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COG Rstao O Objeto de museu como documento: um panorama introdutorio ‘Maria Lucia de Niemeyer Matheus Loureiro Doutora; Museu de Astronomia e Ciéncias Afins, Rio de Faneiro, RY, Brasil L.niemeyer gmail.com Resumo: 0 artigo apresenta um panorama das discussdes sobre o objeto como documento na Ciéneia da Informagio ¢ na Museologia, identifica e analisa pontos convergentes e divergentes nas duas disciplinas. Estudo exploratério fundamentado em pesquisa bibliografica. I ressaltada a contribuigdo da Cigneia da Informacio, que reconheceu 0 objeto como documento décadas antes das discussdes promovidas pela Museologia. Sto abordadas as discussdes em tomo do objeto de museu como documento no ambito da Museologia (considerada por alguns autores um marco da maturidade tedrica da disciplina) e a posterior rejeigio da nogio. E observado um esforgo de apagamento do pasado da Museologia por alguns de seus influentes tedricos. Palavras-chave: Documento. Objeto de museu. Ciéneia da Informagio. Museologia. 1 Introdugio A compreensio do objeto como documento pervorren diregdes diferentes caminhos independentes na Museologia e Ciéneia da Informagio (CI); a0 acompanhar seu percurso na Museologia, esperamos iluminar questdes pouco exploradas e abrir horizontes para futuras pesquisas. Este artigo foi desenvolvido no ambito de um projeto de pesquisa que aborda os processos de musealizagdo a partir de um enfoque informacional, e que tem como fio condutor o pressuposto de que objetos de nmseus sio tornados documentos através de priticas e processos de musealizagio. Para a pesquisa bibliogrifica, foram selecionadas obras de autores que se debrugaram sobre o tema tratado, privilegiando (mas nfo se limitando a) a produg3o do Comité Internacional de Museologia (ICOFOM), érgio ligado ao Conselho Internacional de Museus (ICOM), além de autores com atuagao Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Jan abr. 2018 oi: Htp://4x.do.orq/10.191332/1808-5245251,13-36 113 em 0 Objeto de musen como documento: um panarama x intredutério questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro expressiva no Comité. A adogio desse critério € justificada pelo fato de o ICOFOM se apresentar como a principal instincia internacional de discussio sobre a Museologia, e de alguns de seus mais influentes autores conferirem um papel central questéo aqui abordada. Para Ivo Maroevié' (1998), 0 reconhecimento do objeto de museu como documento & 0 marco inicial do que ele chamou “fase tedrico-sintética” (MAROEVIC, 1998, p. 85) no desenvolvimento da disciplina. As reflexdes sobre o tema ganharam impulso e espaco no ICOFOM. Criado em 1977, os encontros € publicagdes do Comité buscaram legitimar a Museologia como disciplina cientifica auténoma e, segundo Suely Ceravolo, “[...]_moldar teoricamente a area almejando cunhar pressupostos para suprir 0 que era tido como um vazio.” (CERAVOLO, 2004, p. 238). E digno de nota, entretanto, o desconhecimento da realidade museolégica mundial pelo ICOFOM, 0 que é ilustrado pela polémica relativa ao uso dos termos museologia e museélogo. Conforme Davallon (1997, p. 25), 0 termo “museologia” era pouco utilizado na Franga, entre profissionais de museu, na wiltima década do século XX, “[ salvo em sua forma adjetivada museolégico [..]”, para designar tudo 0 que pertence a esfera dos museus. Ressaltando o cariter nio oficial das decisdes do ICOFOM, Jesis Pedro Lorente (2012, p. 61) registra que 0 comité, por influéncia do musedlogo polonés Wojciech Gluzinski, recomendou 0 uso do termo museélogo exclusivamente para os tedricos, embora varios paises, entre ‘0s quais o Brasil, adotassem para se referir aos profissionais de museus* Isto sinaliza um menosprezo pelos aspectos priticos inerentes a disciplina e um esforgo para estabelecer balizas ¢ demarcar um campo permanentemente qualificado como em processo de construgio / consolidagie. Ainda de acordo com Lorente (2012, p. 62), a despeito da importancia inegavel dos eventos do ICOFOM, que teriam contribuido para a criagdo de uma “comunidade cientifica intemacional”, a limitada tiragem das. publicagdes restringiu seu acesso’, fazendo com que s6 se tornassem conhecidas, bem mais tarde, em sua versio digital: Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Janabr. 2018 oi: Htp://4.do,orq/10.191332/1808-5245251,13-36 [14 em 0 Objeto de musen como documento: um panarama x intredutério questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro [...]A prova é que durante décadas nao tiveram nenhum impacto na bibliografis museolégica, pois s6 citavam as atas do ICOFOM alguas poucos membros especialmente motivades, que assistiam a quase todas as reunides. Os demais, mesmo quando se animavam participar de algum seminario ou conferéncia, ignoravam o tratado nos anteriores, de modo que durante anos a museologia parecia uma disciplina em plena reinvengto: em cada simpésio ou conferéncia se produziam novos discursos, os quais nfo eram construidos a partir do argumentado anteriormente. (LORENTE, 2012, p. 62). Os encontros promovidos pelo ICOFOM iluminam guerras de posigdo disputas em tomo de um tema sobre o qual, ainda hoje. nfo hi consenso na disciplina, e que ¢ marcado por idas e vindas em um terreno acidentado. A tiragem limitada das publicagdes, que podem ser caracterizadas como literatura cinzenta*, manteve os trabalhos apresentados ¢ as discussdes travadas nos encontros do comité pouco acessiveis por longo tempo. A digitalizagio das publicacdes, disponiveis apenas a partir de 2011 na pagina do ICOFOM, possibilitou 0 acesso a textos reveladores de discussdes cujos originais, de outra forma, permaneceriam desconhecidos, Esta & a justificativa para o grande numero de citagdes literais neste artigo. Na Cl, a contribuigdo dos tedricos da Documentagao e o papel pioneiro de Paul Otlet (1934) e de Suzanne Briet (1951) sobre o tema so amplamente reconhecidos, Redescobertos no final do século XX, os autores e sua obra foram retomados pela CI, assim como o conceito de documento. Tais trabalhos foram, por longo tempo, ignorados no campo da Museologia, no qual ressaltamos a inquestionavel influéneia exercida pelo autor tcheco Zbynek Strinsky*, nio apenas na afirmagio do objeto como documento, mas também na posterior refuttagdo da ideia, 2. Objeto de museu como documento: um olhar da eiénela da informagio® © nome documentagao foi empregado pela primeira vez por Paul Otlet em 1903 no artigo Les sciences bibliographiques et de a documentation’ (ORTEGA, 2009, p. 5-6) para designar um novo campo de estudo voltado nao apenas aos documentos escritos e grificos, mas também a objetos dotados de “valor Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Janabr. 2018 oi: Htp://4.do,orq/10.191332/1808-5245251,13-36 [15 0 Objeto de musen como documento: um panarama em introdutorio questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro documental” (RAYWARD, 1990, p. 3). No referido artigo, apontado por Fayet- Scribe (2001 apud® ORTEGA, 2009, p. 6) como o texto “fundador” de sua obra, Otlet (1990, p. 76) aponta como “fontes de nosso conhecimento” (ou “documentos”) os priprios objetos fisicos, os momamentos e as fontes escritas, Em sua obra mais celebrada, publicada em 1934 ¢ intitulada Trairé de Documentation, Otlet incluin, ao lado dos livros propriamente ditos, que “f...] constituem em seu conjunto a meméria materializada da humanidade [...]” (OTLET, 1934, p. 43, traduco nossa), o que denomina “substitutos do livro”, considerando que “...] as proprias coisas materiais (objetos) podem ser vistas como documentos, uma vez erigidas como elementos sensiveis diretos de estudo ou prova de uma demonstragio.” (OTLET, 1934, p. 217, tradugdo nossa, arifo nosso). Para Niels Windfeld Lund (2009, p. 6), a maior contribuigao tedrica para a discussio sobre documentos foi a da documentalista francesa Suzanne Briet que, como Otlet, buscou resolver problemas priticos e aperfeigoar o trabalho da Documentagio, mas também teorizar e problematizar o campo. Em sua influente obra Qu’est-ce que la documentation?, Briet propde uma redefinicio de documento como “[...] todo indicio concreto ou simbélico, conservado on registrado com os fins de representar, reconstituir ou provar um fendmeno fisico ou intelectual [...]”. Para problematizar o conceito e seu argumento, questiona: “Uma estrela é um documento? Um seixo levado pela torrente € um documento? Um animal vivo é um documento”. A todas essas perguntas responde negativamente, acrescentando: “Mas sio documentos as fotografias e os catélogos de estrelas, as pedras em um museu de mineralogia, 05 animais catalogados e expostos em um zoo.” (BRIET, 1951, p. 7, tradugaio nossa), A redescoberta das obras de Otlet e Briet nas tltimas décadas do séeulo XX foi determinante para o florescimento de estudos sobre 0 conceito de documento. Retomando os termos “documentagio” e “documentologia” utilizados quase meio século antes por Otlet (1934, p. 9), Jean Meyriat define 0 documento como “f...] um objeto que da suporte & informagao, serve para .]” (MEYRIAT, 1981, p. 51, tradugao nossa). Além dos “documentos por inteng’o”, criados com o objetivo de documentar, 0 autor comunicé-la e é duravel Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Janabr. 2018 oi: Htp://4.do,orq/10.191332/1808-5245251,13-36 [16 em 0 Objeto de musen como documento: um panarama x intredutério questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro destaca os “documentos por atribuigao”, objetos tornados documentos por aquele que busca uma informagio e reconhece neles um significado. Isso implica em afirmar que qualquer coisa, independente de sua funcio original, pode ser tornada documento. Referindo-se especificamente a objetos de museu, como os esqueletos do Museu de Historia Natural ou os trajes camponeses no Museu de Artes e Tradigdes Populares’, o autor observa que os primeiros “[. preservam e fornecem informagées sobre a fauna da eta quaternaria [...]", enquanto os segundos “[...] sobre os modos de vida e os costumes da Franca Rural no século XVIII [...]” (MEYRIAT, 1981, p. 52, tradugao nossa). Embora © objeto tenha duas origens possiveis, 0 emissor ¢ 0 receptor, € a intengao do segundo que prevalece: Se 0 desejo de fornecer informagdes no for correspondido pelo estinatirio, a informagao permanece virtual. O objeto [...] ndo ainda um documento, Podera sé-lo mais tarde, quando uma pergunta lhe sera colocada ¢ ativara esta informagao. (MEYRIAT, 1981, p. 54, radugao nossa) Lamentando que Briet nto tena especificado suas fontes, Lund (2009) aponta uma possivel influéncia da semiética de Charles S. Peirce, particularmente no que se refere & classificagio dos signos em icone, indice e simbolo. Signos podem manter com as coisas relagio de semelhanga (icone), conexio fisica (indice) ou mental (simbolo), 0 que explicaria por que, em alguns casos, Briet abordou documentos como signos coneretos e, em outros, como simbélicos. Michael Buckland (1997), por sua vez, deduziu do conceito de documento proposto por Briet os seguintes critérios (2) Ha materialidade: apenas objetos ¢ signos fisicos: (2) Ha intencionalidade: pretende-se que 0 objeto seja tratado como documento: (3) Os objetos devem ser processados: Eles devem ser tonmados documentos; e, supomos, (4) Ha uma posicdo fenomenol6gica: O objeto ¢ percebido como documento. (BUCKLAND, 1997, p. 806, tradugdo nossa). Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Janabr. 2018 oi: Htp://4.do,orq/10.191332/1808-5245251,13-36 i7 em 0 Objeto de musen como documento: um panarama x intredutério questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro Mais do que a redefinicgo do conceito de documento, Frohmann destacou em Briet sua forga argumentativa e a projegio do conceito em diferentes situagdes. Se um animal se torna documento no zooldgico € porque este € um Ingar em que o animal se torna disponivel para apoiar ou documentar uma afirmagio: “A importineia do lugar, para cousiderar que alguma coisa é um documento ou tem propriedades documentais, nfo ¢ to estranha quando pensamos em objetos de museu.”, (FROHMANN, 2009, p. 297, tradugao nossa) 3. Objeto de museu como documento: um olhar da Museologia No Brasil, a discussao do objeto como documento remonta 4 década de 1950 e aos trabalhos de Florisvaldo dos Santos Trigueiros (1955; 1956). Leitor de Paul Otlet, a quem cita em seu livro Museus: sua importncia na educagao do povo (1956), © autor defende uma documentagio dindmica, que assegure o livre acesso aos documentos, @ concebe © museu como drgio de documentagio, a0 lado de bibliotecas, arquivos, estagdes de ridio e televisio. Estes aplicariam técnicas de documentagdo em seu trabalho de criar, coletar, classificar, conservar, registrar e divulgar 0 documento (TRIGUEIROS, 1956, p. 11) Cabe aqui uma mengdo especial ao preficio da obra, de autoria de Espirito Santo Mesquita que, apés fazer referéneia as recentes reflexdes de Suzanne Briet sobre documento, esclarece que Trigueiros inchuia a museografia entre as téenicas de documentagao e defendia a tese de que “ © museu integra © sistema de que a biblioteca faz parte e nese particular estabelece como premissa 0 verdadeiro conceito modemo de documentagio [...}” (MESQUITA, 1956, p. 2) De acordo com autores vinculados a0 ICOFOM, as abordagens ao objeto de museu como documento remontariam a trabalhos desenvolvidos desde a década de 1960", Em 1970, foi publicado o artigo intitulado Pojam muzeologije (O conceito de Museologia), de autoria de Stransky, no periédico Museologiza, de Zagreb (antiga Iugoslavia, atual Crodcia). No artigo, citado por Maroevié (2004), 0 objeto de museu é definido como “[...] um objeto da realidade, uma Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Janabr. 2018 oi: Htp://4.do,orq/10.191332/1808-5245251,13-36 [18 em 0 Objeto de musen como documento: um panarama x intredutério questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro parte do patriménio cultural mével. Transferido para o museu, 0 objeto se toma uni documento daquela realidade da qual foi selecionado.” (STRANSKY, 1970 apud'' MAROEVIC, 2004, p. 24, tradugao nossa, grifo nosso) A partir de 1979, quando passou a colaborar com 0 ICOFOM, “...] 0 pensamento de Strinsky avanea para além dos antigos paises do leste europeu L.-J (BARAGAL, 2008, p. 3). Até entio, sua obra tivera pouica penetragao fora dos paises do Bloco Socialista, nfo apenas em virtude da evidente batreira da lingua, como também por questdes geopoliticas. De acordo com Bruno Brulon, Stransky “[...] seria responsavel por deslocar 0 objeto da Museologia do museu, como instituigao historicamente fundada, para a musealidade - entendida como um ‘valor documental especifico’.” (BRULON, 2017, p. 410. grifo do autor). A existéncia da Museologia como disciplina cientifica independente seria _inicialmente justificada por Strinsky a partir dos objetos de museu ~ musedlia. Segundo Mensch (1992), 0 termo musedilia (musealium) foi cunhado por Strinsk em 1969 e condensado em 1985, em um Encontro do ICOFOM realizado em Zagreb. A determinagio do objeto de museu, segundo palavras do proprio Stransky, viria de: [.-] uma relagao especifica entre homem e realidade (‘musealidade’) [..], motivada pelo esforgo para proteger contra as mudangas naturais e a ruina os objetos da realidade natural e social que podem representar de forma ideal valores cuja aplicacio e conservacto sejam de interesse para 0 enriquecimento ¢ desenvolvimento da cultura e da sociedade como um todo. Esses objetos como objetos de museu potenciais /‘museilia’ sto, do ponto de vista ontol6gico, idénticos ao objeto em geral mas no nivel do sentido desempenham fungdes novas, a de testemunhos autéaticos, documentos [...] de fates usturais ou sociais, (STRANSKY, 1985, p. 107, traduedo nossa, grifo n03s0), Para Strinsky (1974 apud'? SCHREINER, 1980, p. 39), 0 museu seria “{..] uma instituigdo documentiria que acumula, preserva e comunica testemunhos auténticos da realidade objetiva [...]”, eujo objeto seria a “nusealidade”, a qual define como um “f...] valor documental especifico de objetos concretos perceptiveis da natureza e sociedade [.. Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Janabr. 2018 oi: Htp://4.do,orq/10.191332/1808-5245251,13-36 [19 em 0 Objeto de musen como documento: um panarama x intredutério questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro Ao menos até a década de 1980, a abordagem de Stransky ao objeto de museu é fortemente centrada no conceito de documento (embora essa orientagio tenha mudado radicalmente na década seguinte). Algumas de suas reflexdes sugerem, inclusive, a possibilidade de um contato com a obra de Suzanne Briet “Uma borboleta capturada e fixada com um alfinete é uma testemunha direta, documento da existéncia dessa borboleta; ao mesmo tempo, ela testemunha nao somente ela propria, mas também a espécie que representa.” (STRANSKY, 1985, p. 107, tradugdo nossa, grif nosso). A compreensio do objeto como documento & quase hegeménica nos primeiros anos do ICOFOM. Nas palavras de Jelinek, fundador do Comité ‘Museus conservam alguns importantes objetos ~ documentos. Eles formam colecdes que devem fornecer amostras representativas ¢, portanto, informagées to objetivas quanto possivel. A formacio dessas colegdes de objetos, que sfo fontes originals, imesgotiveis de informacao, é 0 cere da museologia cientifica, que nao nem pode ser duplicada por qualquer outro ramo da ciéncia, (JELINEK. 1980, p. 4, tradugo nossa, grifo nosso). Ao abordar o caréter interdisciplinar da Museologia, Gregorova ressalta sta couexio inevitivel com os objetos de museu, ou seja, com os “[...] documentos materiais do desenvolvimento da natureza e sociedade [...]”, dotados de “[...] valor documental ou valor de museu, no sentido proprio do termo.” (GREGOROVA, 1981, p. 35, tradugo nossa, grifos da autora). Apesar do baixo impacto imediato da produgio do ICOFOM (LORENTE, 2012, p. 62), questao ja apontada na introdugio, algumas reflexdes sobre 0 objeto como documento chegaram ao Brasil, na década de 1980, através da brasileira Waldisa Russio'’, membro do ICOFOM e participante dos encontros do Comité em seus primérdios. Para a autora, o objeto de estudo da Museologia seria 0 “[...] fato de museu, ou o fato museoldgico [...], relagao profunda entre © homem, sujeito cognoscente, e o objeto: a parte da realidade a qual o homem pertence e sobre a qual tem o poder de agir.” (RUSSIO. 1981, p. 56, tradugdo nossa, grifos da autora). Admite, entretanto, que essa relagio Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Janabr. 2018 oi: Htp://4.do,orq/10.191332/1808-5245251,13-36 | 20 em 0 Objeto de musen como documento: um panarama x intredutério questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro profunda implica na coleta da parcela objetual da realidade, e, portanto, em eritérios de selegao: [...] © objeto deve ter “REPRESENTATIVIDADE”: deve tomar presente alguma coisa, alguém, um fato, um petiodo, un provesso. Essa representatividade [...] implica em dois principios: a restemnnhalidade e a dacumentalidade. A. testemunhalidade (valor de testemunho) [..] & condigao indispensivel da musealizagto de objetos: € nevessario que 0 objeto dé seu testemunho, [..] que seja informante de alguma coisa ou de alguém. # também condicio da mnsealizagio a documentalidade. o poder de cnsinar (‘docere’), de fazer saber. (RUSSIO, 1984, p. 55, traducao nossa, grifos da aurora) No inicio da década de 1990, circulam também entre autores brasileiros, textos de autoria do holandés Peter Van Mensch. Embora o autor assinale em sua tese de doutorado a rejeigio & nogio de objeto como documento, seus trabalhos fandamentaram o artigo Documentacéio museoldgica: teoria para uma boa prética, de autoria de Helena Ferrez (1994), 0 qual colaborou para a disseminagdo, uo Brasil, da ideia do objeto como “portador de dados” ~ “the object as data carrier” Fortemente influenciado pelo pensamento de Strinsky, Maroevié adere a ideia do objeto como documento, incorpora essa visio em seus trabalhos ¢ a mantém, a despeito da discordincia de autores como Mensch (1992), que sinaliza uma mudanga de posigdo de Strinsky e outros membros do ICOFOM, entre os quais ele proprio: © objeto do museu - como documento de una certa realidad, base para 2 identidade, testemunho de eventos, resultado da habilidade hhumana, produto da natureza, ou como evidéncia na qual se basciam reivindicasées ¢ teses cientificas no ambito de disciplinas cientificas basicas ou disciplinas académicas - € sem dvida um elemento da imformagao de base do conhecimento humano, (MAROEVIE, 2000. p. 6, trachugao nossa, rif. nosso). Enquanto na CI, a década de 1990 se caracteriza pela redescoberta de Paul Otlet e Suzanne Briet e o florescimento dos estudos sobre o conceito de Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Janabr. 2018 oi: Htp://4.do,orq/10.191332/1808-5245251,13-36 [24 em 0 Objeto de musen como documento: um panarama x intredutério questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro documento, na Museologia ocorre 0 inverso: a afirmagio do objeto como documento perde forga e € contestada pelo proprio Strinskj, que havia introduzido a questao mais de duas décadas antes. Maroevig, entretanto, insiste na definigao de musealidade como “{...] a caracteristica de alguma coisa que, em uma realidade, documenta outra realidade [...]", afirmando que “[..] um objeto em um museu é um portador de musealidade [...]” (MAROEVIC, 1998, p. 130, tradugo nossa). Segundo Vujié e Stublié (2016, p. 38), 0 autor fizera da Ciéneia da Informagio a base para o trabalho de teorizagdo sobre a Museologia no qual trabalhou de 1983 a 1993 e que resultou no livro /mroduction of Museology. Em sua pesquisa de dez anos, baseou-se em principios estabelecidos por autores como Mensch e o proprio Striusky. A contribuigao do autor foi fundamental para a compreensio do objeto de museu como documento. Membro € colaborador assiduo do ICOFOM, publicou trabalhos em lingua inglesa e foi influenciado também por teérivos nio vinculados a0 Comité — como estudiosos de cultura material e da rea de “Museum Studies”, como a inglesa Susan Pearce. Sua obra no apenas contribuin para a disseminago da Museologia oriunda dos paises do Bloco Socialista para além da Cortina de Ferro, mas para as reflexdes sobre o objeto como documento: © valor documental de tm objeto de muse € expresso no eixo temporal, porque durante szu tempo de vida o objeto acunmula os tragos do tempo ¢ eventos em sua estrutura material ¢ formal. Ao mesmo tempo, por sua estruturs material = foxma, ele transfete os valores preservados para 0 futuro, (MAROEVIC, 2004, p. 24 tradugio nossa, grifo nosso) Em sua tese de doutorado, defendida em 1992 na Universidade de Zagreb, Mensch registra sua discordineia de Maroevié, professor da mesma instituigio, colocando em divida se a nogio de musealidade como concebida inicialmente por Strinsky seria uma propriedade do objeto como documento, ¢ apontando as razdes do que considera 0 equivoco de Matoevié: Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Janabr. 2018 oi: Htp://4.do,orq/10.191332/1808-5245251,13-36 | 22 em 0 Objeto de musen como documento: um panarama x intredutério questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro A confusio é, parcialmente, devido ao cariter vago das definigdes dadas por Strinsky. mas também porque suas ideias mudaram. [...] Em 1974, em um folheto referente ao curso de Museologia da Universidade Jan E. Purkinje (Bmo), a tarefa da Museologia era deserita como ‘perceber ¢ identificar documentos que, em todas os aspectos, melhor representam certos valores sociais’. A esse valor ddocumental Strdnsky chamou musealidade, (MENSCH, 1992, p. 25, ‘tadugao nossa). De acordo com o autor, embora na década de 1980 Strinsky ainda adotasse o termo “musealidade”, sua definigfio de Museologia havia mudado: a missio da disciplina seria, entio, interpretar cientificamente a atitude specifica do homem em relagio a realidade que o leva a reunir e preservar representantes auténticos desses valores. Com isso, a musealidade deixaria de ser uma categoria de valor, e passaria a ser entendida como a prépria orientagao especifica de valor. Para o autor, a obra de Maroevié refletiria o “velho conceito de musealidade” (MENSCH, 1992, p. 25, tradugio nossa). Os arguments de Mensch no resistem ao conffonto com textos do proprio Strinsky (ef. STRANSKY, 1985), mas sio embleméticos de uma disputa travada com a CI por alguns membros do ICOFOM na iiltima década do século XX e que sera abordada a seguir. 4 Museologia e Ciéneia da Informagao: um dificil didlogo Come abordado no tépico anterior, a década de 1990 marca, no ICOFOM, um ponto de virada no debate sobre o objeto como documento. Diferentemente do Brasil, onde a questio jé havia sido abordada quatro décadas antes, os autores ligados a0 Comité pareciam desconhecer até entdo as reflexdes oriundas da Documentagéo e Ciéncia da Informagao. Em um encontro do ICOFOM realizado em Helsinki, em 1987, Anna Gregorova (1987, p. 123) lamentava 0 ""* niio reconhecessem fato de que tedricos da Documentagio e da “Informatica © objeto de museu como documento, ¢ que restringissem o conceito aos documentos escritos. Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Janabr. 2018 oi: Htp://4.do,orq/10.191332/1808-5245251,13-36 [23 em 0 Objeto de musen como documento: um panarama x intredutério questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro Frangois Mairesse** (2017), entretanto, afirma que a obra de Otlet era conhecida por Strinsky - 0 que é confirmado por um trabalho apresentado em um Simposio do ICOFOM (cf. STRANSKY, 1994) - e destaca as semelhangas nos ccritérios de cientificidade © estratégias adotadas por ambos em stias empreitadas para o reconhecimento da autonomia da Bibliologia e Museologia como disciplinas: Os escritos do pesquisador tcheco testemunham uma concepcdo formalista bastante precisa daquilo que deve conter uma disciplina de modo a obter o reconhecimento académico. Uma tal empreitada parece relativamente similar aquela conduzida, quarenta anos antes, por Paul Otlet a fim de desenvolver o bibliologia como ciéncia do documento [..}. (MAIRESSE, 2017, p. 100). Para os propdsitos deste artigo, a semelhanca entre os dois autores ‘menos importante do que 0 abandono da nogdo de objeto como documento por Strinsky, cuja explieagdo pode estar nas entrelinhas do mesmo trabalho meneionado por Mairesse. O texto, que critica 2 abordagem da Cl, foi apresentado pelo autor teheco no Simpésio realizado pelo ICOFOM em 1994 em torno do tema “Objeto-Documento”: © coneeito de documentagao foi usado pela primeira vez em 1903 por Paul Otlet, um dos fundadores do Instituto Internacional de Bibliografia. De acordo com ele, o termo deveria incluir as Cizacias ddas Bibliotecas, dos Arquivos e dos Museus. apés 2 Segunda Guerra Mundial, o temo foi suprimido (sic) como resultado da disseminagio da Ciéncia da Informagto. Esta diseiplina agora usa 0 temo mais amplo “fonte de informagao" (sic). Embora este termo contemple também objetos materiais, a ciéncia da informacio se concentra apenas naquelas fontes ou meios que server para fixar os resultados das atividades bumanas intencionalmente voltadas & preservacio e difusdo da informaeio (sic). Cientistas da informacdo afirmam nao ter um nome para fontes materials de informacao. (STRANSKY, 1994, p. 48, tradugao nossa). Cabem aqui algumas consideragdes acerca da critica de Strinsky a CL Tal como ocorre em varios trabalhos incluidos na mesma publicagio, ele nio faz uso de citagdes nem inclui referéneias, 0 que dificulta uma andlise mais aprofindada e rigorosa’*. O teor do texto, entretanto, sugere que ao menos uma das fontes pode ter sido a introdugio de W. Boyd Rayward a coletinea de Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Janabr. 2018 oi: Htp://4.do,orq/10.191332/1808-5245251,13-36 [24 em 0 Objeto de musen como documento: um panarama x intredutério questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro ensaios de Paul Otlet publicada em 1990, a qual menciona varias dos termos ¢ expressdes usados por Strinsky em sua argumentagio: As ideias de Otlet [...] fomeceram a base para uma tentativa de conceituar e desenvolver um novo campo de estudo e pesquisa, que, j& em 1903, ele chamou ‘documentacto’. Ele sugeriu que a documentacao deveria se interessar no apenas pelos registros escritos ¢ graficos, mas também pelos objetos, porque eles tém valor ‘documenta’. Sew interesse era qualquer coisa que pudesse ‘cansmitir informacao potencialmente tril, independente de sua forma. Fle foi levado a vislumbrar uma forma de organizacio documentaria cujos niveis e processos assegurariam o fornccimento de informagao por meio de servigos revolucionérios de informagio ou ‘agéucias de documentagao’. Estas recorreriam, quando necessirio, a textos, imagens ou objetos, como fontes de imformacao intesligadas "por métodos-comuns, _tarefas compartilhadas © acordos formais, cuja existéncia transformaria bibliotecas em estagdes em uma rede de informagao que alcangaria ‘© mundo inteiro. Sua atividade essencial, estreitamente coordenada com arquivos € museus, seria a informagao derivada de toda a imensa variedade de fontes impressas e outras disponiveis. (RAYWARD, 1990, p. 3, traduedo nossa, grifo nosso), Sea fonte de Stransky foi mesmo o texto de Rayward, cabe ressaltar a leitura superficial e apressada e, talvez por isso mesmo, a interpretagio equivocada. Trata-se de uma clara tomada de posigdo que sinaliza um confronto da Museologia com a CT que mio parece ser reciproco. Algumas das argumentaces e critieas parecem desprovidas de fundamentago, até mesmo em virtude da auséneia de referéncins. Segundo o autor, a dificuldade de compreender a diferenga entre fonte ¢ documento reside no fato de que a Cl “L..] v8 0 documento como um veiculo de informagao intencionalmente eriado (Sic), enquanto uma fonte pode ser qualquer coisa, ou seja, também aquilo que € intencionalmente criado pelo homem.” (STRANSKY, 1994, p. 48, tradugao nossa). Outras parecem contradizer a trajetéria do proprio autor, segundo o qual, em museus, os termos documento e documentacao teriam ocorrido tardiamente, “{.] prineipalmente em conexto com a documentagio e a ciéncia da informagio, ou seja, em décadas recentes e como resultado da computadorizaco (sic)." (STRANSKY, 1994, p. 48, tradugo nossa). Trata-se de uma afirmativa sem fundamento, sobretudo vinda daquele que & apontado como 0 primeiro tedrico da Museologia a reconhecer 0 objeto de museu como Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Janabr. 2018 oi: Htp://4.do,orq/10.191332/1808-5245251,13-36 [25 em 0 Objeto de musen como documento: um panarama x intredutério questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro documento. E possivel, ainda, apontar inconsisténcias no interior do proprio texto: apos afirmar que 0 couceito de documentacio foi usade por Otlet em 1903, 0 autor afirma que o termo foi empregado “[...] primeiro na antiga Unido Sovitica e seus paises satélites com a campanha ‘documentando a construg4o do socialismo [...]” (STRANSKY, 1994, p. 48, tradugo nossa). Em relagdo a0 termo documento, © autor adverte para a “[...] hegemonia terminolégica da ciéneia da informagao [...]”, ressaltando que a Museologia é “[...] capaz de chegar 4 definigho do carter especifico da abordagem 4 realidade da documentagao em museus.” (STRANSKY, 1994, p. 50, tradugao nossa) No mesmo evento que marea 0 recuo de Stransky e a rejeigdo da nogao de objeto de museu como documento, Maroevié reforga sua propria posigao, citando um trabalho publicado em 1974 no periddico “Muzeologické sedity” (Cadernos de Museologia), intitulado Metodologické otdzky dokumentace souéasnosti (Questdes metodologicas na documentagio de hoje) no qual ¥ manifesta sua preocupagio com “[...] © valor documental do objeto, [.-] fiundamento da nmusealidade.” (STRANSKY, 1974 apud'” MAROEVIC, 1994, p. 118). Trés anos mais tarde, em um artigo publicado no periédico Nordisk Museologi, Maroevié defenderia a inclusio da Museologia entre as cigncias da informagao, considerando particularmente 0 aspecto metodol6gico: ‘A_ metodologia relativamente bem definida das ciencias da informagio, aplicada com modificacdes museologia, ajudard a muscologia a definir sistcmaticamente suas atribuigées ¢ objetives de pesquisa. Em comparacio com [.] outros ramos das ciéncias da informagao, podemos ver que a museologia tem caracteristicas especificas porque seu objeto de pesquisa — 0 objeto do patriménio (ou musedlia em sentido mais restito) ~ & uma parte da realidade ao transmitida ainda para outra midia. (MAROEVIC, 1997, p. 78, tradugio nossa) Observa, em contrapartida, que, por suas especificidades, 2 Museologia poderia contribuir para a ampliacao do escopo da CI Em outras palavras, a muscologia lida com 0 proprio objeto. colegdes de objetos © com todas as relagdes possiveis que 0 objeto estabelece em um contexto especifico, Assim, a museologia frequentemente trata um objeto nfo apenas como portador ou fonte Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Janabr. 2018 oi: Htp://4.do,orq/10.191332/1808-5245251,13-36 [26 em 0 Objeto de musen como documento: um panarama x intredutério questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro de informagao, mas também como um emissor em um processo de comunicagio ou um documento de uma realidade possivel Portanto, também trata objetos de museu como elementos que contrbuem para o enriquecimento do ambiente humano © que participam da criagto de identidades diversas. (MAROEVIC. 2000, 5-6, tradugio nossa) No final do século , Jean Davallon reconhece que, embora o que ele chama “realidade museoldgica” nao tenha aflorado naquele momento, tal realidade nao havia se constituido até entio um dominio especifico reconhecido. Ressalta, ainda, a mobilizagio de diferentes disciplinas cientificas, entre as quais as “Ciéncias da Informagao e da Comunicagao”'* para pensar o patriménio, 0 que contribuiria para a edifieagdo de um “| museu.” (DAVALLON, 1997, p. 28, traducao nossa). A posigio do autor fica painel de pesquisas sobre 0 mais clara no trecho que se segu (© museu ou o patrimonio nao sao substancias em si; © que interessa a0 pesquisador é sua producio social. Em tal contexto, as discussdes sobre o estatuto cientifico, a autonomia on o objeto da museologia deixam 0 dominio da especulagdo ou da tomada de posigdo para se tomarem uum desafio cientifico. Isto ¢ evidenciado pelo fato de que a definigio de museologia & cada vez menos a de uma ciéncia do museu ¢, cada vez mais, uma cigucia do tratamento de objetos pelo museu enquanto patrimonio © suporte de Informacao, Dai o intecesse pelas cigneins da informacie e da comunicacto. (DAVALLON, 1997, p. 29, tradugio nossa, grifo nosso) Ressaltando a afirmativa de Maroevié (cf. 1994; 2004) de que “f...] a maturidade tedrica da disciplina nmuseolégica repousa no reconhecimento do valor informativo do objeto, e, consequentemente, de seu estatuto de documento [..J” (MAROEVIC, 1989 apud'? HERNANDEZ HERNANDEZ, 2016, p. 87, tradugo nossa), a musedloga espanhola Francisca Hemindez Hernindez subsereve também a opiniéo de Davallon apresentada acima, Segundo ela, 0 forte carter interdisciplinar da Museologia a aproximaria de outros ramos de conhecimento, particularmente das disciplinas envolvidas na “documentagio da memoria”, como a Biblioteconomia ¢ a Arquivologia, em seu papel relacionado a0 tratamento de objetos vistos como patriménio e suporte de informagio. “As cigneias da informagio e da comunicagio, nesse caso, seriam convidadas a Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Janabr. 2018 oi: Htp://4.do,orq/10.191332/1808-5245251,13-36 |27 em 0 Objeto de musen como documento: um panarama x intredutério questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro contribuir com os seus proprios campos de conhecimento.” (HERNANDEZ HERNANDEZ, 2016, p. 81, traduco nossa), Apesar de rejeitar 0 museu como objeto da Museologia, e de ter abandonado a tese do objeto como documento, Strinsk¥ parecia temer exatamente a aproximagio do museu e do objeto pela CL: Enquanto a CI opera no nivel gnoscolégico, a abordagem museologica é focada na ontologia. Se tivermos sucesso em provar, por novas pesquisas, que esta abordagem € correta e defendermas o carter especifica de nossa abordagem & realidade, isso serd benéfico para nés. Mas resolver apenas parte do problema Os conceitas de documento e documentagao sto bastante vagos. ‘Mesmo se introduzirmos © termo documento de museu, ada daria se no definissemos, simultaneamente as caracteristicas que ‘nos ajudariam a distinguir este documento de outros. (STRANSKY. 1094, p. 49, traduedo nossa). Vera Dodebei sublinha a necessidade de revisio do conceito de documento de modo a incluir “[...] @ intengao de preservagio no ambito da meméria social”. Ressalta que a transformacao de objetos em documentos & intencional (principio da significagao). que a “[...] atribuiga0 de predicaveis a0 objeto submetido ao observador [....” tem cariter seletivo (prineipio da virtualidade), e que documentos “[...] no sdo diferenciados em sua esséneia, ou seja, nfo se agrupam em categorias especificas, tais como os exemplos tradicionais: 0 livro para bibliotecas, o objeto tridimensional para museus ¢ 0 manuscrito para arquivos.” (principio da unicidade, de particular interesse para 05 objetivos deste estudo). (DODEBEI, 1997, p. 20) © reconhecimento da especificidade da Museologia em relagio a documentacao de seus acervos (cf. SANTOS; GRANATO, 2016) nao implica em distinguir 05 documentos de museu dos demais. Abordar 0 objeto de museu como documento nio significa, necessariamente, defender a busca de qualquer particularidade que 0 diferencie em esséneia dos demais documentos, mas simplesmente em reconhecé-lo, traté-lo e pensé-lo a partir dessa premissa. Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Janabr. 2018 doi Htp://dx do. ora/10.19132/1808-5245251.13-36 [28 em 0 Objeto de musen como documento: um panarama x intredutério questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro 5 Consideragées Finais A CI tem assistido a uma énfase crescente nos estudos sobre © documento desde a década de 1980, os quais tém contribuido para levar adiante e aprofundar as reflexdes inaugurais de teéricos da Documentagdo, como Paul Otlet e Suzanne Briet, que remontam ao inicio do século XX. No Brasil, a nogio de objeto como documento remonta a década de 1950. Na década seguinte, a questo recebeu atengio de estudiosos do Leste Europeu, entre os quais se destaca 0 tcheco Zbynek Strinsky, cuja obra seria difundida para além dos paises do Bloco Socialista nos encontros do Comité Internacional de Museologia — ICOFOM, fundado em 1977 e vinculado ao Conselho Internacional de Museus — ICOM. Maroevié, cujo enfoque europen é assumido em sua abordagem, destacada como um marco da maturidade teériea da disciplina 0 reconhecimento do objeto de museu como documento. Essa visfio foi hegemdniea a0 menos até a década de 1980; na tiltima década do século XX, entretanto, alguns teéricos como Peter Van Mensch e 0 proprio Stransky passaram a rejeitar a nog3o e a sinalizar uma mudanga de rumo na Museologia, enquanto outros, como Maroevié, mantiveram a mesma perspectiva, Duas evidéncias desse recuo podem ser assinaladas na iiltima década do século XX: a tese de Peter Van Mensch (1992), que contesta 0 uso por Maroevié do conceito de “msealidade” como valor documental, ¢ o Simpésio realizado pelo ICOFOM sobre o tema “Objeto-Documento”. No trabalho apresentado no evento, Strinsky (1994) manifesta sua discordaneia da abordagem da CI e sua rejeigo a nogio do objeto como documento. Essa nova abordagem nio é assumida, entretanto, como corregao de rumo, mudanga de posigo ou abandono de um instrumental antigo por outro mais adequado, O autor ndo explicita uma ruptura com seus trabalhos anteriores, mas os omite, o que sugere um esforgo de apagamento desses mesmos trabalhos e do proprio passado da disciplina. Tal apagamento seria posteriormente reforcado pela publicagao de duas influentes obras de referéncia pelo ICOFOM (DESVALLFES; MAIRESSE, 2010; 2011), Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Janabr. 2018 oi: Htp://4.do,orq/10.191332/1808-5245251,13-36 [29 em 0 Objeto de musen como documento: um panarama x intredutério questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro cujo objetivo & padronizar e estabilizar o vocabulario do campo a partir de uma tinica perspectiva, e que mio incluem os verbetes “musealidade”??, “informagao”, “documento” e “documentacao”, E dificil precisar as razdes para essa guinada. O dificil acesso 4 obra de Stransky, apontado como a figura central da Museologia e da discussio sobre 0 objeto como documento no Ambito da disciplina, é um ponto nevrilgico a ser considerado. Em sua maior parte, seus trabalhos foram publicados em teheco; quanto aos textos em inglés efou francés, incluidos em anais de eventos promovidos pelo ICOFOM, podem ser caracterizados como “literatura cinzenta”. A tiragem reduzida e circulago restrita dessas publicagdes comprometeram sensivelmente seu impacto. Como adverte Baragal (2008), 0 acesso aos textos originais de Strinsky se da principalmente por meio de outros autores, sobretudo europeus. Ao disponibilizar em sua pagina na Internet as atas de seus eventos, ainda que tardiamente, 0 ICOFOM forneceu um consideravel material para pesquisas, ainda insuficientemente explorado. Em um texto intitulado 4 fiteranma cinzenta se ilumina na web, Freire e Freire (2015) enfatizam © potencial da Internet na ampliagiio do acesso a esse tipo de documento. ‘Uma leitura critica da obra de Stransky ¢ a diseussio de suas ideias, no entanto, encontram obsticulos dificeis de transpor. Visto como o fundador da “Museologia Cientifica” (BRULON, 2017, p. 415) ou “o mestre de Bro” (MAIRESSE, 2017, p. 87) 0 autor é um mito na disciplina, 0 que acaba por interditar um debate que poderia ser extremamente fecundo e salutar. Esse debate pode iluminar aspectos relativos a propria concepgiio da Museologia, questionar alguns pressupostos e reabrir debates aparentemente estabilizados. Estamos falando da mesma coisa quando mencionamos a palavra Museologia? Podemos supor. como fez Paul Veyne em relagdo ao termo “democracia”, que as palavras nos enganam, e que em cada tempo e lugar que se pronuncia uma palavra (como Museologia, por exemplo) podemos estar nos referindo a coisas diferentes? “Nese caso, as mesmas palavras, as vagas analogias, nos esconderiam diferengas imperceptiveis e enormes, da mesma maneira que as rvores escondem a floresta.” (VEYNE, 1984, p. 58). Por longo tempo existiram Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Janabr. 2018 oi: Htp://4.do,orq/10.191332/1808-5245251,13-36 [30 em 0 Objeto de musen como documento: um panarama x intredutério questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro museologias diferentes e incomunicaveis. No Brasil, 0 termo é empregado desde a criagdo do Curso de Museus, em 1932 (ver nota 2). E possivel falar em uma linica Museologia edificada sobre as mesmas bases teéricas € metodolégicas e compartilhada em escala mundial? Nesse caso, a partir de que momento? Quando Maroevié aponta 0 amadurecimento tedrico da disciplina, refere-se explicitamente a uma perspectiva europeia, como assinala o titulo de seu livro (MAROEVIC, 1998). Strinskj teria inaugurado um novo estégio da Museologia quando reconheceu no objeto de museu um documento? Ao abandonar posteriormente a nogdo, teria fundado um novo estégio? Ou terd criado uma disciplina que se soma a outras, construidas e praticadas em diferentes tempos espagos, ¢ que s6 guardam em comum 0 nome Museologia? Financiamento © projeto de pesquisa no qual se insere este estudo contou com 0 apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico © Tecnologico (CNPq) através dos Editais Universais 14/2011 (fase 1) e 14/2013 (fase 2, a partir de 2013). Referéncias BARACAL, Anaildo. O objeto da Museologia: a via conceitual aberta por Zbynek Zbyslav Strinsk¥. 2008. Dissertacdo (Mestrado em Museologia e Pattiménio) - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. BRASIL. 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The discussions around the museum object as a document in the field of Museology (considered by some authors the starting point of theoretical maturity of the discipline) and the subsequent rejection of the notion are approached. Attempts to obliterate the past of Museology by some of its influential theorists are noticed. Keywords: Document. Museum object. Information Science. Museology. Recebido: 22/03/2018 Aceito: 11/07/2018 * Ivo Maroevié (1937-2007) fandon, em 1984, a Cadeira de Museotogia no Departamento de Ciencias da TInformagao da Universidade de Zagreb (HOOPER-GREENHILL, 2004, p. 14) No Brasil, o temo Museologia era adotado desde 1932, ano da criagao do Curso de Musens, que adquire Status de eurso superior em 1944, através do Decreto 16.078. Conforme © parigrafo 32 do Decreto, ~O (Curso seri ministrado por professores, designados pelo Disetor do Museu Histrco Nacional mediante proposta do Coordenadr do Curso, dente especiaistas em museologla, nacionais ou estrangeros, servidores do Estado ou no.” (BRASIL, 1944, grifo nosso), Com base no Regimento aprovado em dezembro de 1974 © homologado pelo Ministerio da Educagio e Cultura (MEC) em janeito do ano seguinte, Ivan Coelho de Sé (2007, p. 34) destaea a convepedo “ampla © engajada™ do Curso, que Driorizava a formagdo em Muscologia “enearada num context interdiseipliar”. O documento conjugava Em Questo, Porto Alay, v.25, 1. i, p. 15-36, Janabr. 2018 oi: Htp://4.do,orq/10.191332/1808-5245251,13-36 135 em 0 Objeto de musen como documento: um panarama x intredutério questao Mara Luca de Nemeyer Mathews Loureiro © aprimoramento de processos e téenicas inerentes ao fazer museotégico e “pesquisa no eampo da Museologi’, incentvando a divulgagdo de seus resultados. Ne década de 1950, « museologn Regina Monteiro Real ja s¢ seferia a Museologia como “[..] uma cigocia nova que vem sendo posta em evidencia ha apenas uns tinta anos." (REAL, 1958, p. 5. > afirmapio é ratificada por Mensch (apud CERAVOLO, 2004, p. 24), que aponta a caréacia de trabathos de sintese, indicando uma “produgto intelectual esparsae de diel acess0", MENSCH, Peter ‘Van, Towards a methodology of museology. Tese (Doutorado em Museologia) - University of Zagreb, Zawseb, 1992, A expressto “literatura cinzenta” &utilizada para nomear documentos de circulagdo mais restrit, como Jselatbris de todos os tipos (laternos, instinuionais,téenics, de pesquisa, de comisséese outos), as comunicagdes_apresentadas em eventos, o> anais e atas de reunides, as conferéncias, pre-prints, pblicapdes ofciais, tees, tradugdes, patentes, normas es." (POBLACION, 1992, p. 244) * Zoek Stnskj (1926-2016) criow na década de 1960 uma Escola de Museologia na Universidade J E. Purkyme, em Brno, antiga Tehecoslovaquia © relato apresentado nesta seeao privilegin o objeto de mseu. Para um panorama mais éetalhado sobre a5 teflexdes sobre 0 documento na Cl, ver Ortega (2009). © artigo foi traduzido para o inglés publieado em 1990 em Rayward (OTLET, 1990) FAYET-SCRIBE, 5. Histoire de ta documentation en France: culture, science et technologie de information, 1895-1937. Paris: CNRS Editions, 2001. Apud Ortega (2009), (© autor se refere ao Muséum National d'Histoire Naturelle, fudado em Paris no final do sévulo XVI ¢ a0 Musée National des rts et Tradtions Populaires, foadado, tambem em Paris, por Georges-Henri Riviére em 1937 eféchado ao piblico em 2005, "*Zarka Vujiée Heleoa Stublis (2016, p. 37-38), professores da Universidade de Zagreb, enfatizam o papel Pioneiro do museélogo Antun Baucr que, nos anos 1960, abordou 0 objeto de museu como “objeto de conhecimento” ¢ ressaltou © sigificado documental dos artefstes, sussrindo uma prosimidade com 0 conceito de “mmusealidade”, que se tornara central para a museologia no final da década. Acrescentam ainda que as ideas de Bauer sobre Museologia baseavam-se essencialmente na documentarao, 0 que as prosimava da documentacao e biblioteconamia U STRANSKY, Zbynék Zbyslay. Pojam muzzelogije. Muzeologija, Zagreb, v5, 1.40, p. 73, 1970. Apud -Marvevis (2004, p24) © STRANSKY, Zhynék Zbyslay. Metologickeotazky dokumentace soucasnesi, Museotogicke seity Bro, v. $,p-13-48, 1974, Apod Schreiner (1980, p. 39) © Waldisa Russio (1935-1990) fundow, em_1978, um Curso de Especializagdo em Museologia na Fundaeio Escola de Sociologia ¢ Politica de Sao Paulo (FESPSP). Cabe ressaltar aqui que, a0 utilizar 0 termo Informitica (informatics), a autora (oriunda da antiga ‘Tehecoslovaquia) sefere-se provavelmente a Ciducia da lnformag2o, ¢ ao a disciplina que estuda 0 processamento de informacao pot meio de dispositivos eletenices sistemas compuracionais. A

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