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Províncias estruturais brasileiras. Actas

Article · January 1977

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Yociteru Hasui Reinhardt Fuck


São Paulo State University University of Brasília
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impQsio de Geologia do Nordeste (8 . ;
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N96

ATAS DO VIII SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DO NORDESTE


CAMPINA GRANDE-Pb . 1977
DEDALUS - Acervo - IGC

11111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111
30900001279

SOCIEDADE BRASILEIRA DE GEOLOGIA

ATAS
DO
VIII SIMPÓSIO DE GEOLOGIA
DO
NORDESTE

CAMPINA GRANDE, PB - NOVEMBRO 1977


363

ATAS DO VIII SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DO NORDESTE


Campina Grande(Pb) novembro de 1977

PRovrNCIAS ESTRUTURAIS BRASILEIRAS

Femando Flávio Marques de Almeida •


Yociteru Hasui ••
Benjamim Bley de Brito Neves ...
Reinardt Adolfo Fuck ....

ABSTRACT

The territory of Brazil coincides almost entirely with the South American
Platform, the crystalline core of the continent. Its basement is composed of ancient me-
tamorphic and igneous roks and not suffered any tectonic regeneration since the begin-
ning of Phanerozoic. Sedimentary rocks in almost horizontal bedding cover this crystal-
line basement. This latter shows ages as old as Early Precambrian, although ages be-
tween 500 and 1.000 m. y. are conspicuously frequentoThe cratonic areas became con-
solidated at more 1. 700 m. y. ago, whereas the fold belts formed essentially between
500 and 1.700 m. y. The sedimentary covers accumulated from the Early Silurian in
three large intracratonic basins until the platform became completly stabilized. A Late
[urassic to Early Cretaceous reactívation, caused by the break-up of the ancient Gon-
dwana continent, created another basin sequence chiefly along the Atlantic continental
margin.
Based on the nature of the crystalline basement rocks and the sedimentar....
covers, 10 structural province can distinguished:

(I) Rio Branco Province, in the north of the country, occupied by the Guyana Shield,
still scarcely known, wilh an important fold developed during the so-called Transama-
zonian Cycle (2.000 200 m , y.) with hígh rank metamorphic rocks and only sligh
influence of later events;

(2) Tapajós Province, in central Brazil, corresponding to the Amazonas or Guapor é


Craton, showing chiefly Precambrian crystalline rocks, behaving as a cratonic area du-
ring the Phanerozoic;

• Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo


*'" Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo
'"...*.. Departamento de Geologia, Universidade Federal de Pernambuco
Departamento de Geociências, Universidade de Brasília
364

(3) São Francisco Provinc. i located on the Atlantic Shield with its basement covered
by rocks of different ages, chieOy effected by the Brasiliano Cvrcle (between 1.000 aad
500 m. y .), constituting another cratomc area;

(4) Tocantins Province, occuring between the Amazonas and São Francisco Cratons,
with in -sts centre the oldest rocks (ages over 2.600 m.y.), and at E and W borders
metamorphic sequences of various folds belts, and almost no Phanerozoic deposits;

(5) Matiqueira Province, located along the southern part of the Atlantic coast, affec-
led chieOy by the Brasiliano folding cycle;

(6) Borborema Province, in the Northeast Brazilian fold belt, affected by the Brasilia-
no Cycle in a very complex way, and with important ·faulted zones, reactivated in Pha-
nerozoic times, when also sedimentary covers could accumulated;

(7) Amazonas Province, represented by the Amazonas sedimentary basin (syneclise),


and subdivided in four parts by there important areas;

(8) Parnaíba Province, coinciding with the Piauí-Maranhão syneclíse, and filled up
with a rather thick sedimentary sequence;

(9) Paraná Províncc, the sedimentary basin of southern Brazil, in which the well-
known Late Paleozoic glaciation features are found, and which possesses an extensive
cover of basaltic rocks of Late Iurassic to Early Cretaceous age;

(10) Coastal Province and Continental Margin, the youngest structural unit, developed
during the separation of the continent and represented by rif-valleys and coastal basins
filled up with Mesozoic-Cenozoic deposits of various kinds.

INTRODUÇÃO

o território brasileiro faz parte integralmente da Plataforma Sulamericana.


que teve sua mais nova faixa de dobramentos geossinclinais consolidada no início do
Fanerozóico. Esse embasamento, assim constituído de rochas metamórficas e eruptivas
quase todas de idade pré-cambriana, está amplamente exposto no país. Ocupa área de
cerca de 4,6 milhões de quilômetros quadrados, dividida em grandes escudos, que se
estendem aos países vizinhos: o das Guianas a norte, o Escudo Brasil Central no inte-
rior do país a sul do rio Amazonas, e o Escudo Atlântico, situado à borda atlântica.
(fig. 1).
As coberturas da Plataforma Sulamericana acumularam-se a partir do Siluria-
no Inferior, em maior parte tendo preenchido as três grandes bacias sedimentares, com
caráter de sinéclises: Amazônica e do Parnaíba, no norte do país e a Bacia do Paraná,
situada na região sul. Áreas menores de coberturas de várias idades, inclusive pré-cara-
brianas, espalham-se pelos escudos acima mencionados.
Considerando-se a natureza do embasamento exposto e de suas coberturas tor-
365

FIG . I - Áretls tectônicas de primeiro importân cia da América do Sul .


I - Cadeia Andina
2 - Plataforma Patagônlca
l-Plataforma Sulamericana: a) Coberturas sedimentares do f ancrozóico.
b) Embasamento pré-cambriano exposto .
1 - Escudo das Guianas. 11 - Escudo Brasil Centr al. 11( - Escudo
Atlintico.
366

na-se possível distinguir as províncias estruturais brasileiras (figo 2). Como tal, entende-
mos grandes regiões que manifestam feições de evolução estratigráfica, tectônica, meta-
mórfica e magmática diversas das apresentadas pelas províncias confinantes.
Os limites das províncias, como indicados na Fig. 2, são de dois tipos: geolo-
gicamente definidos e limites convencionais. Os do primeiro tipo compreendem limites
estabelecidos em componentes estruturais de maior grandeza, como grandes falhas ou
zonas de falhas, frontes metamórficas, passagens rápidas de faixas dobradas para seus
antepaíses ou ainda, bordas erosivas de grandes bacias sedimentares. Os limites conven-
cionais incluem os geologicamente indefinidos, seja por condições particulares de sua
estrutura, por falta de conhecimentos adequados ou por se acharem cobertos; também
incluem limites transicionais, como certos trechos de passagem gradual de faixas de do-
bramentos marginais para coberturas plataformais deformadas. Como limite da margem
continental foi adotada a ís ôbata de 2.000 metros, quase inteiramente incluída em terri-
tório brasileiro.
Na evolução tectônica do embasamento da plataforma exposto no Brasil
reconhecem-se duas áreas mais antigas, designadas cratons, que em tempos mais novos
que 1.800 m .a. não mais se sujeitaram à evolução geossinclinal. A maior delas é o
Craton Amazônico, que se deixa natu ralmente dividir em duas províncias pela bacia se-
dimentar Amazônica. A do norte, que se inclui no Escudo das Guianas, denominamo-
la Província Rio Branco. A do sul, que é parte do Escudo Brasil Central, é a Província
Tapajós. A Província São Francisco, no Escudo Atlântico, coincide com a outra área
cratônica de antiga consolidação.
As outras três províncias do embasamento apresentam como característica co-
mum a persistência da evolução geossinclinal até o final do Pré-Cambriano, como fe-
nômenos termais, tais como atividade tectônica, soerguimento de cadeias, acumulação
de moiassas, vulcano-plutonismo subsequente, formação de pegmatitos, etc., desenvolvi-
dos já no Cambro-Ordovino. De acordo com a situação geográfica e a osi ão em re-
lação aos antigos cratons, distinguimos no Escudo Brasil Central a Província Tocantins
c no Escudo Atlântico as Províncias Borbore~ e Mantiqueira.
As três gran es bacias sedimentares representam áreas de mais persistente
subsidência .duran te o Faneroz óico, nelas tendo-se acumulado grandes espessuras de se-
dimentos e de rochas basálticas. Constituem outras províncias, cujas denominações são
as das bacias sedimentares que as caracterizam. Finalmente, as pequenas bacias sedimen-
tares costeiras, e sua extensão submersa à margem continental, caracterizam a mais nova
das províncias geológicas brasileiras: a Província Costeira e Margem Continental.
Como foram <firacterizadas, as províncias podem ser reunidas em grupos que
representam sucessivas etapas da evolução estrutural do País (Tab. 1). Serão a seguir de-
finidas e caracterizadas (na ordem decrescente de sua idade.
Embora com características e história distintas, essas 10 provincias apresentam
entre si muitas relações de dependência em sua evolução estrutural. As provincias Tapa-
jós e São Francisco constituíram os antepaíses dos geossinclíneos nos quais surgiram as
faixas de dobramentos que caracterizam as três províncias mais novas do embasamento.
Junto aos antepaíses, essas faixas de dobramento manifestam condições de evolução com-
paráveis às miogeossinclinais, com claro transporte tectônico em direção a eles. As se-
quências sedimentares desenvolvidas nesses geossinclíneos são cronologicamente equiva-
367

75
05 +

. turaá, do Brasil: 1 - Ri? nr8n~, Bcrbcrema, _ 73 Am~


2 - Tapejôs, - São
FIG 2 -
. Francisco , 4 -Toc~n~Sparaná.
Províncias Eetru
nlca, 8 - Parnaíba,
. , _ Mantiqueira , 6 . e MaTl'em Ccn ü-,
10 _ Província CoStC1I'8
nental.
368

lente aos depósitos de cobertura dos cratons vizinhos, de modo que um mesmo conjunto
estratigráfico pode pertencer a duas províncias contíguas.
As bacias sedimentares que caracterizam as Províncias do Paraná e do Parnaí-
ba são claramente sobrepostas às estruturas do embasamento que por último se estabilí-
zaram fl' das quais sua configuração herdou muitos trends estruturais. Já a Bacia Ama-
zônica surgiu no Siluriano Inferior, em área crustal de muito antiga consolidação.

TABELA I - Províncias estruturais brasileiras

Escudo Escudo Escudo Coberturas


das Guianas Brasil Central Atlântico

C ratons
( Consolidados a mais
q ue 1.700 m.a.) Rio Branco Tapajós São Francisco
Faixas de dobramento
evoluídas entre 1.700 Tocantins Borborema
e 500 m.a. Mantiqueira

Bacias (sinéclises) Amazônica


paleozóicas Parnaíba
Paraná

Bacias Mesa- Província


cenozóicas Costeira e
Margem
Continental

PROViNCIA RIO BRANCO

A Província Rio Branco (Fig. 3) situa-se em região quase toda coberta por
densa floresta tropical. 2 abundantemente irrigada por grandes rios e seu relevo baixo
geralmente não ultrapassa 600 metros de altitude. Apesar disso, nas serras que a limi-
tam a norte existem altitudes superiores a 2.000 metros, nelas situando-se o Pico da Ne-
blina com 2. 992 m de altitude, a maior elevação do contineme fora da Cadeia dos An-
des. Geologicamente a província é constituída em maior parte por rochas metamórficas
e eruptivas de idade pré-cambríana, que localmente se ocultam sob coberturas pés-pá-
leozóicas pouco espessas.
O Complexo Guianense expõe-se na maior parte da província, constituindo o
embasamento sobre o qual repousam em inconformidade angular, as unidades geológi-
cas mais novas. De sua estrutura, ainda muito pouco conhecida, participam sobretudo
+ -L,
I

IIG . ~ - r rv\m.:jõ15 Rio Bronco c Tapajós.


1 - Complexos índlfcrcnclados do rr":·Cam briano \1 -';l.! I"" ..: tn tc n c r
2 - Arcas Tran samaz ônlcas
; - Cobe rtu ras sedimentares do craton umavô nicc li{l:odas à Iuixc b rusiliu -
na pr éxlma IParaguai-Araguala)
4 - Granitos c rat ônicos do Pré-Cambr icuc Super ior
') -- Coberturas sedi menta res (3b ) c vulcano-scd irnentares ('ia) do Pr é-Carn .
brianu Supe rior. moderad amente dcí crmc das.
6 - Cobert ur as scdirnc ntcrcs diversas do Fancrczõlco.

( Linhas grossas representam limites da li prov íncias c traços finos são limites das
coberturas )
370

tipos diversos de gnaisses de facies anfibolito a granul íto, migrnatitos, anfibolitos e


merosas rochas intrusivas com predominância de granitos e granodioritos. Fenômeno
intensa granitização e migmatizaç ão realizaram-se no complexo , ainda antes do d
volvimento do Ciclo Transamazônico.
~ As estruturas do Complexo Guianense manifestam tren ds geralmente orie
dos no quadrante NW, com sinuosidades levand o-os a E-W. O complexo granulí
de Kunuku, do sul da República da Guiana, que se supõe ter mais de 2 .600 m .a. ,
tende-se ao território da província. Também no Amapá em sua região oriental, -
abudantes rochas granulíticas presumivelmente muito antigas. Supõe-se que em
maioria o Complexo Guianense seja constituído de rochas de idade pré-Transamazô .
mas que foram remobilizadas e isotopicamente rejuvenescidas nesse ciclo, pelo que a
correspondem as idades radiométricas qu e têm sido obtidas.
Uma importante faixa de dobramentos .desenvolveu-se em grande geossí
neo do Ciclo Transamazônico (2000 ± 200 m, a. ), que existiu nos países situados a
te da Província Rio Branco. Suas ramificações a ela se estend em, particularmente à •
gião oriental, onde constituem faixas isoladas de rochas metassedimentares orient
a NW e apoiadas em inconformidade angular sobre o Complexo Guianense. Dessas
xas participam xistos, itabiritos, quartzitos, anfibolitos e serpentinitos, metam orfiza
em fácies xisto-verde a anfibolito. Incluem-se no denominado Grupo Vila Nova,
tem em seus gonditos o protominério de importante jazida de manganês laterítico.
tações radi ométricas indicaram idade de cerca de 2 .000 m. a . para o metamorfismo d
grupo, o que confirma sua atribuição ao Ciclo Transamazônico. Ocorrências isoladas
metassedimentos apresentam-se nos extremos norte (Grupo Cauani) e oeste (Grupo Tun
da província, que também têm sido tent ativamente atribuídas ao Ciclo Transamazô .
Como episódio tardio da evolução da faixa de dobramentos Transamazô
manifestou-se extensivo fenômeno vulcano-plutônico de caráter ácido a intermediã
Suas rochas, não metamorfizadas c pouco deformadas, constituem as chama das Fo
ções Surumu e Iricoumé, que se expõem junto à borda norte da província. Essas roe
estend em-se aos países vizinhos, onde pode m se apr esentar dobradas e pouco metam
zadas. A idade desse vulcanismo é de cerca de 1. 850 m .a. Ele foi seguido pela de
ção de molassas continentais tardias do ciclo, representadas pelo Grupo Roraim a, e
magmatismo básico terminal, que nele formou numerosos sills e diques de gabro e d
rito. A idade destas eruptivas, próxima de 1.800 m .a., assinala o término do Ciclo T
samazônico no Escudo das Guianas.
O intervalo de tempo entre 1.800 e 1.000 m .a . foi assinalado, na Proví
Rio Branco, por uma série de processos de protoativação do antigo craton, que prod
ram intensa atividade de falhas, vulcanismo e plutonismo de variado caráter e acum
ção de sedimentos detríticos em menores bacias locais. A atividade magmâti ca afe
quas e toda a província, mas foi particularmente intensa em sua região oriental, a I
do Rio Branco, e próximo à Bacia Amazônic a. Realizou-se sobretudo entre 1.450 e 1.--
m . a. sendo seus produtos, derrames de rió lítos, riodacitos, dacitos e andesito s e res
tivos piroclásticos, aos quais podem se associar rochas sedimentares. Numerosas int
de granitos, alguns de tipo rapakivi, de granodioritos, dioritos , gabros, sienitos e a
sienitos associaram-se ao vulcanismo.
A cerca de 1. 300 - 1. 100 m. a . realizou-se na provínc ia outro episódi o
protoativação, manifestado sobretudo por intensa atividade de falhas, desenvolvim
371

de amplas faixas de milonitos e cataclasitos, metamorfismo local e intrusão dos a1cali


sienitos Mutum. Esse fenômeno conhecido também nos países vizinhos, recebe no Bra-
sil a denominação de Episódio [arí-Falsino,
Durante o Paleozóico o Escudo das Guianas parece ter passado por longa fase
de estabilidade e se conservado emerso, atuando como IVOvincia distributiva dosvsedl-
mentos que se acumularam na Bacia Amazônica a sul, e na região andina a oeste. Nesse
longo processo erosivo as coberturas mais novas do Pré-Cambriano foram destruídas,
mas próximo às bordas da Bacia Amazônica subsistem alguns de seus restos, represen-
tados por camadas detrític as continentais, não deformadas, que compõem as Formações
Prosperança e Sete Quedas, existentes entre os Rios Mapuera e Negro.
Com a reativação tectono-magmática realizada na Plataforma Sulamericana
durante o Mesozóico o Escudo das Guianas teve novamente algumas de suas antigas
falhas reativadas. O graben de Takutu, na República da Guiana, é a mais expressiva:
manifestação desse fenômeno no escudo. E preenchido por lavas basálticas e andesíti-
cas (Formação Apoteri) de idade jurássica, associadas a sedimentos continentais (For-
mação Takutu). Esse graben e seus depósitos estendem-se à alta bacia do Rio Branco,
na região centro-norte da província.
Ainda relacionados com a reativação mesozóica apresentam-se na Província
Rio Branco intrusões de alcali sienitos (Catrimani ) e de diabásios, estes últimos consti-
tuindo importante enxame de diques orientados a NNW, situados próximo à costa do
Amapá (Diabásio Cassiporé).
Coberturas detríticas terciárias e quaternárias estendem-se em área apreciável
da região ocidental da província, nas proximidades dos grandes rios, assim como ao
longa da costa.

PROVfNCIA TAPAJOS

A Província Tapajós (Fig. 3) cobre uma extensão de cerca de 1.670 Km2 .


corresponde à porção do Craton Amazônico conhecido como Craton do Guaporé. Só
em parte relativamente reduzida suas rochas pré-eambrianas acham-se ocultas por res-
tos de coberturas fanerozóicas. A província apresenta relevo baixo, geralmente não ul-
trapassando 600 metros suas altitudes. ~ coberta de densa floresta tropical que muito
dificulta a investigação de sua geologia.
O Complexo Xingu, que compreende a maioria das rochas pré-eambrianas ex-
postas, constitui-se predominantemente de gnaisses e migmatitos de facies anfibolito a
granulito, mas nele ocorrem localmente anfibolitos, quartzitos, xistos e outros metesse-
dimentos e metavúlcânicas, além de numerosos corpos intrusivos de granitos granodlo-
ritos, e outras eruptivas. Os trends estruturais nele predominantes compreendem-se ge-
ralmente no quadrante NW, mas na extremidade ocidental da província apresentam-se
trends a NN,E-NE.
As rochas do Complexo Xingu ainda não têm sua idade devidamente estabe-
lecida. Presume-se que grande parte delas tenha-se formado a mais de 2.500 m. a. ,
como o sugerem algumas determinações radiométricas isoladas, porém diversos episó-
dios tectodftérmicos posteriores imprimira-lhes idades mais novas. Sobretudo no decor-
rer do Ciclo Tansamazônico os fenômenos de remobilização e rejuvenescimento ísotõ-
372

pico desse embasamento foram importantes, quando também nele se teriam formado
muitos granitos. E provável que parte dos gnaisses e migmatitos do complexo tenha-se
originado de sedimentos de rochas vulcânicas do Ciclo Transamazônico.
Uma faixa de dobramentos certamente atribuível ao Ciclo Transamazônico
apresenta-se na região leste da província. O Grupo Grão Pará, que a constitui, é com-
posto por quartzitos, filítos, micaxistos, jaspilitos, ítabírítos e metavulcânicas básicas.
A ele se associa importânte jazida de minério de ferro bandado (Serra dos Carajás).
As molassas tardia desse ciclo 'são representadas pela Formação Rio Fresco, sendo tam-
bém conhecidos plutões graníticos com cerca de 1.850 m, a., na região em que ela
ocorre no oriente da província; também representam episódios do final do ciclo.
Entre 1.700 a 1.450 m.a. quase toda a área da Província Tapaj6s foi afetada
por importantes processos de falhamento, vulcanismo e plutonismo cratônico de natu-
reza ácida e intermediária, e sedimentação. Esses fénômenos constituem o Evento Pa-
raense, homólogo ao que se realizou ae- mesmo tempo na Província Rio Branco. As ro-
chas vulcânicas, atribuíveis ao Grupo Uatumã, espalham-se por grande extensão da pro-
víncia. São riólitos, riodacitos, andesitos e piroclâsticas equivalentes. Numerosas intru-
sões de granitos cratônicos comumente alcalinos, granodlcritos, dioritos, gabros, sienitos
e diques de diabásio são outras manifestações magmáticas desse evento. Rochas sedi-
mentares, continentais ou marinhas, às vezes assocíadas às vulcânicas, expõem-se em
muitos locais. Destacam-se por sua extensão as pertencentes ao Grupo Beneficente, que
se apresenta na região centro-norte da província. A intensa atividade de falhas condi-
cionou a distribuição das rochas efusivas e intrusivas assim como das bacias de sedi-
mentação e a deformação das camadas nelas contidas. Algumas dessas coberturas foram
levemente metamorfizadas durante esse evento.
Outro evento tectonotérmico de protcativação, denominado Madeirense, ma-
nifestou-se a cerca de 1.300 - 1.100 m.a., especialmente nas regiões centrais e oci-
dentais da província. Também nele falhas antigas foram reativadas, coberturas sedimen-
tares foram dobradas e metamorfizadas e manifestou-se novo episódio de intrusão de
granitos cratônicos e de rejuvenescimento isotópico das rochas antigas do embasamento.
E dessa ocasião a intrusão do alcali sienito de Canamã. Esses processos, reunidos sob
a denominação de Evento Madeirense, correspondem ao Evento Iari-Falsíno da -Pro-
víncia Rio Branco.
O derradeiro processo de protoativação da Província Tapajós é o ·Evento Ron-
doniense, que afetou área limitada do oeste dela a cerca de 1.000 m.a , Também foi
caracterizado por atividade de falhas, intrusão de granitos e granodioritos -cratônicos,
alguns com estrutura anelada, e extrusão de ri6litos, andesitos, traquitos e- basaltos. Im-
portante mineralização estanífera associa-se a esse evento.
Provavelmente a menos de 1.000 m.a. desenvolveram-se coberturas detrítí-
cas continentais (Formações Prainha Sucunduri, Riozinho do Afrízio), que se mostram
em atitude' sob-horizontal. Seriam correlativas das coberturas Prosperança e Sete Que-
das, da Província Rio Branco, assim como das que, na borda oriental da Província Ta-
pajós (Grupos Bodoquena, Araras, Alto Paraguai, etc.) representam extensões sobre
o antepaís, dos depósitos dos geossínclíneos adjacentes, da Província Tocantins. O Gru-
po [acadigo nessa borda, conhecido pelas suas importantes jazidas de minérios de ferro
e manganês sedimentares, provavelmente também se depositou no final do Pré-Cam-
briano.
373

Durante o Faneroz6ico a área da província comportou-se como um escudo.


fornecendo detritos às bacias sedimentares do Amazonas e sedimentos devonianos,
c da região andina. S6 em suas bordas acumularam-se depósitos neo-cretãceos (Grupo
Parecis, em parte) e cenozóicos, e manifestou-se o vulcanismo jurássico da Serra de Ta-
pirapuã . co

PROVINCIA SÁO FRANCISCO

A província São Francisco (fig. 4) é um planalto que em seu interior é em


maior parte elevado entre 500 e lo 000 metros de altitude, drenado para o rio São Fran-
cisco, diretamente para o mar na região oriental. A oeste desse rio possui relevo de na-
tureza tabular, com altitudes não superiores a 900 metros, porém a leste apresenta-se
como um planalto montanhoso, com elevações locais que se aproximam de 1.800 m de
altitude em sua extremidade sul. A província é em maior parte coberta de vegetação
de campo cerrado. Estruturalmente muito difere das províncias confinantes, por ter
atuado como antepaís cratôníco em relação às faixas de dobramentos geossinclinais que
nelas se desenvolveram no final do Pré-Cambriano. Seus limites com essas províncias
são em grande parte convencionais, por se desenvolverem em faixas tectônicas de tran-
sição.
O embasamento da província São Francisco acha-se em maior parte oculto
sob coberturas de variadas idades, mas onde está exposto, nele reconhecem-se comple-
xos de natureza granítico-gnâissica, geralmente muito migmatizados, com facies meta-
m6rfica variando de anfibolito alto a granulito. Elas são penetradas por numerosas in-
trusões, sobretudo de natureza granítõíde, mas também mãfica ou ultramáfica. Esses
complexos têm acusado idades radiométricas próximas de 2,6 b .a., que parece corres-
ponderem à época de remobilízação do embasamento, com fenômenos extensivos de
granitização e mígmatização, no decorrer do denominado Evento Iequié. Em parte esses
fenômenos atuaram sobre rochas mais antigas que 3,1 b.a., localmente identificadas na
porção leste da província. Os trends estruturais sinuosos, desse embasamento, orientam-
se em torno de N-8, na região leste da província, onde são mais abundantes os varia-
dos tipos de rochas de natureza granulítica. Na região central, onde o embasamento ano
tigo foi descoberto pelas estruturas da Serra do Espinhaço, predominam complexos gra-
nítico-migmatíticos com trends orientados a NNW, paraleios às estruturas da referida
serra.
Estruturas supracrustais de extensão limitada, afetadas pela remobilízação reo-
m6rfica do embasamento, recobrem localmente os complexos gnâissico-migmatíticos,
Constituem-se de diversos tipos de metasscdimentos, metavulcânicas e intrusivas máficas
ou ultramáficas metamorfisados em facies xisto verde a anfibolito baixa. Têm sido in-
terpretados como greenstone belts, mas sua antiguidade maior que 2.6 b. a. só está
comprovada até agora para o Grupo Rio das Velhas, da extremidade sul da província
e que contém a maior mina de ouro do País. A idade da Formação Boquira. . da região
central da província, é ainda duvidosa, mas provavelmente também muito antiga. Possui
importante jazida de chumbo. .
O ciclo geotectônico Transamazônico (2.000 :!: 200 m.a .) atuou sobre partes
limitadas da província, desenvolvendo faixas de dobramentos cujos restos são represen-

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374

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4 - Província SAo Fra ncisco.
I - Complex os indifcrcnciados do Pré-Cembriano M édio c Infllr;o.J:
2 - Faixa de Dobr amentos de Jacobina IPré -Cambrlano Midi ol
') -Cobertu ras sedimentares c rnctasscdimentarcs pré-Brasilianas
" - Coberturas sedimentares c metasscdlmcntares do cratcn de São Fl'an
cisco ligadas às faixas de dobramento brasilianas
i - Depósito Molássico
6 - Coberturas Sedimentares do Fancrozóico
7 - Provinda Costeira c Margem Continental.

(Linhas grossas represe ntam falh.o:s maiores: linhas finas descont ínuas representam
direçã o de Ialh amentc).
375

tados pelo Grupo Jacobina e sua possível extensão ao sul (Contendas). no Estado da
Bahia. e pelo Supergrupo Minas. da extremidade sul da província. no Estado de Minas
Gerais. Essas faixas são constituídas de grande s espessura s de metassedimentos de ori-
gem elástica e química, com intercalações mctabasíticas. tendo sido intens amente dobra-
dos e metamorfisados em facies predominantemente xisto-verde. O Supergrupo Minas
é célebre por conter as grandes jazidas de minéri o de tipo;'bandcui ron orc":,do chamado
Quadrilátero Ferrífero. No decorrer do ciclo Transamazônico processaram-se intrusões.
sobretudo de rochas graníticas. em diversos lugares da província.
A Serra do Espinhaço. situada na região central da provínci a, no Estado da Ba-
hia. constitui uma faixa de dobramentos orientada a NNW, tectonizada e metamorfisa-
da em facies xisto verde a cerca de 1,2:!: 0,1 b , a. Desenvolveu-se essa faixa entre
1.7 e 1,1 m .a . • numa região em qu e o embasamento é cortado por antigas e extensas
falhas. sobre as quais se acumulou espessura de cerca de 4. 000 metros de sedimentos.
Esta sedimentação não caracteriza ambiente geossínclinal, porém de paraplataforma tec-
tonicamente muito ativa. encontrando homól ogos na província Tapajós. Para fora da
faixa de dobramento do Espinhaço. tal como também ocorre nesta últ ima província, as
camadas tornam-se gradualmente menos espessas, desaparece o metamorfismo e passam
a caracterizar uma cobertura tabular de plataforma (Grupo Chapada Diamantina) cujas
deformações são de natureza induzida, devidas à movimentação local das falhas do em-
basamento.
O estágio superior da cobertura pré-cambriano existente sobre o craton re-
presenta as proj eções sobre ele, dos depósitos acumulados nos geossincIíneos desenvol-
vidos às suas bord as no decorrer do Ciclo Brasiliano. Nessa cobertura reconhecem-se
estos da glaciação continental havida no final do Pr é-Cambriano (Grupo Macaúbas),
vasta extensão de sedimentação peIítica e carbonatada correlativa dos calcários de
ré- inversão dos referidos geossincIíneos, assim como restos locais das moIassas terminais
esse ciclo. Essa cobertura, que em parte manifesta leve metam orfismo, apresenta-se de-
ormada em diversas regiões seja por ação reflexa da tectogênese das faixas marginais de
dobramentcs ou pela reativação de falhas do embasamento no interior da província. O
• mplexo bras iliano de cobertura desenvolveu-se entre 1. O b .a. e o limiar do Fanero-
zéico, quando se acumularam as referidas molassas. Importantes depósitos de Pb, Zn,
osfatos sedimenta res e carb onatos são-lhes associados.
A cobertu ra faneroz6ica acha-se preservada sobre o craton, em "r ift vallcys"
esoz6icos costeiros, instalados com a abertura do oceano , podendo alcançar milhares
metros de espessura , como no graben do Recôncavo. no Estado da Bahia. No inte-
or da província subsistem restos de extensas, porém delgadas coberturas continentais
idade cretácea superior e terciária além da sedimen tação qu aternária das várzeas
viais.

PROvtNCIA TOCANTINS

A Província Tocantins (Fig. 5) situa-se entre os cratons Amazônico e São


-sncisco, limita ndo-se a norte e sul, respectivamente, pelas bacias sedimentares do Par-
a e Para ná. A prov íncia apre senta-se como uma rexião em maior parte coberta de
pos e cerrados , com matas locais. Seu relevo é baixo, destacando-se serras isoladas.
500 km
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1·1(; ; - Província Tocantin s


I - Regiio Central de Goiás c Maciço J~ GUól:\Up...:
2 - Sistema de Dobramentos Uruaçuano
') - Faixas de Dob ramentos Brasilianos bordejando ~i pro vind a, Tapaió-,
(Paraguai-Araguaia) c São Francisco (Brasília)
" - Cobert uras sedimentares dos eraton s ligadas ls faixas brnaihenas
i - Cobertu ras sedimentare s mesoccnoz éicus.
377

mas eleva-se a cerca de 1.200 metros acima do nível do mar na região central do Esta-
do de Goiás, no denominado Planalto Central. Fazem parte da província as grandes pla-
nícies do Pantanal, em Mato Grosso e Araguaia, em Goiás.
Na província Tocantins reconhecem-se três regiões estruturalmente distintas:
a central, corresponde em maior parte ao maciço mediano de Goiás; a oriental coincide
aproximadamente com as baixas de dobramentos Uruaçu e Brasília e a ocídenial, com
a faixa de dobramentos Paraguai-Araguaia.
As rochas mais antigas da província, acusando idades superiores a 2.600 m. a .•
constituem a maior parte da região central. São sobretudo gnaisses de vários tipos, in-
cluindo rochas de caráter granulítico, apresentando-se localmente rnígmatizados e pene-
trados de rochas granit6ides de diversas idades. Em termos estruturais, provavelmente
também Iitolégicos, distinguem-se na região central dois domínios, que se separam à altu-
ra do paralelo 16°.S por uma reflexão de estruturas denominada Megaflexura dos Piri-
neus, q~e afetou tanto as rochas dobradas mais novas como as do embasamento mais
antigo. A sul dessa flexura dominam direções estruturais orientadas entre NW e WNW,
enquanto que a norte as estruturas mostram-se preferencialmente alinhadas segundo
NNE e NE. Na porção oriental do segmento sul apresenta-se uma importante faixa de
rochas granulíticas. Todas as rochas da província denotam efeitos de polimetamorfismo,
fraturamentos em epis6dios de diversas idades e rejuvenescimento isot6pico. Nela são
comuns rochas intrusivas de natureza básica e ultrabásica, mineralizadas localmente com
sulfetos de cobre e níquel, algumas encontrando-se inteiramente talcificadas e serpentini-
zadas. Maciços ultrabásico-alcalinos de idade cretácica, com mineralização epigenética
de níquel, são conhecidos em Iporá , Montes Claros de Goiás e outros locais.
No segmento norte da região central predominam gnaisses muito antigos, de
aspecto granodiorítico, com foliação difusa e bandamento geralmente ausente. Em algu-
mas regiões tais rochas constituem embasamento para sequências vulcano-sedlmentares,
representadas por rochas verdes (clorita xistos, talco-actinolita xistos, anfibolitos) associa-
das a quartzitos ferruginosos, itabiritos e xistos. Essas sequências apresentam-se mine-
ralizadas em ouro, cobre, talco e asbestos anfib6licos. Na porção leste da região ocor-
rem os grandes complexos básico-ultrabásicos de Goianésia-Barro Alto, Niquelândia a
Cana Brava, associados a granulitos, os dois últimos sendo envolvidos de rochas metas-
sedimentares bem mais novas. Esses complexos têm idade superior a 3.000 m .a., apre-
sentando-se mineralizados com Ni, Cu e Co. Em Cana Brava localiza-se a maior mina
de asbesto crisotílico do Brasil. Granulitos são também reconhecidos a sudeste de Porto
Nacional, a leste dos quais foram recentemente identificados cinturões de rochas verdes.
A faixa de dobramentos Uruaçu, na região oriental da Província Tocantins,
é uma entidade ainda pouco definida, que se estende desde Natividade, em Goiás, a
região de Araxá em Minas Gerais, de onde se continua para leste. Como em Goiás.
também em Minas Gerais o embasamento da faixa de dobramentos Uruaçu é constituí-
do de granulitos, gnaisses, anfibolitos e rochas ca1co-silicatadas, que constituem o Ma-
ciço de Guaxupé, Este tem forma triangular e separa a porção sul da faixa de dobra-
mentos Uruaçu em dois ramos, alinhados a NW e NE. este último limitando-se por im-
portante falha transcorrente.
A faixa de dobramentos Uruaçu é constituída de metassedimentos pelíticos e
psamíticos, e metabasitos. Seus dobramentos são de caráter holomõrflco, com vergência
para o Craton São Francisco. A norte da Megaflexura dos Pirineus as direções predo-
378

minantes desse dobramento são orientadas entre NNE e meridianas, enquanto que a sul
dirigem-se sobret udo a NW. Em geral se considera que essas rochas pertençam ao Ciclo
Uru açuano, cujo metamorfismo principal teria ocorrido há cerca de 1.000 m.a., em-
bora alguns autores em anos recentes considerem a possibilidade de serem as mesmas
mais antigas, pert encentes ao Ciclo Transamazônico. Rochas graníticas são raras nessa
faixa de "dobramentos, podendo ocorrer em branquianticlinais cujos núcleos graníticos
podem ser portadores de cassiterita.
A faixa de dobramentos Brasília, cuja extensão supera 1.100 Km, desenvol-
veu-se na borda ocidental e meridional do Craton São Francisco durante o Ciclo Brasi-
liano. A s e d i m e n t a ç ã o, de caráter miogeossinclinal, iniciou-se com sedimentação
detrítica fina seguida de psamitos e pelitos em que se inter calam calcários e do-
lomitos . Os d o b r a m e n tos, de caráter holomérfico, apresentam verg ências para o
craton e metamorfismo de facies xisto verde, ambos se atenuando nesse sentido.
A atividade magmática relacionada com a evolução dessa faixa de dobramentos limita-
se a vulcanismo and esítico na porção norte do cinturão, e à intrusão de uns poucos
plutões graníticos no trecho sul. São frequentes as falhas de empurrão indicando movi-
mentação em direção à borda do craton. Uma sedimentação de natureza molass óide,
desenvolvida no final do ciclo, recobre tanto a faixa de dobramentos como a região
cratônica. Rochas carbonâticas, fosfatos sedimentares, Pb e Zn são suas riquezas mi-
nerais.
A faixa de dobr amentos Paraguai-Araguaia desenvolveu-se na borda do Cra-
ton São Francisco. Apresenta forma encur vada, tipo S, com extensão superior a 3.200
Km. Seus extremos ocultam-se sob os sedimentos das bacias do Parnaíba e Paraná. Parte
apreciável da faixâ de dobramentos acha-se coberta pelos sedimentos modernos da pla-
nície Araguaia, na qual se situa a grande ilha do Bananal, em Goiás, e do Pantanal
de Mato Grosso. No segmento meridional da faixa distinguem-se duas fases da evolução
geossínclinal, na primeira das quais se depositaram sedimentos tipo flysch, que foram
dobrados e metamorfisados. Na segunda fase depositou-se um conglomerado que assi-
nala uma regressão marinha, seguida de deposição glâcio-marinha e, em discordância an-
gular, uma unidade carbonática superior portadora de estruturas estrornatolíticas, enci-
mada por pelitos. O metamorfismo é de facies xisto-verde e o intenso dobramento holo-
m órfíco, paralelo ao eixo do cinturão, apresenta vergência em direção ao Craton Ama-
zônico. Uns poucos corpos de plutões graníticos pós-tectônicos, com cerca de 500 m .a .
idade, ocorrem na porção mediana da faixa. A unidade estratigráfica final, possivelmen-
te anterior a essas intrusões, corresponde a depósitos mol âssicos, em parte continentais,
sobretur;lo acumulados numa antefossa que da faixa de dobramentos se estende sobre
a bord a do craton. Na região do Corumbá, no Estado de Mato Grosso, ocorrem arcô-
sios seguidos de uma sucessão de leitos alternados de jaspilito ferruginoso, hematita
compacta, criptomelana em espessas camadas e sedimentos clásticos intercalados. Reser-
vas enormes de minérios de ferro e manganês são contidos nesse Grupo Jacadico, cuja
idade é ainda incerta.
No segmento norte do cinturão a sequêneia basal compõe-se de gnaisses, xis-
tos e quartzitos, com anfibolitos coneordantes e discordantes. Segue-se um pacote de
sedimentos terrígenos, representados por fllítos, quartzitos subordinados a algumas in-
tercal ações calcárias, sobreposto por uma sequência magmático-sedimentar representada
por clorita xistos, talco-actinolita xistos e metabasitos. Há ali numerosos corpos discor-
379
dantes de rochas básicas e ultrabãsicas alteradas em serpentlnitos e xistos magnesianos.
Esse magmatismo é relacionado à geossutura Tocantins-Araguaia, desenvolvida no Iimí-
te leste do Craton Amazônico. O metamorfismo da faixa decresce rapidamente de leste
para oeste passando de facies anfibolito para xisto-verde, reduzindo-se a transformações
anq uímetam õrf ícas junto à borda do craton. Rochas graníticas aparecem localmente, em
núcleo, de braqui-anticlínaís envolvidos por gnaisses bandados. t'
. A sedimentação fanerozóica na Província Tocantins limita-se ao enchimento
do graben de Água Bonita em Goiás, com camadas supostas devonianas, e a restos de
cobertu ras continentais cretáceas e cenozóicas, entre as quais ressaltam as do Pantanal
de Mato Grosso (atingem quase SOO m de espessura) e da planície Araguaia. Manifes-
tações de magmatismo alcalino do Cretáceo superior assim como intrusões de diques de
diabásio do Cretáceo inferior, processaram-se em diversos locais no sul da província

PROV1NCIA MANTIQUEIRA

A Província Mantiqueira (Fíg, 6) localiza-se ao longo da costa Atlântica a sul


do paralelo lSo.S, estendendo-se até a fronteira com o Uruguai. Ocupa uma área da or-
dem de 4S0 .ooo Km2, confrontando-se de um lado com as bacias costeiras e a margem
continental e de outro, com as Províncias São Francisco, Tocantins e Paraná. A Provín-
eia Mantiqueira apresenta-se quase toda como uma região montanhosa com altitude que
ultrap assam 1. SOO metros na zona serrana vizinha à costa. Culmina no Pico da Bandeí-
ra- que com 2.890 m de altitude constitui a maior elevação da região oriental do conti-
nente.
Na parte meridional da província situa-se a Região de Dobramentos Sudeste,
desenvolvida durante o Ciclo Brasiliano, e que se constitui de três sistemas de dobra-
mento separados por dois maciços medianos, com orientação geral NE.
Os sistemas de dobramento são formados por sequências geossinclinais, que
nas áreas melhor estudadas exibem um pacote inferior psamo-pelítico, com lentes de
rochas carbonatadas no topo, e um pacote superior essencialmente pelítico, de caráter
flyschóide. Essas rochas sofreram metamorfismo de facies xisto verde e anfibolito, sob
baixa piTo Em extensos trechos, processos de migmatização as afetaram. O dobramen-
to foi intenso, polifásico, do tipo linear, com vergência mal evidenciada. O magmatismc
pré-tectônico foi de natureza básica e pobremente desenvolvido, ao contrário do sintec-
tônico, de natureza ácida, representado por numerosos stocks e batélitos, datados em
ca. 6S0 m. a . I nstrusões pós-tectônicas também existem, formando stocks e batólitos
menos frequentes, datados em ca. S40 m.a,
Nos maciços medianos, o embasamento pré-brasiliano expõe-se em núcleos,
onde se têm reconhecido granulitos, chamockitos, rochas básicas e ultrabâsicas, e mlg-
matitos do Pré-Cambriano Médio e Inferior.
Numerosas pequenas bacias desenvolveram-se no estágio final de evolução da
região de dobramentos. Localizam-se nos sistemas de dobramentos e em suas margens,
tendo recebido sedimentos molássicos e lavas de composição ácida a intermediária, com
espessuras totais que chegam a ultrapassar 5.000 m. As molassas mais antigas acham-se
dobradas, enquanto as outras mostram apenas basculamentos devidos a falhas. As ro-
chas vulcânicas citadas. e plutões granitóides associados. foram datadas em 4S0-5OO
m,a.
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F IG . 6 - Provincia Mantiqueira
t - Rochas cristalinas do Pré-Brasllleno
2 - Embasamento exposto nos maciços medianos do Siatemu de Dobra-
mentos Brasllíancs:
a) Maciço de Pelotas; b) Maciço de Joinvile
J - Faixas de Dobramentos Bra5i1ianas:
c) Tijucas; d) Apiai; c) Araçuaí
4 - Coberturas era tônicas do Ciclo Brasiliano
5 - Depósitos Molássicoa
6 - Coberturas Sedimentares do FancrozóilX>
7 - Provlncia Costeira.

(As linhas grossas representam Calhas maiores)


381

Feixes de falhas transcorrentes, predominantemente longitudinais, seccionam a


Região de Dobramentos Sudeste. Essas falhas parecem ser antigas e profundas, tendo
passado por uma fase de intensa reativação no fim do Pré cambriano e início do Paleo-
zóico, quando afetaram os metamorfitos e granitos constituídos no Ciclo Brasiliano.
A área entre os paralelos de 23°. e 24°.S caracteriza-se por uma estrue-ira em
blocos de falha, onde as estruturas brasilianas, infletindo-se para N60E, cedem lugar às
pré-brasilianas situadas mais a norte. Esta passagem não tem ainda seus limites precisa-
dos por falta de estudos de detalhe.
Os principais recursos minerais da Região de Dobramentos Sudeste são os
depósitos filonares de Pb-Zn associados a calcários, Au e Cu nas bacias de molassa do
sul do Brasil, W e Sn em greisens, feldspatos e minerais litiníferos dos pegmatitos, mag-
netita e Ti associados às rochas mais antigas.
Durante o Paleozóico, desenvolveram-se os Arcos de Ponta Grossa e Rio-
Grandense às bordas da Bacia do Paraná, influindo sobremaneira no modelado da mes-
ma e também na delimitação da província.
Com a reativação meso-cenozóica da Plataforma Sulamericana, deu-se a ín-
trusão de alguns enxames de diques de diabásio e a formação de numerosas chaminés
alcalinas, algumas com carbonatitos associados nos lsítios dos Arcos de Ponta Grossa
e Rio-Grandense. Reativação das falhas antigas e outras então geradas, permitiram o
desenvolvimento do relevo e o advento de algumas pequenas bacias tafrogências preen-
chidas de sedimentos fluviais e lacustrinos, de idade cenozóica.
No norte da Província Mantiqueira aparece a Faixa de Dobramentos Araçuaí,
que se desenvolveu no Ciclo Brasiliano às bordas do Craton São Francisco. [un to a ele,
a norte do paralelo 19".S, orientam-se as estruturas a NNE, mas próximo ao paralelo
ISo.S, desvia-se para ESE, após forte inflexão, alcançando a planície costeira no limite
norte da província.
Na porção orientada segundo NNE, a faixa constitui-se de sedimentos geos-
sinclinais pelíticos a rudãceos, com calcários, itabiritos e produtos vulcânicos básicos
associados, compondo o Grupo Macaúbas. Grauvacas seixosas existem no pacote e pa-
recem corresponder a sedimentos glácio-marinhos, correlativos aos depósitos glacigenos
que se encontram sobre o Craton São Francisco (Formação [equitaí). Os sedimentos
apresentam metamorfismo variando de facies xisto verde a anfibolito, aumentando de
intensidade à medida que se afastam do craton. Datações radiométricas indicam 600
m.a. para o metamorfismo e cerca de S17 m.a. para granitos tardios. Dobramentos
holomõrflcos e grandes falhas de empurrão afetaram as rochas, com vergência para o
craton.
A parte norte da faixa de dobramentos é ainda mal conhecida e o limite en-
tre as Províncias Mantiqueira e São Francisco não se acha precisado, a não ser na área
próxima à costa, onde coincide com a Falha de Planalto.
As rochas de facies anfibolito da Faixa Araçuaí passam aos gnaisses e migma-
titos, com xistos, quartzitos, granulitos ácidos e básicos associados, de idades mais anti-
gas. O limite não se acha precisado, por ser a região ainda pouco investigada.
No restante da Província Mantiqueira tem-se descrito algumas unidades lito-
estratigráficas, cujas interrelações não se acham esclarecidas. Em sua região sul reconhe-
cem-se unidades incluindo metassedimentos de facies anfibolito e granulito, com idade
de ca. 2000 m.a. (Grupo Paraíba, Grupo Amparo, Formação Juiz de Fora, Grup,o Ita-
382

nhomi) atribuídas à Faixa de Dobramentos Paraíba do Sul, desenvolvida no Ciclo Trans-


Amazônico. Na região centro-sul reconhecem-se gnaisses com rochas básicas e ultrabá-
sicas associadas, com idade superior a 2.600 m.a, (Formação Barbacena, Formação
Mantiqueira), sobre as quais repousaria discordantemente o Grupo Paraíba.
O ciclo Brasiliano afetou intensamente essas unidades, produzindo deforma-
ção, modificações blãstícas, migmatização e granitização intensas. Pegmatitos então se
constituíram, na região centro-norte da zona existindo um distrito produtor de vários
tipos de gemas.

PRovtNCIA BORBOREMA

A Província Borborema (fig. 7) ocupa uma extensão da ordem de 380. 000


Km2 e coincide com a Região de Dobramentos Nordeste, desenvolvida nó decorrer do
Ciclo Brasiliano. Confina com as províncias São Francisco, Parnaíba e as bacias costeiras
e margem continental. Na maior parte de sua área apresenta-se com clima semí-ãridc,
tendo-se desenvolvido amplos pedimentos. Os relevos residuais de erosão só excepcio-
nalmente ultrapassam 1.000 metros de altitude.
A região de dobramentos brasilianos apresenta-se com uma organização com-
plexa, em mosaico, abrangendo diversos sistemas de dobramentos lineares separados
entre sí por altos do embasamento, relacionados ou não com falhas.
Os sistemas de dobramentos Sergipano e Médio Coreau sítuam-se nos extre-
mos sudeste e noroeste da província. Têm disposição marginal, respectivamente, em re-
lação aos cratons do São Francisco e São Luiz. Nesses sistemas apresentam-se conjun-
tos semelhantes de metassedimentos, nos quais um nível de rochas carbonáticas, com
milhares de metros de espessura, intercala-se em sequências elásticas terrígenas, de va-
riado caráter. Essas sequências geralmente se estendem às bordas dos núcleos cratônicos
vizinhos, com redução de espessura e grau de deformações. Os dobramentos, de caráter
holomórfico, dispõem-se segundo as bordas dos cratons, em relação aos quais se mani-
festam as vergências.
Os sistemas de dobramento afastados dos cratons antigos constituem-se de
metassedimentos psamo-pelíticos de pelo menos dois ciclos os do mais novo apresentan-
do-se progradantes em relação aos do ciclo mais antigo assim como aos altos do emba-
samento.
Intenso dobramento de caráter holomórfico exibe vergência para os maciços
interiores, que são parcialmente recobertos por depósitos singeossinclinais com defor-
mações atenuadas . O metamorfismo é de caráter plurifacial, variando de facies xisto-
verde a anfibolito, sob baixa P/To l! frequente a migmatízação, particularmente nas se1
quências terrígenas basais.
O magmatismo pr é-foldíng foi de natureza básica e pouco intenso. O sintec-
tônico foi extremamente ativo, constituído de stocks e batólitos de rochas granít éides,
datadas de cerca de 650 m.a. O magmatismo granítico tarditectônico, único que se ma-
nifestou nas faixas marginais, realizou-se a cerca de 540 m.a ,
Depósitos de molassas desenvolveram-se em intrafossas e antefossas associa-
das aos sistemas marginais, chegando a se estender para os cratons, com redução da
espessura e grau de deformação. Alguns depósitos existem também associados a outros
sistemas. Tais materiais parece terem-se acumulado entre 510 e 470 m.a ,
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FIG . 7 - Provinda Borbcrcma


I - Maciços medianos. zonas gcoant iclinais c érces rcrnobíliaadus do em
besamento : A - Maciço Pernambuco-Alagoas, B - Teixeira . C _ ri .
ranha s, D - Tró ia. E - Santa Ouit érle
2 - Região de Dobramentos do Norde ste: li. c b - Sistema Scrgipano . c _
Sistema Riacho do Pontal. d - Sistema Piancó-AIto Brígida. c _ Sis o
tema Pajcú Paraíba , C- Sistema Seridó , g - Sistema Iaguaríbe. h _
Sistema Rio Curu Independência, i - Sistema do Médio Coreau
J - Bacias Mol ésslcas do Ciclo Brasiliano
4 - Coberturas sedimentares do Ciclo Brasiliano
5 - Coberturas sedimentares do Fanerozóico.

(As linhas grossas represent am maiores Ielhamentoej


384

Os altos do embasamento constituem maciços medianos e geanticlíneos, ex-


pondo complexos gnâissico- rnigrnat ítico s de idade pré-cambriana inferior e média, re-
mobilizados no Ciclo Brasiliano.
Um complexo de falhas de grande porte secciona a província, separando os
sistemas- de dobramentos ou cortando-os. Essas falhas parece serem antigas, profundas
e reativadas em diferentes ocasiões, com caráter variado . O caráter transcorrente, assi-
nalado em mapas, é apenas o 'mais destacado, e ocorreu tardiamente, no Ciclo Brasília-
no. O trend geral das estruturas da província dispõe-se em leque, abrindo-se para NE;
diagonalmente à costa. Sofreu desvios e inflexões devidos aos movimentos das falhas.
Duas destas falhas, os lineamentos de Patos e Pernambuco, ambos com direções E-W,
destacam-se no conjunto por suas dimensões.
Os principais dep6sitos minerais da província são Be, Ta e Li associados aos
pegmatitos, W e Mo em scarns, Fe, magnesita, mármore e grafita.
Existem restos de coberturas paleozóicas e mesoz6icas associadas a diversas
pequ enas bacias tafrogênícas, geradas por reativação de falhas antigas. Esses sedimen-
tos são remanescentes de coberturas mais amplas, ligadas à primitiva extensão das ba-
cias do Parnaíba e Rec ôncavo-Tucano-Iatobã. Diques de diabásio de idade cretácea e
produtos de vulcanismo alcali-bas áltico terciário, existem localmente. Restos de delga-
das coberturas sedimentares terciárias e quaternárias assentam sobre superfícies de ero-
são, escalonadas do Iitoral para o interior.

PROV1NCIA AMAZONICA

A Província Amazônica coincide com a grande bacia sedimentar que durante


o Paleozóico se desenvolveu sobre o Craton Amazônico (fig. 8). ~ uma extensa região
baixa, com cerca de 1.250.000 Km2, cujo relevo só excede 200 metros de altitude no
extremo ocidental da província, próximo ao Peru. ~ drenada para o Rio Amazonas, que
percorre seu eixo, é coberta por densa floresta . A extensa sedimentação continental ce-
nozóica oculta as estruturas paleozóicas, que s6 afloram em estreitas faixas, nas bordas
da bacia.
A evolução da Bacia Amazônica no decorrer do Paleozóico foi grandemente
influenciada pela presença dos três arqueamentos transversais de Iquitos a oeste, PwIus
na região central e Gurupá a leste. A atuação tectônica desses arqueamentos condicio-
nou muitos dos processos de erosão e sedimentação realizados na bacia, que foi por
eles dividida em quatro sub-bacias: a do Acre a oeste, as do alto e médio Amazonas a
Bacia de Marajó ou do baixo Amazonas, que já participa da província costeira.
A transgressão marinha paleozóica na Bacia Amazônica iniciou-se no Siluria-
'no Inferior, senão mesmo ainda no final do Ordoviciano. A sedimentação, de natureza.
detritica, processou-se em ambientes variando de planícies de maré a fundos marinhos
nerít icos. Seguiu-se a regressão e nova transgressão no Devoníano .quando o mar perma-
neceu na bacia entre o Ensiano e o Frasniano. A grande espessura de sedimentos detrí-
ticos então acumulada representa ambientes variando de litorâneo a ínfranerítico, ou
mesmo batial (bathyal) . Seguiu-se grande hiato, até que o mar voltou novamente a OClJ-
par a bacia durante o Carbonífero Superior, nela depositando nessa ordem, sedimentos
detrí ticos, calcários e evaporitos, em espessura total que atinge 3.000 metros no Médio
385

Amazonas. O ambiente de sedimentação, de caráter nerítico, indica confinamento pro-


gressivo da bacia, culminando com acumulação de até 1.200 metros de espessura de
evaporítos, com intercalações de calcários e folhelhos. Possivelmente a atuação do horst
de Gurupá foi a causadora desse confinamento.
Camadas continentais identüicadas em sondagens parece Indicarem ter havido
sedimentação permiana na zona de maior espessura de sedimentos da Bacia do Médio
Amazonas. Grande quantidade de diques e sills de diabásio, alguns dos últimos poden-
do alcançar centenas de metros de espessura, acham-se intercalados nas camadas paleo-
zóicas. Esse magmatismo, realizado em mais de uma fase, desenvolveu-se entre o final
do Carbonífero a o Jurássi~ó Inferior, a julgar por datações Isotõpícas. Os derrames que
devém ter existido, foram erodidos antes do Terciário.
São conhecidas camadas continentais do Cretáceo superior na Bacia do Mé-
dio Amazonas. A sedimentação acumulada sobre a borda do craton, junto à região an-
dina do Peru, estendeu-se ao extremo ocidental da província, onde se mostra deforma-
da por dobramentos e falhamentcs.
A sedimentação cenozóica, predominantemente terciária, é toda continental.
. cobrindo a maior parte da província. Pode alcançar cerca de 1.500 metros de espes-
sura, no Alto Amazonas. Os depósitos quaternários limitam-se às zonas baixas dos vales
dos grandes rios.

PROV1NCIA PARNAlBA

A Província Parnaíba (fig. 8) situa-se no norte do Brasil, compreendendo área


de cerca de 650.000 Km2. Em maior parte coincide com a bacia sedimentar do mesmo
nome, mas em sua região norte expõem-se localmente as rochas do embasamento pré-
cambriano. A maior parte da província apresenta relevo tabular e de cuestas concên-
tricas, suas altitudes geralmente não ultrapassando 600 metros.
A subsidência da bacia do Parnaíba iniciou-se no Siluriano Inferior senão
mesmo ainda no Ordoviciano Superior, após longa fase de erosão das rochas do embasa-
mento da Plataforma Sulamericana. A sedimentação basal, de origem litorânea e nerítica,
constitui-se de arenitos de granulação média a grossa com intercalações conglomerãticas,
seguidos de arenitos finos, siltitos e folhelhos atingindo espessura total de 700 metros.
Seguem-se folhelhos com intercalações de arenitos, resultantes da transgressão marinha
realizada durante o Devoniano Inferior. No Devoniano Médio. há uma curta fase de
regressão marcada por arenitos deltáicos, seguida de ampla transgressão, que no Devo-
niano Superior (Famenniano) é responsável por acumulação de espesso pacote de fo-
lhelhos escuros, frequentemente betuminosos. Ocorre então a regressão do mar, e no
Carbonífero Inferior a bacia tem reduzida sua extensão. A sedimentação, marinha em
seu início, passa a ser predominantemente continental, com arenitos fluviais, siltitos e
Iolhelhos lacustres e pequenas camadas de carvão. A sedimentação clástíca continental
prossegue no Carbonífero ~uperior, mas em seu alto inclui camadas calcárias fossilífe-
ras, de ingressão episódica do mar. Segue-se, já no Permiano Inferior, a sedimentação
continental de arenitos, calcários (silicificados), siltitos com leitos de sílex oolítico e ca-
madas de gipsita.
Após esses episódios a região é soerguida e sofre um longo período de e~são
386

35
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e

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500 k m
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FIG. 8 - Bacias e Províncias do Amazonas. PamaIba e Paraná.


As curvas c números representam as linhas de contorno estrutur al dos sedl-
mentes que preenchem as bacias, em quilômetros abaixo do niv~1 do mar.
387

c não deposição, interrompido no Triássico Superior por sedimentação limica de siltitos


e argilitos, com arenitos ocasionais. Apresenta-se, então, a primeira manifestação de
magmatismo basáltico, que entre o Jurássico Superior e o Cretáceo Inferior assume
grande importância na área da província, sendo responsável por extensos derrames que
recobrem arenitos eólicos, indicativos de clima árido no Jurássico - Cretáceo Iàferior,
Numerosos silIs e diques então se intrometem nas camadas da bacia. .
Ao magmatismo basáltico sucede-se, na porção norte da província, uma ex-
tensa e rasa bacia de sedimentação cretácica, que provavelmente se prolongou para leste
da província. A sedimentação nessa bacia iniciou-se com arenitos eólicos, seguidos de
elásticos finos. com bancos calcários e de gipsita, atestando ingressão marinha realizada
durante o Aptiano, Termina a sedimentação cretácea/no Albíano, com acumulação de
arenitos, siltitos e folhelhos de ambiente lacustrino, Yfluvial, estuarino e déltaico. Essas
camadas têm equivalentes marinhos na bacia costeira de Barreirinha.
aurante o Cenozóico a província sofreu erosão, pelo que a seWm~ntação dessa
idade só é encontrada próxima à costa.
A borda norte da Província Parnaíba ergueu-se, durante o Cretáceo Inferior,
o denominado Arco Ferrer - Urbano Santos, orientado paralelamente à costa. 'O' rom-
pimento do flanco norte dessa estrutura por sucessivas falhas normais originou as "acias
costeiras de tipo graben, de Bragança, São Luiz e Barreirinhas.
O soerguimento do Arco Perrer - Urbano Santos trouxe à superfície estru-
turas pr é-cambrianas que se expõem em afloramentos isolados pela cobertura meso-ce-
nozéíca (Fig. 9). Eles permitem reconhecer dois domínios geológicos e geocronológicos,
separados por uma faixa de rochas cataclãsticas na qual penetraram intrusões de cará.,
ter básico a intermediário, de idade cretácea. Essa faixa coincide com o eixo do referi-
do arqueamento. A norte dela, gnaisses e migmatitos com trends estruturais orientados
a NW, interceptados por corpos graníticos, acusam idades radiométricas superiores a
1.600 m , a ., sendo cobertas por psamítos arcosianos pouco deformados, datados de 900
m. a. Os afloramentos orientais, situados a leste de São Luiz até o Estado do Ceat"á.
apresentam idades K/ Ar brasilianas. A sul da referida faixa, gnaísses, quartzitos e filitos
orientados entre NNW e N-S também ' apresentam idades brasilianas, obtidas por vá-
rios métodos.
Supõe-se que as estruturas mais antigas expostas nessa região sejam fração de
um primitivo núcleo cratônico (São Luiz), que originalmente teria continuação com o
Craton do Oeste Africano, tendo sido retrabalhado durante o Ciclo Brasiliano. O do-
mínio estrutural situado a sul da faixa cataclástica deve representar extensão dos sis-
temas brasilianos de dobramentos das províncias vizinhas. Ouro é o produto mineral mais
importante dessa área de rochas pré-cembríanas,

PROV1NCIA PARANÁ

A Província Paraná (fig. 8), corresponde à bacia sedimentar do Paraná, uma


das grandes sinéclises que se implantaram sobre a Plataforma Sulamericana a partir do
Siluriano. Limita-se com as Províncias Tocantins e Mantiqueira, e entre os paralelos
29", e 30".S apresenta uma projeção que alcança o Oceano Atlântico. O relevo da pro-
388

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FIG. q - Região do Meio Norte do Brasil.


I - Estruturas TransamazOnicas
2- Estruturas fcrmades ou retrab alhadas no Brasiliano, Faixa do Gurupi
a oeste e Faixa do Médio COI'e3U a leste
J - Coberturas Sedimentares relacionadas ao Ciclo Brasiliano
4 - Depósitos MolássiCO$.

(As linhas grossas representam ralhas maiores. linhas desconnnua s representam o limite
sul do Craton de São Luiz)
389

víncia é constituído de planaltos tabulares e cuestas concêntricas, drena ndo-se para os


Rios Paraná e Uruguai. Em sua borda oriental, mais elevada, as altitudes raramente ul-
trapassam 1.200 metros, mas atingem 1.808 m no morro da Igreja, no planalto basál-
tico em Santa Catarina.
As formas e dimensões da Bacia do Paraná variaram muito através do tempo,
em função de lentas oscilações tectônicas, como o indicam as reconstituições paleogeo-
gráficas. Hoje ela ocupa uma área de cerca de 1.200.000 Km2 no Brasil, estende ndo-se
ao Paraguai, Uruguai e Argentina. A configuração atual da bacia reflete algumas feições
tectônicas que atuaram às suas bordas no Paleoz6ico e Mesoz6ico, como a Flexura de
Goiana e os Arcos Central do Paraguai, Ponta Grossa e Rio-Grandense. ."
A evolução da bacia durante o Devoniano comportou grande transgressão IDa-
rinha vinda de oeste. No Carbonífero as ingressões marinhas tornaram-se epis6dicas,
passando a bacia no Permiano a apresentar condições de sedimentação francamente con-
tinentais, que perduraram desde então. A mais antiga sedimentação fossiüfera datada na
Bacia do Paraná é de idade siluriana, sendo reconhecida no Paraguai, mas não havendo
provas de que se tenha estendido ao território brasileiro . No Devoniano, o mar nela
permaneceu desde o Coblenciano ao Frasniano, quando se depositaram sedimentos de-
tríticos, inicialmente grossos, seguidos de folhelhos negros, em espessura total que alcan-
ça 1.000 m.
Durante o Carbonífero Superior a bacia fIxou até cerca de 1.500 metros de
espessura de sedimentos continentais, em grande parte resultantes de cinco avanços de
geleiras continentais. Em fases interglaciais, três ingressões marinhas deixaram registros
na coluna carbonífera, que também inclui sedimentos pós-glaciais.
O Permiano é representado por rochas sedimentares que alcançam até 1.700
m de espessura, depositadas, sem descontinuidade com as unidades carbon íferas p6s-
glaciais, em condições de águas confinadas passando gradarívamente a fluviais. O pacote
é predominantemente pelítico, refletindo lenta subsidência da bacia.
A partir do fim do Paleoz6ico, processos erosivos passaram a predominar e s6
um registro de camadas do Triásico Superior se reconhece no Sul do Brasil, represen-
tado por cerca de 200 m de espessura de rochas sedimentares fluviais fossilíferas.
No Jurássico Superior sobreveio o processo de reativação da Plataforma Sula-
mericana. Deu-se então extensa sedimentação continental, cobrindo área superior a ..
1.300.000 Km2 com dep6sitos e6licos e localmente fluviais e fluvio-Iacustrinos, que
alcançam até espessuras de 400 m. Esses sedimentos são recobertos por derra mes de ba-
salto, que também neles se intercalam. Os basaltos são toleíticos e representam espe-
tacular vulcanismo trappeano realizado entre o Jurássico Superior e Cretáceo Inferior.
Os derrames chegam a alcançar espessura total de 1.529 m na região centro-norte da
província, o volume calculado excedendo 650.000 Km3. Ligado a esse magmatismo ori-
ginou-se grande quantidade de diques, alguns com 100 m de espessura e dezenas de
quilômetros de extensão, alojados principalmente na borda leste da bacia e na Província
Mantiqueira. Também sills, alguns com até 200 m de espessura, se intercalaram nas
rochas sedimentares.
Acompanhando o vulcanismo basáltico, e sucedendo-o no Cretáceo Superior,
teve lugar em diversas regiões às bordas da bacia um magmatismo alcalino, gerando
numerosas chaminés de rochas altra-b ásícas, básicas e intermediárias, muitas das quais
contidas na província.
390

No Cretáceo Superior depositaram-se sedimentos fluviais, de início em áreas


restritas, estendendo-se depois por toda a metade setentrional da província. Esses sedi-
mentos têm espessuras não superiores a 300 m ,
No Terciário, deu-se o soerguimento da região costeira e delgada sedimenta-
ção flufi al começou a se acumular na província, relacionada com rede de drenagem não
muito diferente da atual.
Em toda a província as camadas apresentam-se de modo geral suavemente in,
clinadas para seu interior. Deformações locais são observadas, em associação com falhas
ou íntru sões ígneas.
A riqueza mineral da Província Paraná se associa às rochas sedimentares (car-
vão, pirobetume e calcário) e às magrn âticas, notadament~ as de filiação alcalina.

PROV1NCIA COSTEIRA E MARGEM CONTINENTAL

A mais nova província estrutural considerada desenvolveu-se a partir do Ju-


1«ssico Superior na borda oceânica, mantendo contato com quase todas as outras pro-
víncias.
A planície costeira constitui feição fisiogtáfica da porção emersa desta pro-
víncia, apresentando-se como uma superfície elevada a poucos metros acima do nível
do mar, constituída por depósitos aluvionares, transicionais e marinhos costeiros, Iocal-
mente remobilizados pela ação dos ventos. Caracteristicamente ela é sempre estreita e
muito alongada, a descontínua em alguns pontos. Suas maiores expressões são restritas'
à desembocadura do Rio Amazonas (400 Km) e de alguns outros sistemas fluviais que
fomentam deltas holocênlcos, como o dos rios Parnaíba, [aguaribe, São Francisco, Doce,
paraíba do Sul, etc. Em geral ela se continua para o interior sob forma de tabuleiros
elevados a algumas dezenas de metros acima do mar, constituídos de sedimentos contí-
nentais e marinhos de idade cretác!ara terciária, que se estendem até onde passam a des-
cobrir as rochas cristalinas, no limite da província.
A margem continental brasileira, porção submersa desta província, mostra co-
notações fisiográficas e de sedimentação mais variadas, que podem ser visualizadas de
forma resumida em três nítidas porções.
Ao longo da costa norte, do Amapá ao Maranhão, a plataforma continental
é larga de até 200 Km, relativamente rasa e de superfície muito regular. O gradiente
e o relevo do declive são muito variáveis, e o cone amazônico aí situado é a feição
mais importante. Entre os depósitos superficiais predominam facies arenosas. Ao largo
da costa Nordeste Oriental, do Maranhão à Bahia, a margem continental é estreita, ten-
do a platafo rma superfície muito irregular, seguida de um declive abrupto. Dos depó-
sitos superficiais destacam-se componentes bioclásticos, estando os sedimentos terrígenos
restritos às adjacências de desembocaduras fluviais. Ao largo da costa entre a Bahia e o
Rio Grande do Sul a plataforma apresenta larguras e profundidades sempre variáveis,
é rica em feições fisiográficas destacáveis, sendo o declhe abrupto. Do Rio de Janeiro
para sul ganham importância na plataforma os depósitos terrígenos, finos, e estão au-
sentes sedimentos carbonãticos.
As diferenças nos padrões estruturais do embasamento cristalino e no estilo
tectônico da evolução, da margem continental brasileira, em suas distintas etapas, per-
391

mitem separar três segmentos, com relação às bacias costeiras criadas no processo de
rompimento.
O segmento meridional, teve sua .evolução iniciada primeiro, no Jurássico Su·
perior. Apresenta um estilo tectônico tenslonal, com falhas mais ou menos paralelas às
estruturas do embasamento. A coluna estratigráfica das bacias então formadas é a mais
completa, no que concerne a registros litol6gicos dos estágios sucessivos do processo de
rompimento. O segmento setentrional, do Rio Grande do Norte ao Amazonas apresen-
ta idêntico estilo tensional, com falhas quase sempre diagonais às estruturas do emba-
samento, e um estilo compressional sobreposto, neo-cretãclo. Sua evolução e re.::istro lit~
estratigráficos são a partir do Albiano, com defecções importantes dos estágios iniciais.
O segmento intermediário de Pernambuco a Paraíba comporta a última bacia a se for-
mar, no Neo-Cretãcio, sendo estruturado perpendicularmente às direções do embasa-
mento pré-cambriano, marcando a borda da "zona transversal". Apresenta a menor sub-
sídência em termos relativos, embora seja confirmado o estilo tensional.
. Os principais recursos minerais destas bacias são petróleo, gás, evaporitos,
rochas carbonática e fosfato sedimentar.

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