sTJ
Process
N’ Conve
Relator:
Deseritores:
Data do Acordio:
Votasio:
‘Texto Integral:
Privacidade:
Meio Processual:
Decistio:
Sumario
Decisio Texto Integral:
Acérdio do Supremo Tribunal de Justiga
2646/21 4TSVNF-A.GLSI
1." SECCAO,
JORGE DIAS
EXECUCAO DE SENTENCA
TITULO EXECUTIVO
INTERPRETACAO DE SENTENCA,
CAUSA DE PEDIR
PEDIDO
DECISAO CONDENATORIA
AGAO CONSTITUTIVA.
ANULACAO DA VENDA
8-11-2022
UNANIMIDADE
s
1
REVISTA
NEGADAA REVISTA
1 - 0 titulo executivo é 0 documento que pode, conforme o art. 703°, do
CPC, servir de base 4 execugo, sendo que a lei indica, de forma
Laxativa, os titulos que podem servir de base 4 execugdo,
I - Num entendimento mais restrito alguns autores consideram que,
apenas as sentengas proferidas em agdes declarativas de condenagio
constituem titulo executivo, enquanto outros, num entendimento mais
alargado, sustentam que constitui titulo executivo toda a sentenga que
no dispositivo contenha uma componente condenatéria,
independentemente da espécie de ago que Ihe deu origem.
III - Questo distinta 4 de haver segmento condenatério em ago
declarativa constitutiva ¢, 0 considerar-se titulo executive uma sentenga
sem condenagao.
IV - Resultando da matéria de facto apurada que aos aqui embargados
interessava a conversao do negécio anulado e a substitui¢ao das fragdes
incorretamente designadas (que foram causa da anulago) pelas corretas
nao existe, mesmo implicitamente, um pedido de restituigao do
prestado.
V - Inexiste sentenga condenatoria que constitua titulo executivo que
abranja a restituigdo do prestado quando apenas foi pedida a
anulabilidade do negécio e do dispositivo condenatério conste “Decreto
a anulagdo do negécio de compra e venda celebrado através da
escritura publica outorgada em 23.05.1985, determinando, em
consequéncia, o cancelamento da inscrigdo da aquisigdo do direito de
propriedade.”
Acordam no Supremo Tribunal de Justiga, 1* Secgao Civel.
Por apenso aos autos de execugdo de sentenga para pagamento da
quantia de €57.017,64, que lhes é movida por AA e BB, vieram os
executados, CC e DD, deduzir embargos, invocando, em sintese, faltade titulo executive, porquanto a sentenga no os condenou a pagar
qualquer quantia monetaria, nem a sua atualizago monetéria, nem
juros, nem sangZo pecuniaria compulséri
Os embargados contestaram, citando abundante jurisprudéncia da qual
extraem que “a declarago de anulagdo do negécio de compra e venda
através da escritura publica outorgada em 23-05-1985, decretada pela
douta sentenga de fls., entre as partes, entdo, autores e réus, (aqui
Exeq.tes e Exec.dos), configura-se como verdadeiro titulo executivo no
que se reporta a obrigagao de restituicdio do que foi prestado, ou seja da
quantia exequenda”.
Dispensou-se a audiéncia prévia, proferiu-se despacho saneador e, por
considerar que os autos o permitiam, o Mm? Juiz “a quo” conheceu do
mérito, proferindo sentenga em que decidiu:
“Julgar os presentes embargos parcialmente procedentes, em
consequéncia, determino a restituig&éo aos exequentes do valor de
12.968,74 euros, acrescido dos respetivos juros de mora, & taxa legal, a
contar do transito em julgado do douto Ac. até integral pagamento.
Custas pelos embargantes e exequentes na proporgao do decaimento.”
Inconformados com o assim decidido, quer os embargantes, quer os
embargados, interpuseram recurso, vindo a ser decidido pelo Tribunal
da Relagio:
tes termos, acordam os juizes deste Tribunal da Relagao de
Guimaraes em julgar procedente a apelacdo dos embargantes,
revogando a sentenca recorrida e, em sua substituigdo, julgam
procedentes os embargos e sem titulo a execugo, determinando-se a
sua extingdo.
Consequentemente fi
pelos embargados.
-a prejudicada a apreciagéo do recurso interposto
Custas em ambas as instancias pelos embargados/apelados”.
Novamente inconformados com o decidido pela Relacio, interpdem
recurso de Revista para este STJ os embargados (ver conclusio V), ¢
formulam as seguintes conclusdes:
“I, O aqui Recorrente vem interpor o presente Recurso por néo se
conformar, de modo algum, com 0 Acérdao proferido pelo Tribunal da
Relagdo de Guimaraes datado de 10 de Marco de 2022,
IL. O qual, erroneamente e sem qualquer fundamento vélido, julgou
procedente a apelacdo dos Embargantes, revogando a sentenca
recorrida e, nessa sequéncia, julgando procedentes os embargos e sem
titulo a execueéo, determinando-se a sua extingéo.III. Nessa conformidade, o ora Recorrente, iniciard, as presentes
alegagaes de Recurso, pela abordagem a uma questao prévia e ao
enquadramento circunstancial inerente ao caso em concreto, sendo
vejamos.
IV. Cumpre, antes de mais, ao aqui Recorrente fazer alusdo a uma
breve questio prévia que diz respeito d habilitacdo de herdeiros
efetuada no dmbito dos presentes autos executivos.
V; Isto porque, no passado dia ... de Fevereiro de 2022, faleceu, AA,
Exequente nestes autos de processo, no estado de casado no regime de
comunhio geral de bens com BB - cfr. Assento de dbito ao diante junto
como Documento | ¢ cujos seus efeitos se dao por integralmente
reproduzidos.
VI. Assumindo, este ultimo, 0 cargo de cabeca de casal, nos termos
para os efeitos do preceituado no n."1 do artigo 2080.", ambos do
Cédigo Civil.
VII. Nessa conformidade, a malograda AA deixou a suceder-the como
tinicos e universais herdeiros, 0 seu cOnjuge e os seus filhos, a saber:
BB; EE; FF;
VII, Razéo pela qual, em 06 de Abril de 2022, apresentou, 0 aqui
Recorrente, 0 competente incidente de habilitagao de herdeiros junto do
Douto Tribunal.
IX. Porém, e uma vez que, até ao momento, ainda nao foi proferida
sentenca no que concerne a tal habilitacao, as presentes alegacdes de
recurso apenas sao apresentadas pelo aqui Recorrente, sem prejuizo de
apés ser proferida a sentenca de habilitacao de herdeiros, os efeitos do
presente recurso também aproveitarem aqueles, EE e FF, que com a tal
sentenca que os habilita assumirem, assim, a posigéo juridica da
decujus/Recorrente.
X. Posto isto, e no que diz respeito ao enquadramento circunstancial
que pauta 0 caso em apreco, sempre se dird que os presentes autos
tiveram origem na apresentacdo, por parte do aqui Recorrente e da sua
Esposa, AA, entretanto falecida, do competente requerimento executivo
alegando, em suma, o seguinte:
a) Que em virtude de, em 23 de Maio de 1985, se ter celebrado um
contrato de compra e venda, no qual, através de erro grosseiro (e
malicioso), os Executados venderam a fracdo sob a designagdo com
letra D, site Ma RUA soy voy oy 4 quando, de facto, os Exequentes ab
initio, sempre negociaram a aquisicdo de outra fracdo distinta
designada sob a letra E, estes tiltimos intentaram a competente acao de
condenagao competente no Tribunal Judicial ..., processo com 0 n.°
4080/16....-. Juiz .., afim de reporem a legalidade;
b) No dmbito desses autos, foi proferida sentenca decretando a
anulagao do negécio de compra e venda celebrado e determinando, em
consequéncia, 0 cancelamento da inscrig&o da aquisic&o do direito depropriedade a favor dos Autores, decisio essa que veio, de forma
integral, a ser confirmada por douto Acérdao proferido pelo Tribunal
da Relagio de Guimaraes, transitando em julgado em 12-06-2020;
o) Nessa conformidade, e atenta a anulagdo do referido negocio
juridico, deve ser restituido 0 preco aos aqui exequentes que os mesmos
pagaram (indevidamente) pela coisa, que, & data da realizagao do
malogrado negécio, fora de dois milhdes e seiscentos mil escudos, que
hoje, atualizada a moeda pelo INE, a singelo, corresponde ao capital
de 53.744,92€ (cinquenta e trés mil setecentos ¢ quarenta e quatro
euros e noventa e dois céntimos);
@) Acrescendo, a tal quantia, os competentes juros, perfazendo a
quantia total de €57.017,64 (cinquenta e sete mil setecentos e quarenta
e quatro euros e sessenta e quatro céntimos), pelo que devem os
executados serem condenados a pagar, solidariamente, aos exequentes
a importancia total jé referida.
XI. Nesse seguimento, e por apenso aos autos de execugao, vieram os
Recorridos, CC e DD deduzir embargos, invocando, para além do
demais, a inexisténcia de titulo executivo,
XII. Jé que, no seu entendimento, a sentenca proferida no proceso n.
4080/16..... que correu os seus legais termos no Tribunal judicial da
Comarca ... - ... - Juiz ...,
XII, Nao os condenou ao pagamento de qualquer quantia monetéria,
nem a sua correspondente atualizag&éo monetdria, nem t&o pouco juros
ou sangdo pecunidria compulséria.
XIV, Desta feita, 0 Tribunal de 1.“ Instancia proferiu despacho
saneador e, por considerar que os autos 0 permitiam, respetiva
sentenca conhecendo do mérito da questao, a qual julgou os embargos
parcialmente procedentes e, nessa linha de raciocinio, determinou a
restituigdo ao Exequentes da quantia de €12.968,74 (doze mil
novecentos e sessenta ¢ oito euros e setenta e quatro céntimos),
acrescido dos juros de mora, é taxa legal, a contar desde o transito em
julgado da decisdo até efetivo e integral pagamento.
XV, Com efeito, inconformados com o teor de tal decisdo, quer os
Exequentes/Embargados, quer os Executados/Embargantes
interpuseram alegagées de recurso para o Tribunal da Relagdo de
Guimaraes,
XVI. Sendo que os primeiros salientam a errada qualificacdo, pelo
Tribunal a Quo, do valor peticionado no Requerimento executivo como
obrigacao pecuniéria, restringindo, assim, 0 valor peticionado ao
diminuto valor de €12.968,74 (doze mil novecentos e sessenta e oito
euros e setenta e quatro céntimos),
XVILE os segundos, o facto da sentenca proferida nos autos de
processo n.° 4080/16... nao poder configurar um titulo executivo,‘porquanto a mesma ndo os condenou no pagamento de qualquer
quantia monetdria,
XVIII. Contudo, foi agora, proferido Acérdao por aquele Tribunal da
Relacdo de Guimaraes que decide no jé elencado sentido de julgar
procedente a apelacdo dos Executados/Embargantes, revogando a
sentenca recorrida e, nessa sequéncia, julgando procedentes os
embargos e sem titulo a execucdo, determinando-se a sua extingao.
XIX. Todavia, ndo pode, nem deve o aqui Recorrente aceitar tal
Decisdo, por se mostrar desprovida de qualquer fundamento factual ou
legal, como melhor infra se demonstrard.
XX. Como bem se sabe, de acordo com o estatuido nos artigos 635.°,
n.°4 e 639.°, ambos do CPC, o objeto dos recursos é delimitado pelas
conclusées formuladas nas alegacées de recurso,
XXI, Constituindo, na linha de raciocinio do Acérdéo recorrido,
questoes as resolver no caso em aprego.
@) Por um lado, se a sentenca dada @ execugdo constitu titulo
executivo;
b) E, por outro e se assim se concluir, se o crédito dos Exequentes,
constitui divida de valor, devendo 0 valor nominal da quantia a restituir
ser atualizado.
XXII. Assim sendo, e no que diz respeito ao primeiro ponto—se a
sentenca proferida no ambito do processo n.° 4080/16.... dada d
execucdo constitui, ou nao, titulo executivo,
XXIII. Refere 0 Acérdéo recorrido que “a jurisprudéncia vem
admitindo que, mesmo quando o pedido de restituig&o nao tenha sido
formulado na acao, a sentenca que declara a nulidade deve condenar
na restituicdo do que houver sido prestado por forca do negécio nulo”,
contudo, uma vez que “(...) ndo estamos perante um negécio nulo,
muito menos um caso em que a nulidade do negécio tenha sido declara
oficiosamente”,
XXIV. Mas, ao invés, “ (...) perante um caso de anulabilidade do
negécio, que ndo pode ser conhecida oficiosamente, carecendo de ser
arguida pelas pessoas em cujo interesse a lei a estabelece (...)"e, por
essa ordem de razéo, nao tendo, os Exequentes, formulado qualquer
pedido de restituigao,
XXV. “Nem sequer, atenta a fundamentagdo da sentenga exequenda e a
divergente jurisprudéncia sobre a questi, se pode concluir que, no
dispositivo, apenas foi omitida a condenacdo na restituigé&o, que na
fundamentagao se entendeu ser devida, mas apenas, que 0 dispositivo
se cingiu aos pedidos formulados.”
XXVI. Porém, e de acordo com o jé referido, no pode, nem dev
aqui Recorrente concordar com tal posigao assumida, porquanto
carece de qualquer fundamento vilido a afirmagéo proferida no
oAcérdao recorrido no sentido da procedéncia dos embargos de
executado deduzidos nos presentes autos por nao haver qualquer titulo,
que sirva de base & execugdo
XXVII. Na verdade, é pedra angular da presente agdo executiva 0
dizer-se que, da declaragao de nulidade decorre 0 efeito juridico
assinalado no n.°1, do artigo 289.°, do Cédigo Civil, isto é, a
restituigdo de tudo 0 que tiver sido prestado.
XXVIII, Em suma, esse preceito manda restituir tudo 0 que tiver sido
prestado, 0 que significa que a declaragao de nulidade implica,
necessariamente, tal restitui¢do.
XXIX. E, nessa conformidade, nao se torna necesséria, a expressa
declaragdo disso mesmo, considerando-se implicita, nessa declaragao
de nulidade, a condenagao do Réu a restituir 0 que recebeu do Autor,
nao se ofendendo, com isto, qualquer interesse do Demandado digno de
protecdo.
XXX. A tal conclusiio nos leva, de forma inelutavel, a bem sabida
afirmagiio de que 0 fundamento de tal restituig&o é 0 supra aludido
artigo 289.°, do Cédigo Civil, pelo que, contrariamente ao decidido na
decisiio recorrida, o aqui Recorrente e sua esposa, intentaram a
presente acdo executiva com base num titulo executivo,
XXX. Ou seja, na sentenca, que decretou a anulagao do negécio de
compra e venda celebrado pelas Partes através de escritura piblica
outorgada em 23 de maio de 1985, jé transitada em julgado.
XXXII. Ora, tal torna-se, assim, mais do que pertinente a conclusdo de
que esse é 0 tinico petitério exigido, nado necessitando ele, portanto, de
vir formular novo petitério.
XXXII. Até porque hoje, aliés como sempre, o direito material, nao se
compadece no seu caminhar para a realizacdo da Justica, com
pruridos e delongas de natureza adjetiva, quando a solug&o mais justa
tem a necessdria correspondéncia na Lei a interpretar e a aplicar.
XXXIVE a solucao encontrada na decisao recorrida olvida isso mesmo,
de forma patente, dando prevaléncia a uma visdo puramente literal da
Lei, com sobreposicao do direito adjetivo ao direito substantivo, ¢
pondo de parte a prépria flexibilizacio do principio do pedido, o que
néo pode subsistir, e a evoluedo do sistema juridico no sentido da
Justiga Material, por via jurisprudencial, como se peticiona na
presente agdo executiva,
XXXV, Reiterando-se, em suma, 0 alegado pelo aqui Recorrente, e sua
esposa, na contestacdo apresentada aos embargos deduzido pelos
Executados
¢) O Julgador, investido de autoridade judicial, profere e decreta
condenagao, cujo objeto se refere & anulacao total do negécio juridico
realizado entre as partes;Jf) O legislador prescreve que, in casu, deve ser restituido o preco pago
indevidamente e com efeitos retroativos;
g) Por sua vez, 0 comprador lesado reclama o preco, injustamente,
pago;
hy Assim, a decisto judicial (condenatéria) que decreta a declaragao
de anulagéo do negécio de compra e venda em causa configura-se
como verdadeiro titulo executivo, aplicdvel no caso sub judice, ou seja,
aplicével na presente execucéo para pagamento de quantia certa no
‘montante também certo de €57.017,64 (cinquenta e sete mil e dezassete
euros e sessenta e quatro céntimos);
XXXVI. Ora, tendo por base que toda a execucéto tem por base um
titulo executivo, e que, nos presentes autos configura a sentenca
proferida no processo n.° 4080/16...., € certo que nao obstante essa
declaragdo de anulagéo do contrato de compra e venda, nada se disse
na parte dispositiva final da sentenca sobre restituig&o a qualquer
titulo,
XXXVI. Tal nto traduz, sem mais nem menos, que a sentenca proferida
ndo constitua um verdadeiro titulo executivo.
XXXVII. Como refere 0 Professor Anselmo de Castro, é pelo contexto
do titulo que se hé-de determinar a espécie da prestagio e da execucao
que Ihe corresponde (entrega de coisa, prestagéo de facto, divida
pecuniéria) se determinaré o quantum da prestacao e se fixard a
legitimidade activa e passiva para a agao.
XXXIX. Desse modo, ¢ no que concerne a exequibilidade das sentencas
condenatérias referenciadas no artigo 46 n°l al. a) do CPC entendeu, 0
Acérdao do Supremo tribunal de Justica de 1999, que “para que a
sentenca possa servir de base d execucdo, néo é necessdrio que
condene no cumprimento de uma obrigagao, bastando que esta
obrigacdo que se pretende executar dela derive implicitamente”
(sublinhado e negrito nossos).
XL. E, de facto, tendo isto na devida consideragao, impée-se analisar,
com o rigor e precisdo necessdrios, 0 contexto do titulo executivo em
questo, como se disse, constituido pela Sentenca proferida no dmbito
do processo n.” 4080/16...
XLI. Isto porque, pese embora na parte dispositiva final, a Sentenga
omita a condenagdo na restituigdo das prestagdes realizadas, o mesmo
jé néio se passa na parte da motivacao (fundamentagao) onde a questéo
da restituig&o de tais prestacoes é tratada direta e expressamente
quando ai a determinado passo se consigna.
XLII. Assim, e contrariamente ao referido no Acérdao recorrido, se
atendermos ao préprio contexto do titulo oferecido a execugéo,
nomeadamente através dos seus préprios fundamentos, a restituigdo
simulténea das prestacdes realizadas esté compreendida no proprio
titulo executivo.XLII. A este respeito subscreve-se a posigdo do Acérdéo do Supremo
Tribunal de Justiga, datado de 9/5/1996 in BMJ 457 263 em que se
entendeu “ néo ser de excluir que se possa recorrer & parte motivéria
da sentenca para reconstituir e fixar 0 verdadeiro conteiido da
deciso”
XLIV. E sobre a questiio da restituig&o simultanea tal Acérdao
acentua” declarada na sentenca ao abrigo do art. 289 n°l do C. Civil a
nulidade dos contratos de compra e venda dos prédios negociados, hé
lugar & restituic&o simultanea dos mesmos e dos montantes dos precos
desembolsados 4 sociedade autora e aos réus compradores
respetivamente”’.
XLY. Nao repugna, no caso dos autos, sufragar tal entendimento,
porquanto em funcao da aplicagdo do regime do art. 289 n°l do C.
Civil e por forca do contexto (fundamentagao) do proprio Acérda&io
(titulo executivo) esta implicito que a condenagdo abrangeu também a
restituigdo simultdnea das prestagées realizadas,
XLVI. Sendo, desse modo, licito, aos Exequentes, intentarem processo
executivo com base na sentenca proferida no processo n.” 4080/16...
peticionando 0 pagamento, pelos aqui Executados, da quantia de
53.744,92€ (cinquenta e trés mil setecentos e quarenta e quatro euros €
noventa e dois céntimos), a titulo de restituicdo das prestacdes
realizadas,
XLVI. Quantia essa aferida tendo em conta a competente atualizagao
monetéria, acrescida dos respetivos juros, 0 que perfaz a quantia total
de € 57.017,64€ (cinquenta e sete mil e dezassete euros e sessenta €
quatro céntimos), invocando 0 estatuido nos artigos 289.°, n° I e 290.°,
n°l ambos do C. Civil, afim de repor o statu quo ante, ou seja, 0
regresso a situagao anterior & celebraedo do negécio.
XLVIII. Com efeito, e na conformidade de tudo 0 supra exposto, impoe-
se concluir que.
d) Para se determinar, reconstituir e fixar 0 verdadeiro conteudo e
alcance dum titulo executivo constituido por uma sentenca, ha que
considerar também 0 contexto em que o mesmo se insere, no sendo,
por isso, de excluir 0 recurso a propria fundamentagdo (motivacdo) da
sentenca;
e) A declaragao de anulagdo de um contrato de compra e venda
relativo as prestacées realizadas, através de uma sentenca, implica ao
abrigo do art. 289 n°l do C. Civil a restituigdo dos montantes dos
precos que foram pagos aos compradores (aqui Recorrentes);
Df) E incumbindo as partes outorgantes no contrato deveres reciprocos
de restituigdo nos termos supra referidos, estado sujeitas ao principio do
cumprimento simulténeo nos termos do artigo 290.°, do C. Civil;
XLIX. Assim, deve 0 Acérdao proferido ser revogado nesta parte,
conforme V/Exas., Venerandos Conselheiros, certamente decidirao, séassim se fazendo inteira Justiga Material!
L. Sem prescindir, 0 que néo se concebe, quanto ao ponto que questiona
se o crédito dos Exequentes constitut divida de valor, devendo o valor
nominal da quantia a restituir ser atualizado.
LI Sempre se dird que assente, assim e portanto, que a sentenca
proferida pelo Tribunal de 1." Insténcia no ambito do processo n.°
4080/16.... constitui titulo executivo, impde-se a inelutdvel conclusdo
de que & mesma deve ser atribuido o sentido de condenar os Recorridos
a pagarem ao Recorrente a atualizada quantia de €57.017,64
(cinquenta e sete mil e dezassete euros e sessenta e quatro céntimos)
LILE isto porque, hoje mais do que nunca, a valorizagdo monetaria é
um facto notério que ndo tem de ser alegado, nem provado, pelo aqui
Recorrente, sendo também de salientar, a este propésito, que como
estatui 0 artigo 9.°, do Cédigo Civil, quando a interpretagao da Lei,
esta néo deve cingir-se a letra da mesma, ou seja, a simples
interpretagao literal da Lei néo constitui qualquer interpretagdo valida,
pois nao toma em consideracdo os elementos sistemdtico, légico e
teleolégico, sendo este tiltimo a verdadeira justificacdo social da lei.
LII. Ora, no caso presente, pese embora 0 Acérdéio recorrido néo fazer
qualquer mengao a esta questao, por entender que com a procedéncia
do recurso interposto pelos Recorridos, a mesma fica prejudicada,
LIV. Contrariamente ao decidido na sentenca proferida pelo Tribunal
de 1." Instancia, 0 crédito dos Exequentes constitui uma divida de valor
e, como tal, sujeita ds competentes atualizagées.
LY. Basta, para tanto, ter na devida consideragao 0 decidido em sede
de Acérdao do Supremo Tribunal de Justica, datado 12 de Junho de
2012, 521-A/1999.L1.S1, que indica:
«Embora nos pudéssemos cingir a remeter para a decisdo que aqui se
acolhe, sem outros considerandos, ex vi do art. 713.°, n.° 5, do CPC,
aplicével @ revista nos termos do art. 726.", consideramos que a
problematica em apreco merece maiores reflexées, dado, inclusive, 0
pouco tratamento que tal questao tem merecido, designadamente em
termos jurisprudenciais, e que respeita a saber se a obrigacao de
restituigao, proveniente da resolugdo do contrato de compra e venda (&
semelhanca do que ocorre quando 0 contrato é nulo ou anulado),
quando néo seja possivel a reposicao em espécie, deve ser considerada
uma mera obrigacdo pecunidria ou antes como uma tipica divida de
valor.
O legislador optou por equiparar a resolugao do contrato, quanto aos
seus efeitos, ao regime das invalidades (tanto da declaracéo de
nulidade como da anulagao), por via do art. 433.° do CC, néio a
submetendo a qualquer regime especifico.
Essa equiparacéo significa que a resolucao destréi o vinculo contratual
ex tunc, devendo ser restituido tudo o que tiver sido prestado, nostermos do art, 289.°, n.° 1, do CC: methor, 0s efeitos da resolugao sito a
restituigao de tudo 0 que tiver sido prestado ou, se a restituigao néo for
possivel, o valor correspondente.
Ou seja, dissolvido o contrato, cada uma das partes terd de restituir &
contraparte tudo o que indevidamente mantiver em consequéncia da
cessagdo do vinculo contratual.
Adverte Pedro Romano Martinez, “a resolucéio nao dé origem a um
novo contrato, pelo qual se pretende dissolver o anterior, mas cria uma
relacao legal que obriga as partes a devolverem o que receberam;
trata-se, pois, de uma obrigagao ex lege de reposi¢&o do status quo
ante”.
O principio geral aqui aplicavel aponta para a obrigacdo de restituir in
natura, consagrado no art. 562.° do CC, mas néo sendo possivel essa
restituigdo natural, deve a parte entregar o valor correspondente, de
harmonia com a regra constante do art. 289.°, n.° I, in fine, do CC.
Brandéio Proenca salienta, de forma impressiva, que “esta
«restauracao», envolvendo, em principio, uma restituigéo natural das
coisas prestadas (ou per tantundem se se tratar de coisas genéricas),
pode ter que traduzir-se numa mera restituic&o do valor
correspondente (ou do equivalente) em caso de impossibilidade
‘material essencial (a coisa recebida pelo contraente que suporta a
resolucao, pode ter sido consumida, perdida, destruida, deteriorada,
confundida, ou ter desaparecido culposa ou «ndo culposamente») ou
Juridica (pela existéncia de direitos de terceiros nos termos do art.
435.°do CC), ocorrida anteriormente & «declaragao» resolutiva ou
quando essa restituigao seja «exigida» pela natureza da prestacdo em
causa (prestagées de facto que se esgotaram numa prestacdo de
servigos, na execucéo de certo trabalho ou na concessio da utilizagdo
de certa coisa ou do gozo de certo local)”.
No caso em debate néo esté controvertido o entendimento atras
enunciado, nem a obrigacéo de restituic&éo, mas sim 0 que entender
pelo “valor correspondente” afirmado no art. 289.°, n.° 1, do CC
(normativo para o qual remete o art. 433.° relativo resolugdo
contratual).
A pergunta que se impée sera, entéo: devemos procurar o valor
(suceddneo) que o bem tinha @ data do negocio ou o valor que
tem no momento em que se tem que proceder @ devolucdo/restituigdo?
se bem
Considerando que “a restituigdo em espécie, apds a declaragéo de
nulidade ou a decretagao da anulac&o do negécio, nao é possivel em
muitos casos: pode a coisa ter sido consumida ou ter desaparecido, e
pode ter-se constituido sobre ela um direito de terceiro, que deva ser
respeitado nos termos do artigo 291.°”, Pires de Lima e Antunes Varela
avancam, sem hesitacdes, que “nestes casos haverd lugar @ restituigao
em valor. Como a restituigdéo abrange tudo 0 que tiver sido prestado
(quer se trate de declaragao de nulidade, quer da decretagao daanulagao), ndo ha que atender as regras do enriquecimento sem
causa”.
Explicando 0 dmbito da restituigdo, a que alude o art. 289.°, Carlos
Mota Pinto, afirma que, “em consondncia com a retroactividade
haveré lugar é repristinagdo das coisas no estado anterior ao negocio,
restituindo-se tudo o que tiver sido prestado ou, se a restituig&o em
espécie nao for possivel, o valor correspondente (artigo 289.°, n.° 1).
Tal restituig&éo deverd ter lugar, mesmo que se ndo verifiquem os
requisitos do enriquecimento sem causa, isto é, cada uma das partes
obrigada a restituir tudo 0 que recebeu e ndo apenas com que se
locupletou, ao contrario do Cédigo Civil Alemao””.
Continuando as suas reflexées, este autor entra, ent&o, naquilo que
verdadeiramente nos interessa indagar aqui: a natureza da obrigacdo
de restituigdo e a sua compatibilizagdo com o regime das dividas de
valor.
Escreve Paulo Mota Pinto, a este propésito, que “embora com vozes
discordantes e nem sempre acompanhada pela jurisprudéncia, a
qualificagdo como dividas de valor das obrigagées de restituigao, cujo
objecto nao consiste directamente numa importanci
‘monetaria mas antes numa prestacao diversa, tem sido sustentada entre
nds (...)» (sublinhado e negritonosso).
ou soma
LVI. Aqui chegados &é tempo de concluir, como o faz a methor doutrina,
que a obrigacdo de restituigdo fundada na resoluedo, por via da
aplicagao remissiva do art. 289.°, n.° I, ex vi do art, 433.%, ambos do
CC, é uma verdadeira divida de valor, neste sentido se pronunciando,
abertamente, os seguintes autores:
LVIL. Para Vaz Serra (embora recorrendo 4 analogia com 0
enriquecimento sem causa): “uma vez admitido que a obrigagao de
restituigdo do valor das prestagdes efectuadas em cumprimento de um
contrato anulavel (ou depois de anulado), por ser impossivel a
restituigdo em espécie (Céd. Civil, arts. 289.°, n.° 1, 479.°, n.° 1), uma
divida de valor, segue-se que «o risco de uma depreciag&o da moeda
néo afecta o credor ou sé o afecta em pequena mediday, como é
proprio das dividas de valor. Nesse caso, a divida, expressa em
dinheiro, pode ser actualizada, de maneira a atribuir ao credor 0
mesmo poder aquisitivo que a prestacao tinha no momento em que a
obrigagao se constituiu (Céd. Civil, art. 551.9)”.
LVIII. Com maior rigor e desenvolvimento, Branddo Proenca, tece os
seguintes comentarios:
“apesar de a obrigacao de restituigdo do valor, em consequéncia de
resolucdo, nao estar sujeita aos principios correctores do
enriquecimento sem causa, cremos poder falar aqui também de
«dividas de valor», cujo respectivo calculo devera ser feito no momento
em que a contraparte (depois de Ihe haver sido declarada a resolug&o)
declara a sua impossibilidade de restituir o recebido ou na data dapropositura da acgdo de resolugdo. Esta posigdo ndo desvirtua (pelo
‘menos numa visdo global do facto resolutivo) a exigéncia de uma certa
paridade na «liquidagdo», na medida em que a atribuig&o ao titular do
direito de um quantitativo monetario que the permita (desde que se
trate de uma coisa fungivel) adquirir 0 mesmo objecto (e que, v.g., a
contraparte alienou onerosamente a um terceiro devidamente
protegido) tem a sua «ustificagéo» no sentido reintegrador da
resolucdo””
LIX. Mais recentemente, Maria Clara Sottomayor redigiu: “a
obrigagao de restituigdo representa o lado subjectivo do regime da
nulidade, e visa, por isso, repor as partes no status quo ante, ou seja,
restituir-Ihes 0 equilibrio econdmico vigente antes de o contrato ser
executado, Este aspecto do regime da nulidade tem por objectivo nao
sé reintegrar a ordem juridica violada pelo negocio juridico nulo,
destruindo a aparéncia criada por este, mas também eliminar as suas
consequéncias econdmicas. A obrigacao de restituig&o assume, assim,
uma finalidade semelhante @ responsabilidade civil, podendo, portanto,
ser caracterizada, tal como a obrigagdo de indemnizagdo, como uma
divida de valor”
LX, Isto tudo a revelar que sendo, como clara e indubitavelmente supra
se provou, 0 crédito dos Exequentes uma verdadeira divida de valor e,
como tal, sujeita & competente atualizagéto monetéria,
LXI. Atualizagao essa que teré de ser feita de harmonia com o valor
atual, ou seja, €53.744,92 (cinquenta e trés mil setecentos e quarenta e
quatro euros e noventa e dois céntimos) acrescida dos competentes
juros
LXIL. Assim, e por tudo 0 supra explanado, e sem necessidade de mais
amplas consideragées, devem V/Exas., Venerandos Desembargadore.
revogar o Acérdao proferido pelo Tribunal da Relagao de Guimaraes,
e, nessa sequéncia, proferir decisio no sentido de considerar a
sentenca proferida pelo Tribunal de 1." Instancia no dmbito do
Proceso n.° 4080/16... como verdadeiro titulo executivo,
LXIIL. Bem como qualifique o crédito dos Exequentes como divida de
valor e, assim, reconheca e valide o pedido apresentado por estes
ultimos no requerimento executivo, sendo os Executados condenados a
pagar o montante total de € 57.017,64 (cinquenta e sete mil e dezassete
euros e sessenta e quatro céntimos).
LXIV. Pois s6 assim se fard inteira Justi¢a Material!
Termos em que e nos melhores de Direito deverdo V/Exas, Venerandos
sselheiros, proferir decisdo que nessa conformidade:
a) Julgue o presente recurso procedente e revogue o Acérdéo recorrido,
e, nessa sequéncia, proferir decis&o no sentido de considerar a
sentenca proferida pelo Tribunal de 1. Instancia no dmbito do
Processo n.° 4080/16... como verdadeiro titulo executivo;Sem prescindir,
b) Julgue o presente recurso procedente e revogue o Despacho
recorrido, e, subsequentemente, proferir decis&io que qualifique o
crédito dos Exequentes como divida de valor e, assim, reconhega e
valide o pedido apresentado por estes tiltimos no requerimento
executivo, sendo os Executados condenados a pagar 0 montante total
de € 57.017,64 (cinquenta e sete mil e dezassete euros e sessenta €
quatro céntimos)
Com o que fardio inteira Justica”’
Responderam os embargantes e concluem:
“LO indeferimento dos pedidos da atualizagéo moeda pelo INE, os
juros moratorios e a sancdo pecunidria compulséria indicados no
requerimento executivo, foi determinado pela sentenca proferida em
primeira instancia e confirmado pelo acérdao proferido pelo Tribunal
da Relagdo de Guimaraes, pelo que, nos termos do n.° 3 do art.” 637.”
do CPC, néo deve o presente recurso, quanto a estes pedidos, ser
admitido.
II. No que concerne d restituicéo do montante € 12.968,74 (doze mil
novecentos e sessenta e oito euros e setenta e quatro céntimos), 0 preco
declarado na escritura de compra e venda, apesar de haver uma
condenacéo em primeira instancia e uma decisio contraria no Acérdio
do Tribunal da Relacao, o facto é que esta deciséto desfavorivel para 0
recorrente néo é superior a metade da algada desse tribunal (art® 678°,
n° L alinea b) do do CPC). O valor da sucumbéncia é inferior a metade
da aleada do Tribunal da Relagdo.
III. Em conclusao, ndo deve, pelas razées indicadas, 0 presente recurso
ser admitido.
IV. Os recorrentes/exequentes/autores pretendem executara sentenca
proferida no processo n.” 4080/13... do Juizo Central Civel ... — Juiz...
que decretou a anulacao do negécio de compra e venda celebrado
através da escritura piiblica outorgada em 23.03.1985, determinado,
em consequéncia, 0 cancelamento da inscrigdo da aquisig&o do direito
de propriedade a favor dos Autores efetuada pela AP. ..1 de 1985/03/27
sobre a fragiio descrita sob 0 n.° ..17..
V, Toda a aga executiva tem por base um titulo, pelo qual se
determinam o fim e os limites da agao executivo — artigo 10.°, n.° 5 do
CPC, sempre que o pedido néo harmonize com esses fins ou os limites
estamos perante a violagao deste preceito, é como seniio houvesse
titulo executivo.
VI. A condenagdo proferida tem que estar contida no pedido formulado
na petigéo inicial ou nas suas eventuais alteragées, como aconteceu na
sentenca proferida na agao declarativa, onde claramente se respeitou
este principio.VII. Nunca os recorrentes/exequentes/autores, ao longo de todo 0
processo declarativo, bem como nas alegacdes e contra-alegacdes nos
recursos nele apresentados, alguma vez, ao de leve que fosse, fizeram
qualquer referéncia ou mencdo a existéncia de uma qualquer quantia
patrimonial, muito menos que tinham a intensdo ou direito ao
ressarcimento ou restitui¢ao desse montante.
VIII. Decorre tradicionalmente do principio do dispositivo que 0
tribunal apenas pode fundar a sua deciséo em factos alegados pelas
partes.
IX. Os artigos 609.°, n.° I ¢ 608.", n.° 2. do CPC so manifestagao
méxima do principio do dispositivo face ao principio da autonomia da
vontade, cabe as partes definir nos respetivos articulados o objeto da
causa, aos quais 0 Juiz fica limitado na apreciagéo que fizer do litigi
X. O contetido da sentenca deve cingir-se aos limites definidos pelas
pretensées das partes formuladas na acéo, 0 que é considerado
“micleo irredutivel” do principio do dispositivo.
XI. Ea esta pretensdo que o tribunal esté adstrito nao podendo
decretar outro efeito, alternativo, apesar de legalmente previsto.
XII. Neste sentido citamos Anténio Santos Abrantes Geraldes: “As
partes, através do pedido, circunscrevem 0 “thema decidendum”, isto
é, indicam a providéncia requerida, ndo tendo o juiz que cuidar de
saber se @ situacao real conviria ou ndo providéncia diversa” (Temas
da Reforma do Processo Civil - Volume I~ p. 53
XIII. Os recorrentes/exequentes/autores, no exercicio do principio da
autonomia da vontade, formularam em juizo um pedido de condenagéo
dos recorridos/executados/réus “...a procederem & retificacdo da
escritura publica de 23MAIB5, alternativamente, caso assim nao
suceda seja a mesma anulada, no que concerne @ titularidade e registo
a favor dos AA., da fracdo auténoma correspondente @ segunda loja do
1.°andar, a contar do Sul, destinada a atividades econdmicas,
designada pela letra E, descrita na ... Conservatoria do Registo Predial
.. sob 0 n."...93, sita na Rua Ma... n°. da freguesia n,n, COMO
artigo matricial urbano sob 0 n.° 1409 NIP;”
XIV. Era esta, ndo mais, a pretensio dos recorrentes. Estes nunca
pretenderam obter do tribunal uma decisdo que ao anular a escritura
publica de 23MAI85 obrigasse os recorridos a restituir 0 preco
constante daquela escritura, onde adquiriram a fragdo D, loja dois,
norte da loja um e contigua com ela, descrita na Conservatéria do
Registo Predial ... sob 0 n.°...87 sita na Rua N..., n.?... d...., freguesia
,em..., como artigo matricial urbano n.° ...37.
XV, Os recorrentes pretendiam com o recurso a uma agdo de processo
comum que thes fosse reconhecido o direito a titularidade/propriedade
da jé identificada fragdo E, como consequéncia legal da retificagdo ou
anulacdo da escritura publica de 23 de maio de 1985, onde osrecorridos adquiriram aos recorrentes uma outra fracdo designada por
D.
XVI. Os recorrentes, entanto autores no processo declarativo, tendo 0
direito de apresentar em juizo a seu pedido e 0 énus de o fazer nos
‘momentos processualmente apropriados para o feito, n&o 0 tendo
querido exercer, por inércia ou intensiio, nao podem, mais tarde no seu
requerimento executivo, pedir ao tribunal que lhe conceda esse direito.
Do mesmo modo, como nao pode o tribunal oficiosamente the suprir
essa omisséo.
XVII. Este bem o acérdao do Tribunal da Relagdo de Guimaraes ao
concluir que “Nao se pode assim inferir da fundamentacao da sentenca
que se quis condenar os réus a restituirem aos autores a quantia
declarada como preco que pagaram na escritura que titulou 0 negécio
anulado. Pelo contrério observou-se escrupulosamente o principio do
pedido e os limites da condenagao previstos no art.° 609° do CPC.”,
julgando, deste modo, “...procedentes os embargos e sem titulo a
execugao, determinando-se a sua extingiio.”
ASSIM SENDO, deve ser rejeitando por inadmissivel o recurso
interposto, mantendo-se 0 acdrdao proferido, fardo a esperada
JUSTICA!”.
O recurso foi admitido.
Cumpre apreciar e decidir.
Nas Instancias foram julgados como provados ¢ no provados, os
seguintes factos:
“III - FUNDAMENTOS DE FACTO
A) Factos considerados provados na sentenca recorridé
«.- Por douto acérdao proferido no ambito da agéo comum n.”
4080/16...., foi decidido o seguinte (negrito nosso):
“(...) VI. Dispositivo
Nestes termos, julgo a agao parcialmente procedente e, em
consequéncia:
a. Decreto a anulagéo do negécio de compra e venda celebrado através
da escritura piiblica outorgada em 23.05.1985, determinando, em
consequéncia, 0 cancelamento da inscrigdo da aquisic&o do direito depropriedade a favor dos Autores efetuada pela AP. ...1 de 1985/03/27
sobre a fragio descrita sob 0 n.° 17.
b. Absolvo os Réus do demais peticionado.
Valor da agao: o fixado a fis. 362.
O remanescente das custas em divida (cfr: ls. 241 /verso e 358) a
cargo dos Autores e dos Réus, na proporcaio de 10% e 90%,
respetivamente (cfr. artigos 527°/172, do CPCiv), sem prejuizo do
beneficio do apoio judicidrio de que gozam os primeiros.
Registe e notifique.
Apés transito, comunique a presente deciséio a Conservatoria do
Registo Predial competente, nos termos e para os efeitos do disposto no
artigo 37/1,c) e 8°-B/3,a), do Cédigo do Registo Predial.”.
apresentado & execucdo, cujos dizeres se dao aqui por integralmente
reproduzidos.
2.- Nos dizeres desse douto acérdéo, resultou provada e nao provada a
seguinte factualidade:
“IV. Fundamentacdo de facto
A- Factos provados.
Discutida a causa, resultaram provados os seguintes factos:
1 - Os Autores encontravam-se emigrados em ..., tendo sido
representados pelo sogro e pai da Autora, GG, na celebragéo da
escritura mencionada em 7 (parte do artigo 2°, da peti¢ao inicial — fls.
95);
2- Sd aquando da resolucdo de problema relacionado com a
Administragdo do Condominio é que tomaram conhecimento de que
possuiam parte da fragdo «E» e que eram titulares da fragdo «D»
(parte do artigo 8°, da peticao inicial — off: fs. 95).
3 - Os Autores nunca utilizaram nem deram qualquer uso ou fruigao a
fracdo «D», sempre tendo usado, para atividades econémicas, parte da
‘fracdo «Ey, onde instalaram 0 «Minimercado ...», 0 que fizeram até
2007, tendo-a, depois dessa data, arrendado (parte dos artigos 10°, 11°
25° e 29°, da petigdo inicial — eff: fs. 95 e 96).
4- Antes da celebragao da escritura mencionada em 7, ficou
convencionado entre os Autores ¢ 0 Réu marido que a fracao objeto da
venda seria parte da fracéo «E» e n&o a «D» (artigo 30°, da resposta —
oft. fls. 344).
5-A fragéo «Dy nunca lhes foi mostrada por quem quer que seja, ndo
the foram entregues as chaves da loja e nunca fizeram qualquer uso ou
proveito da mesma na exploragéo da sua atividade (artigo 34°, da
resposta ~ off. fls. 345).6 - Por erro do Réu CC, foi escriturada e transmitida a fragao «D»
(parte do artigo 35°, da resposta cfr. ls. 345).
§ Considerados nos termos do artigo 6077/4, do CPCiv:
7 - Por escritura publica de compra e venda e mituo com hipoteca,
celebrada a 23.05.1985, no ... Cartério Notarial ..., CC, por sie na
qualidade de procurador de DD, declarou vender a BB e mulher AA, ali
representados por GG, declarou vender, pelo preco de dois milhées e
seiscentos mil escudos, a fragao auténoma «D», loja dois, a norte da
loja um e contigua a ela, destinada a atividades econémicas, no rés-do-
chao com entrada pelo nimero ...1 (onze) de policia da rua M..., do
prédio sito na Rua ..., com os nimeros 33 (trinta e trés) e 35 (trinta e
cinco).
8 - A aquisigao da frac&o auténoma designada pela letra «D»
encontra-se inscrita a favor dos Autores através da AP. ...1 de
1985/03/27.
B - Factos nao provados:
Discutida a causa, néo resultaram provados os seguintes factos:
9 - O conhecimento indicado em 2 ocorreu no final de 2015.
10 - Foi por erro dos restantes Reus (para além do indicado em 6) que
houve lugar & escrituracao e transmissao da fragao «D» (parte do
artigo 35°, da resposta — oft fs. 345).”
3.- Os executados néo devolveram aos exequentes o que receberam
destes na sequéncia da celebracdo da escritura de compra e venda do
imével.
B) Tem ainda interesse, para a interpretagdo da sentenca dada a
execugio, 0 seguinte:
BI — Na acgaio 4080/16.... os autores, aqui exequentes, formularam os
seguintes pedidos:
A, Se condene os Réus procederem & retificagéo da escritura piblica de
23.05.1985, no que concerne é titularidade e registo a favor dos
Autores, da fracdo auténoma correspondente @ segunda loja do 1.°
andar, a contar do Sul, destinada a atividades econdmicas, designada
pela letra «Ep, descrita na ... Conservatoria do Registo Predial ... sob 0
n.°...93, sita na rua M..., n.° ., da freguesia .., .., Com 0 artigo
‘matricial urbano sob 0 n.° 1409 NIP;
B. Se declare que os Autores sao donos exclusivos e legitimos
proprietirios da fragao acima indicada na al. a), segunda loja do 1.°
andar, designada pela letra «Ep, descrita na ... Conservatoria do
Registo Predial ... sob 0 n.”...93, sita na ru Mu, 0." sy my € S€condene os Réus a reconhecer o seu direito de propriedade, por fora
do direito de aquisig&o origindria por via de usucapiao na forma
sobredita;
C. Se oficie ds entidades competentes, a fim de procederem de acordo
com o enunciado nas al.s a) e b) deste pedido, nomeadamente quanto
ao prédio designado pela letra «Ep, descrito na ... Conservatoria do
Registo Predial ... sob on.” ...93, & pertinente retificacdo, averbamento
e inscrigao da fracao auténoma, a saber:
cl) - O (a) Exm.” Sr. (a) Notario (a) sob a direcdo da Sr.* Dr.“ HH,
Praca ou outro, de acordo com o supra descrito na al. a) deste
pedido, se digne proceder & retificagao de escritura publica de
23.05.1985;
2) - O (a) Exm.° Sr. (a) Conservador da 2." Conservatéria de Registo
Predial a cargo do Sr. Dr. Il, sita na rua .. ou outro, a fim de
proceder ao cancelamento de inscrig&éo em nome de F..., L.da, com sede
NA PUA oy 4 4 (Sécia Gerente: JJ), anotagao e averbamento de nova
inserig&o a favor dos Autores;
3) - O (a) Exm.° Sr. (a) Chefe da Repartig&éo de Financas ..., sob a
chefia do Sr. KK, sita na rua Moura ...,....... para proceder &
revogacéo de inscrigdo matricial sob o n.° 1039-E de fls. (1409NIP) em
nome de F..., L.da, com sede nd rd. 15. (Sdcia Gerente: JJ) &
averbamento de nova inscrigdo a favor dos Autores.
Em «alternativay:
D. Se condene os Réus, a suas expensas, a obter autorizacées (e obras)
necessdrias, junto das entidades competentes, para que a 2.“ unidade
antes destacada pelo primitivo proprietario, CC, seja objeto de
propriedade horizontal, e por conseguinte, pertenga daqueles, e se
condene os Réus a reconhecer o direito de propriedade dos Autores
sobre a 1.“unidade;
E. Caso de todo néio seja possivel, se condene os Réus a reconhecer 0
direito de propriedade dos Autores, por forca do direito de aquisigéo
origindria, por via de usucapido na forma sobredita, devendo a fracdo,
no seu todo, ser-lhes reconhecida e atribuida (cf: fls. 94 a 104).
B.2 — Apés despacho preferido em audiéncia prévia (doc. 2 da petic&o
inicial dos embargos de executado), foram os recorridos notificados
para esclarecerem “... se existiu erro de escrita quanto & mencdo
relativa d fracdo "D" ou se houve divergéncia sobre 0 objeto do
negocio e, neste caso, se o erro foi induzido pelos compradores e se
estes eram conhecedores da essencialidade do mesmo”. E em resposta
a este despacho, os recorridos procederam é alteracao do seu pedido,
nomeadamente, ao item C, pedido principal, item Cl, al. a) da peti¢ao
inicial, que passou a ter a seguinte redaceao (doc. 3 da petigdo inicial
dos embargos de executado):= “Devem os RR. procederem ai retificacéio da escritura piiblica de
23MAIS5, alternativamente, caso assim ndo suceda seja a mesma
anulada, no que concerne & titularidade e registo a favor dos AA., da
fracdo auténoma correspondente é segunda loja do 1.° andar, a contar
do Sul, destinada a atividades econdmicas, designada pela letra E,
descrita na ... Conservatoria do Registo Predial ... sob 0 n.°...93, sita
na Rua M..., n.°..., da freguesia ..., .., com 0 artigo matricial urbano
sob on.° 1409 NIP;”
B.3~Na fundamentacao da sentenca exequenda consta:
— «(...) O provimento da pretensio de ver anulada a escritura piiblica
importa as consequéncias previstas no artigo 289°/1, do CCiv, de
acordo com a qual tanto a declaragéo de nulidade como a anulacdo do
negécio tém efeito retroativo, ou seja, deve ser restituido tudo que tiver
sido prestado, ou, se a restituigdo néo for possivel, o valor
correspondente.
Os Autores néto sao explicitos a pedir a restituig&o do que foi prestado,
limitando-se a dizer que a escritura seja anulada, no que concerne d
titularidade e registo a favor dos Autores, acrescentando, apés, uma
referéncia a segunda unidade da fragdo designada pela letra «E> (cfr:
Als. 340/artigo 5°)
Embora o cardcter equivoco desta tiltima mengéo, cré-se que ela é feita
no pressuposto de que a anulacao teria como efeito a substituicé&to da
fragéio «D» pela fragdo «E, na parte ocupada pelos Autores.
Porém, a anulagdo da escritura nao confere o direito a retificagéto da
escritura, nem d troca de objetos negociais, mas apenas hé
recuperacdo retroativa das prestacées realizadas.
A hipotese de validagao do negécio, regulada no artigo 248°, do CCiv,
néo tem aqui aplicagao, porque o Réu CC nao aceitou o negécio como
o declarante o queria, o que resulta evidente do facto de ele ter
procedido @ alienagéo posterior a terceiro da fracdo designada pela
letra «E>.
A respeito das consequéncias da anulabilidade, 0s Autores aludem &
titularidade formal e registo a favor dos Autores, inferindo-se que esto
a reportar-se ao cancelamento do registo, o que é consequente da
alteragao provocada na ordem juridica por forca daquela.»
B4— De tal sentenca apenas foi interposto recurso da decisdo da
matéria de facto, que improcedeu, pelo que 0 acérdao limitou-se a
confirmar a sentenca recorrida”.Conhecendo:
Sio as questdes suscitadas pelo recorrente e constantes das respetivas
conclusdes que o tribunal de recurso tem de apreciar — artigos 608°,
635°, n? 3.5 ¢ 639°, n° 1, do CPC.
No caso em anilise questiona-se:
“a) Por um lado, se a sentenca dada a execugdo constitui titulo
executivo;
b) E por outro, se assim se concluir, saber se 0 crédito dos Exequentes
constitui divida de valor, devendo o valor nominal da quantia a restituir
ser atualizado””.
A) - Titulo executivo:
O titulo executivo & 0 documento que pode, segundo a lei, servir de
base 4 execucdo, sendo que a lei, atualmente o art. 703°, do CPC,
indica, de forma taxativa, os titulos que podem servir de base &
execugao.
Anselmo de Castro in Da Agdo Executiva Singular, Comum e Especial,
3*ed., pag. 14 refere, “Define-se titulo executivo o instrumento que ¢
considerado condicao necessaria e suficiente da ago executiva”
Dividindo as espécies de agdes consoante o fim, o art. 10° do CPC
divide as agdes em declarativas oi executivas, sendo que as declarativas
(que ora interessa) podem ser de simples apreciagao, de condenacao e
constitutivas.
No caso serviu de base a execugo, uma sentenga, sendo que o titulo
executivo sentenga vem indicado na al. a), do n° 1, do art. 703°, do
CPC, abrangendo apenas as sentencas condenatérias.
es declarativas de
Questo pertinente é a de saber se apenas as
condenagio contém forga executiva.
Num entendimento mais restrito, alguns autores consideram que apenas
as sentengas proferidas em ages declarativas de condenagio
constituem titulo executivo, enquanto outros, num entendimento mais
alargado, sustentam que constitui titulo executivo toda a sentenga que
no dispositivo contenha uma componente condenatéria,
independentemente da espécie de ago que lhe deu origem.
E este entendimento mais abrangente, o de Lebre de Freitas, in “A Ago
Executiva — A Luz do Cédigo de Processo Civil de 2013”, 6* ed., p.54,
que considera que o legislador ao utilizar a expresso “agdo de
condenag’o” no art, 10° e diferentemente “sentencas condenatérias”, no
art. 703°, n° 1 al. a), ambos do CPC, quis admitir a possibilidade de
serem executadas sentengas proferidas em ages diversas das
declarativas de condenagio. Era também o entendimento de Lopes
Cardoso, in CPC anotado, 3* ed., pag. 71.E como ensina A. dos Reis in Processo de Execugio, vol. I, 3* ed., pag.
68, “E 0 titulo que autoriza 0 credor a mover a acgdo executiva; é 0
titulo que define o fim da execugo; & 0 titulo que marca os limites do
procedimento executivo”.
Situagdes de alargamento para além das sentengas condenatorias
verifica-se com mais frequéncia em alguns processos especiais
E exemplo o Ac. da Rel. de Lx., de 19-10-2006, proferido no Processo
n°6325/2005-2, de cujo sumario consta: “/- A sentenga proferida em
acedo declarativa constitutiva de divércio que declarou o divarcio e
condenou 0 Réu no pagamento d Autora de certa quantia pecunidria a
titulo de indemnizacao por danos morais, ao abrigo do art.’ 1792, do
CCir, é titulo executivo bastante para o pedido de juros de mora sobre
aquela indemnizagéo, juros de mora esses a contar deste o transito em
julgado dessa decisao”.
Questo que veio a ser julgada de forma diferente no Pleno das Secgdes
Civeis do STJ, no Acérdio de Uniformizagao de Jurisprudéncia n.°
9/2015, in DR. I* S. de 24 de junho de 2015, com o seguinte segmento
uniformizador: “Se o autor ndo formula na peticao inicial, nem em
ulterior ampliacao, pedido de juros de mora, o tribunal nao pode
condenar o réu no pagamento desses juros”.
E 0 Ac. do mesmo Tribunal da Relagao, de 26-11-1992, in Col. Jurisp.,
1992, tomo V, pag. 128, refere no respetivo sumario: “- Para que a
sentenca possa servir de base d execucao, néo é necessirio que
condene no cumprimento de uma obrigacdo, bastando que esta
obrigagao fique declarada ou constituida por essa sentenca
IL- Apesar de 0 inventério nao ser uma agdo de condenagao, 0 certo é
que a sentenca homologatoria de partilhas fixa definitivamente, apds 0
seu transito em julgado, o direito dos interessados, nomeadamente
quanto aos bens que lhes foram adjudicados.
III- Se 0 cabeca de casal se recusar a entregar tais bens aos
interessados, a sentenca homologatéria de partithas serviré de titulo
executivo para obter tal entrega.”
E também refere 0 Ac. do STJ de 18-03-1997, in BMJ 465, pag. 507,
“... as novas concepgées do processo civil, cada vez mais desapegadas
dos vicios do formalismo e do conceitualismo, visando acima de tudo
por o processo ao servico da justica material, com economia maxima
de meios e de tempo”, no entanto, o decidido nesse acédrdao de que “a
sentenca que declare procedente a acdo de preferéncia, reconhecendo
ser o autor o proprietério do imével, tem implicita a condenacéo do
preferido a reconhecer e respeitar esse direito de propriedade, sendo
também uma sentenca condenatoria e, por isso, titulo executivo”,
apenas respeita 4 entrega do bem e nio a executar a quantia que
estivesse em causa (no proceso de preferéncia a quantia encontra-se
depositada e, no caso houve autorizagao para a levantar).Eno Ac, do STJ de 9-05-1996, in BMJ n° 457, pag. 263 sumariou-se
que “Declarada na sentenca, ao abrigo do art. 289, n° 1, do Céd. Civil,
a nulidade dos contratos de compra e venda dos prédios negociados,
ha lugar d restituic&o simultanea dos mesmos e dos montantes dos
precos desembolsados 4 sociedade autora e aos réus compradores,
respectivamente”, no entanto, é de relevar que se encontra como
provado o facto de que “contestando essa acgdo, vieram os réus,
prevenindo a hipétese de nulidade das vendas e da procedéncia do
pedido, deduzir reconvencdo, peticionando a condenagdo da autora no
pagamento do valor actual dos prédios objecto dos contratos
referidos”, e 0 Ac. do STJ recorreu “a parte motivatéria da sentenca
para reconstituir e fixar 0 verdadeiro contetido da deciséo” porque 0
‘Ac. da Relago havia revogado em parte a sentenga ¢ absolvido a autora
do pedido reconvencional, o que deu causa ao voto de vencido que
entendeu que a Relago nao havia condenado a autora a restituir o prego
aos réus,
Assim, temos que questdo distinta de haver segmento condenatério em
agdo declarativa constitutiva é, 0 considerar-se titulo executivo uma
sentenga sem condenagio,
Como salienta 0 acérdio recorrido, retirou-se da sentenga dada a
execugio o acima exposto na matéria de facto sob a al. “B) Tem ainda
interesse, para a interpretacdo da sentenca dada a execucdo, 0
seguinte:”, resultando de tal matéria que aos aqui embargados nao
interessava a restituigdo do prestado, mas a conversio do negécio &
substituigdo das fragdes incorretamente designadas pelas corretas.
Assim que no e pode concordar com o alargamento pretendido, porque
nao ha condenagao na restituigio.
Para uma sentenga servir de titulo executive tem, a mesma, de conter
uma condenagio expressa (mesmo que o pedido de condenagao nao
seja a pretensdo principal, deve estar implicito e como resultante da
declaragdo de nulidade do negécio) e, s6 assim é uma sentenga
condenatoria.
Deve, pois, a sentenga condenatéria ser resposta a um pedido formulado
pelo autor, pelo menos implicitamente. Nao sendo formulado pedido de
condenago, mesmo sequencial 4 procedéneia de outro que Ihe serve de
base, nunca a sentenga que vier a ser proferida pode conter ou servir de
titulo executivo.
Até porque, conforme art. 609°, n° 1, do CPC, consagrando o principio
da vinculagao do juiz ao pedido formulado dispée, “a sentenga nao
pode condenar em quantidade superior ou em objeto diverso do que se
pedit” e constituindo nulidade da sentenga a condenagdo em quantidade
superior ou em objeto diverso do pedido, conforme preceitua a al. ¢), do
n? 1, do art. 615°, do mesmo Cédigo. O que no se compadece com a
alegada, pelo recorrente, “lexibilizagao do principio do pedido”Assim como violaria 0 principio do dispositive, consagrado no n° 1, do
art. 3°, do CPC, estruturante do processo civil, que impede que 0
tribunal resolva conflitos de interesses sem que lhe seja pedido por uma
das partes.
Concordando-se com 0 decidido no Ac. deste STJ de 04-02-2021,
proferido no Proc. n° 6837/17.4T8LRS.LI.S1, “Il. A declaragao de
nulidade do contrato implica também a declaragio dos seus efeitos,
mantendo-se dentro do ambito dos poderes cognitivos do tribunal a
declaragdo da restituicao do sinal prestado”, mas tem de ser declarada
a restituigio e, verifica-se que no caso concreto apenas se decretou a
anulagao do negécio, nada se referindo em relagdo & restituigao, sendo
certo que nem era essa a pretensio dos autores nessa ago onde foi
proferida a sentenga dada a execugdo e contestada como titulo
executivo nos presentes embargos.
E nada mais se poderia dizer porque nada de relevante consta na
fundamentagao.
Tendo em conta os factos provados nestes autos, nomeadamente: “Por
douto acordao proferido no dmbito da acéo comum n.° 4080/16...., foi
decidido o seguinte:
“(...) VI. Dispositivo
Nestes termos, julgo a acdo parcialmente procedente e, em
consequéncia:
a. Decreto a anulacdo do negécio de compra e venda celebrado através
da escritura piblica outorgada em 23.05.1985, determinando, em
consequéncia, 0 cancelamento da inscrigao da aquisic&o do direito de
propriedade a favor dos Autores efetuada pela AP. ...1 de 1985/03/27
sobre a fragéo descrita sob 0 n.° ..17..;
b, Absolvo os Réus do demais peticionado”;
Resultando da matéria de facto apurada que aos aqui embargados
interessava a conversio do negécio anulado e a substituigao das fracoes
incorretamente designadas (que foram causa da anulagio) pelas
corretas, no existe, mesmo implicitamente, um pedido de restituigdo
do prestado.
Temos que ndo houve (nem podia haver por ndo peticionado) nenhuma
condenagdo dos ora embargantes a restituirem o prego (ou qualquer
outra quantia) aos embargados/exequentes.
E como diz 0 acérdao recorrido, “Sucede que no presente caso a
fundamentagao da sentenca limita-se, em sintese, a referir que a
anulagao do negocio (por erro) apenas poderia ter por consequéncia a
restituigdo do que foi prestado, mas que néo é isso que os autores
pretendem, nem peticionam, sendo que a sua pretens&io nao pode ter
provimento”.E temos que no presente caso também nao tem aplicago a doutrina do
Acérdao Uniformizador de Jurisprudéncia n° 3/2018 in DR. 1" S. de 19-
02-2018, com o seguinte segmento uniformizador: “O documento que
seja oferecido a execugéo ao abrigo do disposto no artigo 46.°, n.° 1,
alinea, c), do Cédigo de Proceso Civil de 1961 (na redacc&o dada
pelo Decreto -Lei n.° 329 -A/95, de 12 de Dezembro), e que comporte 0
reconhecimento da obrigacdo de restituir uma quantia pecunidria
resultante de miituo nulo por falta de forma legal goza de
exequibilidade, no que toca ao capital mutuado”
No caso em analise nao existe reconhecimento da obrigacao de restituir
uma quantia pecunidria, antes resultando a diivida face ao facto n° 3 dos
no provados, “3.- Os executados nao devolveram aos exequentes 0
que receberam destes na sequéncia da celebragéo da escritura de
compra e venda do imével”, (nio provado que os executados nao
devolveram).
Pelo que se conclui que a sentenga em causa nao constitui titulo
executivo.
Face a esta decisio fica prejudicado 0 conhecimento da segunda
questao suscitada.
Sumario elaborado ao abrigo do disposto no art. 663 n° 7 do CPC:
1- O titulo executivo é o documento que pode, conforme o art. 703°, do
CPC, servir de base & execugio, sendo que a lei indica, de forma
taxativa, os titulos que podem servir de base 4 execugao.
II - Num entendimento mais restrito alguns autores consideram que,
apenas as sentengas proferidas em agdes declarativas de condenagio
constituem titulo executivo, enquanto outros, num entendimento mais
alargado, sustentam que constitui titulo executivo toda a sentenga que
no dispositivo contenha uma componente condenatéria,
independentemente da espécie de ago que Ihe deu origem.
III - Questo distinta a de haver segmento condenatério em agao
declarativa constitutiva é, 0 considerar-se titulo executivo uma sentenga
sem condenagio.
IV- Resultando da matéria de facto apurada que aos aqui embargados
interessava a conversio do negécio anulado e a substituigao das fracdes
incorretamente designadas (que foram causa da anulagiio) pelas corretas
no existe, mesmo implicitamente, um pedido de restituigdo do
prestado.V - Inexiste sentenga condenatoria que constitua titulo executive que
abranja a restituigdo do prestado quando apenas foi pedida a
anulabilidade do negécio e do dispositivo condenatério conste “Decreto
a anulagao do negécio de compra e venda celebrado através da
escritura piiblica outorgada em 23.05.1985, determinando, em
consequéncia, o cancelamento da inscrigéo da aquisicdo do direito de
propriedade.”
Decisao:
Pelo exposto, acordam em julgar improcedente o recurso, nega-se a
revista e, mantém-se o acérdio recorrido.
Custas pelo recorrente.
Lisboa, 08-11-2022
Fernando Jorge Dias — Juiz Conselheiro relator
Jorge Arcanjo — Juiz Conselheiro 1° adjunto
Isaias Padua— Juiz Conselheiro 2° adjunto