (me diacao, conciliagao, negociacao direta ou outro de solugao disponivel). 2 - Nos processos coletivos, especialmente nas decisdes ou processos es- truturantes, casos em que existe a necessidade de implementacao de politicas piiblicas que exigem uma justica coexistencial, desdobrada no tempo e sem ruptura social, o cumprimento da decisao e a propria decisdo estao para além da fixagZo de quem tem ou nao tem razio; as técnicas de justica consensual © autocomposicéo podem revelar-se nestes casos muito mais adequadas, pois seu objetivo nao é a aplicacao pura e simples da solucao normativa previamen- te estabelecida; 3~ portanto, o dever de estimular solugdes autocompositivas, decorrente do principio do estimulo & autocomposigao (art. 32, § 22, CPO), orienta a atuagéo de todos 6rgios publics envolvidos com a tutela coletiva dos direitos, que de- vem buscar a adequacao da tutela, sua tempestividade ¢ efetividade; 4~ por se tratar de tutela mais adequada, devem ser admitidas a me- diacao, a conciliacao e a negociacao direta mesmo em se tratando de direitos indisponiveis. A indisponibilidade sera de direito e processual, nos processos 53. Sobre a rescindblidade, no CPC-2015, da decisio homologatéia de acordo: DIDIER jr, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direto Processul Ci. 3 i, p. 429430. 6 [GRANDES TEMAS DO NCPC. 9 JUSTIGA MULTIPORTAS coletivos a legitimacao da-se por substituicao processual € os colegitimados nao podem dispor do direito material pertencente ao grupo; mas dependerd da andlise concreta a verificacao dos graus de concrecao do direito material no caso e a disponibilidade ou nao do direito material debatido. Por exemplo, a fixacdo consensual de reparacio in pecunia depende de um juizo concretizador do direito a indenizagio; 5 - 0s meios de solucdo de controvérsia, mediacao, conciliacdo ¢ nego: ciagao direta s4o marcados pela atipicidade e permitem que sejam utilizadas técnicas conforme a necessidade da tutela dos direitos. Assim, em um procedi mento de conciliagao 0 Ministério Puiblico ou outro colegitimado podera solici tar que se apliquem técnicas de mediacao ou de negociacio direta quando elas se mostrarem mais adequadas a solucao da questao debatida; 6~ na formulacao da transaco podera ocorrer a concrecéo/concretizacao dos direitos pelos colegitimados, definindo os prejuizos a serem indenizados € 0 contetido de obrigacdes previstas a partir de cléusulas gerais, conceitos juridicos indeterminados ou principios juridicos extraidos do texto legal e do ordenamento juridico. 0 CPC substituiu a vinculacdo & mera legalidade pela adocao da legalidade ampla ou unidade do ordenamento juridico (arts. 8, 140, 178 926, caput); 7~cabe ao juiz, mesmo quando nao intervir como conciliador ou mediador, € a0 Ministério Pablico, nas figuras de interveniente e agente, assegurarem-se de que foram adotadas todas as medidas necessdrias para a autocomposicao, inclusive insistindo na demarcacao das questdes sobre as quais deva operar a conciliagao/mediacao de forma a tornar transparente e ptiblico os objetivos do acordo e a revelar quais os “interesses” das partes, para além de suas “post. ‘gBes” no conflito; 8~ muito embora as melhores técnicas exijam, para a preservacao da con- fidencialidade, imparcialidade e do ambiente favoravel e transparente para a conciliacao, que os juizes nao participem do procedimento como conciliadores e mediadores, sua atuacdo, na conciliacdo e mediacao, em processos judiciais complexos, pode mostrar-se necesséria ¢ itil para a obtencao de autocompo- sigdes qualificadas pela homologacio judicial em matérias de interesse piblico relevante, como € 0 caso dos processos coletivos; assim sendo, nao prejudica ou gera qualquer nulidade no processo de canciliaczo/mediacéo o envolvimen- to do Grgao de julgamento nos ltigios complexos. Da mesma forma a confiden- Gialidade nao pode impedir a publicacao dos resultados do acordo, quando se tratar de matéria de interesse piiblico; 9 0 principio da confidencialidade deve ser mitigado em razdo do obje- to nos processos coletivos, restringindlo-se aos sigilos que digam respeito ao 62 op. 2-JUSTIGA MULTIPORTAS ETUTELA CONSTITUCIONAL ADEQUADA, Fred Dir Jee Hermes Zonet segredo industrial, a questdes relacionadas a protecéo da concorréncia ou de outro interesse difuso e as vedacdes legais a publicidade. A regra é que os acordos devem ser publicos e preferencialmente os grupos atingidos deverao ter acesso prévio ao seu contetido; 20 - aS solugdes autocompositivas exigem clareza quanto aos pontos em conflto, por essa razao é imprescindivel para a autocomposicao a produczo da prova da extensdo do dano ou da conduta ilicita; 21~€aso sobrevenha prova que demonstre, por si s6, a necessidade de tu tela do bem juridico coletivo - para além do que fora fixacio no acordo, mesmo quando ja homologado pelo juiz - sera possivel pleitear a revisto do acordo, por forga da doutrina da coisa julgada secundum eventum probationis aplicavel 0 processo coletivo; a coisa julgada no processo coletivo se limita aos fatos debatidos na causa, ¢ a sua revisdo poderd ocorrer por acdo auténoma; 12-2 conciliagzo € a mediacdo poderao ocorrer em quaisquer espécies de processos coletivos, inclusive nas aces de mandado de seguranca coletivo, ages populares, aces civis piiblicas e acdes de improbidade administrativa. Nao ha ofensa ha obrigatoriedade e ao principio da supremacia do interesse pablico. 0 acordo neste tipo de litigio visa preservar o interesse piiblico que pode ser dimensionado de forma dinamica, conforme o bem juridico a ser pre- servado e a finalidade deste para a tutela dos direitos e sujeicao aos deveres fundamentais envolvidos. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ALMEIDA, Diogo Assumpe20 Rezende de. 0 principio da adlequacao e os métodos de solugio de contlits. In: Revista de Processo, v. 195, ano 36. S40 Paulo: RT, mato, 2011, ANDRADE, frico. “As novas perspectivas do gerenciamento € da ‘contratualizacao" do processo". In: Revista de Processo. Sao Paulo: RI, 2023, n. 193. ANDREWS, Neil, In.: VARRANO, Vincenzo (a cura di). V’Altra Glustizia: | Metodi di Soluzioni delle Controversie nel Diritto Comparato, Milano: Giuffr®, 2007 CABRAL, Antonio do Passo. “A Resolucio n. 118 do Conselho Nacional do Ministério Pi blico e as convencdes processuais”. 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