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Processo: Relator: Descritores: Data do Acordio: Vota ‘Texto Intege Meio Processual Sumério: Decisio Texto Integr Acérdio do Tribunal da Relacio de Evora 67-C1199.E1 JOSE LUCIO TITULO EXECUTIVO SENTENCA CONDENATORIA ESCRITURA PUBLICA poacio 27-92-2014 UNANIMIDADE APELACKO 1 ~ $6 constituem titulo executivo, nos termos da alinea a) do n° 1 do art. 46° do CPC anterior, as sentengas condenat6rias, pelo que no pode constituir titulo executivo uma sentenga em que foram julgados improcedentes todos os pedidos deduzidos. 2 Uma eseritura piblica de doagio de iméveis nfo contém nenhuma constituigo ou reconhecimento de obrigagdes por parte de terceiros a esse acto, pelo que no pode constitur titulo executivo (enquadrével na al. b) don. | do art. 46° do CPC anterior) para obter a entrega da coisa de terceizos que estejam a exercer poderes de facto sobre esses iméveis. ‘Sumério do retator Acordam os juizes desta secgao civel do Tribunal da Relagao de Evora: 1 =Relatério 1.1, Os executados, MA... e marido MI... vieram deduzir oposigio & execugdo para entrega de coisa certa que Ihes foi instaurada pelo exequente F., alegando, em sintese e no esseneial, que nfo existe titulo executive a suportar a pretensio deduzida em juizo. 0 exequente contestou & oposigdo, entendendo que a execugio deve prosseguit, por estarmos, perante um titulo executive valido. Foi proferido saneador-sentenga, no qual foi julgada improcedente a oposigdo e determinado © prosseguimento da execugdo, condenando-se ainda os opoentes como litigantes de mi f. 1.2. Inconformados, os opoentes vieram entdo interpor o presente recurso, que foi admitido como de apelagao, [Nas suas alegagSes, formularam as seguintes conclusbes: “A) De acordo com o disposto nas n.*s 1 e 3 do art.° 90." do CPC, sé as execugdes que se fundem em sentenga devem correr por apenso. Dispando, por sua vez, 0 art.°46,1 a) do CPC que & execucio apenas podem servir de base as sentencas condenatérias; B) O douto despacko ao ordenar a apensagia violou a8 n.*s I ¢ 3 do art. 90.°do CPC, porguanto de trata de uma execusao com fundamento num titulo extrajudicial, cabendo-the uma tramitacao ‘auténoma; ©) Werificando-se erro na forma de processo a que alude o art.° 199.° do CPC, devendo determinar-se que seja desapensada e remetida aos autos onde inicialmente havia sido distribuida; D) A execugao se baseia num titulo extrajudicial —a escritura de doacao; £) Nao se executa a sentenca proferida na acdo declarativa, ademais que, nesta, julgada improcedente, nada hi a executar; F)A limitagao imposta pelo art.* 929.°/3 do CPC, como decorre do proprio texto, sé é aplicdvel ‘nos casos em que o titulo dado & execueio seja uma sentenca condenatiria; G) Devendo ter-se por admissivel o pedido reconvencional com fundamento em benfeitorias, ¢ violade o dispasto no art.” 929.°do CPC: H) Inesiste na titulo dado d execugo — escritura de doacdo — quer na sentenca proferida nos autos de ago meramente declarativa a obrigacdo dos Opoentes, ora Recorrentes, procederam d entrega de coisa certa; 1) Nunca o Recorrido peticionou na asia declarativa a entrega das bens iméveis; I) Dispée o art." 45.71 do CPC, que toda a execugdo tem por base um titulo, pelo qual se determina o fim eos limites da ago executiva, tendo a douta sentenca em erise violado a citada disposigdo e os arts. 264."¢ 661," do CPC, desrespeitando-se a garantia consagrada no art.” 20," 1.4 da CRP. a um processo equitativo, que 6 expressio da proibicao de decisoes-surpresa; K) Nao resulta do titulo dado execuedo ~ escritura de doagao ~ serem os Recorrentes os devedores (Cfr art.” 55.°1 CPO); L) Os Opoentes, ora Recorrentes sao parte ilegitima, sendo que a ilegitimidade singular é de conhecimento oficiosa e ndo é sandvel M) A pretensio do Exequente, ora Recorrido é inexequivel inexigivel pois ndo decorre do titulo a obrigasiia de os Recorrentes pracederem d entrega de coiva certa; Nj A accao intentada pelos Recorrentes, foi uma aco declarativa de simples apreciacio, em que se ppedia a declaragao de invalidade da procuracdo com fundamento em incapacidade do sew autor, ‘como se pode aleangar do pedida formulado pelos mesmos nessa acdo; O) Tendo a execugao intentada pelo Recorrido por fim e objeto a entrega de bens iméveis sem que tenha havido pedido e condenagao na sua entrega inexiste caso julgado, P) Aliés, 0 caso julgado nao preclude a possibilidade de invocar diferentes causas de pedir para 0 mesmo pedido, tal como ndo impede a formulagio de outros pedidos, com relacdo a mesma causa de pedir; Q) Os Recorrentes nao ltigaram nem litigam de mé-fé, apenas se limitaram a defender as suas posigdes convictos de serem fundadas e legitimas, 0 que aconteceu foi ndo ter logrado provar ‘actos e ter sido acolhido pelo Tribunal a defesas das posigdes pelas quais pugnavam e que levaram & improcedéncia da acio; ) Carecenda de fundamento a sua condenagio em litigiincia de méi-fé 5) Outro entendimenta, s6 poderd ser tido como um cerceamento intolerivel da convictae livre litigancia dos Recorrentes, negando-Ihes 0 direito a uma justica efetiva, com violagéo do principio do contraditéria e proibigda da indefesa, quem dela carece, a melhor justica possivel; Termos em que, e contando com o douto suprimento, deve julgar-se procedente o presente recurso, revogando-se a douta decisio recorrida.” 1.3. 0 exequente apresentou contra-alegagSes, que termina com as seguintes conclusdes: "A)A presente execusiia tem por base um titulo executiva complexo - exeritura de doasio ¢ sentenca transitada em julgado proferida no processo n.° 67/99, que correu trimites no 3.° Juizo Civel B) O douto despacho recorrido que ordenow a apensagao da execugiio aos autos do processo n.” 67/99, ao abrigo do disposio no art.° 90." n.°3 do CPC, teve subjacente a complexidade do titulo executive. ©) O art." 90.* n.°3 do CPC estatui como, regra geral, a apensagdo das autos da acco executiva 440s autos declarativos, excepeionando-se quando, na comarca onde a sentenca a executar tenha sido proferida (por julzo de competéncia especializada civel au genérica), exista um juizo de competéncia executiva especifica ¢ o processo tenha subido em recurso, D) Desta feta, se, no processo sub judice, as circunstancias excepcionais, descritas na 2."parte do 1n.°3 do art” 90. do CPC, ndo se verificam ¢ 0 titula executivo apresentado & composto também ‘Por uma sentenca judicial, devidamente transitada em julgado, conclui-se pela aplicacao do n.° 3 do art." 90.°do CPC, correndo a execucdo por apenso & acedo principal. B) Determina o n."3 do art 929." do CPC que, na execueio para entrega de coisa certa, a aposicdo com fundamento em benfeitorias sé sera admitida se 0 executado tiver feito valer 0 direito a elas em acgdo declarativa prévia, a titulo de reconvened, sendo este o sentido da expresso «oportunamente», F) Assim, se a questio poderia ter sido suscitada e analisada em sede de acgao declarativa e nao 0 foi por inaceiia des Executados, precludiram estes o poder de conhecimento da mesma pelo tribunal, concluindo-se pela inadmissibilidade legal do pedido reconvencional deduzido a titulo de benfeitorias. G) Cam o recurso a expressia “sentenca condenatéria”, no art. 46." n.° lal. a) da CPC, pretendew o legisladar demarcar o conceito do de “sentenca de condenagéa”, considerada susceptivel equiparar.se a sentenca proferida em accao declarativa de condenagao. H)A douirina e a jurisprudéncia tém defendido que para que a sentenga poder servir de base & acco executiva ndo é necessirio que condene no cumprimento de uma obrigacdo, bastando que esta obrigacio figue declarada ou constituida por aquela. 1) Consequentemente, no obstante a sentenga a executar dimanar de uma acgdo declarativa de apreciagdo, é susceptivel, bem como a escritura de doacio que complementa o titulo executivo, de conter obrigagées, quer explicitas, quer implictas. J) O Acérdao da Suprema Tribunal de Justica declara que os iméveis pertencem ao Exequente, ora Recorrido, ¢ da escritura de doacao decorre a obrigacao de entregar 0 imével livre de pessoas e bens. K) A escritura piblica de doagdo consttui titulo exeeutiva luz do art." 46,°al, b) da CPC por conter em si a constituigio de uma obrigacao, a de enirega da coisa, como deffui,aliés, do normativo inserto no artigo 9$4.° al. a) eb) do CC “A doagio tem como efeitos essenciais: a) A transmissio da propriedade da coisa ou da titularidade do direito; b) A obrigasio de entregar a coisa; (..)". 1) Os Executados, ora Recorrentes, nunca impugnaram a existéncia da abrigagdo de entrega da coisa decorrente do contrato de doagii, considerando-se tal facto admitido por acordo, nos termos do art.° 490." n.°2 1.*parte. M) Pelo que os Executados, ara Recorrentes, sto parte legitima, considerando-se devedores, nos termos do art."$5.°.n.*I do CPC. N) A pretensio do Exequente, ora Recorrido, nao é inexequivel, porquanto nit findada em “documento desprovido de eficdcia executiva", nem inevigivel atento, no limite, o trnsito em julgado da sentenca exequenda. 0) Nato é legitimo que os Executados, ora Recorrentes, venham agora, em sede de recurso da decisio de indeferimento da opasigdo & execusdo, invocar o desrespeito da garantia consagrada no art.°20.% n.°4 da CRP, ie, a proibigao de decisdes-surpresa e a salvaguarda do direito ao contraditéri, P) 0 objecto do litigio ja foi apreciado por diferentes graus de jurisdigdo, inclusivamente pelo Tribunal Constitucional, tendo sido sempre concedida aos Executados, ora Recorrentes, a oportunidade de se manifestarem. Q) Os Fxecutados, ora Recorrentes, simplesmente ndo aceitam que a sua versio em nenhum desses fenha colhido provimento, tanto que tém vindo sucessivamente a aditar novos fiundamentos com vista a protelar a entrega dos iméveis, propriedade do Exequente, ara Recarrido, R) Como seu articulado de oposicio, os Executados, ora Recorrentes, alteraram intencionalmente a verdade dos factos relevantes para a decisio da causa, fazendo da processo e dos meios ‘processuais um uso manifestamente reproviivel, com o fim de conseguir um objectiva ilegal 'S) Conclui-se que agiram com o tinico propésito de entorpecer a justica e de niio assumir as suas responsabilidades, perante a lei, como se poderd ver pelo tempo que ja decorreu desde o inicio dos processos em apenso. Nestes termos e nos methores de Direito que V. Ex.as mui doutamente suprirdo, deve julgar-se improcedente o recurso apresentado pelos Executadas, ora Recorrentes, mantendo-se consequentemente a douta decisdo recorrida, assim se fazendo JUSTIGA! Cumpre agora conhecer do mérito do recurso. 0s Factos Na primeira instincia foi declarada provada a seguinte matéria de facto com relevancia para a “A) MA... marido MJ. itentaram aceio declarativa de condenacio com proceso ordindrio contra L... €F.., pedindo que se declare a nulidade do contrato de mandato em que foi mandante M... ja falecido, respectivamente sagra e avé dos RR. ¢ da correspondente procuraga por aquele emitida a favor da I" R,, bem como do contrato de doacao de dois prédios (wm ristico, sob 0 artigo matricial n°... e com 0 n°. registral., € outro urbano, sob 0 artigo matricial n°... ecom 0 n° registral .., ambos da freguesia de Almancil) a favor do 2° R., celebrado com base nessa rocuragio, com os consequentes cancelamentos do registo predial ‘Mais pediram que fossem declarados vilidos os testamentos outorgados pelo referido M.., para quem a A. trabalhou desde 1968 e até & morte deste (apenas com uma interrupea de cerca de S anos), em que eram deixados os aludidos prédios, a titulo de legados aos AA; B) Foi proferida sentenca que julgou improcedente a aceite a reconvengdo, absolvendo RR. e AA. dos respectivos pedidos, a qual foi confirmada pelo Tribunal da Relagao de Evora e pelo Supremo Tribunal de Justiga, no tendo conhecido do mérito do recurso interposto o Tribunal Constitucional oO apresentando como titulo a escritura piiblica de doacao dos dois iméveis supra identificados; intentou acedo executiva para entrega de coisa certa contra MA... e marido MJ. 0 Direito 3.1. Como & sabido, é pelas conclusdes do recurso que se delimita o seu ambito de cognigao, salvo questies de conhecimento oficioso. Importa portanto apreciar 0 recurso de apelagdo interposto, tendo presentes as conclus6: apresentadas Em face dessas conclusies, constata-se que a questio fundamental a decidir resume-se & existéneia de um titulo executive vilido a suportar a execusio instaurada, Acessoriamente, coloca-se & questio da apensagdo ou nio dos autos de execugio ao processo declarative a que se alude nos autos. Vejamos entio as razBes dos recorrentes, 3.2. Em primeiro lugar, importa deixar esclarecidos alguns aspectos complementares ds curt factualidade acima reproduzida, [Na acgiio declarativa 67/1999, a que a execugio foi apensa, os af autores MA.... e MJ... pediram que fosse declarada a nulidade do contrato de mandato em que foi mandante M..., sogro e av6, respectivamente, dos réus Lei nF... com base no qual a primeira ré, munida da respectiva procuragdo, formalizou a doagio de dois prédios do referide M... ao segundo réu, F..., pedindo consequentemente também a declaragao de nulidade da doagdo e das registas efectuados. Mais Fequereram os autores que fossem declarados vilidos os testamentos efectuados pelo mesmo M.... ‘em que os mesmos prédios, no seu entendimento, tinham sido legados aos proprios autores, Os réus apresentaram contestagdo, em que além de se oporem aos pedidos dos autores deduziam por sew lado pedido reconvencional de indemnizagdo, com referéncia aos prejuizos resullantes de no poderem usufruir dos prédias em causa AApos julgamentos na primeira instincia e no Tribunal da Relagdio de Evora, e idas 20 Supremo Tribunal de Justiga ¢ a0 Tribunal Constitucional, esses autos de acco declarativa vieram a findar com a improcedéncia dos pedidos de autores e réus,ficando absolvidos tanto as réus como os aulores dos pedidos eontra eles deduzidos, por via de acglo e por via da reconvengao, Ou seja,o réu F.. figurou na accio declarativa em causa como proprietirio registado dos iméveis em causa, por forga da doagio efectuada por seu avd, embora privado da sua posse material por estarem nas maos dos autores, e estes apresentavam-se como lesadas pela referida doagdo que reputavam de invilida, entendendo que os legados feitos @ seu favor pelo falecido M..., anteriormente a doagdo, deviam prevalecer. 0 dispositive final que veio a transitar nessa acgio limitou-se a julgar improcedentes os pedidos, tanto a pretensio dos autores de ver declarada a nulidade da doagao e a validade dos legados, com 0 consequente cancelamento dos registos, como a pretensio indemnizatéria do réu Filipe 3.3, Nestes termos, afigura-se evidente que no resulta do citado dispositive nenhuma condenagiio para qualquer das partes, designadamente nenhuma obrigagdo de facere para os af autores (@ reconvengdo improcedeu, e aliés nela ndo era pedida a entrega dos imiveis), Assim sendo, temos como evidente que com base nessa sentenge no pode instaurar-se nenhum processo executive. Dela nfo consta nenhuma obrigago que haja de executar-se. Designadamente, no pode essa sentenga servir de titulo executive para uma execugio para entrega de coisa certa movida pelo entéo réu contra os entéo autores. Recorde-se que a acgdo executiva para entrega de coisa certa, regulada nos arts. 928° e seguintes do anterior Cédigo de Processo Civil (diploma ainda aplicdvel a este easo por forga do disposto no art 6°,n.°3, da Lei 41/2013 de 26 de Junho), aplica-se quando seja questo de tomar efective um diteito de crédito que tenha por objecto uma coisa (v. g. abrigagio de restituigso na sequéncia de uum deposito, ou de um comodato) ou um direito real (v. g. obrigagdo de entrega apos reivindicagio), Invocando-se como titulo executive uma sentenga, obviamente essa obrigagdo de entrega tem que constar do dispositivo da sentenga — por isso s6 constituem titulo executive “as sentenga condenatérias”, como consta do art. 46°, n° 1, al.) do diploma citado, Por outras palavras, o entdo réu F... s6 podia valer-se da sentenga proferida na acgdo como titulo executivo para pedir a entrega de algum desses iméveis se os autores, na sequéncia de reconvenso oportunamente deduzida,tivessem sido condenados a fazer-Ihe essa entrega. Uma vez que tal nio acontece, a sentenga em questdo no é, manifestamente, titulo executive, Sustenta o exequente, e nisso foi acompanhado pela sentenga impugnada, se bem a compreendemos, que existe um titulo complexo: com efeito, na sentenga da acgo declarativa referida foi julgada improcedente a pretensio dos autores de ver declarada a nulidade da doagao feita ao réu, ¢ consequentemente esta ficou intocada ~ como ficou intocado o registo de propriedade a favor dole. Conjugando esse facto — no mais podem os autores discutir a validade da doago — com a existéncia da propria doagdo, teriamos entio o tal titulo executive complexo, Neste raciocinio o titulo executivo jf parece ser constituido essencialmente pela escritura de doagdo, da qual resultari a obrigagdo de entrega da coisa, Mas, obviamente, io pode concordar-se com tal raciocinio, do 6 verdade que “a escritura piiblica de doagdo consttui titulo executivo @ uz do art.°46.*al. b) do CPC por conter em sia constituigdo de uma obrigaedo, a de entrega da coisa, como def, ali, do normativo inserto no artigo 954.*al. a) ¢ 6) do CC "A doagao tem como efeitos essenciais: a) A transmissio da propriedade da coisa ou da titularidade do direito; b) A obrigacdo de entregar a coisa; (..)”. Como parece indiscutivel, a “obrigacdo de entregar a coisa” que resulta da doagio impende sobre © préprio doador, da mesma forma que o contrato de doagdo opera a transmisslo do direito da esfera juridica deste para a esfera juridica do donatitio, Essa “obrigacdo de entregar a coisa” nao ter por Sueitos os terceiros que eventualmente est exercer poderes de facta sabre a coisa doada, e que sio estranhas 20 contrato de doagio. Pensemos nomeadamente nos casos da existéncia de direitos de natureza obrigacional sobre a coisa, vg, de arrendamento, ou nas situagdes de litigio sobre o proprio direito ~ em tais exemplos a obrigagdo de entrega tem que ser decretada em acsio declarativa de condenagia a isso destinada, caricter definitive da doagao, afirmado pelo exequente e pela sentenga revidenda, permite a0 exequente apresentar-se como Ginico ¢ exclusivo proprietirio, sem que Ihe possa ser oposta de novo a questio da validade desse negécio juridico ~ mas no permite atribuir a escritura de doagio a {orga de titulo executivo, jé que desta ndo resulta nenhuma obrigagio de entrega que impenda sobre 0s aqui executados. No limite, se os executados estdo na posse ou detensdo sem qualquer titulo juridico que os legitime teri o réu que langar mao da acgo de reivindicagdo prevista no art. 1311° do Cédigo Civil, para os convencer da obrigagdo de entrega, Mas nem a sentenga aqui falada nem a escritura de doagdo mencionada, cada uma por si ou as duas conjugadas, constituem titulo executivo, face ao disposto nas alineas a) eb) do n: 1 do art. 46°, supra eitado. Perante essa certeza, esta coneluir que a oposigio apresentada pelos executados é procedente, devendo julgar-se extinta @ execusao. De igual modo, apresenta-se como acertada a objecgdo dos recorrentes quanto & apensagao da acgdo executiva, decisio esta susceptivel ainda de impugnacdo (eff. art. 691°, n° 3, CPC), Com efeito, tendo em conta o dispasto no art. 90° do CPC considerado, correm por apenso as execugdes de sentenga por ser essa sentenga o titulo executive, Porém, no caso presente, verifica-se que o exequente sustenta que a obrigagao de entrega que quer ver executada resulta da escritura de doagdo. Assim, tem que considerar-se que o titulo executivo invocado ¢ esse mesmo documento, Ndo estamos, pois, perante execucio de sentenga, pelo que ndio hhavia fundamento pars afastar @ execusao instaurada do resultado da normal distribuigio, Alls, como ja se disse, ndo existe sequer sentenga condenatéria que possa constituir titulo executivo (eft. art. 46°, n." 1, al. a, CPC), pelo que nada justificava a apensaglo da execugao instaurada & acedo declarativa jé finda, com a improcedéncia dos pedidos. Consequentemente, procede o recurso, em conformidade com o que ficou dito; e, obviamente, procedle também no que respeita condenagio por mé fé decretada, para a qual nio se vislumlra fundamento. 4=Decisio Pelo exposto, acordam os juizes deste Tribunal da Relago em julgar procedente o presente recurso de apelagdo, ¢, consequentemente, decidem revogar na sus tolalidade a sentenga recorrida, bem como a decisdo de apensagao impugnada (despacho de 16-11-2011), julgando extinta @ execusd0 instaurada e determinando a sua desapensagdo de modo a que os autos respeitem a distribuigdo inicialmente efectuada Custas pelo apelado. Notifique. Evora, 27 de Fevereiro de 2014 Gosé Licio) (Francisco Xavier) (Elisabete Valente)

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