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‘radugéo Daniela Beccaccia Version’ Levistio Técnica Sloudia Perrone-Moieés Preenche « ficha de cadastre no final deste livro receba gratuitamente informagies sobre os langomentos © promogées de Editora Campus. Consuite também noseo catéloge ‘completo e dilimos langamentos em rew.campus.combr EEC Cece eee eg eee See eet Eee Teoria Geral Politica "A Filosofia Politica Filosofia Politica e as Ligées dos Classicos | | I Capitulo 3 Politica e moral 1 © CONCEITO DE POLfTICA, O significado cldssico e moderno de politica Derivado do adjetivo de polis (politikas), significando tudo aquilo que se refere & cidade, portanto ao cidadio, civil, publico e também sociavel ¢ social, 0 termo “politica” foi transmitido por iniluéncis da grande obra de Aristételes, intitulada Politica, que deve ser considera da 0 primeiro tratado sobre a natureza, as fungoes, as divisées do Esta- do, e sobre as varias formas de, governo, predominantemente no signifi- cado de arte ou ciéncia do govern, isto €, de reflexdo, néo importa se com inteneSes meramente descritivas ou também preseritivas (mas os dois aspects sio de dificil distingSo), sobre as coisas da cidade. Ocor. re, assim, desde a origem, uma transposigio de significado do conjunto de coises qualificadas em um certo’ modo (ou seja, com um adjetivo gualificativo como “politico”) para a forma de saber mais ou menos orgenizado sobre esse mesmo conjunto de coisas: uma transposigio nfo diferente daquelz que deu origem a termos tais como fisica, estética, economia, ética e, por tiltimo, cibernética, Durante séculos, o termo “politica” foi empregado predominantemente para indicar obras dedicadas ao estudo daquela esfera de atividade humana que de algum modo faz referéncia As coisas do Estado: Politica methodice digesta, s6 para dar um célebre exemplo, 0 titulo da obra através da qual Johannes Althusius (1603) expée uma teoria da “cousuciatio publica” (o Estado no sentido moderno da palavra), compreendendo em seu seio virias formas de “consociationes" menores. 160) F nin eei a era moderns, o termo perdew o seu significado original, te sido pualcamente sabato por outs expresses como l= Gia do Estado", "dostrina do Estado’, ‘iénia plies’, "fsa pal {ea et, pra enfim ser habituslmenteempregadoparsindca at. dade ous conjunta de atvidades que ttm de algum modo, come temo Ge refers pls, to 6 o Bade, Desa atividade aps on €0 suet donde perencem exferdaplta sos como de comandar {ou poi) algo, com efetoswinclates pra todo ot membres de tum determinado grpo sce, 0 exeriio de um demisio exci strum determinado tet, oe lepit com rormesdserga le extrair e distribuir recursos de um setor para outro eee tae uments es onde peace tes de itiea agSes tais como conquister, manter, defender, ampli, aa aerate > poder esata etc. Prova disso € que cbr ase fontinuam a tadifo do watado artic recebem por tal, no so XIX, Hn do din (eg 821) Sema de nia de ado von Stein, 1852-56), elementos de ciéncia politica (N se BO), Douinageel do Estado(Geors Jelinek, 3900). onsen ‘em parte o significado tradicional a pequena obra de Croce, Element ai politia(Elmentsde pole) [1825], na cul “polis” conserva Sguifado de reflexto wire a avdade poli, e, portant, ext no Tug de “elementos de Hosoi politica”, Povautertor€ aqua gue sz pede inferir do corte, que se més em tos a ings ml Gifu, de chamar de istriedasdotrnss,ou da ids poten ox também, de mode mais gral, do pensamento plc, bisa cue ae howvesse permanscid invari o significado que nos chego dos clisicos, devera ser denominada histria da politic, por analoga com ours expresses tas como sti dase, ou da exc oda ce ertmeanbmaccada por Croce oa nore cade ints Per tora dela lofi delle poten (Pela sri da floafia de politica] o capftulo dedicado a um breve excurso histérico nas polfticas moderna. i és de poder A tipologia cléssica das formas lade ou praxis conceto de politica, etendida como forma de ativid és ‘eel le ane ligado ao conceito de poder. ° much at definidetradicionalmente como “consistente nos meios para se obter teem vantagem” (Hobbes)' ou, de modo anglogo, como “o conjunto ‘dos meios que permitem conseguir os efeitos desejaios” (Russell) ?Sen- do um desses meios o dominio sobre outros homens (além do dominio sobre a patureza), o poder é definido ora como uma relagéo entre dois ‘sujeitos, na qual uma impée ao outro a prépria vontade, determinando. © seu, malgrado 0 comportamento: mas como o dominio sobre o8 ho- mens ndo é geralmente fim em si mesmo, mas meio para se obter "al. ‘guma vantagem", ou, mais exatamente, “os efeitos desejados", de modo nio distinto do dominio sobre 2 natureza, a definigéo de poder como tipo de relacio entre sujeitos deve ser integrada a definicdo do poder como @ posse dos meios (dos quais os dois principais s0 © domfnio sobre os outros homens ¢ o dominio sobre a natureza) que permite obter, exatamente, “alguma vantagem’, ou os “efeitos desejados". © poder politico pertence & categoria do poder de um homem sobre ou- {ro homem (nao do poder do homem sobre a natureza). Esta relagio de poder € expressa de mil maneiras, nas quais se reconhecem expressées ‘ipicas da linguagem politica: como relagio entre governantes e gover: nados, entre soberano e siditos, entre Estado e cidadlos, entre coman- do.e obediéncia etc. HG virias formas de poder do homem sobre o homem: © poder politico € apenas uma deles. Na tradicéo cléssica, que remonta especi- ficamente a Aristételes, eram consideredas cobretudo trés formas de poder: o poder paterno, o poder despético e o poder politico, Os erité- ros de diferenciagio foram, nos diferentes perfodos, distintos. Em Arist6teles, vislumbra-se uma distingSo com base no interesse daguele em favor do qual € exercido o poder: 0 poder paterno & exercido no interesse dos filhos, 0, despético, no interesse do senhor, o politice, no jnteresse de quem governa e de quem é governado (contudo, somente nas formas corretas de governo, uma vez que as formas corruptes si0 diferenciadas por sua vez exatamente por ser 0 poder exercido no inte- resse do governante). Mas o critério que acabou afinal prevalecendo na ‘ratadfstica dos jusnaturalistas foi aquele do fundamento ou do princt- pio de legitimagio (que se encontra formulado com clareza no capitulo XV do Segundo tratado sobre o governo civil, de Locke): 0 fandamento do poder patemno é a natureza, do poder despético, 0 castigo por um delito cometido (a tinice hipétese neste caso é aquela do prisioneiro de guerra que perdew uma guerre injusta), do poder civil, o consenso. A esses trés motivos de justficagio do poder correspondem as trés ex- pressbes clissicas do fundamento da obrigacio: ax natura, ex delicto, 2 RUSSEL Pw rw Sl dt, len Un Lt, pte th ee nal vrei, PME ex contractu, Nenhum dos dois critérios, contudo, permite individuar o caréter especifico do poder politico. De fato, que o poder politico se caracterize, em comparagdo com o paterno ¢ 0 despético, por se voltar ‘para os interesses dos governantes e dos governados ou por se fundar sobre-o consenso, € um carster distintivo nao de qualquer governo, mas apenas do bom govemno: ndo é uma conotagio da relacéo politica en- quanto tal, mas da relacio politica correspondente 20 governo como deveria ser. Na verdade, os escritores politicos sempre reconheceram, tanto governs paternalistas quanto governos despéticos, ou seja, go- vvernas nos quais a relacio entre soberano e stiditos ¢ aproximada ora da relacéo entre pai e filhos, ora da relacio entre seahor e escravos, os guais nao sio de feto menos governos do que aqueles que agem pelo bem piblico e se fundam sobre o consenso. A tipologia moderna das formas de poder Ao objetivo de encontrar o elemento especifico do poder politico, pparece mais conveniente o critério de classificacio das varias formas de poder que se funda sobre os meios dos quais se serve 0 sujeito ativo da relagio para condicionar o comportamento do sujeito passive. Com base neste critério, podem-se distinguir trés grandes tipos no émbito do conceito latissimo de poder. Esses tipos slo: o poder econdmico, 0 poder ideolsgico e o poder politico. O primeiro € aquele que se vale da posse de certos bens necessérios, ou assim considerados ern uma situa- ‘lo de escassez, para induzir aqueles que nfo os possuem a ter uma certa conduts, consistente principalmente na execugio de um certo tipo de trabalho. Na posse dos meios de producio reside ume enorme fonte de poder por parte daqueles que os possuem em relacio aqueles gue néo os possuem: o poder do chefe de uma empresa deriva da pos- sibilidade que a posse ou 2 disponibilidade dos meios de produgio lhe dé de obter a venda da forca-trabalho em troca de um salério. Em geral, qualquer um que possua abundanca de bens € capsz de condicionar © comportamento de quem se encontra em condigdes de pentria, atra- vés da promessa e atribuigdo de compensagies. O poder ideolégico fnda-se sobre a influéncia que as ideas formuladas de um determina- do modo, emitidas em determinadas circunstincias, por uma pessoa investida de uma determinada autoridade, difundides através de deter- minados procedimentos, témn sobre a conduta dos consociados: desse tipo de condicionamento nasce a importéncia social em cada grupo or ganizado daqueles que sabem, dos sepientes, sejam cles os sacerdotes 22| das sociedades arcaicss, sejam eles os intelectuais ou os cientistas das sociedades evoluidas, pC Porque através deles, e dos valores que eles di- Eendem, ou dos conhécimentos qu les emanam, cumpre-nepiecen Rigor sect eto « interaso d grupo. O peer nda-se. sobre_a posse dos instrums s através do: us ease fors fea (amas de edo Spo cerau} €o pode, ‘ do als estrito da palaves. Todas as t@s formas de one mantém uma sociedade de di ais, ne dae Cate cose pobre, com base no primeia chat ate et ‘es, com base no segundo, entre fortes ¢ fracos, com base a6 ton Laurenictiven entre superiores e inferiores, Ha veranntiant poder cuj mci espectico& a forga —entenda-se, como amos aciante, 0 uso exclusive da forga —, que €0 meio desde pre mais eficaz para condicionar os comportamentos, o poder polit ico Gin Mislauer sociedade de desiguais 0 poder supreme, inte a Sere sel todos os outros esto de algumn modo subordinades:¢eice Geode esau sg Secor gave repo scl (a dese fe qualquer grupo social), em sltima instincia, ov cans Passer Para : defender dos ataques externos ou ne imped 4 desaszegacdo do grupo, a prépria elim Bes entee : eliminagéo. Nas rel: entre Ragembros de um mesmo grupo social, fo obstanteo estate de we pandas We xPropsasfo dos mele de produto wis nas pe Dredos em relagio 40 expropriatores, nfo abstante #adeaie recta fos valores de grupo por parte da malaria dos destinatiio Sas renee ede igicas nieve pela classe dominante, apenas o emprego da forca fisica serve, ainda que apenas em casos extn ot insubordinasio ca dewbeditaca dos submetilos cones sara térica prova com abundantes clagdese oo seis dino nao ott impotnne see ne ee EIS rsioria das teorias sociais cont x ‘ais contemporineas, nas quais o sisterna s ‘Subsistemas principais, que séo a inizagac odes 3 Qrpnizasio do consese, «orningte ds cone eee et crema do conse ; 0. Tal coma Ertan ceat ot interpretads do seguinte mods a base real, ou es ce cary ompreende o sistema econdmico; a superestrutura, cindinds, momentos distintos, compreende o sistema ideolégico eo [163 sma mais propriamente jurfdico-politco. Gramsci distingue clara- mente, na eof superestaurl, 0 memento do consenso (ue le char de ied) eo omen do domi (eo qual deni secede polls o Bade), Duane etdoe os exits plas disingran o pad spit oqule qu ne chemaramot de er- Vio) do poder tenponl,e sempre intergretaram o poder teperd como constituide da unio do ee (ue hoje eer doimperivon (ao que hoje chamariamos poder mais ree sli Sas laste le om tual poder tempor) quanto ne dicotoa marae (ears s- Peres) encontamos arts fom de pdr, epee que ‘eres corretamenteo segundo emo em aabos oars como sen da competo de dis momentos. A dieeng et no fio de que seo tical momento principal 9 esi, no seni de us x econmico-palitico é concebido como dependente dire Su indent topic aru, endure mee carn momento principal é 0 poder econémico, no sentide de que 0 po ideol6gico e o poder politico refletem mais ou menos imediatamente estrutura das relacées de producéo. © poder politico (Que a posibildade de recorrer 8 forga sjao elemento que distin- sue © poder potico das outra formas ce poder ndo significa que 0 ode polit se resume sowsoda forgo uo de fore €uma condo nio auficiente pea a existéncia do poder politico, Nem tls BP peal Candle ar, aco Cos Sr Ct nuidade, a forga (uma associacio de delingdentes, um bando de pira- ‘as, um grupo subversivo etc.) exerce um poder politico. O que carnc- teriza o poder politico & a exchusividade do uso da forga em reo a tas os grupos gue ager em um determined cones clusvidede que € 0 resultado de um processo que se desenvalve, em ted oe eps, des da mnoplinse de pone © uso dos meios com os quai épossivelexercer a coagio fis Se aeisoeeas catia pa pani cat proceso de Crminalaoe penabaeo de todos or tos de wléncia quent Fox rem cumprides por pessoss autorizadas pelos detentorese bene! es da teoria moder- Na hipétese hobbestang, que esté no fundamento oer nado tds apusngende eta deste pao Eade ci Asi] da anarquia para a arquia, do estado apolitico para 0 Estado politico — Ocorre quando os individuos renunciam ao diceito de usar cada qual BrSpriaForga que os toma iguais no estado de natureza para deposté le 2s mics de uma dia pessoa ou de um vnico compo que de agora em diante seré o tinico autorieado a usar a forga no interesse dees Eee, hipétese abstrata adquire profundidade histérica na teorla do Eels de Marx e de Engels, segundo a qual as insttuigées polticas em wee ‘ociedade dividida em classes antagGnicas t8m por principal uncle Permitir que a classe dominante mantenha o préptio dominio, objetivo. ue nio pode ser alcancado, dado o antagonismo de classe, sendo me, Glante a orgunizagio sistemética« eficaz da forga monopolizads (e Bar iso que cada Estado é,¢ no pode deixar de se, uma ditadura) Neste sentido, torou-se ja clasica a definigio de Max Weber. "Pop Estado deve-se entender uma empresa institucional de eardter politica ne qual —e na medida em que— o aparato administrative leva ediante com sucesso uma pretensio de monopélio da coergdo fica legtima, tendo em vista a apicacio das disposigées".? Esta definida jéce ton, ‘nou quase lugar-comum na cigncia politica contemporénea Emm um dos ois manusis de ciéncia pottica mais conceituados, G. A. Almond eG B. Powell excrevem: “Concordamos com Max Weber quanto ao fate a auc a force Fisica legttima €0 fio condutor da ago do sistema politic, aquilo que lhe confere a sua particular qualidade e importancia esse, Goeréncia como sistema. As autoridades politicas,e apenas elas, ttm ¢ dircito predeminantemente acito de usar a coergio e de exgir obo. dliéncia com base nela(.). Quando falamos de sistema politico inchet Fat fod as interacGes relativas2o uso ou 3 ameaca do uso da coergio {sia legitima’.* A supremacia da fora fsa como instrumento de ve, der sobre todas as outras formas de poder (entre as quais a duss prince Pais, além da forca fisica, so o dominio sabre os bens, que dé lugar 20 Poder econtmice, ¢0 dominio sobre as iia, que dé lugar 10 poder \deolGgice) pode ser demonstrade se considerarmes que, or mak gue fa maioria dos Estados histéricos 0 monopélio do poder coativo tera buscado ¢ encontrado a répria sstentato na imposgio das ida ("oe ‘idGias dominantes", segundo conhecida frase de Mare, "edo as idéies de, classe dominante"), dos deuses pitrios 8 religto civil, do Estado cor > Rat noe oe Mn ceed tt + ZA ANCHE. 8 OW, cpr oie a pean speck tine Brom, Boos, acre stem Sic gece Ses Presta Py ue: own Ca, son DEEL ee Seger pol hao, Reds, 988 A pane eonetnae Se rea Tad cnn fessional 8 religido de Estado, e na concentragio e direcionamento das atividades econémicas principais, hé contudo grupos politicos organiza- dos que puderam consentir na desmonopolizacio do poder ideolégico e do poder econémico (disso ¢ exemplo o Estado liberal-democritico ca- racterizado pela liberdade do dissenso, embora dentro de certos limites, pela pluralidade dos centros de poder econémico). Mas néo hé grupo social organizado que tenha até agora podido consentir na desmo- nopolizagdo do poder coativo, evento que significaria nada menos que fimdo Estado, e que, enquanto tal, constituiria um verdadeio salto qua- litativo para fora da histéria, no reino sem tempo da utopia. Algumas caracteristicas habitualmente atribuidas 20 poder politico —e que o diferenciam de qualquer outra forma de poder — sio conse- _quéncia direta da monopolizacio da force no émbito de um determins- do territério em relacio 2 um determinado grupo social. Sao elas: a cexclusividade, a universalidade e @ inclusividade. Por exclusividade en- tende-se 2 tendéncia que os detentores do poder politico manifestam de nio permitis, no seu émbito de dominio, a formagéo de grupos ar- mados independentes, e de subjuger, ou desbaratar, aqueles que forem se formando, além de manter sob vigilancia as infltracSes, as ingerén- cias ou as agressoes de grupos politicos externos. Esta caracteristica distingue o grupo politico orgenizado da “societas” de “latrones” (0 “atrocinium” do qual falava santo Agostinho). Por universalidade e1 tende-se a capacidade que tém os detentores do poder politico, ¢ ap as eles, de tomar decisbés legitimas e efetivamente operantes paid’ a comunidade com relacao & distribuigdo e destinagao dos re _s0s (no apenas econémicos). Por inclusividade entende-se a possibili dade de intervir imperativamente em cada possivel esfera de atividade dos membros do grupo, encaminhando-os para um fim desejado ou distreindo-os de um fim néo-desejado através do instrumento da or- dem juridica, isto é, de um conjunto de normes primérias voltadas pera os membros do grupo e de normas secuncdrias voltadas para os funcio- nérios especializados, autoridados a intervir no caso de violagao das pri- ‘eiras, [sto nao significa que o poder politico no imponka limites a si mesmo. Mas sto limites que variem de uma formacio politica para ‘outra: um Estado teocritico estende o préprio poder & esfera religiosa, enquanto um Estado laico se rende diante dela; assim também, um Estado coletivista estende o proprio poder esfera econémice, enquan- 10 0 Estado liberal cléssico dela se afasta, O Estado oniinclusivo, isto é, © Batado para o quel nenhums esfera de atividade humana pecmanece estranhe, € 0 Estado totalitério, ¢ & em sua natureza de caso-limite, a subliinacio da politica, a politizagéo integral das relacoes socias. fim da politica ‘Uma vez individuado 0 elemento especifico da politica no meio do qual se serve, perdem forca as tradicionais definigbes telecl6gicas, que tentam definir a politica mediante o fim ou os fins que ela persegue, Com relacto a0 fim da politica, a tinica coisa que se pode dizer é que, se 0 poder politico é exatamente em razio do monopélio da forca, o poder supremo em um determinado grupo socal, os fins que vierens 2 ser perseguidos por obra dos politicos sio os fins considerados segundo as circunsténcias preeminentes para um dado grupo social (ou para a classe dominante daquele grupo social): para dar alguns exemplos, em tempos de lutas sociais ecivis, a unidede do Estado, a concérdia, paz, a ordem piblica etc; em tempos de paz interna e externa, bern-estat, a prosperidade ou até mesmo 2 poténcia; em tempos de opressio por parte de um governo despético, a conquista dos direitos civis e politi- ‘cos; em tempos de dependéncia de uma poténcia estrangeira, a inde- pendéncia nacional. [sso significa que nao hé fins da politica para sem- pre estabelecidos, e muito mens um fim que compreenda todos os ‘outros e possa ser considerado o fim da politica: os fins da politica sso ‘antos quantas forem as metas a que um grupo organizado se propée, segundo os tempos e as circunstncias. Esta insisténcia no meio mais do que no fim corresponde de resto & communis opinio dos tedricos do Estado, os quais excluer o fim dos chamados elementos constitutivos do Estado. Recorramos uma vez mais a Max Weber: "Nao € possivel definir um grupo politico — e tampouco o Estado — indicando 0 obje- tivo do seu agir de grupo. Nao hé objetivo que grupos politicos nfo tenham alguma vez proposto (..) Pode-se, portanto, defini 0 caréter politico de um grupo social somente mediante 0 meio (..], que nio € proprio exclusivamente dele, mas & em cada caso especffico, ¢ indis- pensével para a sua esséncia: 0 uso da Forca’ > Essa remogio do jutzo teleoldgico nao impede contudo que se possa falar, com cotregéo, pelo menos de um fim minimo da polftica: 2 or dem piblica nas relagées internas a defesa da integridade nacional nas relagdes de um Estado com as outros Estados. Esse fim é ‘tminimo, por- que 6 a conditio sine qua nom para a realizagio de todos 0s outros fins, sendo portanto com eles compativel. Mesmo o partido que deseje a desordem, deseja a desordem néo como objetivo final, mas como mo- ‘mento obrigat6rio para transformar a ordem existente e criar uma nova ordem, Além do mais, € lito falar da ordem como fim mtnimo da 5M WEBER, Viral wnd Gulia ev Lp 2990 (1974 € 98, vo fp 54 politica porque ela é, ou deveria ser, o resultado direto da organizacio do poder coativo, porque, em outras palavras, esse fim (a ordem) for- ma um todo com 0 meio {0 monopélio de forga}: em uma sociedade ccomplexs, fundada sobre a divisio do trabalho, sobre a estratificacio de segmentos e classes, em alguns casos também sobre a sobreposigéo de populacies e racas distintas, somente o recurso em iltima instancia a forca impede a desagregecdo do grupo, o retorno, como diriam os antigos, 20 estado de natureza, Tanto é verdade que o dia em que fosse possivel uma ordem espontinea, como imaginaram virias escolas eco- némicase politicas, dos fisiocratas aos anarquistas, ou aos proprios Marx ¢ Engels, na fase do comunismo plenamente realizado, no mais heve~ ria, propriamente falando, politica Quem considerar as tradicionais definigdes teleol6gicas de politica ‘nfo tardaré a perceber que algumas delas nao sio definicées descrti- vvas, mas sim prescritivas, no sentido de que no definem o que & con- cretamente e normalmente a politica, mas indicam coma deveria ser a ppoltica para ser uma boa politica; outras diferem apenas em palavras (2s palavras da linguagem filos6fice so com freqincia intencional- ‘mente obscuras) da definiglo aqui oferecida. Toda a hist6ria da filoso- fie politica transborde de definicées prescritivas, a comecar por aquela de Aristételes: como é sabido, Aristételes afirma que o fim da politica ‘ido € 0 viver, mas o viver bem (Politica, 1278). Mas em que consiste vida boa? Como distingui-la da m4? E se uma classe politica tiraniza os seus séiditos condenando-os @ uma vida desgracada e infeliz, nlo esté por acaso fezendo politica, e 0 poder que exerce por acaso néo um poder politico? O mesmo Aristételes distingue as formas puras de go- verno das formas corruptas (¢ antes dele Platio, e depois dele muitos outros escritores politicos 20 longo de vinte séculos): embora aquilo que diferencia as formas corruptas das puras seja que naquelas a vida no € boa, nem Aristételes nem todos os escritores que depois dele vieram jamais thes negaram o cardter de constituig6es politices. Nao nos iludam outras teorias tradicionsis que atribuem & politica outros fins além da order, como o bem comum (o préprio Aristételes e de- pois dele o aristotelismo medieval) ou a justica (Plato): wm conccito como o de bem comum, caso queiramos liberté-lo da sua extrema ge- neralidade, através da qual pode significar tudo e nada, ¢ queiramos indicar-lhe um significado plausivel, ndo pode designar sendo aquele ‘bem que todos os membros de um grupo tém em comum, bem este {due outro ndo é senio a convivéncia ordenada, em uma palavra, a or- dem; quanto a justica em sentido platonico, se a entendemos, uma vez 168] dissipadas todas as névoas ret6ricas, como o principio com base no qual & bom que cada um faca aquilo que dele se espera no ambito dade como um todo (Reptiblica, 433a), justiga e ordem séo Sas aise, Outras nogées de fim, como flicidade, liberdade, igualdade, os demasiado controverss,e também elas interpretdveis das mance sae Aispares para que deles se possam extrairindicagdesteis para indlvichen ° fm cepectico a politica, ro mode de escapar is dificuldades de uma definié : de politica € definindo-a como aquela forme de poder ee ‘tim do tem além do préprio poder (donde poder 6 a0 mesmo tempo meio e fim, ou, como se costume dizer, firm eu si mesmo). “O carster politi- co da agfo humane — escreve Mario Albertini — emerje quando 9 poder se torns um fim, é buscado em certo sentido por si meses, ¢ Constituio objeto de uma atividade espectfica’ diferente do que ocorre com o médico que exerce 0 préprio poder sobre o doente pera cont lo 01 do rapaz que impde o seu jogo aos colegas nfo pelo prazer de exer, ex um poder, mas pelo prazer de jogar. odes cbjctara esse mech te definis politica dizendo que ele néo define tanto uma forma esvecsies de poder, mas um modo espectfico de exerc-o,e portato se aplica igualmente bem a qualquer forma de poder (seja ele 0 poder econsm ¢2, wo poder ideolégic ¢ assim por diante). O poder pelo poder ¢¢ forma degenerada do exercicio de qualquer forma de porter, gue pode XG; Potsuito tanto quem exercesquele poder de amps dimenwbes gue € 0 poder politico quanto quem exerce um pequena pod, 0 ode sero poder de um psi de fami, ou de um chefe de serie nee Supervisiona uma dizia de operérios. A razio pela qual pode parecer a1sc 0 poder como fim em si mesmo sejacaracterfstico da politica (mes seria mais exato dizer de um certo homem poltce, o homem pola, maquiavélico) est no fato de nfo exisir um fim tio espectfice da po, Itica tal como, 20 contri, existe um fim espectica do poder ur o médico exerce sobre o. doente, ou do rapaz ‘que impde um jogo aos seus colegas. Se o fim da politica (e nfo do homem politico maquiavélico) fosse realmente o poder pelo poder, a politica ndo seria vara nace Provavelmente a definicto da politica como poder pelo poder deriva dy onfusio entre o conceito de poder © o conceita de potencies ac ht diva de que entre os fins da politica também esteja aquele da poser is do Estado (quando se leva enn consideragao a relagia do préprio Estado com outros Estados). Mas uma coisa é uma politica de poténcia, outra coisa € o poder pelo poder. E, além disso, a poténcia nada mais ¢ 8. ALERTING, potion a polite of tac, Ga 1963, 8 169 F 120] que um dos fins possiveis da politica, um fim que apenas alguns Esta- dos podem razoavelmente perscguir. A politica como rélagdo amigo-inimigo Entre as mais conhecidas e discutidas definigSes de politica deve- ‘mos consicerar aquela de Carl Schmitt (retomada e ampliada por Julien Freund), segundo a qual a esfera da politica coincide com a esfera da relagio amigo-inimigo. Com base a nessa definicéo, o catnpo de origem «ede aplicacao cla politica seria 0 antagonismo, e3 eua Fungo consistiia na atividede de agregar e defender os amigas ¢ de desagregar e comba- ter 0s inimigos. Pera reforcar a sue definicéo, fundada sobre urna oposi- so fundamental (amigo-inimigo), Schmitt compara-a as definigdes de moral, de arte etc. fundadas, também elas, sobre oposigées fundamen- ‘ais, eis como bom-mau, belo-feio etc. ‘A cspecifica distinsZo politica, 2 qual é posstvel reconduzir as ag6es € os motives politicos, & a distin. fo entre antigo e inimigo (..). Uma vez.que nia é derivivel de outros critérios, ela corresponde, para a politica, aos critérios relativarmente ut6nomos das cutras oposicbes: bom e mau para a moral, belo e feio para a estética, e assim por diante”.” Drasticamente, Freund expressa- se nos seguintes termes: “enquanto houver politica, ela dividiré a cole- tividade em amigos einimigos"*. E comenta: “Quanto mais uma oposi- sfo se desenvolve em direcio a distincéo amigo-inimigo, mais se torna politica. A caracteristica do Estado € suprimir no interior do seu ambi- to de competéncia a divisio dos seus membros ou grupos internos em. amigos ¢ inimigos, com o objetivo de nao tolerar sendo as simples riva- lidades egonisticas ou as lutas dos partidos, e reservar 40 governo 0 direito de designar o inimigo externo. (...) Fica portanto claro que @ ‘oposigto amigo-inimigo é politicamente fundemental”.? ‘No obstante a pretensio de valer como definigso global do fend- ‘meno politico, a definigéo de Schmitt considera a politica segundo uma perspectiva unilateral, ainds que importante, que é aquela do particu- ler tipo de conflito que por sua vez distingairia a esfera des agées pol ticas. Em outras palavres, Schmitt e Freund parecem estar de acordo «quanto aos seguintes pontos: a politica tem a ver com a conflituosidade ‘humana; ha vérios tipos de conflitos, sobretudo contflites agontsticos e 7. SCHMITT Dc Bp Penn, Dench wn Ha, tech ep, S82 8 ents “pli 9 1D, Enrol’, epmaasapae G Nigine # lem, Sn, Soa, 1975 rep, 898 p18) 1 FREON, Cer it, Sie F168, 8, S.L-FREUND, Keene pli 8 resses (.) pode @ qualquer momento transform €m conflito, ¢ esse conflito, ; cee ome sspecto de uma prova de forca entre os. pest de ue '€ 05 grupos que representam esses ane fli dizer, a Partir do momento que se afirma como futa de vo deh Palco”. Como podemes verifcar nas passagens 4 partir do momento em que assume ¢ de tae ees Socials, e que entre estes confitos hd algune distintos de todos os outros devido tncia senio com a force, ou 2 Forca, ou pelo menos, que justificam, por parte de camugnclentes, o uso da forca para par fim a contends O cecane, et tanto Schmitt quanto Freund extrapolaram exceléncia a partir do qual 10.5 SOHAIT rer ae Palitete ie, 12, NJ FREUND, Leto ple O polttico e o social Contrariamente a tradigfo clissica segundo a qual a esfera da poltti- «2, entendida como esfera de tudo aquilo que concerne & vida da pelts, inclui todo tipo de relagées socizis, de modo que o “politico” passa a coincidir com 0 “social”, 0 tratamento que aqui se fez da categoria da politica € certamente redutor: resumir, como se afirmou, @ categoria da politica & atividade que tem direta ou indiretamente relacéo com a corganizagao do poder coativo significa restringir 0 ambito do “politico” em relacéo a0 "social", recusar a plena coincidéncia do primetro com 0 segundo, Esse reducio tem ima razio histérica bem precisa. De um lado, o cristisnismo subtraiu da esfera da politica 0 dominio sobre a vida religiosa, dando origem & oposicio entre poder espiritual e poder temporal, que era ignorada no mundo antigo. De outro, o nascimento da economia mercantil burguesa subtraiu da esfera da politica o domi- nio sobre as relagbes econémicas, dando origem 8 oposicéo (para nos expressar com a terminologia hegeliana, herdada por Marx, ¢ transfor ada, por fim, em uso comum) entre sociedade civil e sociedade polt- tica, entre esfera privada, ou do burgues,e esfera piblica, ou do cida~ dio, que era, também ela, ignorada no mundo antigo. Enquanto a filo-, sofia politica cléssica esté alicergada sobre o estudo ds estrutura da pélis e das suas viries formas hist6ricas ou ideais, a filosofia politica pés-clissica caracteriza-se pela continua tentativa de uma delimitagSo -_daquilo que € politico (0 reino de César) em relacio aquilo que ndo & politico (seja ele o reino de Deus ou o reino des riquezas),* por continue reflexto sobre aguilo que diferencia a esfera da politica da esfera da ndo-politica,o Estado do nio-Estado, onde por esfera da néo- politica ou do néo-Estado entende-se, dependendo das circunstincias, ora a sociedade religiose (a ecclesia contraposta a civitas), ora a socieda- de natural (0 mercado como lugar em que os individuos se encontrar, independentemente de qualquer imposicéo, em oposicéo & ordem coativa do Estado). O tema fundamental de flosofia politica moderna é 0 tema das fronteiras, ora mais recuadas, ora mais avancadas, segundo os virios autores eas vias escoles, do Estado como organizecao da esfera politica, seja em relacio 8 sociedade religiosa,seja em relacéo a sociedade civil (a0 sentido de sociedade burguesa ou dos privados). Exemplar também sob esse aspecto € teoria politics de Hobbes, que se articula em torno de trés conceitos fundamentais, constituindo astrés partes nas quais se divide a matéria do De cive, Essas trés partes TNearema snqueo reed Die gute et Namen 8.) | I k E i ‘fo assim denominades: libertas, potestas, religo. O problema funde- mental do Estado, e portanto da politica, para Hobbes o problema das relagSes entre a potestas, simbolizeda pelo grande Leviat, de umm lado, @ « libertas e a religio, de outro: a Hibertas indica 0 espago das relac6es naturais, no qual se desenvolve a atividade econémica dos in- dividuos, estimulada pela incessante disputa pela posse dos bens mate- riais, 0 estado de natureza (interpretado recentemente como a pre- figuracio da sociedade de mercado); a religio indica espaco reservado 3 formagiio e expansio da vide espiritual, cuja concretizacéo hist6rica se d6 coma insttui¢fo da Tgreja, isto 6, de uma sociedade que por sua natureza é distinta da sociedade politica e no pode ser com ela con- fundida, Com relacio a esse dupla delimitacio de fronteiras do terit6- rio da politice, emergem na filosofia politica moderna dois tipos ideais de Estado: o Estado absolutista e o Estado liberal, o primeiro tende 2 ampliar, o segundo a restringir a prépria ingerncia no que concerne 3 sociedade econémica e 8 sociedade religiosa. Na filosofia politica do século XIX, 0 processo de emancipagio da sociedade em relagio 20 Estado esté tio adiantado que pela primeira ver, a partir de inimetos pontos de vista, é imaginado o completo desaparecimiento, em um fu- turo mais ou menos distante, do Estado, e conseqientemente a absor- ho do politico no social, ou 0 fim da politica. De acorda com o que foi dito até aqui sobre o significado restritivo de politica (restritivo com relagéo ao conceito mais amplo de “socil"), fim da polttica significa exatamente o fim de uma sociedade para cuja coesto sejam necessérias relag6es de poder politico, isto é, relacbes de dominio fundedas em ‘iltima instancia no uso da forga. Fim da politica néo significa, bem entendido, fim de qualquer forma de organizacdo social. Signfica pura simplesmente fim daquela forma de organizacao social que se susten- ta no uso exclusivo do poder coativo. Politica moral Ao problema da relagio entre politica e nio-politica associa-se un. dos problemas fundamentais da filosofia poltica, o problema da rele- io entre politica e moral. A politica e a moral tém em comum o domi- nio sobre o qual se estendem, que é o dominio da agio ou da praxis Jumana, Considera-se que diferem entre si com base no diferente prin~ ipo ou critério de justificacéo ¢ de avaliacéo das respectivas agSes, tendo por conseqiiéacia que aquilo que é obrigatério em moral nem sempre € obrigat6rio na politica, e aquilo que é licito na politica nem sempre é licito na moral; ou que podem existir ag6es morais que s80 173 ws impoliticas (ou apoliticas) e asdes politicas que sio imorais (ou amorais). A descoberta de distingéo, que ¢ atribuida, correta ou incorretamente, a Maquiavel, dafonome de maquiavelismo a toda teoria da politica que sustente ¢ defend a separacio entre politica e moral, &com freqiéneia tratada como problema da autonomia da politica. O problema avanga pari passu com 2 formacao do Estado moderno e com a sua gradual emancipagio da lgreja, chegando, nos casos extremes, inclusive & su- bordinagio da Igreja go Estado e, conseqiientemente, a supremacia ab- soluta da politica. Na verdade, aquilo que chamamos de autonomia da politica nada mais € que o reconhecimento de que o critério com base no qual se considera boa ou mé uma acio politica (e no nos esqueca- mos de que por agi politica se entende, de acordo com o que foi dito 28€ aqui, uma agdo que tenha por sujeito ou objeto apélis)é distinto do critério com base no qual se considera boa ou mé uma a¢io moral. Enquanto o critério com base no qual se julga uma aco moralmente boa ou mé éo respeitoa uma norma cujo comando & considerado categ6- rico, independente do resultado da agio ("aca o que deve ser feito € acontegs 0 que tiver de econtecer”), 0 critésio com base no qual se julga ‘uma acéo politicamente boa ou mé € pura e simplesmente o resultado {("faca 0 que deve ser feito para que acontega aquilo que vocé quer que acontega"). Os dois critérios séo incomparaveis. Essa incomparabilidade expresse-se mediante a afirmagéo de que em politica vale a méxima "o fim justifica os meios’s méxima que eacontrou em Maquivel uma das suas mais fortes expressGes: "(..) e nas ages de todos os homens, e maxime dos principes, onde nao hi juizo a0 qual reclamar, olha-se o firm. Face portanto um principe de modo a vencer e manter 0 Estado: e os reios serio sempre julgedos honrosos, ¢ por todos louvados” (O princi- pe, XVII). Ao contrério, na moral, a méxima maquiavélica nfo vale, j6 que uma agio para ser julgada moralmente boa deve ser curnprida com neahuin outto fim além daguele de cumprir o préprio dever ‘Uma das meis convincentes interpretacoes desta oposicéo é a dis- tingio weberiana entre a ética da convicgéo e a ica da responsabilida- die: “(..) hd uma diferenca incomensuravel entre o agit segundo a mé- xima da tice da convicclo, a qual em termos religiosos soa: ‘O cristo age como um justo e remete o éxito as mios de Deus’, ¢ o agir segundo a maxima da ética de responsabilidade, segundo a qual é preciso res- ponder pelas conseqiléncias (previstveis) das préprias ages". O uni- U.N, WERER, Poth al eral Gamat ce Sin, xpd Tui, 19H ee deh Onl re lel cont pf, Toe sor eg 1970). Wncelmn, ei, we oy ean, verso da moral ¢ o universo da politica movem-se dentro do. Ambito de dois sistemas éticos distintos, aligs, opostos. Mais que de imoralidade a politica ou de impoliticidade da moral, deveriamos mais correts- mente falar de dois universos éticos que se movem segundo principios dlistintos de acordo com as distintas situagées nas quais os homens se encontram ao agir. Desses dois universos éticos sao representantes dois ‘personagens distintos que agem no mundo em caminhos quase sempre destinados a ndo se encontrar: de um lado, o homem de f6, 0 profeta, 0. pedagogo,o bio que olha a cidade celeste; de outro lado, o homem de Estado, 0 condartiere dos homens, o criador da cidade terrena. O que ‘conta para o primeiro é a pureza das intencdes e a coeréncia entre acio intengdo; para 0 segundo, a certeza ¢ a fecundidade do resultado. A chamada imoralidade da politica resume-se, olhando bem, a uma moral distinta daquela do dever pelo dever: éa moral pela qual se deve fazer tudo aquilo que esté em nosso poder para realizar o objetivo a0 qual nos Propusemos, porque sabemos desde o inicio que seremos julgados com base no sucesso. A ela correspondem dois conceitos de virtude, aquela

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