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sTJ Process N’ Conve Relator: Deseritores: Data do Acordio: Votasio: ‘Texto Integral: Privacidade: Meio Processual: Decistio: Sumario Decisio Texto Integral: Acérdio do Supremo Tribunal de Justiga 2646/21 4TSVNF-A.GLSI 1." SECCAO, JORGE DIAS EXECUCAO DE SENTENCA TITULO EXECUTIVO INTERPRETACAO DE SENTENCA, CAUSA DE PEDIR PEDIDO DECISAO CONDENATORIA AGAO CONSTITUTIVA. ANULACAO DA VENDA 8-11-2022 UNANIMIDADE s 1 REVISTA NEGADAA REVISTA 1 - 0 titulo executivo é 0 documento que pode, conforme o art. 703°, do CPC, servir de base 4 execugo, sendo que a lei indica, de forma Laxativa, os titulos que podem servir de base 4 execugdo, I - Num entendimento mais restrito alguns autores consideram que, apenas as sentengas proferidas em agdes declarativas de condenagio constituem titulo executivo, enquanto outros, num entendimento mais alargado, sustentam que constitui titulo executivo toda a sentenga que no dispositivo contenha uma componente condenatéria, independentemente da espécie de ago que Ihe deu origem. III - Questo distinta 4 de haver segmento condenatério em ago declarativa constitutiva ¢, 0 considerar-se titulo executive uma sentenga sem condenagao. IV - Resultando da matéria de facto apurada que aos aqui embargados interessava a conversao do negécio anulado e a substitui¢ao das fragdes incorretamente designadas (que foram causa da anulago) pelas corretas nao existe, mesmo implicitamente, um pedido de restituigao do prestado. V - Inexiste sentenga condenatoria que constitua titulo executivo que abranja a restituigdo do prestado quando apenas foi pedida a anulabilidade do negécio e do dispositivo condenatério conste “Decreto a anulagdo do negécio de compra e venda celebrado através da escritura publica outorgada em 23.05.1985, determinando, em consequéncia, o cancelamento da inscrigdo da aquisigdo do direito de propriedade.” Acordam no Supremo Tribunal de Justiga, 1* Secgao Civel. Por apenso aos autos de execugdo de sentenga para pagamento da quantia de €57.017,64, que lhes é movida por AA e BB, vieram os executados, CC e DD, deduzir embargos, invocando, em sintese, falta de titulo executive, porquanto a sentenga no os condenou a pagar qualquer quantia monetaria, nem a sua atualizago monetéria, nem juros, nem sangZo pecuniaria compulséri Os embargados contestaram, citando abundante jurisprudéncia da qual extraem que “a declarago de anulagdo do negécio de compra e venda através da escritura publica outorgada em 23-05-1985, decretada pela douta sentenga de fls., entre as partes, entdo, autores e réus, (aqui Exeq.tes e Exec.dos), configura-se como verdadeiro titulo executivo no que se reporta a obrigagao de restituicdio do que foi prestado, ou seja da quantia exequenda”. Dispensou-se a audiéncia prévia, proferiu-se despacho saneador e, por considerar que os autos o permitiam, o Mm? Juiz “a quo” conheceu do mérito, proferindo sentenga em que decidiu: “Julgar os presentes embargos parcialmente procedentes, em consequéncia, determino a restituig&éo aos exequentes do valor de 12.968,74 euros, acrescido dos respetivos juros de mora, & taxa legal, a contar do transito em julgado do douto Ac. até integral pagamento. Custas pelos embargantes e exequentes na proporgao do decaimento.” Inconformados com o assim decidido, quer os embargantes, quer os embargados, interpuseram recurso, vindo a ser decidido pelo Tribunal da Relagio: tes termos, acordam os juizes deste Tribunal da Relagao de Guimaraes em julgar procedente a apelacdo dos embargantes, revogando a sentenca recorrida e, em sua substituigdo, julgam procedentes os embargos e sem titulo a execugo, determinando-se a sua extingdo. Consequentemente fi pelos embargados. -a prejudicada a apreciagéo do recurso interposto Custas em ambas as instancias pelos embargados/apelados”. Novamente inconformados com o decidido pela Relacio, interpdem recurso de Revista para este STJ os embargados (ver conclusio V), ¢ formulam as seguintes conclusdes: “I, O aqui Recorrente vem interpor o presente Recurso por néo se conformar, de modo algum, com 0 Acérdao proferido pelo Tribunal da Relagdo de Guimaraes datado de 10 de Marco de 2022, IL. O qual, erroneamente e sem qualquer fundamento vélido, julgou procedente a apelacdo dos Embargantes, revogando a sentenca recorrida e, nessa sequéncia, julgando procedentes os embargos e sem titulo a execueéo, determinando-se a sua extingéo. III. Nessa conformidade, o ora Recorrente, iniciard, as presentes alegagaes de Recurso, pela abordagem a uma questao prévia e ao enquadramento circunstancial inerente ao caso em concreto, sendo vejamos. IV. Cumpre, antes de mais, ao aqui Recorrente fazer alusdo a uma breve questio prévia que diz respeito d habilitacdo de herdeiros efetuada no dmbito dos presentes autos executivos. V; Isto porque, no passado dia ... de Fevereiro de 2022, faleceu, AA, Exequente nestes autos de processo, no estado de casado no regime de comunhio geral de bens com BB - cfr. Assento de dbito ao diante junto como Documento | ¢ cujos seus efeitos se dao por integralmente reproduzidos. VI. Assumindo, este ultimo, 0 cargo de cabeca de casal, nos termos para os efeitos do preceituado no n."1 do artigo 2080.", ambos do Cédigo Civil. VII. Nessa conformidade, a malograda AA deixou a suceder-the como tinicos e universais herdeiros, 0 seu cOnjuge e os seus filhos, a saber: BB; EE; FF; VII, Razéo pela qual, em 06 de Abril de 2022, apresentou, 0 aqui Recorrente, 0 competente incidente de habilitagao de herdeiros junto do Douto Tribunal. IX. Porém, e uma vez que, até ao momento, ainda nao foi proferida sentenca no que concerne a tal habilitacao, as presentes alegacdes de recurso apenas sao apresentadas pelo aqui Recorrente, sem prejuizo de apés ser proferida a sentenca de habilitacao de herdeiros, os efeitos do presente recurso também aproveitarem aqueles, EE e FF, que com a tal sentenca que os habilita assumirem, assim, a posigéo juridica da decujus/Recorrente. X. Posto isto, e no que diz respeito ao enquadramento circunstancial que pauta 0 caso em apreco, sempre se dird que os presentes autos tiveram origem na apresentacdo, por parte do aqui Recorrente e da sua Esposa, AA, entretanto falecida, do competente requerimento executivo alegando, em suma, o seguinte: a) Que em virtude de, em 23 de Maio de 1985, se ter celebrado um contrato de compra e venda, no qual, através de erro grosseiro (e malicioso), os Executados venderam a fracdo sob a designagdo com letra D, site Ma RUA soy voy oy 4 quando, de facto, os Exequentes ab initio, sempre negociaram a aquisicdo de outra fracdo distinta designada sob a letra E, estes tiltimos intentaram a competente acao de condenagao competente no Tribunal Judicial ..., processo com 0 n.° 4080/16....-. Juiz .., afim de reporem a legalidade; b) No dmbito desses autos, foi proferida sentenca decretando a anulagao do negécio de compra e venda celebrado e determinando, em consequéncia, 0 cancelamento da inscrig&o da aquisic&o do direito de propriedade a favor dos Autores, decisio essa que veio, de forma integral, a ser confirmada por douto Acérdao proferido pelo Tribunal da Relagio de Guimaraes, transitando em julgado em 12-06-2020; o) Nessa conformidade, e atenta a anulagdo do referido negocio juridico, deve ser restituido 0 preco aos aqui exequentes que os mesmos pagaram (indevidamente) pela coisa, que, & data da realizagao do malogrado negécio, fora de dois milhdes e seiscentos mil escudos, que hoje, atualizada a moeda pelo INE, a singelo, corresponde ao capital de 53.744,92€ (cinquenta e trés mil setecentos ¢ quarenta e quatro euros e noventa e dois céntimos); @) Acrescendo, a tal quantia, os competentes juros, perfazendo a quantia total de €57.017,64 (cinquenta e sete mil setecentos e quarenta e quatro euros e sessenta e quatro céntimos), pelo que devem os executados serem condenados a pagar, solidariamente, aos exequentes a importancia total jé referida. XI. Nesse seguimento, e por apenso aos autos de execugao, vieram os Recorridos, CC e DD deduzir embargos, invocando, para além do demais, a inexisténcia de titulo executivo, XII. Jé que, no seu entendimento, a sentenca proferida no proceso n. 4080/16..... que correu os seus legais termos no Tribunal judicial da Comarca ... - ... - Juiz ..., XII, Nao os condenou ao pagamento de qualquer quantia monetéria, nem a sua correspondente atualizag&éo monetdria, nem t&o pouco juros ou sangdo pecunidria compulséria. XIV, Desta feita, 0 Tribunal de 1.“ Instancia proferiu despacho saneador e, por considerar que os autos 0 permitiam, respetiva sentenca conhecendo do mérito da questao, a qual julgou os embargos parcialmente procedentes e, nessa linha de raciocinio, determinou a restituigdo ao Exequentes da quantia de €12.968,74 (doze mil novecentos e sessenta ¢ oito euros e setenta e quatro céntimos), acrescido dos juros de mora, é taxa legal, a contar desde o transito em julgado da decisdo até efetivo e integral pagamento. XV, Com efeito, inconformados com o teor de tal decisdo, quer os Exequentes/Embargados, quer os Executados/Embargantes interpuseram alegagées de recurso para o Tribunal da Relagdo de Guimaraes, XVI. Sendo que os primeiros salientam a errada qualificacdo, pelo Tribunal a Quo, do valor peticionado no Requerimento executivo como obrigacao pecuniéria, restringindo, assim, 0 valor peticionado ao diminuto valor de €12.968,74 (doze mil novecentos e sessenta e oito euros e setenta e quatro céntimos), XVILE os segundos, o facto da sentenca proferida nos autos de processo n.° 4080/16... nao poder configurar um titulo executivo, ‘porquanto a mesma ndo os condenou no pagamento de qualquer quantia monetdria, XVIII. Contudo, foi agora, proferido Acérdao por aquele Tribunal da Relacdo de Guimaraes que decide no jé elencado sentido de julgar procedente a apelacdo dos Executados/Embargantes, revogando a sentenca recorrida e, nessa sequéncia, julgando procedentes os embargos e sem titulo a execucdo, determinando-se a sua extingao. XIX. Todavia, ndo pode, nem deve o aqui Recorrente aceitar tal Decisdo, por se mostrar desprovida de qualquer fundamento factual ou legal, como melhor infra se demonstrard. XX. Como bem se sabe, de acordo com o estatuido nos artigos 635.°, n.°4 e 639.°, ambos do CPC, o objeto dos recursos é delimitado pelas conclusées formuladas nas alegacées de recurso, XXI, Constituindo, na linha de raciocinio do Acérdéo recorrido, questoes as resolver no caso em aprego. @) Por um lado, se a sentenca dada @ execugdo constitu titulo executivo; b) E, por outro e se assim se concluir, se o crédito dos Exequentes, constitui divida de valor, devendo 0 valor nominal da quantia a restituir ser atualizado. XXII. Assim sendo, e no que diz respeito ao primeiro ponto—se a sentenca proferida no ambito do processo n.° 4080/16.... dada d execucdo constitui, ou nao, titulo executivo, XXIII. Refere 0 Acérdéo recorrido que “a jurisprudéncia vem admitindo que, mesmo quando o pedido de restituig&o nao tenha sido formulado na acao, a sentenca que declara a nulidade deve condenar na restituicdo do que houver sido prestado por forca do negécio nulo”, contudo, uma vez que “(...) ndo estamos perante um negécio nulo, muito menos um caso em que a nulidade do negécio tenha sido declara oficiosamente”, XXIV. Mas, ao invés, “ (...) perante um caso de anulabilidade do negécio, que ndo pode ser conhecida oficiosamente, carecendo de ser arguida pelas pessoas em cujo interesse a lei a estabelece (...)"e, por essa ordem de razéo, nao tendo, os Exequentes, formulado qualquer pedido de restituigao, XXV. “Nem sequer, atenta a fundamentagdo da sentenga exequenda e a divergente jurisprudéncia sobre a questi, se pode concluir que, no dispositivo, apenas foi omitida a condenacdo na restituigé&o, que na fundamentagao se entendeu ser devida, mas apenas, que 0 dispositivo se cingiu aos pedidos formulados.” XXVI. Porém, e de acordo com o jé referido, no pode, nem dev aqui Recorrente concordar com tal posigao assumida, porquanto carece de qualquer fundamento vilido a afirmagéo proferida no o Acérdao recorrido no sentido da procedéncia dos embargos de executado deduzidos nos presentes autos por nao haver qualquer titulo, que sirva de base & execugdo XXVII. Na verdade, é pedra angular da presente agdo executiva 0 dizer-se que, da declaragao de nulidade decorre 0 efeito juridico assinalado no n.°1, do artigo 289.°, do Cédigo Civil, isto é, a restituigdo de tudo 0 que tiver sido prestado. XXVIII, Em suma, esse preceito manda restituir tudo 0 que tiver sido prestado, 0 que significa que a declaragao de nulidade implica, necessariamente, tal restitui¢do. XXIX. E, nessa conformidade, nao se torna necesséria, a expressa declaragdo disso mesmo, considerando-se implicita, nessa declaragao de nulidade, a condenagao do Réu a restituir 0 que recebeu do Autor, nao se ofendendo, com isto, qualquer interesse do Demandado digno de protecdo. XXX. A tal conclusiio nos leva, de forma inelutavel, a bem sabida afirmagiio de que 0 fundamento de tal restituig&o é 0 supra aludido artigo 289.°, do Cédigo Civil, pelo que, contrariamente ao decidido na decisiio recorrida, o aqui Recorrente e sua esposa, intentaram a presente acdo executiva com base num titulo executivo, XXX. Ou seja, na sentenca, que decretou a anulagao do negécio de compra e venda celebrado pelas Partes através de escritura piblica outorgada em 23 de maio de 1985, jé transitada em julgado. XXXII. Ora, tal torna-se, assim, mais do que pertinente a conclusdo de que esse é 0 tinico petitério exigido, nado necessitando ele, portanto, de vir formular novo petitério. XXXII. Até porque hoje, aliés como sempre, o direito material, nao se compadece no seu caminhar para a realizacdo da Justica, com pruridos e delongas de natureza adjetiva, quando a solug&o mais justa tem a necessdria correspondéncia na Lei a interpretar e a aplicar. XXXIVE a solucao encontrada na decisao recorrida olvida isso mesmo, de forma patente, dando prevaléncia a uma visdo puramente literal da Lei, com sobreposicao do direito adjetivo ao direito substantivo, ¢ pondo de parte a prépria flexibilizacio do principio do pedido, o que néo pode subsistir, e a evoluedo do sistema juridico no sentido da Justiga Material, por via jurisprudencial, como se peticiona na presente agdo executiva, XXXV, Reiterando-se, em suma, 0 alegado pelo aqui Recorrente, e sua esposa, na contestacdo apresentada aos embargos deduzido pelos Executados ¢) O Julgador, investido de autoridade judicial, profere e decreta condenagao, cujo objeto se refere & anulacao total do negécio juridico realizado entre as partes; Jf) O legislador prescreve que, in casu, deve ser restituido o preco pago indevidamente e com efeitos retroativos; g) Por sua vez, 0 comprador lesado reclama o preco, injustamente, pago; hy Assim, a decisto judicial (condenatéria) que decreta a declaragao de anulagéo do negécio de compra e venda em causa configura-se como verdadeiro titulo executivo, aplicdvel no caso sub judice, ou seja, aplicével na presente execucéo para pagamento de quantia certa no ‘montante também certo de €57.017,64 (cinquenta e sete mil e dezassete euros e sessenta e quatro céntimos); XXXVI. Ora, tendo por base que toda a execucéto tem por base um titulo executivo, e que, nos presentes autos configura a sentenca proferida no processo n.° 4080/16...., € certo que nao obstante essa declaragdo de anulagéo do contrato de compra e venda, nada se disse na parte dispositiva final da sentenca sobre restituig&o a qualquer titulo, XXXVI. Tal nto traduz, sem mais nem menos, que a sentenca proferida ndo constitua um verdadeiro titulo executivo. XXXVII. Como refere 0 Professor Anselmo de Castro, é pelo contexto do titulo que se hé-de determinar a espécie da prestagio e da execucao que Ihe corresponde (entrega de coisa, prestagéo de facto, divida pecuniéria) se determinaré o quantum da prestacao e se fixard a legitimidade activa e passiva para a agao. XXXIX. Desse modo, ¢ no que concerne a exequibilidade das sentencas condenatérias referenciadas no artigo 46 n°l al. a) do CPC entendeu, 0 Acérdao do Supremo tribunal de Justica de 1999, que “para que a sentenca possa servir de base d execucdo, néo é necessdrio que condene no cumprimento de uma obrigagao, bastando que esta obrigacdo que se pretende executar dela derive implicitamente” (sublinhado e negrito nossos). XL. E, de facto, tendo isto na devida consideragao, impée-se analisar, com o rigor e precisdo necessdrios, 0 contexto do titulo executivo em questo, como se disse, constituido pela Sentenca proferida no dmbito do processo n.” 4080/16... XLI. Isto porque, pese embora na parte dispositiva final, a Sentenga omita a condenagdo na restituigdo das prestagdes realizadas, o mesmo jé néio se passa na parte da motivacao (fundamentagao) onde a questéo da restituig&o de tais prestacoes é tratada direta e expressamente quando ai a determinado passo se consigna. XLII. Assim, e contrariamente ao referido no Acérdao recorrido, se atendermos ao préprio contexto do titulo oferecido a execugéo, nomeadamente através dos seus préprios fundamentos, a restituigdo simulténea das prestacdes realizadas esté compreendida no proprio titulo executivo. XLII. A este respeito subscreve-se a posigdo do Acérdéo do Supremo Tribunal de Justiga, datado de 9/5/1996 in BMJ 457 263 em que se entendeu “ néo ser de excluir que se possa recorrer & parte motivéria da sentenca para reconstituir e fixar 0 verdadeiro conteiido da deciso” XLIV. E sobre a questiio da restituig&o simultanea tal Acérdao acentua” declarada na sentenca ao abrigo do art. 289 n°l do C. Civil a nulidade dos contratos de compra e venda dos prédios negociados, hé lugar & restituic&o simultanea dos mesmos e dos montantes dos precos desembolsados 4 sociedade autora e aos réus compradores respetivamente”’. XLY. Nao repugna, no caso dos autos, sufragar tal entendimento, porquanto em funcao da aplicagdo do regime do art. 289 n°l do C. Civil e por forca do contexto (fundamentagao) do proprio Acérda&io (titulo executivo) esta implicito que a condenagdo abrangeu também a restituigdo simultdnea das prestagées realizadas, XLVI. Sendo, desse modo, licito, aos Exequentes, intentarem processo executivo com base na sentenca proferida no processo n.” 4080/16... peticionando 0 pagamento, pelos aqui Executados, da quantia de 53.744,92€ (cinquenta e trés mil setecentos e quarenta e quatro euros € noventa e dois céntimos), a titulo de restituicdo das prestacdes realizadas, XLVI. Quantia essa aferida tendo em conta a competente atualizagao monetéria, acrescida dos respetivos juros, 0 que perfaz a quantia total de € 57.017,64€ (cinquenta e sete mil e dezassete euros e sessenta € quatro céntimos), invocando 0 estatuido nos artigos 289.°, n° I e 290.°, n°l ambos do C. Civil, afim de repor o statu quo ante, ou seja, 0 regresso a situagao anterior & celebraedo do negécio. XLVIII. Com efeito, e na conformidade de tudo 0 supra exposto, impoe- se concluir que. d) Para se determinar, reconstituir e fixar 0 verdadeiro conteudo e alcance dum titulo executivo constituido por uma sentenca, ha que considerar também 0 contexto em que o mesmo se insere, no sendo, por isso, de excluir 0 recurso a propria fundamentagdo (motivacdo) da sentenca; e) A declaragao de anulagdo de um contrato de compra e venda relativo as prestacées realizadas, através de uma sentenca, implica ao abrigo do art. 289 n°l do C. Civil a restituigdo dos montantes dos precos que foram pagos aos compradores (aqui Recorrentes); Df) E incumbindo as partes outorgantes no contrato deveres reciprocos de restituigdo nos termos supra referidos, estado sujeitas ao principio do cumprimento simulténeo nos termos do artigo 290.°, do C. Civil; XLIX. Assim, deve 0 Acérdao proferido ser revogado nesta parte, conforme V/Exas., Venerandos Conselheiros, certamente decidirao, sé assim se fazendo inteira Justiga Material! L. Sem prescindir, 0 que néo se concebe, quanto ao ponto que questiona se o crédito dos Exequentes constitut divida de valor, devendo o valor nominal da quantia a restituir ser atualizado. LI Sempre se dird que assente, assim e portanto, que a sentenca proferida pelo Tribunal de 1." Insténcia no ambito do processo n.° 4080/16.... constitui titulo executivo, impde-se a inelutdvel conclusdo de que & mesma deve ser atribuido o sentido de condenar os Recorridos a pagarem ao Recorrente a atualizada quantia de €57.017,64 (cinquenta e sete mil e dezassete euros e sessenta e quatro céntimos) LILE isto porque, hoje mais do que nunca, a valorizagdo monetaria é um facto notério que ndo tem de ser alegado, nem provado, pelo aqui Recorrente, sendo também de salientar, a este propésito, que como estatui 0 artigo 9.°, do Cédigo Civil, quando a interpretagao da Lei, esta néo deve cingir-se a letra da mesma, ou seja, a simples interpretagao literal da Lei néo constitui qualquer interpretagdo valida, pois nao toma em consideracdo os elementos sistemdtico, légico e teleolégico, sendo este tiltimo a verdadeira justificacdo social da lei. LII. Ora, no caso presente, pese embora 0 Acérdéio recorrido néo fazer qualquer mengao a esta questao, por entender que com a procedéncia do recurso interposto pelos Recorridos, a mesma fica prejudicada, LIV. Contrariamente ao decidido na sentenca proferida pelo Tribunal de 1." Instancia, 0 crédito dos Exequentes constitui uma divida de valor e, como tal, sujeita ds competentes atualizagées. LY. Basta, para tanto, ter na devida consideragao 0 decidido em sede de Acérdao do Supremo Tribunal de Justica, datado 12 de Junho de 2012, 521-A/1999.L1.S1, que indica: «Embora nos pudéssemos cingir a remeter para a decisdo que aqui se acolhe, sem outros considerandos, ex vi do art. 713.°, n.° 5, do CPC, aplicével @ revista nos termos do art. 726.", consideramos que a problematica em apreco merece maiores reflexées, dado, inclusive, 0 pouco tratamento que tal questao tem merecido, designadamente em termos jurisprudenciais, e que respeita a saber se a obrigacao de restituigao, proveniente da resolugdo do contrato de compra e venda (& semelhanca do que ocorre quando 0 contrato é nulo ou anulado), quando néo seja possivel a reposicao em espécie, deve ser considerada uma mera obrigacdo pecunidria ou antes como uma tipica divida de valor. O legislador optou por equiparar a resolugao do contrato, quanto aos seus efeitos, ao regime das invalidades (tanto da declaracéo de nulidade como da anulagao), por via do art. 433.° do CC, néio a submetendo a qualquer regime especifico. Essa equiparacéo significa que a resolucao destréi o vinculo contratual ex tunc, devendo ser restituido tudo o que tiver sido prestado, nos termos do art, 289.°, n.° 1, do CC: methor, 0s efeitos da resolugao sito a restituigao de tudo 0 que tiver sido prestado ou, se a restituigao néo for possivel, o valor correspondente. Ou seja, dissolvido o contrato, cada uma das partes terd de restituir & contraparte tudo o que indevidamente mantiver em consequéncia da cessagdo do vinculo contratual. Adverte Pedro Romano Martinez, “a resolucéio nao dé origem a um novo contrato, pelo qual se pretende dissolver o anterior, mas cria uma relacao legal que obriga as partes a devolverem o que receberam; trata-se, pois, de uma obrigagao ex lege de reposi¢&o do status quo ante”. O principio geral aqui aplicavel aponta para a obrigacdo de restituir in natura, consagrado no art. 562.° do CC, mas néo sendo possivel essa restituigdo natural, deve a parte entregar o valor correspondente, de harmonia com a regra constante do art. 289.°, n.° I, in fine, do CC. Brandéio Proenca salienta, de forma impressiva, que “esta «restauracao», envolvendo, em principio, uma restituigéo natural das coisas prestadas (ou per tantundem se se tratar de coisas genéricas), pode ter que traduzir-se numa mera restituic&o do valor correspondente (ou do equivalente) em caso de impossibilidade ‘material essencial (a coisa recebida pelo contraente que suporta a resolucao, pode ter sido consumida, perdida, destruida, deteriorada, confundida, ou ter desaparecido culposa ou «ndo culposamente») ou Juridica (pela existéncia de direitos de terceiros nos termos do art. 435.°do CC), ocorrida anteriormente & «declaragao» resolutiva ou quando essa restituigao seja «exigida» pela natureza da prestacdo em causa (prestagées de facto que se esgotaram numa prestacdo de servigos, na execucéo de certo trabalho ou na concessio da utilizagdo de certa coisa ou do gozo de certo local)”. No caso em debate néo esté controvertido o entendimento atras enunciado, nem a obrigacéo de restituic&éo, mas sim 0 que entender pelo “valor correspondente” afirmado no art. 289.°, n.° 1, do CC (normativo para o qual remete o art. 433.° relativo resolugdo contratual). A pergunta que se impée sera, entéo: devemos procurar o valor (suceddneo) que o bem tinha @ data do negocio ou o valor que tem no momento em que se tem que proceder @ devolucdo/restituigdo? se bem Considerando que “a restituigdo em espécie, apds a declaragéo de nulidade ou a decretagao da anulac&o do negécio, nao é possivel em muitos casos: pode a coisa ter sido consumida ou ter desaparecido, e pode ter-se constituido sobre ela um direito de terceiro, que deva ser respeitado nos termos do artigo 291.°”, Pires de Lima e Antunes Varela avancam, sem hesitacdes, que “nestes casos haverd lugar @ restituigao em valor. Como a restituigdéo abrange tudo 0 que tiver sido prestado (quer se trate de declaragao de nulidade, quer da decretagao da anulagao), ndo ha que atender as regras do enriquecimento sem causa”. Explicando 0 dmbito da restituigdo, a que alude o art. 289.°, Carlos Mota Pinto, afirma que, “em consondncia com a retroactividade haveré lugar é repristinagdo das coisas no estado anterior ao negocio, restituindo-se tudo o que tiver sido prestado ou, se a restituig&o em espécie nao for possivel, o valor correspondente (artigo 289.°, n.° 1). Tal restituig&éo deverd ter lugar, mesmo que se ndo verifiquem os requisitos do enriquecimento sem causa, isto é, cada uma das partes obrigada a restituir tudo 0 que recebeu e ndo apenas com que se locupletou, ao contrario do Cédigo Civil Alemao””. Continuando as suas reflexées, este autor entra, ent&o, naquilo que verdadeiramente nos interessa indagar aqui: a natureza da obrigacdo de restituigdo e a sua compatibilizagdo com o regime das dividas de valor. Escreve Paulo Mota Pinto, a este propésito, que “embora com vozes discordantes e nem sempre acompanhada pela jurisprudéncia, a qualificagdo como dividas de valor das obrigagées de restituigao, cujo objecto nao consiste directamente numa importanci ‘monetaria mas antes numa prestacao diversa, tem sido sustentada entre nds (...)» (sublinhado e negritonosso). ou soma LVI. Aqui chegados &é tempo de concluir, como o faz a methor doutrina, que a obrigacdo de restituigdo fundada na resoluedo, por via da aplicagao remissiva do art. 289.°, n.° I, ex vi do art, 433.%, ambos do CC, é uma verdadeira divida de valor, neste sentido se pronunciando, abertamente, os seguintes autores: LVIL. Para Vaz Serra (embora recorrendo 4 analogia com 0 enriquecimento sem causa): “uma vez admitido que a obrigagao de restituigdo do valor das prestagdes efectuadas em cumprimento de um contrato anulavel (ou depois de anulado), por ser impossivel a restituigdo em espécie (Céd. Civil, arts. 289.°, n.° 1, 479.°, n.° 1), uma divida de valor, segue-se que «o risco de uma depreciag&o da moeda néo afecta o credor ou sé o afecta em pequena mediday, como é proprio das dividas de valor. Nesse caso, a divida, expressa em dinheiro, pode ser actualizada, de maneira a atribuir ao credor 0 mesmo poder aquisitivo que a prestacao tinha no momento em que a obrigagao se constituiu (Céd. Civil, art. 551.9)”. LVIII. Com maior rigor e desenvolvimento, Branddo Proenca, tece os seguintes comentarios: “apesar de a obrigacao de restituigdo do valor, em consequéncia de resolucdo, nao estar sujeita aos principios correctores do enriquecimento sem causa, cremos poder falar aqui também de «dividas de valor», cujo respectivo calculo devera ser feito no momento em que a contraparte (depois de Ihe haver sido declarada a resolug&o) declara a sua impossibilidade de restituir o recebido ou na data da propositura da acgdo de resolugdo. Esta posigdo ndo desvirtua (pelo ‘menos numa visdo global do facto resolutivo) a exigéncia de uma certa paridade na «liquidagdo», na medida em que a atribuig&o ao titular do direito de um quantitativo monetario que the permita (desde que se trate de uma coisa fungivel) adquirir 0 mesmo objecto (e que, v.g., a contraparte alienou onerosamente a um terceiro devidamente protegido) tem a sua «ustificagéo» no sentido reintegrador da resolucdo”” LIX. Mais recentemente, Maria Clara Sottomayor redigiu: “a obrigagao de restituigdo representa o lado subjectivo do regime da nulidade, e visa, por isso, repor as partes no status quo ante, ou seja, restituir-Ihes 0 equilibrio econdmico vigente antes de o contrato ser executado, Este aspecto do regime da nulidade tem por objectivo nao sé reintegrar a ordem juridica violada pelo negocio juridico nulo, destruindo a aparéncia criada por este, mas também eliminar as suas consequéncias econdmicas. A obrigacao de restituig&o assume, assim, uma finalidade semelhante @ responsabilidade civil, podendo, portanto, ser caracterizada, tal como a obrigagdo de indemnizagdo, como uma divida de valor” LX, Isto tudo a revelar que sendo, como clara e indubitavelmente supra se provou, 0 crédito dos Exequentes uma verdadeira divida de valor e, como tal, sujeita & competente atualizagéto monetéria, LXI. Atualizagao essa que teré de ser feita de harmonia com o valor atual, ou seja, €53.744,92 (cinquenta e trés mil setecentos e quarenta e quatro euros e noventa e dois céntimos) acrescida dos competentes juros LXIL. Assim, e por tudo 0 supra explanado, e sem necessidade de mais amplas consideragées, devem V/Exas., Venerandos Desembargadore. revogar o Acérdao proferido pelo Tribunal da Relagao de Guimaraes, e, nessa sequéncia, proferir decisio no sentido de considerar a sentenca proferida pelo Tribunal de 1." Instancia no dmbito do Proceso n.° 4080/16... como verdadeiro titulo executivo, LXIIL. Bem como qualifique o crédito dos Exequentes como divida de valor e, assim, reconheca e valide o pedido apresentado por estes ultimos no requerimento executivo, sendo os Executados condenados a pagar o montante total de € 57.017,64 (cinquenta e sete mil e dezassete euros e sessenta e quatro céntimos). LXIV. Pois s6 assim se fard inteira Justi¢a Material! Termos em que e nos melhores de Direito deverdo V/Exas, Venerandos sselheiros, proferir decisdo que nessa conformidade: a) Julgue o presente recurso procedente e revogue o Acérdéo recorrido, e, nessa sequéncia, proferir decis&o no sentido de considerar a sentenca proferida pelo Tribunal de 1. Instancia no dmbito do Processo n.° 4080/16... como verdadeiro titulo executivo; Sem prescindir, b) Julgue o presente recurso procedente e revogue o Despacho recorrido, e, subsequentemente, proferir decis&io que qualifique o crédito dos Exequentes como divida de valor e, assim, reconhega e valide o pedido apresentado por estes tiltimos no requerimento executivo, sendo os Executados condenados a pagar 0 montante total de € 57.017,64 (cinquenta e sete mil e dezassete euros e sessenta € quatro céntimos) Com o que fardio inteira Justica”’ Responderam os embargantes e concluem: “LO indeferimento dos pedidos da atualizagéo moeda pelo INE, os juros moratorios e a sancdo pecunidria compulséria indicados no requerimento executivo, foi determinado pela sentenca proferida em primeira instancia e confirmado pelo acérdao proferido pelo Tribunal da Relagdo de Guimaraes, pelo que, nos termos do n.° 3 do art.” 637.” do CPC, néo deve o presente recurso, quanto a estes pedidos, ser admitido. II. No que concerne d restituicéo do montante € 12.968,74 (doze mil novecentos e sessenta e oito euros e setenta e quatro céntimos), 0 preco declarado na escritura de compra e venda, apesar de haver uma condenacéo em primeira instancia e uma decisio contraria no Acérdio do Tribunal da Relacao, o facto é que esta deciséto desfavorivel para 0 recorrente néo é superior a metade da algada desse tribunal (art® 678°, n° L alinea b) do do CPC). O valor da sucumbéncia é inferior a metade da aleada do Tribunal da Relagdo. III. Em conclusao, ndo deve, pelas razées indicadas, 0 presente recurso ser admitido. IV. Os recorrentes/exequentes/autores pretendem executara sentenca proferida no processo n.” 4080/13... do Juizo Central Civel ... — Juiz... que decretou a anulacao do negécio de compra e venda celebrado através da escritura piiblica outorgada em 23.03.1985, determinado, em consequéncia, 0 cancelamento da inscrigdo da aquisig&o do direito de propriedade a favor dos Autores efetuada pela AP. ..1 de 1985/03/27 sobre a fragiio descrita sob 0 n.° ..17.. V, Toda a aga executiva tem por base um titulo, pelo qual se determinam o fim e os limites da agao executivo — artigo 10.°, n.° 5 do CPC, sempre que o pedido néo harmonize com esses fins ou os limites estamos perante a violagao deste preceito, é como seniio houvesse titulo executivo. VI. A condenagdo proferida tem que estar contida no pedido formulado na petigéo inicial ou nas suas eventuais alteragées, como aconteceu na sentenca proferida na agao declarativa, onde claramente se respeitou este principio. VII. Nunca os recorrentes/exequentes/autores, ao longo de todo 0 processo declarativo, bem como nas alegacdes e contra-alegacdes nos recursos nele apresentados, alguma vez, ao de leve que fosse, fizeram qualquer referéncia ou mencdo a existéncia de uma qualquer quantia patrimonial, muito menos que tinham a intensdo ou direito ao ressarcimento ou restitui¢ao desse montante. VIII. Decorre tradicionalmente do principio do dispositivo que 0 tribunal apenas pode fundar a sua deciséo em factos alegados pelas partes. IX. Os artigos 609.°, n.° I ¢ 608.", n.° 2. do CPC so manifestagao méxima do principio do dispositivo face ao principio da autonomia da vontade, cabe as partes definir nos respetivos articulados o objeto da causa, aos quais 0 Juiz fica limitado na apreciagéo que fizer do litigi X. O contetido da sentenca deve cingir-se aos limites definidos pelas pretensées das partes formuladas na acéo, 0 que é considerado “micleo irredutivel” do principio do dispositivo. XI. Ea esta pretensdo que o tribunal esté adstrito nao podendo decretar outro efeito, alternativo, apesar de legalmente previsto. XII. Neste sentido citamos Anténio Santos Abrantes Geraldes: “As partes, através do pedido, circunscrevem 0 “thema decidendum”, isto é, indicam a providéncia requerida, ndo tendo o juiz que cuidar de saber se @ situacao real conviria ou ndo providéncia diversa” (Temas da Reforma do Processo Civil - Volume I~ p. 53 XIII. Os recorrentes/exequentes/autores, no exercicio do principio da autonomia da vontade, formularam em juizo um pedido de condenagéo dos recorridos/executados/réus “...a procederem & retificacdo da escritura publica de 23MAIB5, alternativamente, caso assim nao suceda seja a mesma anulada, no que concerne @ titularidade e registo a favor dos AA., da fracdo auténoma correspondente @ segunda loja do 1.°andar, a contar do Sul, destinada a atividades econdmicas, designada pela letra E, descrita na ... Conservatoria do Registo Predial .. sob 0 n."...93, sita na Rua Ma... n°. da freguesia n,n, COMO artigo matricial urbano sob 0 n.° 1409 NIP;” XIV. Era esta, ndo mais, a pretensio dos recorrentes. Estes nunca pretenderam obter do tribunal uma decisdo que ao anular a escritura publica de 23MAI85 obrigasse os recorridos a restituir 0 preco constante daquela escritura, onde adquiriram a fragdo D, loja dois, norte da loja um e contigua com ela, descrita na Conservatéria do Registo Predial ... sob 0 n.°...87 sita na Rua N..., n.?... d...., freguesia ,em..., como artigo matricial urbano n.° ...37. XV, Os recorrentes pretendiam com o recurso a uma agdo de processo comum que thes fosse reconhecido o direito a titularidade/propriedade da jé identificada fragdo E, como consequéncia legal da retificagdo ou anulacdo da escritura publica de 23 de maio de 1985, onde os recorridos adquiriram aos recorrentes uma outra fracdo designada por D. XVI. Os recorrentes, entanto autores no processo declarativo, tendo 0 direito de apresentar em juizo a seu pedido e 0 énus de o fazer nos ‘momentos processualmente apropriados para o feito, n&o 0 tendo querido exercer, por inércia ou intensiio, nao podem, mais tarde no seu requerimento executivo, pedir ao tribunal que lhe conceda esse direito. Do mesmo modo, como nao pode o tribunal oficiosamente the suprir essa omisséo. XVII. Este bem o acérdao do Tribunal da Relagdo de Guimaraes ao concluir que “Nao se pode assim inferir da fundamentacao da sentenca que se quis condenar os réus a restituirem aos autores a quantia declarada como preco que pagaram na escritura que titulou 0 negécio anulado. Pelo contrério observou-se escrupulosamente o principio do pedido e os limites da condenagao previstos no art.° 609° do CPC.”, julgando, deste modo, “...procedentes os embargos e sem titulo a execugao, determinando-se a sua extingiio.” ASSIM SENDO, deve ser rejeitando por inadmissivel o recurso interposto, mantendo-se 0 acdrdao proferido, fardo a esperada JUSTICA!”. O recurso foi admitido. Cumpre apreciar e decidir. Nas Instancias foram julgados como provados ¢ no provados, os seguintes factos: “III - FUNDAMENTOS DE FACTO A) Factos considerados provados na sentenca recorridé «.- Por douto acérdao proferido no ambito da agéo comum n.” 4080/16...., foi decidido o seguinte (negrito nosso): “(...) VI. Dispositivo Nestes termos, julgo a agao parcialmente procedente e, em consequéncia: a. Decreto a anulagéo do negécio de compra e venda celebrado através da escritura piiblica outorgada em 23.05.1985, determinando, em consequéncia, 0 cancelamento da inscrigdo da aquisic&o do direito de propriedade a favor dos Autores efetuada pela AP. ...1 de 1985/03/27 sobre a fragio descrita sob 0 n.° 17. b. Absolvo os Réus do demais peticionado. Valor da agao: o fixado a fis. 362. O remanescente das custas em divida (cfr: ls. 241 /verso e 358) a cargo dos Autores e dos Réus, na proporcaio de 10% e 90%, respetivamente (cfr. artigos 527°/172, do CPCiv), sem prejuizo do beneficio do apoio judicidrio de que gozam os primeiros. Registe e notifique. Apés transito, comunique a presente deciséio a Conservatoria do Registo Predial competente, nos termos e para os efeitos do disposto no artigo 37/1,c) e 8°-B/3,a), do Cédigo do Registo Predial.”. apresentado & execucdo, cujos dizeres se dao aqui por integralmente reproduzidos. 2.- Nos dizeres desse douto acérdéo, resultou provada e nao provada a seguinte factualidade: “IV. Fundamentacdo de facto A- Factos provados. Discutida a causa, resultaram provados os seguintes factos: 1 - Os Autores encontravam-se emigrados em ..., tendo sido representados pelo sogro e pai da Autora, GG, na celebragéo da escritura mencionada em 7 (parte do artigo 2°, da peti¢ao inicial — fls. 95); 2- Sd aquando da resolucdo de problema relacionado com a Administragdo do Condominio é que tomaram conhecimento de que possuiam parte da fragdo «E» e que eram titulares da fragdo «D» (parte do artigo 8°, da peticao inicial — off: fs. 95). 3 - Os Autores nunca utilizaram nem deram qualquer uso ou fruigao a fracdo «D», sempre tendo usado, para atividades econémicas, parte da ‘fracdo «Ey, onde instalaram 0 «Minimercado ...», 0 que fizeram até 2007, tendo-a, depois dessa data, arrendado (parte dos artigos 10°, 11° 25° e 29°, da petigdo inicial — eff: fs. 95 e 96). 4- Antes da celebragao da escritura mencionada em 7, ficou convencionado entre os Autores ¢ 0 Réu marido que a fracao objeto da venda seria parte da fracéo «E» e n&o a «D» (artigo 30°, da resposta — oft. fls. 344). 5-A fragéo «Dy nunca lhes foi mostrada por quem quer que seja, ndo the foram entregues as chaves da loja e nunca fizeram qualquer uso ou proveito da mesma na exploragéo da sua atividade (artigo 34°, da resposta ~ off. fls. 345). 6 - Por erro do Réu CC, foi escriturada e transmitida a fragao «D» (parte do artigo 35°, da resposta cfr. ls. 345). § Considerados nos termos do artigo 6077/4, do CPCiv: 7 - Por escritura publica de compra e venda e mituo com hipoteca, celebrada a 23.05.1985, no ... Cartério Notarial ..., CC, por sie na qualidade de procurador de DD, declarou vender a BB e mulher AA, ali representados por GG, declarou vender, pelo preco de dois milhées e seiscentos mil escudos, a fragao auténoma «D», loja dois, a norte da loja um e contigua a ela, destinada a atividades econémicas, no rés-do- chao com entrada pelo nimero ...1 (onze) de policia da rua M..., do prédio sito na Rua ..., com os nimeros 33 (trinta e trés) e 35 (trinta e cinco). 8 - A aquisigao da frac&o auténoma designada pela letra «D» encontra-se inscrita a favor dos Autores através da AP. ...1 de 1985/03/27. B - Factos nao provados: Discutida a causa, néo resultaram provados os seguintes factos: 9 - O conhecimento indicado em 2 ocorreu no final de 2015. 10 - Foi por erro dos restantes Reus (para além do indicado em 6) que houve lugar & escrituracao e transmissao da fragao «D» (parte do artigo 35°, da resposta — oft fs. 345).” 3.- Os executados néo devolveram aos exequentes o que receberam destes na sequéncia da celebracdo da escritura de compra e venda do imével. B) Tem ainda interesse, para a interpretagdo da sentenca dada a execugio, 0 seguinte: BI — Na acgaio 4080/16.... os autores, aqui exequentes, formularam os seguintes pedidos: A, Se condene os Réus procederem & retificagéo da escritura piblica de 23.05.1985, no que concerne é titularidade e registo a favor dos Autores, da fracdo auténoma correspondente @ segunda loja do 1.° andar, a contar do Sul, destinada a atividades econdmicas, designada pela letra «Ep, descrita na ... Conservatoria do Registo Predial ... sob 0 n.°...93, sita na rua M..., n.° ., da freguesia .., .., Com 0 artigo ‘matricial urbano sob 0 n.° 1409 NIP; B. Se declare que os Autores sao donos exclusivos e legitimos proprietirios da fragao acima indicada na al. a), segunda loja do 1.° andar, designada pela letra «Ep, descrita na ... Conservatoria do Registo Predial ... sob 0 n.”...93, sita na ru Mu, 0." sy my € S€ condene os Réus a reconhecer o seu direito de propriedade, por fora do direito de aquisig&o origindria por via de usucapiao na forma sobredita; C. Se oficie ds entidades competentes, a fim de procederem de acordo com o enunciado nas al.s a) e b) deste pedido, nomeadamente quanto ao prédio designado pela letra «Ep, descrito na ... Conservatoria do Registo Predial ... sob on.” ...93, & pertinente retificacdo, averbamento e inscrigao da fracao auténoma, a saber: cl) - O (a) Exm.” Sr. (a) Notario (a) sob a direcdo da Sr.* Dr.“ HH, Praca ou outro, de acordo com o supra descrito na al. a) deste pedido, se digne proceder & retificagao de escritura publica de 23.05.1985; 2) - O (a) Exm.° Sr. (a) Conservador da 2." Conservatéria de Registo Predial a cargo do Sr. Dr. Il, sita na rua .. ou outro, a fim de proceder ao cancelamento de inscrig&éo em nome de F..., L.da, com sede NA PUA oy 4 4 (Sécia Gerente: JJ), anotagao e averbamento de nova inserig&o a favor dos Autores; 3) - O (a) Exm.° Sr. (a) Chefe da Repartig&éo de Financas ..., sob a chefia do Sr. KK, sita na rua Moura ...,....... para proceder & revogacéo de inscrigdo matricial sob o n.° 1039-E de fls. (1409NIP) em nome de F..., L.da, com sede nd rd. 15. (Sdcia Gerente: JJ) & averbamento de nova inscrigdo a favor dos Autores. Em «alternativay: D. Se condene os Réus, a suas expensas, a obter autorizacées (e obras) necessdrias, junto das entidades competentes, para que a 2.“ unidade antes destacada pelo primitivo proprietario, CC, seja objeto de propriedade horizontal, e por conseguinte, pertenga daqueles, e se condene os Réus a reconhecer o direito de propriedade dos Autores sobre a 1.“unidade; E. Caso de todo néio seja possivel, se condene os Réus a reconhecer 0 direito de propriedade dos Autores, por forca do direito de aquisigéo origindria, por via de usucapido na forma sobredita, devendo a fracdo, no seu todo, ser-lhes reconhecida e atribuida (cf: fls. 94 a 104). B.2 — Apés despacho preferido em audiéncia prévia (doc. 2 da petic&o inicial dos embargos de executado), foram os recorridos notificados para esclarecerem “... se existiu erro de escrita quanto & mencdo relativa d fracdo "D" ou se houve divergéncia sobre 0 objeto do negocio e, neste caso, se o erro foi induzido pelos compradores e se estes eram conhecedores da essencialidade do mesmo”. E em resposta a este despacho, os recorridos procederam é alteracao do seu pedido, nomeadamente, ao item C, pedido principal, item Cl, al. a) da peti¢ao inicial, que passou a ter a seguinte redaceao (doc. 3 da petigdo inicial dos embargos de executado): = “Devem os RR. procederem ai retificacéio da escritura piiblica de 23MAIS5, alternativamente, caso assim ndo suceda seja a mesma anulada, no que concerne & titularidade e registo a favor dos AA., da fracdo auténoma correspondente é segunda loja do 1.° andar, a contar do Sul, destinada a atividades econdmicas, designada pela letra E, descrita na ... Conservatoria do Registo Predial ... sob 0 n.°...93, sita na Rua M..., n.°..., da freguesia ..., .., com 0 artigo matricial urbano sob on.° 1409 NIP;” B.3~Na fundamentacao da sentenca exequenda consta: — «(...) O provimento da pretensio de ver anulada a escritura piiblica importa as consequéncias previstas no artigo 289°/1, do CCiv, de acordo com a qual tanto a declaragéo de nulidade como a anulacdo do negécio tém efeito retroativo, ou seja, deve ser restituido tudo que tiver sido prestado, ou, se a restituigdo néo for possivel, o valor correspondente. Os Autores néto sao explicitos a pedir a restituig&o do que foi prestado, limitando-se a dizer que a escritura seja anulada, no que concerne d titularidade e registo a favor dos Autores, acrescentando, apés, uma referéncia a segunda unidade da fragdo designada pela letra «E> (cfr: Als. 340/artigo 5°) Embora o cardcter equivoco desta tiltima mengéo, cré-se que ela é feita no pressuposto de que a anulacao teria como efeito a substituicé&to da fragéio «D» pela fragdo «E, na parte ocupada pelos Autores. Porém, a anulagdo da escritura nao confere o direito a retificagéto da escritura, nem d troca de objetos negociais, mas apenas hé recuperacdo retroativa das prestacées realizadas. A hipotese de validagao do negécio, regulada no artigo 248°, do CCiv, néo tem aqui aplicagao, porque o Réu CC nao aceitou o negécio como o declarante o queria, o que resulta evidente do facto de ele ter procedido @ alienagéo posterior a terceiro da fracdo designada pela letra «E>. A respeito das consequéncias da anulabilidade, 0s Autores aludem & titularidade formal e registo a favor dos Autores, inferindo-se que esto a reportar-se ao cancelamento do registo, o que é consequente da alteragao provocada na ordem juridica por forca daquela.» B4— De tal sentenca apenas foi interposto recurso da decisdo da matéria de facto, que improcedeu, pelo que 0 acérdao limitou-se a confirmar a sentenca recorrida”. Conhecendo: Sio as questdes suscitadas pelo recorrente e constantes das respetivas conclusdes que o tribunal de recurso tem de apreciar — artigos 608°, 635°, n? 3.5 ¢ 639°, n° 1, do CPC. No caso em anilise questiona-se: “a) Por um lado, se a sentenca dada a execugdo constitui titulo executivo; b) E por outro, se assim se concluir, saber se 0 crédito dos Exequentes constitui divida de valor, devendo o valor nominal da quantia a restituir ser atualizado””. A) - Titulo executivo: O titulo executivo & 0 documento que pode, segundo a lei, servir de base 4 execucdo, sendo que a lei, atualmente o art. 703°, do CPC, indica, de forma taxativa, os titulos que podem servir de base & execugao. Anselmo de Castro in Da Agdo Executiva Singular, Comum e Especial, 3*ed., pag. 14 refere, “Define-se titulo executivo o instrumento que ¢ considerado condicao necessaria e suficiente da ago executiva” Dividindo as espécies de agdes consoante o fim, o art. 10° do CPC divide as agdes em declarativas oi executivas, sendo que as declarativas (que ora interessa) podem ser de simples apreciagao, de condenacao e constitutivas. No caso serviu de base a execugo, uma sentenga, sendo que o titulo executivo sentenga vem indicado na al. a), do n° 1, do art. 703°, do CPC, abrangendo apenas as sentencas condenatérias. es declarativas de Questo pertinente é a de saber se apenas as condenagio contém forga executiva. Num entendimento mais restrito, alguns autores consideram que apenas as sentengas proferidas em ages declarativas de condenagio constituem titulo executivo, enquanto outros, num entendimento mais alargado, sustentam que constitui titulo executivo toda a sentenga que no dispositivo contenha uma componente condenatéria, independentemente da espécie de ago que lhe deu origem. E este entendimento mais abrangente, o de Lebre de Freitas, in “A Ago Executiva — A Luz do Cédigo de Processo Civil de 2013”, 6* ed., p.54, que considera que o legislador ao utilizar a expresso “agdo de condenag’o” no art, 10° e diferentemente “sentencas condenatérias”, no art. 703°, n° 1 al. a), ambos do CPC, quis admitir a possibilidade de serem executadas sentengas proferidas em ages diversas das declarativas de condenagio. Era também o entendimento de Lopes Cardoso, in CPC anotado, 3* ed., pag. 71. E como ensina A. dos Reis in Processo de Execugio, vol. I, 3* ed., pag. 68, “E 0 titulo que autoriza 0 credor a mover a acgdo executiva; é 0 titulo que define o fim da execugo; & 0 titulo que marca os limites do procedimento executivo”. Situagdes de alargamento para além das sentengas condenatorias verifica-se com mais frequéncia em alguns processos especiais E exemplo o Ac. da Rel. de Lx., de 19-10-2006, proferido no Processo n°6325/2005-2, de cujo sumario consta: “/- A sentenga proferida em acedo declarativa constitutiva de divércio que declarou o divarcio e condenou 0 Réu no pagamento d Autora de certa quantia pecunidria a titulo de indemnizacao por danos morais, ao abrigo do art.’ 1792, do CCir, é titulo executivo bastante para o pedido de juros de mora sobre aquela indemnizagéo, juros de mora esses a contar deste o transito em julgado dessa decisao”. Questo que veio a ser julgada de forma diferente no Pleno das Secgdes Civeis do STJ, no Acérdio de Uniformizagao de Jurisprudéncia n.° 9/2015, in DR. I* S. de 24 de junho de 2015, com o seguinte segmento uniformizador: “Se o autor ndo formula na peticao inicial, nem em ulterior ampliacao, pedido de juros de mora, o tribunal nao pode condenar o réu no pagamento desses juros”. E 0 Ac. do mesmo Tribunal da Relagao, de 26-11-1992, in Col. Jurisp., 1992, tomo V, pag. 128, refere no respetivo sumario: “- Para que a sentenca possa servir de base d execucao, néo é necessirio que condene no cumprimento de uma obrigacdo, bastando que esta obrigagao fique declarada ou constituida por essa sentenca IL- Apesar de 0 inventério nao ser uma agdo de condenagao, 0 certo é que a sentenca homologatoria de partilhas fixa definitivamente, apds 0 seu transito em julgado, o direito dos interessados, nomeadamente quanto aos bens que lhes foram adjudicados. III- Se 0 cabeca de casal se recusar a entregar tais bens aos interessados, a sentenca homologatéria de partithas serviré de titulo executivo para obter tal entrega.” E também refere 0 Ac. do STJ de 18-03-1997, in BMJ 465, pag. 507, “... as novas concepgées do processo civil, cada vez mais desapegadas dos vicios do formalismo e do conceitualismo, visando acima de tudo por o processo ao servico da justica material, com economia maxima de meios e de tempo”, no entanto, o decidido nesse acédrdao de que “a sentenca que declare procedente a acdo de preferéncia, reconhecendo ser o autor o proprietério do imével, tem implicita a condenacéo do preferido a reconhecer e respeitar esse direito de propriedade, sendo também uma sentenca condenatoria e, por isso, titulo executivo”, apenas respeita 4 entrega do bem e nio a executar a quantia que estivesse em causa (no proceso de preferéncia a quantia encontra-se depositada e, no caso houve autorizagao para a levantar). Eno Ac, do STJ de 9-05-1996, in BMJ n° 457, pag. 263 sumariou-se que “Declarada na sentenca, ao abrigo do art. 289, n° 1, do Céd. Civil, a nulidade dos contratos de compra e venda dos prédios negociados, ha lugar d restituic&o simultanea dos mesmos e dos montantes dos precos desembolsados 4 sociedade autora e aos réus compradores, respectivamente”, no entanto, é de relevar que se encontra como provado o facto de que “contestando essa acgdo, vieram os réus, prevenindo a hipétese de nulidade das vendas e da procedéncia do pedido, deduzir reconvencdo, peticionando a condenagdo da autora no pagamento do valor actual dos prédios objecto dos contratos referidos”, e 0 Ac. do STJ recorreu “a parte motivatéria da sentenca para reconstituir e fixar 0 verdadeiro contetido da deciséo” porque 0 ‘Ac. da Relago havia revogado em parte a sentenga ¢ absolvido a autora do pedido reconvencional, o que deu causa ao voto de vencido que entendeu que a Relago nao havia condenado a autora a restituir o prego aos réus, Assim, temos que questdo distinta de haver segmento condenatério em agdo declarativa constitutiva é, 0 considerar-se titulo executivo uma sentenga sem condenagio, Como salienta 0 acérdio recorrido, retirou-se da sentenga dada a execugio o acima exposto na matéria de facto sob a al. “B) Tem ainda interesse, para a interpretacdo da sentenca dada a execucdo, 0 seguinte:”, resultando de tal matéria que aos aqui embargados nao interessava a restituigdo do prestado, mas a conversio do negécio & substituigdo das fragdes incorretamente designadas pelas corretas. Assim que no e pode concordar com o alargamento pretendido, porque nao ha condenagao na restituigio. Para uma sentenga servir de titulo executive tem, a mesma, de conter uma condenagio expressa (mesmo que o pedido de condenagao nao seja a pretensdo principal, deve estar implicito e como resultante da declaragdo de nulidade do negécio) e, s6 assim é uma sentenga condenatoria. Deve, pois, a sentenga condenatéria ser resposta a um pedido formulado pelo autor, pelo menos implicitamente. Nao sendo formulado pedido de condenago, mesmo sequencial 4 procedéneia de outro que Ihe serve de base, nunca a sentenga que vier a ser proferida pode conter ou servir de titulo executivo. Até porque, conforme art. 609°, n° 1, do CPC, consagrando o principio da vinculagao do juiz ao pedido formulado dispée, “a sentenga nao pode condenar em quantidade superior ou em objeto diverso do que se pedit” e constituindo nulidade da sentenga a condenagdo em quantidade superior ou em objeto diverso do pedido, conforme preceitua a al. ¢), do n? 1, do art. 615°, do mesmo Cédigo. O que no se compadece com a alegada, pelo recorrente, “lexibilizagao do principio do pedido” Assim como violaria 0 principio do dispositive, consagrado no n° 1, do art. 3°, do CPC, estruturante do processo civil, que impede que 0 tribunal resolva conflitos de interesses sem que lhe seja pedido por uma das partes. Concordando-se com 0 decidido no Ac. deste STJ de 04-02-2021, proferido no Proc. n° 6837/17.4T8LRS.LI.S1, “Il. A declaragao de nulidade do contrato implica também a declaragio dos seus efeitos, mantendo-se dentro do ambito dos poderes cognitivos do tribunal a declaragdo da restituicao do sinal prestado”, mas tem de ser declarada a restituigio e, verifica-se que no caso concreto apenas se decretou a anulagao do negécio, nada se referindo em relagdo & restituigao, sendo certo que nem era essa a pretensio dos autores nessa ago onde foi proferida a sentenga dada a execugdo e contestada como titulo executivo nos presentes embargos. E nada mais se poderia dizer porque nada de relevante consta na fundamentagao. Tendo em conta os factos provados nestes autos, nomeadamente: “Por douto acordao proferido no dmbito da acéo comum n.° 4080/16...., foi decidido o seguinte: “(...) VI. Dispositivo Nestes termos, julgo a acdo parcialmente procedente e, em consequéncia: a. Decreto a anulacdo do negécio de compra e venda celebrado através da escritura piblica outorgada em 23.05.1985, determinando, em consequéncia, 0 cancelamento da inscrigao da aquisic&o do direito de propriedade a favor dos Autores efetuada pela AP. ...1 de 1985/03/27 sobre a fragéo descrita sob 0 n.° ..17..; b, Absolvo os Réus do demais peticionado”; Resultando da matéria de facto apurada que aos aqui embargados interessava a conversio do negécio anulado e a substituigao das fracoes incorretamente designadas (que foram causa da anulagio) pelas corretas, no existe, mesmo implicitamente, um pedido de restituigdo do prestado. Temos que ndo houve (nem podia haver por ndo peticionado) nenhuma condenagdo dos ora embargantes a restituirem o prego (ou qualquer outra quantia) aos embargados/exequentes. E como diz 0 acérdao recorrido, “Sucede que no presente caso a fundamentagao da sentenca limita-se, em sintese, a referir que a anulagao do negocio (por erro) apenas poderia ter por consequéncia a restituigdo do que foi prestado, mas que néo é isso que os autores pretendem, nem peticionam, sendo que a sua pretens&io nao pode ter provimento”. E temos que no presente caso também nao tem aplicago a doutrina do Acérdao Uniformizador de Jurisprudéncia n° 3/2018 in DR. 1" S. de 19- 02-2018, com o seguinte segmento uniformizador: “O documento que seja oferecido a execugéo ao abrigo do disposto no artigo 46.°, n.° 1, alinea, c), do Cédigo de Proceso Civil de 1961 (na redacc&o dada pelo Decreto -Lei n.° 329 -A/95, de 12 de Dezembro), e que comporte 0 reconhecimento da obrigacdo de restituir uma quantia pecunidria resultante de miituo nulo por falta de forma legal goza de exequibilidade, no que toca ao capital mutuado” No caso em analise nao existe reconhecimento da obrigacao de restituir uma quantia pecunidria, antes resultando a diivida face ao facto n° 3 dos no provados, “3.- Os executados nao devolveram aos exequentes 0 que receberam destes na sequéncia da celebragéo da escritura de compra e venda do imével”, (nio provado que os executados nao devolveram). Pelo que se conclui que a sentenga em causa nao constitui titulo executivo. Face a esta decisio fica prejudicado 0 conhecimento da segunda questao suscitada. Sumario elaborado ao abrigo do disposto no art. 663 n° 7 do CPC: 1- O titulo executivo é o documento que pode, conforme o art. 703°, do CPC, servir de base & execugio, sendo que a lei indica, de forma taxativa, os titulos que podem servir de base 4 execugao. II - Num entendimento mais restrito alguns autores consideram que, apenas as sentengas proferidas em agdes declarativas de condenagio constituem titulo executivo, enquanto outros, num entendimento mais alargado, sustentam que constitui titulo executivo toda a sentenga que no dispositivo contenha uma componente condenatéria, independentemente da espécie de ago que Ihe deu origem. III - Questo distinta a de haver segmento condenatério em agao declarativa constitutiva é, 0 considerar-se titulo executivo uma sentenga sem condenagio. IV- Resultando da matéria de facto apurada que aos aqui embargados interessava a conversio do negécio anulado e a substituigao das fracdes incorretamente designadas (que foram causa da anulagiio) pelas corretas no existe, mesmo implicitamente, um pedido de restituigdo do prestado. V - Inexiste sentenga condenatoria que constitua titulo executive que abranja a restituigdo do prestado quando apenas foi pedida a anulabilidade do negécio e do dispositivo condenatério conste “Decreto a anulagao do negécio de compra e venda celebrado através da escritura piiblica outorgada em 23.05.1985, determinando, em consequéncia, o cancelamento da inscrigéo da aquisicdo do direito de propriedade.” Decisao: Pelo exposto, acordam em julgar improcedente o recurso, nega-se a revista e, mantém-se o acérdio recorrido. Custas pelo recorrente. Lisboa, 08-11-2022 Fernando Jorge Dias — Juiz Conselheiro relator Jorge Arcanjo — Juiz Conselheiro 1° adjunto Isaias Padua— Juiz Conselheiro 2° adjunto

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