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ER 25, de 15 Sdi- nho NAL ward. sires sire *ic0s, aina. rade mda Capitulo 2 Historia e poder: uma nova histéria politica? (Ciro Flamarion Cardeso sare et OSIRIS Este capftulo comesa com algumas nogées, muito seetivas, sobre a ciéncia pol seu objeto, necesssias porque 0 surgimento de uma histéria politica diferente da wadicional, sobretuclo'a partir de 1970, dependeu do contato com essa ciéncia social. Taisconsideragbes so, até certo ponto, escolhas pessoas, jf que estasnos diance de uma disciplina ainda mais diversa internamente do que as outras que se ocupam do homem em sociedad. A seguir, as consideragSes de espago nos permitiréo trarar unicamente de uma selegio de temas per- tinentes, dentie 0s que tiveram maior impacto entre os historiadores do poder e da politica. Jas um texto como este é necessariamente Invimeras temiticas ficarfo, portanto, de fora; seletivo. Os temas escolhidos so: 0 aggiornamento da hiscéria politica ¢ 0 insucesso das ten- tativas de sua desconstrugio: uma escolha de conflitos inteleccuais alramente aguertides, de fiando historiogréfico, que fizeram avangar a histéria politica e ao mesmo tempo, tornaram mais claras as stas tendéncias — conflites esses Fortemente vinculados a problemas edisputas ainentes 20 poder no mundo contemporineo; ¢ tm tema mais monogréfico,escalhido por sua influfncia em muitas pesquisas recentes ¢ analisado mediante um exemplo: o da cultura politica. O Capftulo 3, “Hiséria€ teoria polis’, esrito por Sonia Regina de Mendonca « Virginia Fontes, cobre outa vertente da maior importincia, derivada cencralmente de Antonio Gramsci e de Pierre Bourdieu, Prolegdmenos: algumas consideracées sobre o poder de - Estado e a ciéncia politica De um ponto de vista desctitivo, em linhas ge ‘0 campo da citacia politica como existe atualmente cobre cinco dominios principais que séo, segundo o objeto centtalimente abordada: 0 govemno, aadministeagio piblica, as relagbes internacionais (neste volume, objeto de interesse préprio em outro capftulo que nfo este), 0 comportamento politico as politicas publicas. Os dois ltimos subsetores foram os de desenvolvimento mais recente (Blondel, 1996). 38 Novos Dominios do Historia ELSEVIER ‘A itneia politica cata, entre outtas coisas, da teoria dos sistemas poltvicos, de suas le- _givimagies das modos de dominagha, Por sua ver, “sistema politica” € a nogio que engloba {€ substitui) outras ~ Estado, poder, regime — e se define como um sistema de inveragbes mediante o qual sio feias ¢ implementadas as alocagies de valores dotadas de sucoridade em qualquer sociedade, O objeco da cincia politica também poste ser considerado como 0 conjunto das estrucuras induzidas das telagbes de autotidade ¢ de obeditncia estabelecidas comm vistas & um fim comusn. [A politizagéo de uma sociedad consiste na existéncia de uina aucoridade (prinetpio mediader) exterior 4 comunidade de base. Quando a integracéo social (ou sociopolitica) & bem-sucedida, a politizacio pliblica aumenta; pelo contcirio, quando a sociedade se desin- cegra, aparece a privatizacao da politica, ea politizagio paiblica se enfiaquece. Em caso de coral desintegragio (anomia, revolusio), 0 Estado pode desaparecer ou ser substicufdo por outro, de oxganizacéo diferente. Alguas acham que, hoje em dia, embora néo fosse pela vi revoluciondtia, o Estado-nagio tenderia a um radical enfraquecimento sob 0 golpe tanto do individualismo exacerbado quanto da mundializagéo do capital. Nao parece, entetan- to, que o mesmo se aplique, pelo menos no mesmo grau, aos Estados Unidos da América, pocéncia hegeménica ou mesmo nica poréncia efetiva no mundo de hoje. Existem auto- tes que postulam que a “verdadeiea” politica passe hoje em di, muitas vezes, por encida- des supranacionais, exemplificadas pela Europa, pelas Organizagées Nao Governamentais (ONGS) ¢ pelo Férum Social Mundial (FSM). As ONGs ¢ 0 FSM demonstrariam uma inteenacionalizagio dos protestos e das luras populares, ou seja, a sociedade civil, organizan- do-se em forma ctescentemence internacional, estaria tratando de supric a indiferenca ¢ as deficitneias do “Estado minimo” neoliberal em matétia social todavia, nfo enxexgo grande base empitica para tais afirmagbes. Também me parece inexiirir uma alvernativa efetiva 20 Escado como forma de organizagio capat de levar a cabo, tanto no presente como no futu- 10, aadministragio da sociedade e as mobilizagbes sociais imprescindives. 'A politica podesia ser definida como a resultante ~ dindmica ¢ 20 mesmo tempo sist mica (data nogio de “sistema politico”) — de todos os fendmenos implicados pela conquista ¢ pelo exercicio do poder. Resta saber até que ponto a incegtacéo em um sistema pode ser conseguida mediante um engedo, isto 6, 0 apelo legitimador falacioso a um “inceresse geral” ‘ou “bem comurn’, fator ideoldgico que 0 conceito de politica ou de sistema politico oculta. ‘A realidade estasia dada pot uma dialétiea do conflco ¢ da ordem sociais, encarada sob 0 Angulo do que se convencionou chamar de “poltica’. Tal dialética definicia um “campo politico” que seria, precisamente, 0 objero estudado pela ciéncia politica. Esta ileima 36 pode surgir naqueles casos — Grécia cléssice, mundo modemo ¢ contemporaneo — em que a sociedade jé ndo se percebesse como regida pela providéncia, por Deus ou pelos deusese, assim, pudesse interrogar a si mesmna racionalmente, discutir as normas ¢ problematizar sua prdpria existéncia, néo acredicando que as suas instituigées fossem evidentes ou natura. No caso dos'Tempos Modernos, 0 século XVI vé 0 inicio da ruptura com a oscem extrasso- Tea. apo 136 que se sua sais, ss0- FE camera pote moron 7 cial: Maquiavel e, em seguida, Hobbes, afitmam a separagio (fundadora) entre moral e po- ltica, poreanto, entre reologia epoltia. Torna-se pelo menos vireualmente possiel, a partir de entio, o desideratvmm humano de compreender ¢ controlar 2 vida comum dos homens ‘em sociedade. Mais cm geral, pode-se dizer que, entre 0 século XVI ¢ o XVIII, consolida-se a visio das eociedades humanas como organizadas em crés eaferas, cada uma podendo ser objeto de estudos expectfcos: a social (Sociedade civil) a politica ea economia, No caso especifico do estudo da politica, a questio central parece ser a seguinte: como é posstvel que tantos homens, povos ou nagées suportem &s vezes 0 que thes impée um ti- ‘ano, se este 86 pode ter o poder que outros homens Ihe concedam? Alguns chamam isso de “mistério da obediéncia civil”, da submissio ‘yoluntéria, e, nessa ordem de ideias, a ciéncia politica pode patecer uma inimiga a ser combatida ou (mais fiequentemente) ignorads 20 tentar pr a nu aquilo que exté oculto e, portanto, se desconhece. Dominadores¢ domine- dos nio vem necessariamente com bons olhos a desmistficagio dos processos em que si0 gzrados os mitos fundadores da integracto e da participago, a exposigio de um pessado esquecido (ou em que nio se pensa a fands) ou 2 andlise do imagindrio social que aparece reproduzide no sistema insticucional. Tanto os que acharn que deve comandas, quanto os que excolher (livie ou inconscientemente) obedecer no tém, de ordindtio, deseo ou In- teresse de que alguém venha desmontar analiticamente o mecanismo bem azcitado, porém implicito, de seu compromisso técito. Norbert Elias acredica que exista a intetvencio necessitia, no conhecimento do social, concomitante ou akecrnadamente, da légica do compromisso e da ligica do distanciantento - 0 ‘que, 20 contririo do que acham os pés-moderos radicais do gito linguistic, permicria justficar um conhecimento cientfco do social, Feito de adequacées graduadas (ito é, me Ihores ou piores, conforme os casos), Faliveis¢ sempre provis6tias, o que afinal caracteriza qualquer conhecimento cientifico -; no entanto, Elias também acha o seguince: ‘Uma imagem ralista(oferecida pelo observador distanciado), expressada em pil blico, pode {. J debilicara coesio eo sentimenco de slidariedade do grupo e, com des, sua capacidade de sobrevivéncia. J de Fito, em todos esses grupos existe um rau de distanciamento que nenhum de seus membros pode ultrapassar sem ap recer aos olhos do grupo como um herege (ou convertet-se em tal), sem importar aque suas ideias ow teorias eoncordem com os fatos observiveis ¢ se aptoximem daquilo que chamamos "verdade” (Elias, 1990: 26). A passagem que reproduzo participa da convicgéo, muito geral entte os cientistas so- ciais conservadores, de que o que existe € necessirio ¢ deve ser preservado ~ ou cuidadosz ‘elentamente reformado. Também se parece com os argumentos baseados na raison d Etat, em nome da qual jé houve quem defendesse ou fizesse qualquer coisa, por exemplo: mentir aos cidadéos, praticar a censura sistemdtica das noticias ¢ até da correspondéncia aK Mover Dominios da Historia ELSEVIER privada, bem como suspender as iberdades constitucionais em cempo de guerra, quando ‘0 governo decreta estado de sitio ou de emergéncia, ou simplesmente invocando neces- sidades naseidas da luta contra 0 verrorismo; nos Estados Unidos, quando da Segunda Gueta Mundial, invernar em campos cidadios escadunidenses de origem japonesa (mas nao alema ou italiana); praticar repressées violentas contta os opositores, reivindicando até mesmo a tortura como algo imprescindivel em certas circunstanciass ¢ manter a poli- tica externa fora de qualquer controle de parte da sociedade civil (especificamence para 0 caso brasileiro: Lopes, 2008). Friedrich Meinecke, em 1924, defendia esta poseura: ‘A ratio de Estado € 0 principio fundamental da conduse nacional, 2 primeia lei do movimento do Estado. Dita 20 estadista 0 que deve facer para conservat saiide ea forga do Estado, © Estado é uma estrurura organica, cujo pleno poder s6 se pode manter deixand® que, de um ou outro modo, seu cxetcimente continue ‘Aeexpressio ratio de Estado indica paralelamente canto o caminko quanto a meta de tal exescimenzo, que nfo podem ser escothidos ao acaso [.} A “tacionalidade” do Estado consiste em entender a si mesmo ¢ 20 mundo que 0 cerca, ¢em derivar de tal entendimento os prinelpios de apo. [..] Para cada Bstado existe, em cada ‘momento dado, uma linha ideal de aco, ou seja, uma razio de Estado ideal Discerni-la 4 pesada tarefa canto do estadista que age quanto do hiscoriador que observa (Apud Fintey, 1980, p. 64). Caso siga 0 conselho metodolégico de Meinecke, ¢ historiador da politica escaria obrigado a assumir uma visio 4 priori substancialista, organicista e quase mistica do in~ teresse nacional, que na pritica néo passaria, em cada caso concreto, da naturalizagéo de uma dada formulagio ad boc da razto de Bscado que, em sociedades marcadas por cextiema desigualdade, refletiia invaciavelmence interesses de grupos dominances sempre muito minoricdrios do ponto de vista social. Um hiscoriador desses estaria ipso facto mal preparado pata o exercicio de uma funcio critica e propenso, no mundo de hoje, aaceicar, por exemplo, o pensamenco tnico neoconservador, com seu sbere is no alternative (nfo had aleernativa). Parece-me imposstvel discutir algo assim sem de imediato formular ~ mesmo, out so- bretudo, no caso das democracias contemporiness ~ a questio do limite do mandaco dos homens politicos, por exermplo ac ler esta passagem de Jacques Julliard (1982, p. 35): Em um pals democritico, a arte de governac pode ser sintetizada como uma arbi- wager permanente entte 9 desgjo de tomar a methor decisio — que nfo é sempre a mais popular~ em rermos dos intexesses do pals ea entagéo de romar a decisto ‘que favorecerd mais a reeleigio dos lideres, lo ja lo b fo or wal fo os aie Capitulo 2 | Histéria & poder: uma nova histéria politica? ar ‘A passagem confunde “a melhor decisio em rermos dos interesses do pais” com a decisio que 05 Ifderes politicos ¢ os tecnocratas a seu servigo acharn ou alegam ser a melhor para o pais. Nas condig6es reais das democracias representativas contemporiness, nfo & 0 mesmo, de jeito nenhum, nem é mera nuance! Como as plataformas politicas divulgadas em processos eleicorais nfo costumam entrar mesmo nos detalhes mais bésicos, jé que so formuladas de maneita voluntariamente vaga, ideias como esas dc Julliard dio a impresséo de que os eleitores devem passar aos lideres que elegem um cheque em branco. O historia dor citado esté simplesmente aceitando, assumindo acriticamente a linguagem do poder em ver de vé-la de fora e criticé-la, E se a “melhor deciséo” — que a cite iluminada consticuida pelos “Ideres” aparentemente sempre conhece ¢ se considera chamada a definir — nao for “a mais populas”, poderfamos concluir que, em tais casos, “o povo” estf errado ou equivocado? No tocante ao dilemma indicado na frase de Julliard, o melhor seria que os Ifderes debxassem, de populismos ¢ impusessem a “melhor deciséo para 0 pals"? ‘A questo central da legitimagio do poder néo deve ser abordada somente por meio do exame jurtdico de seus fundamentos. E preciso, também, saber como ¢ por que aquilo ‘que Gactano Mosca denominou “classe politica” e Wright Mills e Thomas Bottomore “elite do poder”, uma vez no controle dos secursos de uma organizagio que seus membros saber como funciona, com frequéncia no justfica seu poder somente pelo fato de deré-lo, mas também procura assentéclo sobte um sistema de representagées juridicas e morais decorren- te de crengas e douttinas amplamente admitidas na sociedade por ela governada, procuran- do reforgar nogées de solidariedade e associagio contratual entre governantes e governados, © estudo da auzoridade supée que sejam considerados pelo menos trés elementos: os detentores do poder (real out formal); 0 fandamento constitutivo do poder dos detentores; 0 modo em que tais detentores 0 possam set, o que remete & questio da dominacio e suas formas. Se “politica” é um termo polissémico ~ sendo que, 20 contrério das lfnguas latinas, 6 inglés discerme utilmente como coisas distintas polity, policy e politics, rambém 0 é outra nogio fundamental, a de poder. ‘Agui se coloca toda a problemética do uso do poder, incluindo o emprego considerado legitimo da forga ou da violéncia. Entrecanco, forsa e violéncia nfo explicam tudo; além de serem, por sua vez, palavras polissémicas, donde o uso, hoje em dia, de express6es como “poder simbélico”. A coagéo, material ou simbélica, consciente ou no, é sem diivida, de importincia capital na regulacio social; mas as pessoas obedecem também por ourras raz6es, incluindo o interesse, 0 célculo ou 2 estiatégia. As ages humanas vinculam-se & aptido para organizar 0 pensamento em estratégias cognitivas ¢ em roteiros de agio, na dependéncia das informagdes aufecidas durante um processo em curso. O poder nio serve somence pata teprimir, mas também para organizar a trama social mediante o uso de sabe- res, 0 que é de grande relevancia, jé que tal poder nfo ¢ 0 atributo de alguém que 0 exerce, mas sim uma telagio. Se as personagens em presenga (individuos, grupos, partidos, homens politicos) nada tiverem a trocar, néo poderio entar em uma telagio de poder, isto é, uma 22 Hovos Dominios da Historia ELSEVIER relagio de forga de que niv é possivel para qualquer das partes em presenga retirar-se, mas na qual ninguém pode estar toralmente privado, pois, se assien fosse, cerfamos saido da es- feta propriamente politica, Seo poder no é somente dominagio, mas tarmbém toca, depende igualmente de uma crenge paccilhada na autotidade. Quem dé uma ordem acredita ter 0 poder ¢ 0 diteita de ordenar, fazer, comandat; e quem recebe a ordem acredita ser sou dever obedecer, porque a socializacio intetioriza nos atores intervenientes um dado tipo de valores que produzem. uma aceitagio pelo menos relativa de um modo de vida em sociedade que inclui o seu sis- cemarpolitico, sejacle qual for. De fato, a socializagio & uma das chaves do poder politico, e 0s meios de forgar e sancionar negativamente sio reservados aos recalcitrantes ou desviantes. Além disso, 2 autoridade legitimadora pode estar ow no institucionalizada com clareza enquanto cédigo em cujo quadro 0 uso do poder é organizado como um meio de acio. A articulagdo entre poder e autoridade foi formalizada por Max Weber, para quem a autorida- dé pode ser legal-racional, tradicional ou carismAtica (trés tipos ideais néo necessariamente excludentes) ¢, em funcéo dessas categotias, os mecanismos de obediéncia ou submisséo voluntitia so discintos Toda coletividade organiza papéis de dominaciolsujeigao, e certos cientistas saciais afirmam que o poder nfo passatia de um instrumento para cumptis, como sistema espe- clfico que é, uma funcéo na sociedade e em nome dela. Mas isso é uma falsa ingenuidade, pois mesmo os funcionalistas reconhecem que © poder ¢ funcional para a coesfo social, mas também para os interesses espectficos dos grupos que o detém, ¢, por esse motivo, ao tratar do poder, é mais realista considerar centralmente 0 conflito, Bm todo caso, ¢ dificil, na dea de ciéncia politica, estabelecer frontciras claras entre pressio, influéncia, antincio ou aplicagio de sangSes (positivas ou negativas), por um lado e, por outro, aaglo persuasiva simbdlica, efetiva mas nfo Fisica, que pode chegar a transformar a situagio de um acor, em seu detcimenco ou em seu favor, a ponto de fazé-lo redimensionar sua forma de agir com telagdo 20 ourto ator (por exemplo, abandonando a sua resistencia ou mudando o seu voro). © poder politico € um sistema organizado de interagées mitlti- plas cuja eficdcia depende de aliar o monopélio da coerefo & busca de uma legitimidade minima, para garantir formas de participagio que vornem possivel tal sistema, ¢ essa parti- cipagio depende do éxito da socializagio politica (interiorizagio de normas que permitam © funcionamento dos mecanismos de regulagio social no campo da politica). A socializagéo politica pode set definida como 0 conjunto dos mecanismos e processos sociais formadores ¢ transformadores dos sistemas individusis de representagées ¢ atitudes politicas, de modo 2 possibilitar 2 reproducéo de um sistema politico por meio de apoios ativos ou passivos, ‘0 que implica a intetiorizagao ¢ a aceitag#o de normas, valotes, tegras do jogo e principios Bonfils Mabillon; Brienne, 1998). ER nas gue spe- ade, mas atar nere low, mar cia ‘i fade arti ram ago ores odo ivos, pios we i Capitulo 2 | Histéria e poder: uma nova histria politica? 43 A hist6ria politica: seu “aggiornamento” € as tentativas tendentes A sua desconstrucao Quando os orgenizadores da obra coletiva Faire de Uistoire confaram a Jacques Julliard, em 1974, a tarefa de expor o que poderia sera histéria politica como opgio respei- tvel na trajecria da assim chamada “escola dos Annaler" (Julliard, 1974), ¢ quando nova mente um empreendimento similar the foi encomendado pelos coordenadores do volume noree-americano The New History (Julliard, 1982), ele comegou tratando de demonstrar a cspecificidade da politica como objeto. Fxistem problemas pollicos que reistem as modi- ficagées da infraestrutura ¢ no se confundem com a5 correntes culeurais que prevalecem no momento e, além do mais, o século XX assistit a um acréscimo do papel da politica nas sociedades, visto que dom{nios que no passado eram deixados & “natureza” e &s forgas “es- pontaneas" ~ como a economia (segundo @ teora liberal, sujeita a uma regulagao “natural” pelo mercado), a demograia ¢ até mesmo a culeura (no-sentido de cultura intelectualizads) = passaram a ser objevos de polticas especificas. Na pritica, o poder de Estado pesa bem mais sobre os cidadiios hoje em dia do que, por exemplo, 0 de Luis XIV e outros monarcas absolutos sobre seus siiditos. Assim, é légico que exista uma visibilidade maior dos fatos politicos no mundo contemporineo, o que leva 2 queter estudé-los também em sociedades ‘nas quais podiam ser bem menos visiveis. Sepundo Julliad, a renovacio do campo da histéria politice «6 poderia ocorter me- diante o contaro com a ciéncia politica e pelo abandono da curta duragao como interesse ex clusivo, adorando uma preocupacéo com @ longa duragio, ocupando-se com os fenémenos que indicascem petmanéncia além daqueles vinculados & mudange. Em stma, pregava uma transformacéo da histéria politica bem dentro da tradigao dos Annales: abercura is ciéncias sociais, longa duracio e quantificagio. ‘Também achava necessério, entretanto, nuangar as convicgSes dos annalistes acerca da relagio entie estrucura acontecimento, isto & a crenga em uma determinagio que vai da estrutusa pata 0 acontecimento, nunca 0 contrério. A. esse respeito, 0 autor se lembra de tum livro de Paul Bois sobre os camponezes do oeste da Franca, que, segundo Emmanuel Le Roy Ladurie, mostra um acontecimento ~ a agéo dos chowans e sua repressio sob a Revo- lugéo Francesa- como geredor de uma estrutura que sustenta a posiglo constantemente de direita dos camponeses ocidentais (em especial os do departamento de Sarthe) em fungio de tetem sido desiludidos com a venda das terras nacionalizadas, decidida pelos revolucio~ ndrios, venda que mio beneficiou os camponeses, visto que estes nao tinham os meios para adqu 0 acontecimento passageiro originou uma mentalidade duradoura, ow seja, a curta duracéo las, mas sim & burguesia wubana. Mesmo ao se contextuar o evento estruturalmente, gerou a longa duracio. No texto publicedo em 1982, Julliard distinguiu varios tipos de hist6ria politica. Ha- vetia, em primeito lugar, a histéria politica como bistéria narrativa, que no fando se con- funde com a histéria natrativa tradicional, em que a polftica domina a exposigéo cronolo- aa over Dominios da Mistéria ELSEVIER, gicamence ordenada do que acontece as sociedades humanas. Tiata-se de um géneso que com frequéncia imica a biografia, uma vez que adota metéforas bioldgicas de nascimento, ccrescimento, macuridade € morte Em seguida, a bistévie politica como um sistema explicativo. Nesse caso, a politica pro- porciona as principais hipveses da explicagio que se constr6i. Assim, as vezes uma histéria centrada no Parlamento patece dar conta do que vem acontecendo aos ingleses ha vérios séculos, ou, em oustras palavras, a histéria coletiva dé a impressio de detivar das express6es delibecadas das elites. Nessa ordem de ideias, variantes seriam trazidas por uma preocup2- fo centrada na histétia das ideologizs por uma insisténcia nas motivacées psicolégicas dos lideres Em cerceiro lugar, tertamos a bistéria politica vista cono wina sociolagia histériea do ‘poder, na linha, por exemplo, das andlises weberianas e seus tipos ideais, como poder caris- ‘mitico, busocracia ¢tantos outtos. Mediante a descontinuidade, a tipologia e a comparagio sistemitica, ¢ sob a infuéncia tanto da sociotogia quanto da ciéncia politica, esse-tipo'de histéria sactifica a politica até certo ponto, tal como se manifesta em Fatos concretos, a uma tentativa de compteensio do significado subjacente de «ais fatos. A esceutura do poder, as cesteatégias na perspective de uma teoria da decisio e a linguagem do poder tornam-se mais imporeantes do que 0 escuclo dos seus efeitos tais como tomam corpo nas ocorténcias polt- ticas especificas. Bis af uma atitude que, no mesmo livro de 1982, 0 britinico Peter Clarke declataria ~ assumnindo postura das mais conservadoras ~ ser ilegitima para os historiadores, 0s quais, achava ele, por mais que possam aprender com a compatacio ¢ a teoria, esto de fro e em tilkima insidncia preocupados com aquilo que 56 aconteceu uma vez. As expli- cagées causais, principalmente em histéria politica, deveriam accicar o papel ineluctvel da contingtricia, daquilo que é trivial e que, em certos casos, supera em forca causal as regula tidades estrururais que interessam &s ciéncias sociais. Voltando & tipologia de Julliard, por dlsimo terlamos a hiséria politica na longa dara gio, que se trata, no fundo, de uma histéria da cultura politica em vinculagéo com o sistema de crengas € mais preocupada com as persisténcias do que com as mudangas, Falando de egies de um mesmo pals, convergentes em suas estruturas, mas com comportamentos politicos persistentemente divergences, diz Julliard que, diante de estruturas sociais e eco- némicas compariveis, a.cultura é que fax 2 diferenga. No estudo de determinada cultura polftica setia imporcante leva em conta coisas como um evento formador (como aquele relativo a0 Satthe francés) e os “cfrculos de pensamento” em que toma forma uma wadicio de longa duracéo. Voleatei adiante & nogio de cultura politica Roy Foster, especialista em histéria da Irlanda, acredita igualmente que a histéria po- Itica precisa ser esctita como rectiagao de uma cultura politica, o que exige uma énfase nnaquilo que as pessoas pensavam que estavam fazendo ¢ nas razées pelas quais o queriam fraes, anto quanto no resultado real (muitas veves no pretendido) de suas agées. Assim, os historiadotes da politica deveriam concentrar-se tanto nas intengbes e preocupagéeé dos _ a Copitulo2| Historia e poder: uma nova hstrie politica? 45 politicos, quanto nos eventos da politica. A cultura politica € algo complexo, denso, rico ¢ v cdvel demaig para ser reduzido a uma mera supetestrutura ¢, a0 mesmo tempo, o conheci- mento das contingéncias néo precisa negar a relevncia de padres mais vastos. 0 eaforco de Jacques Julliard, entie outtos, pata a reabilitagéo € renovagéo metodolé- gjeada histdria politica, sobretudo a partir da década de 1970, teve preceentes importantes desde meados do século XX, dentre os quais podem ser tomados como exemaplos seletives, na hiscoriogsafia francesa: Georges Lefebvre e Albert Soboul, com relasio ans aspectos poll- tices da Revolucio Francesa; 0 estudo quantitativo dos resultados eleivorais e do comporta- mento dos eeicores fianceses em numerosos estudos de varios historiadores; ¢ os esforcos de René Rémond, como pesquisador e professor, no sentido de constiruir uma histéria politica renovada (Lévéque, 1993) © aggiornamente metodolégico da histéria polltica certamente no se limitou & his- toriogtaia francesa, que talvez continue a ser a de maior influéncia na Amética Latina ‘Um volume brieénico coletivo pteparado por Juliet Gardiner nos mostra, na Gri-Bretanka, tendéncias que, nia década de 1980, seriam groso modo compariveis ’s categorizadas por Jalliacd de um ponto de visa francs. Na-apreciasfo cxlica acerea da histria politica conti- da no volume em questéo tormaram parte, 2lém do ji mencionado Roy Foster, outros cinco historiadores: T. P Wiseman, G. R. Elton, Ronald Hutton, John Turner Kenneth O. Morgan (Gardiner, 1988, p. 18-30). ‘Caso as tendéncias no campo da histéria politica que se depreendem da leitura de Jacques Julliard e do volume coletivo brieinico que utlizei como referencia sejam repre- ‘entativas ~ ¢ ereio que sfo ~, delineiam a seguince situagior a histéria politica tendeu a abandonac as ingenuidades do nartativismo tradicional em favor de posigGes mais de acordo com a modema ciéncia politica. Tal relagio com a politologia, semelhantemente & que se desenvolveu com 2 antropologia, foi seletiva ¢ earamente muito profunda. A histéria polt- tica procedeu ao seu aggiornamento no intetior dos estudos histbricos vistos em conjunto, por obra de historiadores de vatiada tendéncia, inclusive alguns notoriamente tradicfonais em muitos pontos, como é 0 caso de René Rémond, na Franga. Um momento importante, mas amb{guo em suas repercussGes sobre as idetas acerca a histéria politica nas tltimas décadas, parece ser a publicagéo, em 1974, de um famoso artigo de Pierre Nora, intitulado “A volta do acontecimento”. O texto em questéo se re5- ttingia & endlise das perspectives da hist6ria do presente, ou hist imediata, um presente em que os meios de comunicagio de massa “democtatizamn” 0 evento ~ isto é 0 tornam imediatamente acessivel a milhées de pessoas — mas, 20 mestno tempo, o produzem, me- tamorfoseiam (¢ vulgarizam, dramatizando-o em analogia com os “casos” do dia a dia e da caénica policial n ciados nos jornais — em fiancts, fits diver), gerando um “paradoxo do acontecimento”: o proprio deslocamento da mensagem natrativa em ditegéo a suas virtu- alidades imagindvias, espetaculares, paras ia a0 historiador do estritamente contemporanco insetir os eventos em uma série. Porém, em lugar de procurar reduzir 0 jas, pesmi 46 Novos Dominios da Mistéria ELSEVIER acontecimento, ele culminatia neste, fazendo conscientemente suigir 0 passado, o espessor hiseérico, as escrucuras, em lugar de fazer inconscientemente surgii o presente no passado (ow seja, projetar © presente no passado). Em outras palavras, 0s acontecimentos permici- riam evidenciar o sistema (Nora, 1974). As teflexdes de Pierre Nora no seu escrito de 1974 se limitavam, naquela ocasiso, 20 mundo estticamente contemporineo ¢ situavam-se no contexio da tendéncia dos Annales. Houve, pelo contrério, diversos historiadores que encataram o “retorno do acontecimento” ‘como algo muito mais geral, aplicdvel, por excmplo, & histdria de qualquer época. Em tal contexto, alguns, no bojo do pés-modernismo, consideraram a “volta do acontecimento” coino uma oporcanidade propicia & desconstrusio da histéria politica € de seus objetos maiores. Vatios caminhos foram wilhados para tentar essa desconstrugio, ¢ 0 mais conhe- cido no Brasil foi o de desviar a énfase da politica para 0 poder e, entéo, mediante algurm tipo de conscrucio do conccito de poder que negasse prioridade na analise 20 poder estatal, propor “novos objeto”, diferentes daqueles de que se ocupa a ciéncia politica. Dentre tais tencacivas, a mais famosa entre nés é provavelmente a de Michel Foucaule (1981). A influ éncia foucaultiana sobre os historiadores foi enorme no tocante a temdticas, muito menor quanto & démarche metodol6gica propriamente histética: A influéncia no rerreno da histéria, no encanto, foi menor do que a fiequéncia com que é citedo parece indicat. Suas propostas merodoldgicas, na forma como renee apliciveis & prdtica, ¢ suas experitncias pessoais de escrever histdria eram inaceitlvels, baseadas que estavam num conhe- cimento fragmentado ¢ escasso das Fonces, agravado pelo uso de citagSes vexcuais adulkeradas ¢ pela formulagio de afiemagGes de forma vaga, o que mio petmitia submett-las hextica” (Fontana, 2004, p. 387-388), apareciam formulads, eram di ‘Outra modalidade de ataque aos objetos maiozes da ist6ria politica, a de Theodore Zeldin no sentido de descoustruir a nogio de “identidade nacional francesa’ ~ mas com inteng6es interpretativas muito mais getais de tipo pés-moderno -, foi brilhantemente cri- ticada por Gertrucle Himmelfarb (1987, p. 121-142). Tomarei aqui outro exemplo, um en- foque de base antropolégica que desvia a propria nogio de poder para longe das definigées hhabituais centradas no poder politic. Peter Wilson, em um livre de 1988, parte da definiggo de Bertrand Russel, para quem 0 poder seria “a producdo de efeitos pretendido:”, ¢ da de Steven Lukes, que acredica que © poder teside nfo na produsfo real de efeitos, mas também na capacidade de produzi-tos; assim, setia preciso separaro poder factual do poder posencial ou virtual. Lukes também cri- tica 0 termo “pretendidos’, jé que os efeitos do poder podem nZo ser intencionais, 20 passo que Wilson prop6e tomar a palavia “efeitos” niio como consequéncias de natureza material, observaveis e eventualmente quantificiveis, como pretendia sem diivida Russell, ¢ sim em i La Capitulo 2 | Histéria e poder: uma nova historia polltica? aT tum sentido menos sensivel ou fisico, mas néo menos real, entendendo-a como “impressio". ‘Assim, o poder pode consistirem dara outras pessoas, mediante certas ages, aimpressdo de ser capas.de fazet algo sem de fato fazt-lo. Jean Bausillard jé havia dito que o poder é uma simulagéo em perspectiva de si mesmo. sso abrea porta a um estudo do poder como espeté- culo, como ritual, no sentido de transmitir2 ideia de que se possui a capacidade de produzir outros efeitos mais materiais, sem tet, no entanto, de realizé-lo de verdade. Por esse motivo “Wilson opée as “surrealidades” do poder ~ em que se concentra ~ as suas “realidades". Ciea, em seguida, a opinio de Hannah Arendt de que o poder se definiria como a habilidade humana no s6 de agis, mas de agir em concerto, au seja, 0 poder é um poder das pessoas umas em relagfo as outras, é uma ago conjunta ou grup, € no uma funsio, como ‘em Russell, mas uma maneira de ser, dependente da unidade de um grupo. Jiirgen Haber- sas crticou a opiniéo de Arende como sendo um retorno & nogio de “contrato social”, de “lei natural, 0 que explicaria o fato de'a autora voltar sempre & questio da péis grega, um ingulo que putifice a politica de conflitos economicossociais incémodos ¢ da necessidade de administré-los, Para Wilson, o valor da definicio de Arendt consiste em apontar para 0 fato de que individuos, isolados quanco a outros aspectos, quando agem em grupo, em tunissono, cotnam-se uma fonte do poder e de sua eventual delegacéo. Mas, como decide wm grupo a quem delegaro poder? Wilson considera, quanto 2 isso, que uma pessoa precisa de certo modo jé estar “no poder” antes de ver-se delegar tal poder por um grupo. Também por esse caminho Wilson salienta o que chama de “poder surreal” em lugar de concentrar-se no “poder real” (Wilson, 1988, p.117-150).. ‘As propostas que conduzem, por esses ¢ outros caminhos, a uma dissolugéo dos obje- tos habituais da histéria politica nao so consensuais. Muito longe disso, a hist6ria polttica continua a existir ¢ é praticada por um mimero muito considerdvel de especialistas. Deis conflitos historiograficos: a apropriagao revisionista da Revolugio Francesa e os debates atinentes a0 fendmeno nazista e suas repercussdes Pela prépria natureza de seu objeto, a histéria politica & mais suscerfvel do que outras odalidades de pesquisa histrica de suscitar reagées forces, em especial no que diz respeito tanto a temas de atualidade, quanto a temas mais antigos, mas que envolvam fcones ado- tados por movimentos contemporancos (assim, se 0 nacionalismo macedénio indignou-se com a imagem de Alexandre, 0 Grande, tal como apresentada em um filme recente, isso teve muito mais a ver com suas reivindicagbes presentes do que de fato com o Alexandre hristérico ou com o filme). As feagSes & flor da pele também aparecem na obra de histo- riadores. Ao tratar da Segunda Guerra Mundial, Francois Bédarida refere-se as explicagées sovikticas do conflito com a frase: “Serd preciso dar mais detalhes sobre «ais intepretacoes cem que a histéria ge vé prisioneira da canga da ideologia e em que o esquemitico disputa com o attificial?” Ora, logo adiante, a0 tratat da nogo ¢ do desidenatum de ua unidade Novos Dominios da Histéria ELSEVIER eutopeia, cetomados durante a guerra ¢ também logo apés a vitéria contra o nazismo, ¢ cujo Fito declarado era, na ocasifo, livréclos da marca da “exploracéo odiosa de uma ideia justa pelo regime nézi” (neste ponto, o autor esté citando um artigo de jornal), 0 texto do préprio Bédarida aborda o assunto sem qualquer observagio ou ressalva: “Em urn dominio mais po- sitivo, temos a consttugéo euzopeia, filha dos anos de guetra e herdeira da esperanca nutrida ‘em meio 20s horrores da época pelos povos da Eusopa ocupada”. Onde foi parar, neste caso, 0 eapitito crftico? Acaso ideologias interesseiras ¢ socialmente especificas estiveram ausentes dessa retomada do ideal de uma Europa unida? Derivacam as tentativas efetivas de uma unidade europeia s6 ou principalmente de “um ideal de paz e de concétdia’ gescado durante a Segunda Guerra Mundial? Dois pesos e duas medidas, portanto, em um mesmo capitulo (Bédatida, 2003, p. 106-108). O primeizo episédio que queto recordar €2 reinterpretagio conservadora da Revolucéo Francesa divulgada por Francois Furet ¢ sua equipe, com auge na comemoragio do segundo centendtio daquele movimento, otorrido em 1989 (Garcia, 2000). O que se descjava, na fase dos iltimos estercores da Guetta Fria ~ 0 bicentendtio mencionado coincidiu com o firm da Unio Soviética ~, era exorcizar, na sequéncia de episddios ¢ processos do século XVIII € do inicio do século XIX, 0 que Eric Hobsbawm chamou de “ecos da Marselhesd’, isto é, 1 seu caréter de paradigma das revolugées do futuro, das explostes de 1848 aré a revoluszo bolchevique (Hobsbawm, 1990). Desejava-se também eliminar a nogéo de “revolucio bur- guesa” ou, na verdade, qualquer interprecagio social que a tradicto historiogréfica h muito vinculava & Revolugio Francesa. E certo que o revisionismo a respeito comegara jd antes, em 1964, quando Alfred Cobban atacara a nogio de seu carrer de classe. Sua opinio - que seria continuada e modificada posteriormente nas obras de Simon Schama ~ teve grande acolhida na Franga de parte de historiadores conservadores, em especial Frangois Furet, um ex-comunista cuja intervengio no debate, no comando de um grupo de historiadores, foi saudada e ampliada pelos meios de comunicagio em seu préprio pais, que passaram a apresenté-lo como o maior especialista na histéria da Revolugio Francesa - avaliagao alta- mente duvidosa sc for examinada a sua trajetéria intelectual até encio, isto é, até as vésperas do bicentendtio aludido; com relagéo 20 vastissimo universo dos estudos sobre 2 Revoluglo, Furec havia escrito uma pequena sintese em colaboragio com Denis Richet (1966) ¢ outeo ensaio, em 1978, também ele, como o livro precedence, no baseado em pesquisa aprofun- dada. Isso no impediu que, no dicionério critico que ditigin em 1988, tivesse a audécia de ignotar de todo a obra de Albert Soboul, um historiador marxista que, pelo conttétio ¢ sem divida alguma, e1a um especialista da Revolugio Francesa com abundante pesquisa baseada em fontes primérias (Furet, 1988). No entanto, essa investida conservadora, alea- mente ideoldgica e muito pouco académica acabou sendo de grande utilidade no por seus tesultados bibliogréficos préprios, que so pobres, mas por provocar, de imediato e 20 longo de vitios anos, umn “pés-revisionisino” de excelente qualidade ~ a que se vinculatam Pierre de Saint Jacob, Philip T. Hoffman, John Markoff e varios outcos autores ~, extremamente « C ( ae ie Capitulo 2 | Historia & poder: uma nove histbrie politica? 49 cttico quanto As realizagbes dos “revisionistas” franceses e anglossaxdnios (Fontana, 2004, p. 358-365). ‘Vou referir-me agora 20s conflitos historiogréficos, por certo muito mais acirrados, que acompanharam a discustdes acerca do nazismo ¢ de suas ages. Como era ce se esperar, o debate foi mais agudo na Alemanha, que sentiu a necessidade de entender ¢ exorcizar 0 passado nazista, mas ganhou também vatios outros palses e, nese caso, inteestes politicos ¢ ideolbgicos de signos Em plena Guerra Fria como enfientar objetivamente o fato de que, logo antes de iversos tiverai igualmente um grande impacto. sua queds, 0 pertido nazista tives oito milhées de membros? Ou de que industais ale- nies que continuavam vivos,ativos ¢ poderosos houvessem usadlo mao de obra excrava sob o regime nazista (sendo pouqulssimo molestados em 1945 ou depois)? Que o regime de “Adenauer € mais tarde o de Kohl contassem entre seus colaboradores pessoas que haviar partiipado da perseguigio racial? Sendo assim, surgiu a tendéncia istoriogréfiea de culpar unilateralmente 0 prdprio Hitler e um pequeno niinero dos principais ditigeates nazisea, livrando de culpa todos os demais. © panorama intelectual mudou, encretanto, com a escola historiogrfica de Bielefeld (Hans-Ultich Webles, Jirgen Kocka), que eratou de formular em termos diferentes 2 tra- jex6riaalernd, bem como o debate aceso sobre as ayées genocidas do nazismo, em especial ino caso do exterminio frio e programado dos judeus ~ 0 aspecto de longe mais analisado ¢ aludido ~ mas igualmente em rclasio aos eslavos nas regiées ocupadas. Também af exstiu a centativa de empurrar a culpa integral para um pequeno grupo de burocratas a servigo do re- gime nézi. A dispucaintclecevalacirou-se muito na chamada Historikerstreit de 1986-1987 ao vitem & luz certas formas de defesa - expostas, por exemplo, por Emnst Nolte, Andreas Flllgruber ¢ Joachim Fest ~ das atividades nazistas, euja estrarégia foi quase sempre a de dos Estados Unidos no Vietnds alegando haver um racismo exacetbado por parte dos sionistas ou! mesmo a0 afirmar sua comparacio com outras ages genocidas ou racistas (de Stil sem pejo coisas com esta: estando a Alemanha em guetra e sendo os judeus favordveis aos ‘Aliados, eta absolucamente légico tomar medidas contra cles!) A réplica no se fex esperar, encabegada por Jigen Habermas, jé em 1986. “Tal dispusa tinha um fundo politico inescapavel, seja a servigo das posigées conserva- doras a servigo, ceja das socialdemocratas. Ela voltou a secrudescer em 1996 com a publi- casio de umm livro de Daniel Goldhagen, que tratava de transferir a culpa pelo genocidio & totalidade do povo alemio. Discutiu-se muito, nessa conjunturs, a banalizaczo e a burocra- tizacgo do Mal. Chegous, por fim, © momento de abordar a responsabilidade dos industriais em seu apoio desde muito cedo a Hitler e, posteriormente, em seu uso de trabalho escravo sob o nazismo, um tema ventilado desde muito antes ~ afinal, ainda durante a Segunda Guerra Mundial, o magnata industrial alemio Fritz Thyssen escrevera sem rodeios: “Susten- tei Hitler e seu partido durante os dee anos que,precederam a ascensio de ambos 20 poder” (Thyssen, 1942, p. 21) ~ mas que s6 ganhou impacto historiogréfico na década de 1990. 50 Novos Bomfnios da Histérla ELSEVIER Nessa fase do conflito intelectual (sobrecudo entre 1997 ¢ 1999) historiadores profissionais que aceitaram tedigir histérias das empresas alemnas, nas quais eracavam de inocentar ou camuflar a responsabilidade politica dos empresdrios envolvidos com o hitletismo, também foram acusados de vender-se em troca de remuneragbes altas. ‘Como no caso dos debates sobre a Revolugéo Francesa, esses acerca do navismo, den- tro ¢ fora da Alemanha, geratam obras de qualidade varidvel. Talvez, no caso especificarnen- te historiogréfico ¢ alemio, a importincia maior deles, além da demonstragio de ser im- possivel calar a consciéncia social em assuntos de tal magnitude, cenha sido facilicar um dos canais na abertura da historiografia da Alemanba, anteriormente muico ancorada ainda em ‘um historicismo tacanho, a cotsentes renovadoras de grande importincia e alta qualidade, a comecar pela j4 mencionada escola de Biclefeld (Meier, 1994; Bédarida, 2003, p. 203-219, 259-266; Fontana, 2004: 366-377). No bojo da nova histéxia cultural francesa: a cultura politica O exemplo escolhido para expé-lo aqui € 0 artigo consagtado por Seige Berstein & ogo de culcura politica, em uma coletinea cujo tema é histéria cultural (ou nova histéria cultural) sob 0 foco teérico-metodol6gico. Parece-nos um bom exemplo porque, no interior da tendéncia historiogréfica mencionada, o autor a vé como aleernativa desejével a outtas maneiras de abordar a explicacéo histérica dos comporcamentos politicos, ja que [..] ofereceu uma resposta mais satisfavéria do que todas as que haviam sido pro- postas até enti: trate-se da tese marxista de uma explicacéo determinista dada pela sociologia, da tse idealisca pela adesio a uma doutrina politica ou das mite plas ceses defendidas pelos sociélogos do comportamenco, incfuindo os psicanalis tas. Forgoso é constatar que o historiador, a0 aplicar a situagBes politicas precisas cesses padres de andlise, é levado a concluir que sé the permiter considerar de _maneira parcial o¢ fendmenos complexos que tenta compreender (Berstcin, 1999, p- 389-390). Outro elemento que torna este cexto de Berstein um bom exemplo da nova histéria cultutal na andlise de temas politicos é que, como Jean-Frangois Sitinelli, 0 autor enfatiza a importincia da nogéo de representaydes em qualquer definigéo do que é uma cultura po- litica, por constituir 0 que diferencia esta tiltima de uma ideologia ou de um conjunto de wadigbes. ‘Berstein vé uma das razdes da superioridade, que enxerga no enfoque em termos da cultura politica, no fato de néo ser esta nogéo algo que pretende explicar tudo. Configura, pelo contrdrio, um pardmetro complexo que nfo conduc a uma explicagio untvoca. Cai em contradicéo com tal postura, poréim, em certos pontos de seu texto, 20 apresentar a culture “4 ae Capitulo 2 | Historia © poder: uma nova historia politica? 51 politica como “elemento determinante da acio fututa”, ou a0 afirmar que “determina 2s motivagbes da agio politica” (Berstein, 1999, p. 401, 403). ‘A.culvura politica - ou mais exatamente, como veremos, as culturas politicas ~ so uma parte somente da cultura do grupo tomada em sua roalidade, Em masésia poltica, permicem: [oJ compreender as motivagéer das ag6es dos homens aun momento de sua histéria, por 1eferéncia a0 sistema de valores, normas ¢ crengas que partilham, em fango de sua leirara do passado, suas aspiragSes para o futuro, suas representagses da sociedade, do lugar que ocupam e da imagem que tenham da felicidade. Todos cesses sfo clementos que dependem do ser profitndo, variam em finglo da s dade em que estejam claborados ¢ permitem compreender melhor as ra2bes das agées politicas, que, assim, aparecem de maneiras diversss, ¢ nfo somente como epifendmenos (Berstein, 1999, p. 405). Dentro de uma mesma sociedade ou pais existem mitltiplas culturas politicas, as quais, coincidem em certos aspectos por existirem também valores mais gerais compartilhados pela sociedade considerada globalmente. Quanto aos valores partithados no intetior de uma dade cultura politica, se sua difusio for suficientemente ample poderd surgir uma cultura politica dominante que - em suas relagbes hierdrquicas, em uma mesma sociedade, com caulturas polfticas diferentes ~ poderd ser fator de modificagao destastiltimas; mas ela am- béin recebe influéncias das outras. As culturas politicas ni sto imutéveis, uma vez que ‘ee transformam em fungéo dos contatos entre si e da incidéncia de outros fatores, como tespostas que devem dar aos problemas que se vio renovando, conjunturas ¢ ciscunsténcias identes também variéveis no tempo ¢ "traumatismos” graves ~ outros autores preferem 2 expressio “periodos crfticos”- que afecem a sociedade, consequentemente, suas culeuras po- Iiicas (0 autor dé alguns exemplos relacionados & Franga, como 0 caso Dreyfus, as detrotas militares como aquela conducente & humilhacio diante da Alemanha quando da Segunda Guerra Mundial, os acontecimentos de maio de 1968, entre outros). Os perfodos criticos, em especial aqueles marcados por crises de legitimidade (como foram, na Franga e em grandes éreas da Europa, os anos 1789-1815) suscitam respostas novas ~ que, no entanto, tardam décadas em rornar-se 0 nticleo de uma culture politica socialmente difundida, j& que esta, para funcionar, precisa ser coetente ¢ estruturada. Os processos de socializacio que agem nas sociedades humanas sio os que garantem 2 difusso social das culturas politicas: familia, escola, forgas armadas, ambiente de trabalho, sindica- 10s, partidos politicos e meios de comunicagio. A acio desses diferentes elementos difusores pode ser contraditéria. Uma cultura politica deve ser entendida tanto como algo coletivo, quanto em sua interiorizagio em cada individuo, pois, uma vex que este, submetido a di- ferontes influéncias, chega 8 maturidade, as selegBes que realizou constituem um conjunto que ificilmente mudaré no futuro, a nfo ser pela incidéncia do que o autor chama de 52 Novos Dominios da Historia ELSEVIER “uaumarismo” grave, ¢ tenderd a orientar suas agées em macéria politica. Percebe-se, en- to, que uma mesma culcura politica possa comportar nuances e subdivisbes em funcko de inceriorizacées selerivas provindas de processos de socializagéo que também favorecem 0 surgimento de variances, algumas das quais podem ser categorizadas em cermos de geragbes. ‘A andlise que fie Berstein de como emergem novas cultures politicas e de como elas moudam apresenta © mesmo problema que percebo, mais em getal, em uma nova hisvéria cultural com frequéncia pés-estruturalista em suas concepsfies acerca do poder: « narureza ¢ a identidade dos sujeitos sociais, individuais ou coletivos, tencem a esfirmar-se,a nfo ser objeto de andlise, eificando-se em um “isto” (em lugar de um “quem”) subjacence &s explicagies. Da mesma maneira, a0 tratat de como pode chegat a desaparecer uma cultura politica até entfo importante ou mesmo hegemdnica, lemos em Berstein coisas que entram em aaccitaveis metodologicamente: ‘nenhuma contradigéo com suas premissas, além de serem cultuca politica pode sobreviver indefinidamente a uma contradigao force demais com as realidades" (grifos meus); ou, 20 expot um exemplo que escolhe: Acedlerose da culeura comunista, apegada a um modelo obreitista do século XIX ca uma leitura dogmética do marcismo, muito discanciada da realidade das socie~ dades evoluidas do século XX, produto do crescimento, tera muito a ver com sua perda de influéncia e, portanto, com o declinio do Partido Corauniste, Btn outros teemos, mesmo se as representagbes difecem da realidade objetina, no podem estar ‘em contradigio com ela, ob risco de perderem toda credibilidade e desaparecerer (Berscein, 1999, p. 398, 399). ais formulacées desnuda duas enormes deficiéncias mevodolégicas, curiosas por sua (pelo menos aparente) ingenuidade. Em prinneiro lugas, partlham um defeico presente desde o inicio nos estudos derivados dos Annales em matéria de temas como mentalidades, representagSes ou imagindtio colecivos: consideré-los antOnimos da “tealidade”. Ora, uma representagio coletiva, por exemplo, em sua qualidade de representaglo, existe ¢ € do teal, quanto uma cadeira, um campo cultivado ou uma sinfonia, independentemente da dis- ccusso de quais sejam as suas relagées com outros setores da realidade natural ¢ social. Em segundo lugar, se nos momentos sociais de “traumatismo” grave, ou nos “perfodos cxfticos”, a “realidade” ~ e nos exemplos dados por Berstein fica claro que ela inclui proeminente- mente aspects estruturais de tipo econdmico-social ~ é tio decisiva para o nascimento ¢ desagregacio das culturas politicas, com que discito foi, entio, evacuada da andlise em favor ~ das representacdes, se precisa ser invocada novamente nas explicagbes mais importantes de todas como uma espécie de fator externo? E no entrard tal fato em conteadicgo com a pre- tensdo do autor no sentido de as culeuras politicas, encaradas como representagles sociais! individuais esteueuradas, proporcionarem uma explicagio melhor do que as que se baseiem nos aspectos estruturais? a, A ahe Capitulo 2 | Histéria © poder: uma nova histéris politica? 53 Conclusao © aggiornamento da histSria politica, intensificado a partir da década de 1970, ocor- eu, dentro ou fora da tendéncia dos Annales, quase todo no interior de uma aticude epis- remolégica que nfo questionou o realismo do objew ¢, portanto, manteve-se coerente com as caracteristicas tradicionais da “segunda geragio” dos Annales, cujas nogbes haviam pre- dominado, em linhas gerais, até o final da década de 1960. Entreranto, em paralelo, como vimos, ocorreu wm esforco de desconstrugio dos objeros tradicionais da histéria politica, ccujo éxito foi pequeno entre as culzores espectficos desse ramo dos estudos histéricos. Néo foram sobretudo historiadores politicos stricto sensu aqueles seduzidos por posigées como as de Michel Foucault ou Jacques Derrida, mas sim outtos tipos de historiadores, que se jnteressaram por temécicas relativas ao poder de um ponto de vista culeuralista, muitas vezes antiopologizante, ou dentro das concepeSes foucaultianas. Isso provavelmente se deveu a0 fato de que, se 03 historiadores politicos no sentido estrito da palavia aceitassem para sus disciplina alguma das diferentes formas de desconstrusio, extariam diluindo inteparavel- mente os contornos da hist6ria politica, que é disciplina volrada, a partir de posigées ~ aliés ‘vatiadas ~ buscadas ma ciéncia politica, para uma teoria do Estado ¢ do poder de Estado, € nio, por exemplo, para uma “microfisice do poder” & maneira de Foucault. Dito isso, no estd exclufdo que 0 objeto tradicional ranto da histéria politica quanto dacigncia politica se transforme em um futuro préximo a ponto de tornar-se irreconhecivel ‘em fangio das mudancas drésticas e jé em curso que prenunciam 0 que alguns denominam “sociedade informética”. (Para as mudangas na “formayio politica da sociedade”, of. Schaff, 2001, p. 53-70). Referéncias BEDARIDA, Francois. Histoire, critique et responsabilité. Pasis: Complexe, 2003. BERSTEIN, Serge. La cultura politica. In: RIOUX, Jean-Pierre; SIRINELLE, Jean-Francois (orgs.). Para nna historia euleural. México: Taurus, 1999, p. 389-405. BLONDEL, }. Citncia politica. In: OUTHWAITE, Williams BOTTOMORE, Tom (orgs). Diciondrio do pensemento social do séeulo XX. Rio de Janciro: Jorge Zahas, 1996, p- 80-85. : BONFILS-MABILLON, Béatrices ETLENNE, Bruno. Za science politique est-elle une science? Paris: Flammarion, 1998. ELIAS, Norbert. Compromivo y distanciamiento, Barcelona: Peninsula, 1990. FINLEY, Moses I. 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