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Proceso: Relator: Descritores: N° do Documento: Data do Acordio: Votagio: Decisio Texto Parcial: Acérdao do Tribunal da Relagio de Lisboa 221/13.6TBSCR.LL CATARINA ARELO MANSO TITULO EXECUTIVO PRESTACOES FUTURAS RL 08-10-2015 UNANIMIDADE N s APELACKO IMPROCEDENTE - Por defini¢o, o titulo executivo é 0 documento que pode, segundo a lei, servir de base A execusao de uma prestagao, jA que ele oferece a demonstragao legalmente bastante do direito correspondente. - Sendo convencionada ou prevista a constituicao de prestagdes futuras, tera de ser anexado documento emitido na sua conformidade, demonstrativo da efectiva realizagio de alguma prestacio ou da constituigao de obrigagao, no seguimento do previsto pelas partes, porque é necessario que o titulo permita certificar a existéncia da obrigacio que se constituiu entre as partes, pois sé assim representa um facto juridico constitutivo do crédito e que deve emergir do proprio titulo. (Sumirio elaborado pela Relatora) Acordam no Tribunal da Relagio de Lisboa: I-Relatério: I-A... Limited intentou em 11 de Fevereiro de 2013 no tribunal de Santa Cruz, Madeira execugio comum para pagamento de quantia certa juntando, como titulo executivo, um documento particular denominado “boletim de matricula”. Alegou que, por contrato de cessio de créditos, outorgado em 19 de Dezembro de 2011, a B... SA cedeu 0 crédito em causa nestes autos a G... SA. Em 17 de Julho de 2012, a G... SA. cedeu 0 crédito referido & ora exequente que o aceitou conforme contrato de cessio de crédito. Foi proferida decisao que indeferiu liminarmente a sua pretensio com os seguintes fundamentos: “O titulo dado 4 execugio nio reunia os requisitos para constituir verdadeiro titulo executivo, valido que lhe permitisse demandar o executado. Assim sendo, & manifesta a falta de titulo executivo, razdo pela qual nos termos das disposicgdes conjugadas dos artigos 820° e 812.°-E, n.I, alinea a), todos do Cédigo de Processo Civil, indefiro liminarmente o presente requerimento executivo”. Nao se conformando com a decisio interpds recurso a exequente € nas alegagdes concluiu: A) O documento apresentado & execugio titula um contrato, celebrado entre a apelante a apelada, através do qual a Exequente/apelante celebrou um contrato de compra e venda a prestacdes, onde prestava um curso determinado, mediante 0 pagamento de prestagdes mensais determinadas no contrato; B) O contrato de compra e venda a prestacoes constitui um. documento particular assinado pela Executada, constitutive de uma obrigacao por parte daquele, do pagamento das prestagdes nos moldes acordados, a qual é aritmeticamente determinavel; C) Nio obstante, interpelada para efectuar o pagamento das prestacées em divida, a Executada nao pagou as mesmas e em consequéncia, incumprira definitivamente as condigdes do contrato, © que implicou o vencimento imediato de todas as prestagdes em divida, nos termos do art. 781 do Cédigo Civil; D) A Executada assumiu a obrigagao do pagamento das prestagdes determinadas ¢ resultantes do contrato de compra e venda a prestagées, ainda que diluida num dado periodo temporal, mediante a aposigao da sua assinatura no contrato, aceitando, assim, as condicées particulares e gerais, alids conforme declarado expressamente no contrato; E) Pelo requerimento pretende-se obter 0 pagamento da quantia em divida, atinente ao reembolso do crédito concedido. Tal pagamento constitui obrigaso assumida expressa e pessoalmente pelos devedores no contrato que titula a execugio; F) A propositura de uma acco executiva implica que o pretenso Exequente disponha de titulo executivo, por um lado, e que a obrigagao exequenda seja certa, liquida e exigivel, por outro; G) Do contrato de compra e venda a prestagoes resulta a certeza, iuidez. e exigibilidade da obrigasio exequenda; H) “Ao exequente mais no compete, relativamente A existéncia da obrigagio, do que exibir o titulo executive pelo qual ela & constitufda ou reconhecida”; alegando aquela entidade que este nao pagou uma prestagiio vencida e todas as que Ihe seguiram, pode servir de titulo executivo em execugio a instaurar contra 0 devedor”; 1) O pagamento das mensalidades ora reclamadas constitui em facto extintivo do direito invocado pela Exequente, pelo que, nos termos do Art.342°, n°2 do CC, o respectivo nus compete aos Executados, ou seja, Aqueles contra quem o direito é invocado, em sede de eventual oposicio; J) A oposigao & execugio configura-se como uma contra — execuciio, cuja fungao essencial no nucleo da accaio executiva é obstar aos normais efeitos do titulo executivo, sob o fundamento, por exemplo, da inexisténcia da obrigagio exequenda. L) Pelo que, os direitos de defesa dos executados nfo sio prejudicados, agilizando-se uma eventual necessidade de apreciacao do mérito da causa, sem perigar os direitos do credor/exequente, na garantia e eventual satisfagao do seu crédito. M) Do documento resulta ainda a aparéncia do direito invocado pela Exequente/Apelante, direito que, por isso, é de presumir; N) O Tribunal recorrido efectuou uma errada interpretagio do Direito por si invocado, violando o disposto nos artigos 45° n° 1 ¢ 46° n° 1 alinea c), ambos do C.P.C., na sua actual redaccio, porquanto o contrato sub judicie constitui titulo executivo bastante. A sentenca deve ser revogada, prosseguindo a execucio intentada os seus termos até final, Factos. Remete-se para 0s factos do relatério com relevancia para a decisao, A exequente juntou como titulo executive um documento subscrito pelo executado, datado de 18.6.1999, intitulado boletim de matricula - fls.3 Nao houve contra alegagdes, apesar de o requerido ter sido citado para a execugio e termos do recurso. Apés os vistos, nada obsta ao conhecimento. TI —Apreciando, ‘Os autos deram entrada em 11.2.2013, assim sendo, a versio do C.P.C. aplicavel é a que entrou em vigor com o D.L. 303/2007, de 24 de Agosto, por forca do quanto aos titulos executivos art. 6/3. O art. 703 aplica-se a todas as execugdes instauradas a partir de 1.9.2013, mesmo fundadas em titulo formado anteriormente e a0 qual o CPC revogado reconhecia exequibilidade. No mesmo sentido, decidiu 0 acérd4o da Relagao de Lisboa de 19.06.2014, in www.dgsi.pt, que «nao ofende o principio da seguranga juridica e proteccio da confianga, insitos no art. 2 da C. R.P,, a interpretagio conjugado do art. ° 703.° do NCPC e 6.° n.°3 da Lei 41/2013 de 26 de Junho, no sentido de o primeiro se aplicar a documento particular de reconhecimento de divida, emitido em data anterior A da sua entrada em vigor e dotado de exequibilidade nos termos do art. 46. ° n.1 c) do anterior CPC, ocorrendo 0 vencimento da obrigagio reconhecida em Outubro de 2010». Alids, em situagio similar, decorrente da Lei n.° 14/2006, de 26.4, que provocou uma alteracao das normas de competéncia territorial do Cédigo de Processo Civil, 0 Supremo Tribunal de Justica, relativamente & aplicagio dessas novas regras, veio pronunciar-se no Acérdao de Uniformizagio de Jurisprudéncia n.” 12/2007 (publicado no Diario da Reptiblica I Série, n.° 235, de 6 de Dezembro de 2007) no sentido que «as normas dos artigos 74, n.° 1, e110, n.° 1, alinea a), ambos do Cédigo de Processo Civil, resultantes da alteragao decorrente do artigo 1.° da Lei n.° 14/2006, de 26 de Abril, aplicam-se As acgdes instauradas apés a sua entrada em vigor, ainda que reportadas a litigios derivados de contratos celebrados antes desse inicio de vigéncia com clausula de convengo de foro de sentido diverso». A exequibilidade de um titulo afere-se pela lei vigente 4 data da propositura da ac¢ao a que o mesmo serve de fundamento — Ac. R. E. CJ 1989, 2° 3147. Como resultava do art. 46° al. c) do CPC, DL 329-A/95 de 12.12, alterada pelo DL 226/2008 de 2008 20/11 a forca executiva dos documentos particulares ali referidos, depende, além de mais, de 0 montante da obrigagao pecuniaria que deles resulta ou por eles 6 reconhecida, ser determinada ou pelo menos determinavel nos termos do art. 805 do CPC. Se for determinavel nos termos dos art. 806 ¢ seg. ¢ 809 niio tem o titulo forga executivo, pois a liquidagao exigiria o incidente dos referidos artigos, nao havendo assim, titulo executive. A causa de pedir é um facto, enquanto o titulo executivo é 0 documento ou a obrigagio documentada. A causa da obrigacao deve ser invocada no requerimento inicial, como causa de pedir da acgio executiva. A invocagio da causa da obrigacio no requerimento executivo é condig&o necessaria para que possa ser impugnada pelo executado 815 do CPC. Com a entrada em vigor da lei 41/2013 de 26 de Junho, o CPC enumera no art. 703 os titulos que podem servir de base A execugio, deixando de constar os documentos particulares assinados pelo devedor. E, o art. 703 d) do NCPC dispée que continuam a ser titulos executivos: Os documentos a que, por disposi¢ao especial, seja atribuida forga executiva. Esta alinea d) é idéntica & anterior alinea d) do n° 1 do artigo 46° do CPC. Acresce que, de acordo com o disposto no art. 12/1, do C.Civil, a lei s6 dispde para o futuro e, ainda que Ihe seja atribuida eficdcia retroactiva, presume-se que ficam ressalvados 0s efeitos ja produzidos pelos factos que a lei se, destina a regular. E acrescenta on." 2 que, quando a lei dispde sobre as condigées de validade: substancial ou formal de quaisquer factos ou sobre os seus efeitos entende-se, em caso de ditvida, que 6 visa os factos novos; mas, quando dispuser directamente sobre 0 contendo de certas relagées juridicas, abstraindo dos factos que Ihe deram origem, entender-se-A que a lei abrange as proprias relagdes ja constituidas, que subsistam A data da sua entrada em vigor. Os problemas da sucessao de leis no tempo suscitados pela entrada em vigor de uma lei nova (Baptista Machado, in Introdugao ao Direito e ao Discurso Legitimador, pag.229 e seg.) podem, pelo menos em parte, ser directamente resolvidos por esta mesma lei, mediante disposigdes formuladas, chamadas disposiges transitérias, que podem ser de caracter formar ou material. Porém, a maior parte das vezes ou para a grande maioria dos casos o legislador nada diz em especial sobre e lei aplicavel a situagdes em que se suscita um problema de conflito de leis no tempo. O jurista entio, remetido para o principio da nao retroactividade da l termos do citado art.12, cabendo & doutrina, & lei e A jurisprudéncia apurar um critério racional e preciso que, permita definir a retroactividade, ou seja, que permita desenhar com nitidez a linha que separa o Ambito de competéncia de aplicabilidade) da lei nova ¢ lei antiga. “ Desenvolvendo o principio da nao retroactividade nos termos da teoria de facto passado, o art. 12, n°2, distingue dois tipos do leis ou normas: daquelas que dispdem sobre os requisitos de validade (substancial ou formal) de quaisquer factos (1* parte) e aquelas que dispdem sobre o contetido de certas relagdes juridicas e 0 modelam sem olhar aos factos que a tais situagdes deram origem (2* parte). As primeiras sé se aplicam a factos novos, ao passo que as segundas se aplicam a relagdes juridicas constituidas antes da lei nova, mas subsistem ou em curso & data da sua entrada em vigor. Na execugio a causa de pedir € nio o titulo executive mas 0 que esta na base da respectiva emissio. “O titulo executive é 0 meio legal de demonstracio da existéncia do direito do exequente — ou que estabelece de forma elidivel, a forma daquele direito — cujo astro material ou corpéreo é um documento [...] que constitui, certifica ou prova uma obrigacio exequivel, que a lei permite que sirva de base 4 execugio” — Remédio Marques, in “Curso de Processo Executive Comum”, pags. 55/56. Por Ac. de 23.9.2015, no P. 340/2015, o Tribunal Constitucional declarou, com forga obrigatéria geral, a inconstitucional norma que aplica 0 artigo 703.° do Cédigo de Processo Civil, aprovado em anexo a Lei n.” 41/2013, de 26 de Junho, a documentos particulares emitidos em data anterior 4 sua entrada em vigor, entio exequiveis por forga do artigo 46.°, n.” 1, alinea ¢), do Codigo de Processo Civil de 1961, constante dos artigos 703.° do Cédigo de Processo Civil, ¢ 6.°, n.” 3, da Lei n.° 41/2013, de 26 de Junho, por violacao do principio da protec¢io da confianga (artigo 2.° da Constituigao). Na definigo que do conceito é dada pelos Professores Antunes Varela e Castro Mendes: “Titulo executivo — é a pega que pela sua forca probatéria abre directamente as portas da acgfio executiva. E no plano probatério, o salvo-conduto indispensavel para ingressar na Area do processo executivo. Em sintese é um instrumento probatério especial da obriga¢ao exequente e, consequentemente, distingue-se da causa de pedir j4 que esta & em resumo, um elemento essencial da identificag4o da pretenso processual” — Antunes Varela, RLJ, 121. °-148. “Titulo executive — Materialmente é um meio legal de demonstragao de existéncia do direito exequendo. Nao é, pois, em rigor essencial ¢ necessariamente um acto, nem um documento. Tem natureza mais genérica de algo que abrange uma e outra realidade — é um meio de prova, legal e sintética, do direito exequendo, ou melhor, meio de demonstracio da sua existéncia. Formalmente, no nosso direito, traduz-se num documento. Por isso, titulo executivo pode definir-se como o documento que, por oferecer demonstragao legalmente bastante da existéncia de um direito a uma prestagio, pode, segundo a lei, servir de base & respectiva execusiio” — Castro Mendes, “Direito Processual Civil” — 1980, I, -333. O titulo executivo é condigao indispensavel para o exercicio da acgiio executiva, mas a causa de pedir na acco, nao é o proprio documento, mas a relacio substantiva que esta na base da sua emissio, ou seja, o direito plasmado no titulo, pressupondo a execuso o incumprimento de uma obrigagio de indole patrimonial, seja ela pecuniaria ou nio, cf. neste sentido, “Comentarios ao Cédigo de Processo Civil”, de Lopes do Rego, pag. 69 e, por segundo crermos, ser o sentido da li¢ao de Lebre de Freitas, a obra de sua autoria, “A aceaio Executiva, 4 Luz do Cédigo Revisto” — 2" edigdo, pig. 54. Conforme ja salientava Alberto dos Reis, “...desde que a execugio nao é conforme ao titulo, na parte em que existe divergéncia, tudo se passa como se nao houvesse titulo: nessa parte a execugao nao encontra apoio no titulo” (Cédigo do Processo Civil Explicado, pig. 26). Quanto A causa de pedir em acgao executiva, hd quem entenda que ela se reconduz ao proprio titulo accionado (ef. Alberto dos Reis, Comentirio, I, pag. 98, Lopes Cardoso, ob. cit., pigs. 23 ¢ 29 e Ac. do STJ de 24-11-83, BMJ 331/469), enquanto outros sustentam que cla & antes constituida pela factualidade essencial de onde emerge o direito, reflectida embora no préprio titulo (cf. Castro Mendes, A Causa de Pedir..., pags. 189 e sgs., Lebre de Freitas, Acco Executiva, 2* ed., pags. 64 e 65, A. Varela, RLJ, 121°/148 e sgs e Ac. do STJ de 27-1-98, CJ, STJ, I, pag. 40). Como quer que seja, os préprios defensores da 2* teoria nao retiram qualquer relevo ao titulo executivo, limitando-se a enquadré-lo no seu meio préprio, que é 0 processual, do mesmo passo que enquadram a factualidade causal no seu meio préprio, que é 0 substantivo (ef. Ac. do STJ de 27-7-94, CJ, STJ, II, pag. 70). Cumpre indagar, se exequente podia com fundamento em alegado incumprimento de prestagdes de indole pecuniaria, passou a dispor de titulo executivo para exigir as prestagdes ¢ juros vencidos. No caso vertente temos como titulo executivo um boletim de matricula. Nao estamos perante qualquer contrato de mutuo, uma vez que a exequente nada entregou ao executado, Estaremos perante uma proposta. Apenas se matriculou num curso que a sociedade cedeu 0 crédito de frequéncia e aquela se obrigou a ministrar. Nao temos declaragao de divida nem plano de pagamento. Ou seja, 0 executado obrigava-se a pagar um curso em que se matriculou, como prévia condi¢ao de frequéncia do mesmo era esse 0 pressuposto do acordo entre as partes. Mas a sociedade que contratou e a exequente representa obrigou-se em “ministrar 0 curso” que o executado iria frequentar. Nao resulta que tivesse havido incumprimento imputavel ao executado. Nao est no documento do boletim de matricula qualquer vinculacao relativamente A prestaco e obrigacao que a exequente veio invocar como cessionaria. Os documentos referidos na al. c) do art. 46° do Codigo de Processo Civil sio os chamados titulos executivos negociais (ef. Lebre de Freitas in “Cédigo de Processo Civil Anotado” vol. I, 2003, pag. 89). Como requisito substancial exige-se que: “ ...Constituam titulo executivo, que 0s mesmos formalizem a constitui¢io de uma obrigagao, isto é, sejam fonte de um direito de crédito, ou que neles se reconhega existéncia de uma obrigagao ja anteriormente constituida”. Quanto aos documentos particulares, a obrigacao cuja constituig4o formalizam ou reconhecem se for pecunifria exige-se, ainda, que ela seja liquida ou liquidavel por simples calculo aritmético (art. 805° do Cédigo de Processo Civil)” — pag.92. No caso de resolugao do contrato, pese embora tratar-se de um direito potestativo do credor em relagao ao devedor, tal nio significa que se haja de ter por certo, que as prestacées, alegadamente em incumprimento, se tenham por devidas, pelo mero facto da resolugao, apesar do contrato constar a assinatura do devedor ¢ o incumprimento plasmar divida pecuniiria de valor certo, ou liquidavel aritmeticamente. Aresolucio, que pode ser legal ou convencional — art. 432°, n°1, do Cédigo Civil - implica, em regra, art. 433° e 434°, n°l, do Cédigo Civil — a destruigdo retroactiva dos efeitos do contrato, mas nao equivale, por si s6, a que se considere existir, inquestionavel, cumprimento, muito menos, que com a resolugio, o devedor “reconhega” a existéncia do direito do credor, ao ponto deste passar, desde logo, a dispor de titulo executivo — 0 contrato. Alei, de modo algum, ao alargar o elenco dos titulos executivos constantes de documentos particulares, quis que com a resolucio do contrato se tivesse por adquirido incumprimento da obrigacio do devedor; nem sequer se pode acolher a tese da recorrente de que, com a assinatura do contrato, o devedor, em caso de incumprimento, reconhece, implicitamente, a exequibilidade das prestagdes que o incumprimento ea resolugao do contrat postulavam. Alei é clara, é titulo executive o documento particular no qual a pessoa que o emitiu e assinou, reconhece ser devedora de uma obrigagao pecuniaria liquida, ou liquidavel através de simples célculo aritmético, No caso em aprego, no tendo o devedor assinado qualquer escrito que importe, directamente, a constituigao ou o reconhecimento da existéncia de obrigagio pecuniaria, determinada ou determinavel, nao ha titulo executivo. Nem se diga que a assinatura do boletim de matricula equivale ao reconhecimento da obrigagao. A exequente liga a existéncia de titulo executivo, ao boletim assinado pelo executado. Mas nao temos prova de que ministrou o curso e que o executado o frequentou. E que, sendo o direito de resolver 0 contrato, um direito potestativo do credor, perante o incumprimento definitivo do devedor, ou a perda de interesse do credor na sua prestacio, a resolugio, apesar de ter de ser aceite pelo devedor que nao cumpriu, nao significa da parte deste, a existéncia ou o reconhecimento da divida, nao sendo equivalentes a assinatura do devedor, no contrato resolvido, sobretudo, na espécie em causa, e 0 reconhecimento das prestagdes que com a resolugio nascem para o credor. Face ao exposto, no se pode considerar que um contrato resolvido pela parte que alega o incumprimento da outra, exprima, “sé por si”, a exequibilidade intrinseca do direito do credor, sobretudo, se a natureza do contrato em questo nao implica a inerente exequibilidade do direito do credor, ao invés do que sucede com os negécios abstractos, ou as declaragdes confessorias. Todavia, neste apenas se contém prestagées futuras ou a previsio da constituigiio de obrigagées futuras, o que no é posto em causa pelo teor da cliusula b,e,h,Lj,lm en. E, sendo assim, nem por aqui estariamos perante um titulo exequivel. Sendo convencionada ou prevista a constituigao de prestagdes futuras, tera de ser anexado documento emitido na sua conformidade, demonstrativo da efectiva realizagao de alguma prestagio ou da constituigao de obrigacao, no seguimento do Dec previsto pelas partes (art. 50° do CPC) E isto, porque é necessario que o titulo permita certificar a existéncia da obrigacio que se constituiu entre as partes, pois s6 assim representa um facto juridico constitutive do crédito e que deve emergir do préprio titulo (cf. Alberto dos Reis, processo de Execugiio, I, pag. 125). Se nao for junto tal documento complementar, que deve obedecer 4s condigées estabelecidas no documento que constitui o titulo base, nio ha prova da existéncia de obrigaao dotada de forca executiva (cf. Lopes Cardoso, ob. cit., pag.73, Lebre de Freitas, ob. cit., pag. 49 e Antunes Varela, Manual de Processo Civil, 2* ed., pag. 80). Nao foi feita tal prova. O titulo dado A execugio nao retine os requisitos de titulo executi Improcedem as conclusdes. Coneluindo: - Por defini¢do, o titulo executive é 0 documento que pode, segundo allei, servir de base A execusao de uma prestagao, jA que ele oferece a demonstragio legalmente bastante do direito correspondent. - Sendo convencionada ou prevista a constituigao de prestacdes futuras, ter de ser anexado documento emitido na sua conformidade, demonstrativo da efectiva realizagio de alguma prestagao ou da constituigao de obrigacao, no seguimento do previsto pelas partes, porque é necessario que o titulo permita certificar a existéncia da obrigagio que se constituiu entre as partes, pois sé assim representa um facto juridico constitutivo do crédito e que deve emergir do préprio titulo. III- Decisac Em face do exposto, julga-se improcedente a apelagio, mantendo-se a decisio impugnada. Custas pela apelante. Lisboa, 8/10/2015 Maria Catarina Manso Maria Alexandrina Branquinho Anténio Valente

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