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| Loe kk KKK rd - RENASCER INSTITUTO TEOLOGICO www.institutorenascer.com CURSO LIVRE DE TEOLOGIA FILOSOFIA RENASCER INSTITUTO TEOLOGICO lr 40} Polie,” re CONCEITO GERAL DE FILOSOFIA CRISTA Definicdo da filosofia © homem sempre se questionou sobre temas como a origem e o fim do universo, as causas, @ natureza @ a relacéio entre as coisas @ entre os fatos. Essa busca de um conhecimento que transcende a realidade imediata constitui a esséncia do pensamento filoséfico, que ao longo da histéria percorrau os mais variados caminhos, seguiu interesses diversos, elaborou muitos métodos de reflextio e chegou a varias conclusées, em diferentes sislemas filoséticos. O termo filosofia © terme filosofia deriva do grego philos (Yamigo”, ‘amante") e sophia (“conhecimento”, “saber") e tem praticamente tantas definigdes quantas sao as correntes filosoficas. Aristételes a definiu como a totalidade do saber possivel que néo tenha de abranger todos os objetos tomados em particular; os estéicos, como uma norma para a acd; Descartes, como o saber que averigua os principios de todas as ciéncias; Locke, como uma reflexéo critica sobre a experiéncia; os positivistas, como um compéndio geral dos resultados da ciéncia, © que tornaria o filésofo um especialisia em idéias gerais. J4 se propuseram outras definicées mais irrevarentes e menos taxativas. Por exemplo, a do briténico Samuel Alexander, para quem a filosofia se ocupa “daqueles Jemas que a ninguém, a ndo ser a um filésofo, ocorreria estudar". Definigéo da filosofia Pode-se definir filosofia, sem troir seu sentido elimolégico, como uma busca da sobedoria, conceito que aponia para um saber mais profundo e abrangente do homem eda natureza, que iranscende os conhecimenios concreios e orienta 0 comportamento diante da vida. A filosofia pretende ser também uma busca e uma juslificagéo racional dos principios primeiros e universais das coisas, das ciéncias e dos valores, e uma reflextio sobre a origem e a validade das idéias e das concepgies que o homem elabora sobre ele mesmo e sobre 0 que 0 cerca. Evolucao da filosofia Ao longo de sua evolucao histérica, a filosofia foi sempre um campo de luta entre concepgées antagénicas -- materialistas e idealistas, empitistas e racionalistas, vitlistas especulativas. Esse cardter necessariamente antagonista da especulacao filosética decorre do impossibilidade de se clcancar uma viséo total das multiplas facetas da reclidade. Eniretanto, é justamente no esforco de pensar essa realidade, para alcangar a sabedoria, ue © homem vem conquistando ao longo dos séculos uma compreenstio mais cabal de si mesmo e do mundo que 0 cerca, e uma maior compreensdo das proprias limitacdes de seu pensamento. Curso lire de Teslogio | BACHAREL RENASCER Origem da filosofia ‘As culturas mais primitivas e as antigas filosofias orientais expunham suas respostas 0s principais quastionamentos do homem em narrativas primitivas, geralmente orais, que expressavam 08 mistérios sobre a origem das coisas, o destino do homem, 0 porqué do bem e do mal. Essas narrativas, ov “mitos”, durante muito tempo consideradas simples ficcées literérias de cardter arbitrério ou meramente estético, constityem antes uma auténtica reflexdo simbélica, um exercicio de conhecimento intuitivo. Observando que 0s aniigos narradores Homero, Hesiodo, s6 transmitiram tradigées, sem dar nenhuma prova de suas douitinas, Avisiieles, um dos fundadores da filosofia ocidental, distinguiu entre filosofia e mito dizendo ser proprio dos filésofos © dar a raz60 daquilo que falam. Estabeleceu-se assim na cultura ocidental uma primeira delimitagao do conceito de filosofia como explicagéo racional e argumentada da realidade. No entanto, néo havia sido definida nesse momento a separacio de filosofia e das diversas ciéncias. Avistételes, por exemplo, investigou tanto sobre metatisica especulativa, como sobre fisica, hist6ria natural, medicina e histéria geral, todas reunides sob a denominagdo comum de filosofia, Somente a pariir da baixa Idade Média e mais ainda do renascimento, as diversas ciéncias se diferenciaram @ a filosofia se definiu em seus atuais limites e contetidos 1. Os grandes periodos da filosofia Filosofia pré-socrética Pp res @ Sécrates, que viveram na Grécia por volta do século VI a.C., considerados os criadores da filosofia ocidental. Essa fase, que comtesponde a époce de formagao da civlizagéo helénica, caracteriza-se pela preocupagdo com a natureza e o cosmos. Ela inaugura uma nova mentalidade, baseada na raztio, e no mais no sobrenatural ¢ na tradicéo mitica, @ escola jénica (ou escola de Mileto), eledtica, atomista ¢ pitagérica so as principais do periodo. Os fisicos da Jénia, como Tales de Mileto (624 a.C.-545 a.C.), Anaximandro (610 a.C.-547 a.C.}, Anaximenes (585 a.C.-525 a.C.) e Herdclito (540 a.C.-480 a.C.}, procuram explicar © mundo pelo desenvolvimento de uma natureza comum a todas as coisas ¢ em elemo movimento. Herdclito, considerado © mais remoto precursor da dialética, alirma a estrutura contraditéria e dindmica do real, Para ele, tudo esté em constante modificactio. Daf sua frase “ndo nos banhamos duas vezes no mesmo rio", j@ que nem o rio e nem quem nele se banha 6 0 mesmo em dois momentos diferentes da existéncia. Os pensadores de Eléa, como Parménides (515 a.C.-440 0.C.) e Anaxagoras (500 a.C.-428 a.C), a0 contrdrio de Herdclito, dizem que o ser é unidade @ imobilidade e que a mutacéo néo passa socratices so os filésofos ant de uma aparéncia. Para Parménides, 0 ser é ainda completo, etemo e perfeito. & RENASCER Cureo Live de Teolooia | BACHAREL Os atomistas, como Leucipo (460 a.C.-370 a.C.) e Demécrito (460 a.C.-370 4.C.), sustentam que 0 universo constituido de dtomos eternos, indivisiveis e infinitos reunidos aleatoriamente. Pitagoras (580 a.C.-500 a.C) afirma que a verdadeira substdncia original 6 a alma imortal, que preexiste ao corpo e no qual se encarna como em uma priséio, como castigo pelas culpas da existéncia anterior. O pitagorismo representa a primeira tentative de aprender o conteddo inteligivel das coisas, a esséncia, prenincio do mundo das ideias de Platao. 1.1.1. Filosofia classica (de 470 a 320 a.c.) A Filosofia da Grécia Antiga teve nos sofistas e em Sécrates seus principais expoentes. Eles se distinguem pela preocupago metatisica, ou procura do ser, ¢ pelo interesse politico em criar a cidade harmoniosa ¢ justa, que tornasse possivel a formagtio do homem e da vida de acordo com a sabedoria. Este periodo comesponde ao apogeu da democracia e 6 marcado pela hegemonia politica de Atenas, Os sofistas, fldsofos contemporaneos de Sécrates, como Protégoras de Abdera (485 a.C.-410 a.C.) e Gérgias de Leontinos (485 a.C.-380 .C.), acumulam conhecimento enciclopédico @ séo educadores pagos pelos alunos. Pretendem substituir a educacéo tradicional, destinada a formar guerreiros e alletas, por uma nova pedagogia, preocupada em formar 0 cidadéio da nova democtacia ateniense. Com eles, a arte da retérica—falar bem ede maneira convincente a respeito de qualquer assunio —aleanga grande desenvolvimento. Conhecido somente pelo testemunho de Platdo, jd que no deixou nenhum documento escrito, Sécrates (470 a.C.?-399 a.C.) desloca a reflexdo filosdfica da natureza para o homem e define, pela primeira vez, o universal como objeto da Ciéncia. Dedica-se & procura metédica da verdade identificada com © bem moral. Seu método se divide em duas partes Pela ironia (eironéia, do grego: perguniai), ele forga seu interlocutor a reconhecer que ignora © que pensava saber. Descoberia a ignoréncia, Sécrates fenta extrair do interlocutor a verdade contida em sua consciéncia (método denominado de maiéutica).. Discipulo de Socrates, Platao (427 a.C.2-347 0.C.?) afirma que as idéias sGo 0 préprio objeto do conhecimento intelectual, a realidade metafisica (ver Platonismo). Para melhor expor sua teoria, uiliza-se de uma alegoria, 0 mito da cavema, no qual a cavema simboliza o mundo sensivel, a pristio, os juizos de valor, onde s6 se percebem as sombras ds coisas. O exterior 6 o mundo das idéias, do conhecimento racional ou cientifico, Feito de corpo e alma, o homem pertenceria simullaneamente a esses dois mundos. A tarefa da Filosofia seria a de libertar o homem da caverna, do mundo das aparéncias, para © mundo real, das essancias. Platéo é considerade o iniciader do idealismo. Seguidor de Plato, Avisiételes (384 a,C.-322 a.C) aperieicoa e sistematiza os descobertas de Platéo e Sécrales. Desenvolve « légica dedutiva cléssica (formal), que postula © encadeamento das proposi¢des e das ligagées dos conceitos mais gerais para os menos gerois. A légica, segundo ele, € um insirumento para afingir 0 conhecimento cientifico, ou Curse Live de Teslogia | BACHAREL seja, aquilo que & metédico e sistemdtico, ao contrdrio de Platdo, alirma que a idéia néo possui uma existéncia separada — ela sé existe nos seres reais @ concratos. 1.2. Filosofia pés-socratica de 320 a.C. até 0 inicio da era cristé As cortentes filoséficas do ceticismo, epicurismo e estoicismo traduzem a decadéncia politica e militar da Gréci Primeira grande corrente filosdfica apés 0 aristotelismo, © celicismo, que tem em Pirro (365 a.C.2-275 a.C.} seu principal reprasentante, afirma que as limitagdes do espirito humano nada permitem conhecerseguramente. Assim, conelui pela suspenstio do julgamento @ permanéncia da divida. Ao recusar toda afirmacae dogmética (ver Dogmatismo), prega que 0 ideal do sdbio é 0 total despojamento, 0 perfeito equilibrio da alma, que nada pode perturbar. Os cinicos, como Diégenes (413 a.C.-323 .C.) @ Antistenes (444 a.C.-365 a.C), desprezam as convengées sociais para levar uma vide natural primitive. Afirmam que 86 a virtude, por libertar © homem do desejo de possuir bens materiais, pode purificé-lo. Epicuro (341 a.C. -270 a.C.} e seus seguidores, os epicuristas, viam no prazer, obtido pela pritica da virtude, o bem. © prazer consiste no ndo-sofrimento do corpo e na néo- perturbagdo da alma. Os esidicos, como Séneca (4 a.C.- 65 d.C.} e Marco Aurélio (121- 180), que se opdem ao epicurismo, pregam que o homem deve permanecer indiferente a circunsidincias exteriores, como dor, prazer e emogées. Procuram submeter sua conduta & raziio, mesmo que isso traga dor e sofrimento, ¢ néo prazer. No século Ill da Era Crist, Plotino (205-270) pensa o platonismo na perspectiva histérica do Império Romano, as doutrinas neoplaténicas tém grande influéncia sobre os pensadores cristdos. 1.3. Filosofia medieval Ao retomar as idéias de Platiio, Santo Agostinho (354-430) identifica o mundo das ideias com © mundo das ideias divinas. Através da iluminacéo, © homem recebe de Deus © conhecimento das verdades eternas. Esta corrente da Filosofia © seus desenvolvimentos séo conhecidos como patristica, por ser elaborada pelos padres da Igreja Catélica. Entre os séculos Ve ill predomina a escoléstica, o conjunto das doutrinas oficiais da lareja, fortemente influenciadas pelos pensamentos de Platéio e Arisiételes. Os representantes da escoldstica esto preocupados em conciliar raztio e £6 e desenvolver a discussio, a argumentacdo e © pensamento discursive. Uma das principais correntas filoséficas da época 6 o tomismo, doutrina escoldstica do tedlogo italiano Santo Tomés de Aquino (1225-1274), que encontra correspendéncia na estrutura sociceconémica do feudalismo, rigidamente estraificada 1.4, ‘A desiniegragio das estruturas feudais, as primeiras grandes descobertas da ciéncia — como 0 heliocentrismo de Galilev Galilei os leis das érbitas planetirias de Kepler — e «@ ascenséo da burguesia assinalam a crise do pensamento medieval e a emergéncia do BL Ball RENASCER Curso Live de Teclogia | BACHAREL sofia moderna renascimento. Em contraste com a filosofia medieval, religiosa, dogmética e submissa & autoridade da igreja, a filosofia modema & profana e critica. Representada por leigos que procuram pensar de acordo com as leis da razéio e do conhecimento cientifico, caracteriza- se pelo antropocenirismo — atitude que consisie em considerar 0 homem o centro do universo — @ humanismo. © nico métode aceitdvel de investigagéo filosdfica é © que recone @ razdo. René Descartes (15961650), criador do cartesianismo, & considerado © fundador da filosofia modema. Ele inaugura © racionalismo, douitina que privilegia a razdo, considerada fundamento de todo o conhecimento possivel. Dentro desta corrente destacam-se também Spinoza (1632-1677) e Leibniz (1646-1716). Ao conirério dos antigos pensadores que partiam da certeza, descares parte da divida metddica, que pe em questiio todas as supostas cerlezas, ocorre a descoberta da subjetividade, ou seja, © conhecimento do mundo néo se faz sem 0 sujeito que conhece © foco 6 deslocado do objeto para o svieito, da realidade para a razdo. © percurso da divida cartesian, ao colocar em questo a existéncia do mundo, descobre ser pensante (‘Penso, logo existo”). Algm do racionalismo, as duas principais correntes da filosofia modema sto 0 empirismo e 0 idealismo, movimentos que tém relacéo com a ascensao econémica e sacial do burguesia e com a revolugdo industrial No século XVII, 0 inglés Francis Bacon (1561-1626) critica 0 método dedutive da tradigéio escoldstica, que parte de principios considerados como verdadeiros e indiscutiveis, @ esboca as bases do método experimental, o empirismo, que considera 0 conhecimento como resultado da experiéncia sensivel. Na mesma linha, esto os pensamentos de Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704) e David Hume (1711-1776). O empirismo pode ser considerado precursor do positivismo. Século XVIII - © racionalismo cartesiano e © empirismo inglés preparam o surgimento do iluminismo, no século XVIII, caracterizado pela defesa da ciéncia e da racionalidade critica, contra a £8, a supersticéo eo dogma religioso. Contemporéneo da Revolucéo Industrial representa os interesses da burguesia intelectual da época e influencia a Revolucdo Francesa. Os principais nomes do movimento séo Voltaire (1694-1778) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Immanuel Kant (1724-1804) deseja fazer a sintese do racionalismo edo empitismo, a partir de uma andlise critica da razGo. Supera esses dois movimentos ao afirmar que © conhecimento s6 existe a partir dos conceitos de maléria e forma: a matéria vem da experiéncia sensivel e a forma é dada pelo sujeito que conhece. Oidealismo, a terceira grande corrente da filosofia moderna, consiste na interpratacéio da realidade exterior e material a partir do mundo interior, subjetivo e espiritual. Isso implica na reducéio do objeto do conhecimento ao sujeito conhecedor. Ou soja, o que se conhece sobre 0 homem e © mundo 6 produto de ideias, representagies ¢ conceitos elaborados pola consciéncia humana. Um dos prineipais expoentes 6 Friedrich Hegel (1770-1831). Para explicar a realidade em consiante processo, Hagel estabelece uma nova légica, a dialética, Defende que todas as coisas e ideias morrem. Essa forga destruidora & também a forca motriz do proceso hisiérico. Século XIX — O positivismo de Auguste Comte (1798-1857) considera apenas o fato —O CER Curse Live de Teslogia | BACHAREL positive (aquele que pode ser medido e controlado pela experiéncia) como adequado para estudo. E uma reagao contra o idealismo e as teorias metafisicas do pensamento alemao. O método 6 retomado no século XX, no neopositivismo, cujo principal representante 6 Ludwig Witigenstein (1889-1951) Ainda no século XiX, Karl Marx (1818-1 883) utiliza o método dialético e o adapta 6 sua teoria, © materialismo histérico, que considera o modo de produgtio da vida material como condicionante da Historia. OQ marsisme critica a filosofia hegeliana ("néo ¢ a consciéncia dos homens que determina seu ser, mas, ao contrério, & seu ser social que determina sua consciéncia”} e propée ndo sé pensar o mundo, mas transforma-lo. Assim, formula os principios de uma prdtica poltica, voliada para a revolugée, ganha forga com a vigancia do socialismo em varios paises, como a Unio Soviética, onde era a filosofia oficial. Nesta época, surgem também nomes cuja obra permanece isolada, sem fillar-se a uma escola determinada, como € 0 caso de Friedrich Nietesche (1844-1900). Ele formula uma critica aos valores tradicionais da cultura ocidental, como o cristianismo, que considera decadente e contrdrio @ criatividade e espontaneidade humana. A tarefa da Filosofia seria, entéio, a de libertar © homem dessa tradigéo. No fim do século XIX, 0 pragmatismo defende © empirismo no campo da teoria de conhecimento e © utlitarismo (busca a obtencao da maior felicidade possivel para o maior némero possivel de pessoas) no campo da moral. Voloriza a prética mais do que a teoria e dé mais importancia ds consequéncias e efeitos da agdo do que a seus principios e pressupostos. 1.5, Renascimento. ‘As grandes translomagées culturais, econémicas e sociais dos séeulos XV @ XVI afetaram também a filosofia, que, de monopélio aié endo quase exclusive da classe universitéria (“escoldstica” é 0 mesmo que “escolar”) passou a interessar a uma outra camada de inielectvais, sem vinculo com a universidade © mais ligados & aristocracia e & cultura dos paldcios. O resultado foi a ruplura dos vinculos com a teologia © um crescene proceso de secularizagio da filosofia. Enire muitos dos novos intelectuais, © interesse primordial j@ néo era pelos temas sacros (divinae litterae, “letras divinas") & sim pela literatura secular (humanae litierae), daf seu nome de “humanislas”. As preocupagées dos filésofos renascentistas, que seriam desenvolvidas nos séculos posteriores, giraram em Jomo de trés grandes temas: o homem, a sociedade e a natureza. Foram os humanistas que se encarregaram da reflexdio sobre o primeiro dessas temas, nova organizacio do pensamento enascentista fez prevalecer Plato sobre Avisiieles, a retérica sobre a dialélica medieval, os didlogos literdrios sobre as disputas lagicas escoldsticas. Com «a recuperagéo da literatura cléssica, manifestaram-se também as influéncias das filosofias do lime periodo da antiguidade, como © atomismo, 0 ceticismo e 0 estoicismo. No pensamento social, sobressaiu a figura de Nicolau Maquiavel, que defendeu em O principe (1513) a aplicagéo da “razdo de estado” sobre as normas morais. No século XVII desiacou-se no pensamento polifico as figuras do inglés Thomas Hobbes e do holandés Hugo Grotius. © primeiro defendeu a existéncia de um estado forte como condicdo da & RENASCER Cureo Live de Teolooia | BACHAREL cordem social; Grotius apelou para a lei natural como salvaguarda contra a arbitrariedade do poder politico. 1.6. Filosofia contemporénea A partir do comeco do século XX teve inicio uma teflexdo radical sobre a natureza da filosofia, sobre a determinagtio de seus métodos ¢ objetivos. No que diz respeito ao método, destacaram-se as novas reflexes sobre a epistemologia ov ciéncia do conhecimento -- surgidas a partir do estudo analitico da linguagem e o impulso dado filosofia da ciéncia As preocupagées fundamentais do pensamento filoséfico foram as concernentes ao homem e sua relagéio com o mundo que o cerca Dentro da chamada filosofia analitica, 0 empirismo lagico do Circulo de Viena foi uma das correntes filoséficas que mais ressaltaram ser a filosofia como um método de conhecimento. Para essa corrente, 0 objeto da filosofia nao é a proposicéo de um sisiema universal e coerente que permita explicar o mundo, mas sim o esclarecimento da linguagem das proposigées légicas ou cientificas. Ora, para que elas tenham sentido, devem ser verificdveis, de tal modo que as que néo o forem -= por exemplo, proposicées acerca da ética ou da religiéio carecem de qualquer interesse filoséfico. Também a escola de Oxford considerou a linguagem como objeto de seu estudo, se bem que tenha concentrado sua tengo na linguagem comum, na qual quis descobrit, latentes, as vérias concepgses elaboradas sobre o mundo. O austriaco Ludwig Wittgenstein insistiv na importéncia fundamental do estudo da linguagem e afirmou que ela participa da estrutura da realidade, j@ que ndo 6 sendo um reflexo, uma “figura, da mesma. A fenomenologia de Edmund Husserl propés uma anélise descritiva que permitisse chegar & evidéncia do “propria coisa”, néo como existente, mas como pura esséncia. Para © vilalismo de Henri Bergson hé dois modes de conhecimento: o analitico, no campo da ciéncia, e « inivicdo, prépria da filosofia @ Unico meio de captar a profundidade do homem edo mundo. No que diz respeito as inquietagées @ propostas da moderna filosofia, cumpre Gitar o insirumentalismo de John Dewey, que esiabeleceu como orientagéo da filosofia @ como critério da verdade a utilidade de uma ideia face as necessidades humanas sociais; 0 existencialismo, que antepds, na sua reflexio filosdfica, a propria existéncia do homem a qualquer outra realidade; ov o estruturalismo, que postulou, no estudo de qualquer realidade, que ela devia ser considerada nas suas inter-relacdes com o todo de que faz parie. Numerosos filésofos integraram em seu pensamento elementos pertencentes a escolas filos6ficas diferentes. Sarire, por exemplo, fol existencialisia e marrista, e os pensadores da chamada escola de Frankfurt ensaiaram uma sintase de marxismo e psicandlise. Tanto o marxismo, que com sua pretensao de consfituir um instrumento lransformador do sociedade, ulirapassou a simples classificagdo de escola filoséfica, quanto a psicandlise, que, ao contrario, somente pretendeu em principio ser uma feoria e uma terapia psicolégicas, exerceram influéncia poderosa no pensamento filoséfico contemporaneo. —&. Curse ive de Teslogia | BACHAREL RENASCER [imi 2. Filosifia Anal: Dentro do pensamento contemporéneo, © que se costuma chamar de filosofia analifica no 6 exatamente um movimento homogéneo, @ sim um conjunto de tendéncias. Mas essai denominagio genérica é plenamente justificdvel, na medida em que, diante dos problemas filoséficos, essas tendéncias parilham uma determinada atitude que néo tinha sido desenvolvida anteriormente. ica © que faz essas correntes parecerem aparentadas entre si é a énfase em ver a filosofia, nies de tudo, como anélise, ou seja, elucidagéo, esclarecimento. Nesse aspecto, seu interesse voltou-se fundamentalmente para a légica e a andlise dos conceitos subjacentes & linguagem, considerando que muitos dos dilemas filos6ficos habituais podem ser resolvidos ov deixados de lado, por insoliveis mediante o estudo dos termos em que esitio expostos. Por suas concepcées, a filosofia analitica se liga & tradigéo empirista anglo- soxénica. Nao é de eslranhar, portanto, que seu inicio se identifique com dois filsofos brildnicos de Cambridge, Bertrand Russell e G. E. Moore, ambos nascidos na década de 1870, e que o enfoque dado por eles & percepcao se vincule estreitamente ao proposto por John Locke no século XVll Bertrand Russell se caracterizou por abordar os problemas filoséficos através da lagica formal e por considerar que © nico meio de adquirir conhecimento do mundo eram as ciéncias fisicas. A teoria de Russell estava profundamente relacionada com a dos positivislas légicos da escola de Viena, para os quais a tarefa principal da filosofia era distinguir entre as afirmagées demonsiréveis a partir da lagica e dos dados empiricos e as que ndo passavam de enunciados metatisicos indemonsiraveis, ou “pseudo proposicées”. Moore, ao contrério, nunca achou que fosse preciso empregar a Iégica formal ou converter a filosofia em ciéncia. Defendeu o senso comum frente & grandiloquéncia metafisica e sustentou que 0 caminho adequado para resolver um problema filosético consistia em perguntar qual era sua causa Figura basica na histéria da filosofia analitica, com dois periodos criativos diferenciados e mesmo anfiléticos, foi o légico ausiriaco Ludwig Willgenstein, que ensinou em Cambridge. Sua primeira fase & representada pelo Tractatus logicophilosophicus (1922; Tratado légico-filoséfico), no qual defendia um alomismo légico. No nivel lingtistico, as proposigées so os dtomos, ou seja, os enunciados mais simoles se podem fazer sobre © mundo. Sua segunda fase foi marcada pelas Philosophische Untersuchungen (1953; Pesquisas filoséficas), publicadas depois da morte do autor, que nelas adotou pontos de vista diameiralmente oposios aos anteriores. Nessa segunda obia, ele sustentou que a linguagem 6 um instrumento que pode ser empregado para um némero indefinido de propésitos, uma insitvigée humana no sujeita a regras. Os “jogos da linguagem" so usos linguisticos e correspondem @ funcéo pragmatica e ativa da linguagem. As idaias de Wittgenstein nessa elapa foram acompanhadas por pensadores como 08 ingleses John Ausiin ¢ Gilbert Ryle, os quis enfatizaram a fungéo social da linguagem e @ usaram como campo de investigacéo para o esludo dos processos mentais do individuo. ‘A gramatica transformacional generativa do americano Noam Chomsky, que deu novo & RENASCER Cureo Live de Teolooia | BACHAREL rumo 4s teorias lingUisticas, por sua vez adotava pontos desenvolvidos por Austin e Ryle © enfoque mais positivista da filosofia enalifica também permanece latente em diversos pensadores, enlre 0s quais outto americano, Willard Yan Orman Quine. 2.1. Filosofia Indiana Ao contrario dos gregos, os hindus desprezaram a fisica e a cosmologia em favor da ontologia e podem ser considerados os verdadeiros fundadores da légica e da meiafisica, Taranio narra a visita de um filésofo hindu a Sécrates, e 0 Timeu de Plato é de nifida inspiragéo hindvisia, Filosofia indiana é a denominagée genética que se dé ao conjunto de concepgées, teorias e sistemas desenvolvidos pelas civilizagées do subcontinente indiano. Trés conceitos fundamentam © pensamente filoséfico indiano: 0 eu, ov alma (aiman, as agées (karma), €.a libertactio (moksha). Excefo pelo charvaka (materialismo radical), todas as filosofias indianas lidam com esses trés conceilos e suas inter-relagées, embora isso no signifique ave aceitem sua validade objetiva precisamente da mesma maneira, Dos trés conceitos, o karma, que representa a eficécia morall dos ages humanas, parece sero mais fipicamente indiano. O conceito de aman corresponde, de certa maneira, ao conceito ocidental do eu espiritual transcendental ou absoluio. © conceito de moksha como © mais alto ideal igualmente aparece no pensamento ocidental, especialmente durante a era erislé, embora talvez nunca tenha sido to importante quanto 0 & para a mente hindu. A maioria das filosofias indianas aceita 0 moksha como algo possivel,¢ a “impossibilidade do moksha” (animoksha) & tidal como uma falacia material que pode tornar viciosa uma teoria filosdfica. 2.2. Textos sagrados Os escritos sagrados da cultura hindu, sobretudo os Vedas (os mais antigos texlos sagrados da India), os Upanishads e o Mahabharata, hé muito influenciam © pensamento filos6fico indiano. Os hinos védicos, escrituras hindus datadas do segundo milénio antes da era crista, so 0s mais antigos registros remanescentes, na India, do processo pelo qual a mente humana produz seus deuses, bem como do proceso psicolégico da producto de mitos, que leva a profundos canceitos cosmolégicos. Os Upanishads (tratados filoséficos indianos} contém uma das primeiras concepgées do realidade universal, onipresente e espiritval que conduzem ao monismo radical (absoluto ndo-dualismo, ou unidade essencial da matéria e do espitito). Também coniém antigas especulagées dos filésofos indianos sobre a natureza, a vida, @ mente e o corpo humanos, além de ética ¢ filosofia social. 2.3.Sistemas ortodoxos Os sistemas classicos, ou ortodoxos, chamados darsanas, discutem questées como o —O Curso lire de Teslogio | BACHAREL RENASCER status do individue finito; @ distingdo, assim como a relagéo, entre corpo, mente e individuo; a natureza do conhecimento e os tipos de conhacimento validos; a natureza e a origem da verdade; os tipos de entidades que se pode dizer que existem; a relacdo entre realismo idealismo; a questo sobre se os universos ou as relagées stio basicos; e © importantissimo problema do moksha, ov liberlagdo, sua natureza e os caminhos que a ela conduzem. As vérias filosofias indianas apresentam, no entanto, tal diversidade de visées, teorias e sistemas, que se forna quase impossivel disfinguir caracteristicas comuns @ todas. A aceitagio de autoridade dos Vedas caracteriza todos os sistemas ortodoxos (astika): Nyaya, Vaisesika, Samkhya, loga, Purva Mimansa e Vedanta. Os sistemas néoortodoxos (nastika) enire eles © charvaka, 0 budisme € o jainismo, rejeilam a autoridade védica, Mesmo entre 05 fildsofos orfodoxos, porém, a fidelidade aos Vedas limitou muito pouco a liberdade das especulagies, ¢ os Vedas podiam ser citados para legitimar uma vasta diversidade de idéios, fossem monistas ov atomistas. Mimansa, ov Purva Mimansa, é o sistema que fomece regras para a interpretagdo dos Vedas e oferece uma justficativa filosética para @ observancia do ritual védico. © Vedanta forma a base da maioria das escolas modemas do hinduismo e seus principais fexios so os Upanishads e 0 Bhagavad-Gite, Ao conttério do Mimansa, 6 um sistema interessado na interpretactio filos6tica dos Vedas, mais que com seus aspecios rtualisticos. Em sAnscrito, Vedanta significa a “concluséo” (anta) dos Vedas. Como eram muitas as inferpretagées, desenvolveram-se varias escolas de Vedanta que, no entanlo, tém muilas crengas em comum: iransmigragéo do eu e o desejo de libertar-se do ciclo de renascimentos {samsaro}; « avtoridade dos Vedas como meio para essa libertagao; Brahma como motivo da existéncia do mundo; e © atman como agente de seus préprios atos e, portanto, receptor das consequancias da agi [phala). Todas as escolas de Vedanta rejeitam tanto as filosofias heterodoxas do budismo e do jainismo como as conclusées das outras escolas ortodoxas. Sua influéncia no pensamento indiano ¢ tao profunda que se pode dizer que, em qualquer de suas formas, a filosofia hindu se tornou Vedanta. ANyaya xamina em profundidade o méiodo de raciocinio conhecido como inferéncia. Essa escola é importante por sua andlise da lagica e da epistemologia. 14 o Vaisesika sobressai por suas feniativas de identiicar, inventariar e classificar as entidades da realidade que se apresentam & percepgdo humana. A Samkhya adota um dualismo coerente entre as ordens da matéria e as do eu, ou alma. Nessa escola, o conhecimento correto consiste na habilidade do eu de se distinguir da matéria, a loga influenciou muitas outras escolas por sua descricao da disciplina prética para realizar intui proposto pelo sistema Samkhya, a que a loga esta intimamente relacionada. amenie o conhecimento metafisico ‘Cada uma dessas escolas de pensamento foi sistematizada por meio dos conjuntos de sulras. Ao reunir um determinado némero de oforismas, férmulas ou regras breves e de facil memorizacéo, os sutras resumem cada uma das doutrinas, Filosofia indiana epensamentoacidental, entre os temas considerados pelo pensamento indiano e ignorados pelo ocidental esto a origem (utpati) ¢ @ apreensao (jnapti) da verdade (pramanya). Os problemas que os filésofos indianos na maioria ignoraram, mas & RENASCER Cureo Live de Teolooia | BACHAREL Pie que ajudaram « dar forme @ filosofia ocidental, incluem a questéo se 0 conhecimento surge da experiéncia ou da razao, além das distingSes entre 0 juizo anallitico e sintético e entre verdades contingentes e necessdrias. A filosofia indiana comecou a interessar 0 Ocidente no século XVIII, quando foi feita a tradugo do Bhagavad-Gita. No século seguinte, Anquetil-Duperron traduziu do persa, em latim, cinquenta dos Upanishads. Foi também no sécule XIX que a india entrou em contato com 0 pensamento ocidental, especialmente com as filosofias empiristas, ullitaristas agnésticas da Gré-Bretanha. No fim do século, John Stuart Mill, Jeremy Bentham e Herbert Spencer eram os pensadores mais influentes nas universidades indianas. AAs idéias influenciadas pelo pensamento ocidental serviram para criar uma veriente de orientagéo secular e racional, ao mesmo tempo em que estimularam movimentos socials & religiosos, enire os quais © movimento Brohmo (Brahma) Samaj, fundado por Rammohan Ray. No fim do século XIX, o grande santo Ramakrishna Paramahamsa de Calcuté renovou © interesse pelo misticismo, @ muitos jovens racionalisias @ céticos se converteram @ f6 que ele representava. Ramakrishna pregava uma diversidade essencial de caminhos que Jevam & mesma meta, seus ensinamentos ganharam forma intelectual no trabalho de Swami Vivekananda, seu famoso discipulo. 2.4. Século XX Aprimeira faculdade de filosofia da India surgiv na Universidade de Caleuté, no inicio do século XX, € © primeiro catedratico da matéria foi Sir Brojendranath Seal, académico versatil que dominava diversas disciplinas cientificas @ humanisticas. Sua principal obra publicada é As ciéncias positivas dos antigos hindus, que discorre sobre « histéria da ciéncia ¢ relaciona os conceitos filos6ficos hindus a suas teorias cientificas. Em pouco tempo, porém, os fildsofos mais estudados nas universidades indianas passaram a ser os alemées Kant ¢ Hegel, os sistemas filosdficos (com antigos foram avaliados & luz do idealismo aleméo). A nogio hegeliana do espitito absolute encontrou ressondncia na antiga nocéo vedanta de Brahma. O mais eminente estudioso hindu hegeliano é Hiralal Haldar, que abordov © problema da relagio da personalidade humana com 0 absoluto, como se evidencia em seu livro Neohegelianismo. © académico kantiano que se tornou mais conhecido foi K. C. Bhattacharyya. Alguns indianos que viveram na primeira metade do século XX merecem menctio por suas contribuigées originais a0 pensamento filoséfico, Sri Aurobindo, atvista politico que mais tarde se tornou yogin, vé a ioga como uma técnica néo apenas de libertagéo pessoal, mas também de cooperagéio com a necessidade césmica de evolugio que levaré o homem _um estado de consciéncia supramental. Rabindranath Tagore caracterizou © absoluto como a pessoa suprema e calocou 0 amor acima do conhecimento. Para Mahatma Gandhi, lider sociale politico, a unidade da existéncia, que ele chamou de “verdade", pode realizar-se pela prética da néo-violéncia (ahimsa), em que a pessoa ainge 0 limite méximo de humildade, Sob a influ&ncia do idealismo hegeliano e da filosofia do mudanga, de Henri Bergson, o poeta e filésofo Mohamed Iqbal concebeu uma realidade —&. 3ENASCER, Curse Live de Teslogia | BACHAREL criativa e essencialmente espiritual 2.5. Filosofia Islamica © pensamento érabe representou, em suas mais remotas origens, uma dinémica projegio dos grandes sistemas filoséticos gregos, ainda que vazado em lingua semiica e fundamente modificado sob ai influéncia oriental. A dimensio desse fato toma-se imensa auando se considera que o Ocidente deve aos filésofos érabes quase toda a preservacio, jd em nivel eritico, do platonismo e, sobretudo, do aristotelismo Filosofia islamica é 0 pensamento expresso em lingua drabe e intimamente telacionado & religidio mugulmana que floresceu entre os séculos Vil e XV, Excluemse dessa denominagéio as tendéncias modernas e contemporéneas da filosofia drabe, analisadas apenas como floragio do Oriente dentro e fora dos limites da Idade Média latina. Na origem e, a rigor, ao longo de toda a sua evalucéo, a filosofia drabe transmite ao mundo ocidental os fundamenios de quase todo © pensamento filoséfico do Renascimento, em particular na Espanha e na Itdlia. Sem a contribuigao dos comentadores drabes, o Renascimento seria depositirio apenas do monélogo crisidio da Idade Média. Seria correto dizer que os proprios pensadores medievais, em particular os tomistas, pagaram pesado tributo a esses ousados “heréticos” orientais. 2.6. Seitas e escolas teologicas Em seus primérdios, a filosofia érabe foi principalmente uma filosofia de tedlogos, que devem tudo as crengas e iradigées religiosas muculmanas. Alé o século IX, as especulagées filos6ficas do mundo drabe resiringiam-se as discusses teologicas das primeiras seitas escolas ascéticas, cujo suprema preocupagdi residia no exame de quesides éticas e moras. O primeira grande tepresentante dessa época e notével cultor da reflexdo moral de indole tedrica foi Hasan al-Basti, que integrou 0 grupo chamado Companheiros do Profeta, responsdvel pelo inicio da maioria das discussées teolagicas que logo se cristalizariam na constituigdo de seitas e escolas teolégicas, come as de Antioquia {século Ill}, de Nasibim, em comunidade de fala siria, e de Nasibim-Edessa, a principal delas, que floresceu entre os séculos IV e V e reuniu os nestorianos condenados como heréticos pelo Concilio de Efeso (431). A esses nestorianos somaram-se depois ouras seitas igualmente heréticas, como as dos monofisistas (responsdveis pela introdugdo do misticismo e dos ideais neoplaténicos), dos oroastista persas, dos pagdos de Harran e até mesmo dos judeus. Tais seitas e escolas no interior das quais se destacavam 0s nomes de Alfarabi, Avicena, Avempace, Abubaker e Averroés, os trés iltimos j@ na Espanha dedicaram- se inicialmente a debates de quesiées como 08 aiributos divinos e os conflitos entre a predestinagdo ¢ o livre-arbilrio. Contribuiram consideravelmente para a concretizacéo de uma reflexdo filoséfica que jé se poderia dizer auténoma, cujo expoente supremo foi Alkindi, que viveu no século IX. Toda essa estratificagao organica da filosofio drabe tornov-se possivel, em grande parte, gracas & transmisstio ao universo mugulmano de & RENASCER Cureo Live de Teolooia | BACHAREL consideréveis vertentes dos sistemas gregos, sobretudo © aristotelismo eo neoplatonismo, co quese deve d versdo siria do helenismo, 4 atividade filoséfico-religiosa dos nestorianos, ao misticismo dos tedlogos monofisistas egipcios, ¢ finalmente, as tradugSes mugulmanas das versies sirias dos lexlos gregos. 2.7. De Avicena e Algazali Herdeiro das tradicées aristoislico-platénicas de Alkindi °, principalmente, de Alfarabi, Avicena foi o mais ilusire denire todos os mugulmanos orientais. Segundo ele, 0 conhecimento forma-se a partir da realidade dos objetos conhecidos, desde a consciéncia dos principios primordicis alé a revelagéio escatolégica, passando pelos principios universais ov ideais. Sua sistematizacéo da especulagdo interior 6 de capital importéncia para. filosofia escoldstica, que absorveu de Avicena pelo menos irés nogies basicas: a da existéncia enquanto acidente que se associa & essncia; a que se relaciona ao coneeito da unidade do intelecto agente, consfituida & custa da ascenséo da poténcia no ato do entendimento; € a da disting&o entre a esséncia e a existéncia nos seres criados, equivalentes & unidio destes em Deus. Além da contribuigéio de ordem metafisica, 0 avicenismo proporcionou ainda significativas modificagées no campo da légica, em que conciliou diversos aspectos dos modelos aristotélicos e estdicos. Como os predecessores, Avicena tentou harmonizar, em suas vérias obras, as formas abstratas da filosofia com as tradicées religiosas do islamismo. Tal pratenséo, porém, falhou em muitos pontos, 0 que deu origem as critieas movidas contra ele por Algazali, cujo ceticismo racionalista, particularmente visivel em sua Tahafut al-falasifa (Autodestruigao dos filésofos), opée-se tanto ao aristotelismo avicenista quanto ao neoplatonismo dos demais filésofos érabes. Em outras palavras, Algazali no admite racionalizagéo helenizante das crencas religiosos, seu Deus é o Deus do homem religioso, endo © do intelectualismo com vicenista. 2.8. Filosofia érabe na Espanha Paralelamente as doutrinas desenvolvidas por Avicena e Algazali, destacam-se aquelas que, a partir do século XI, foram disseminadas pelos pensadores mugulmanos na Espanha, onde sobressai o nome de Avertoés, © maior denire todos os filésofos Grabes. Antes dele, distinguiram-se filésofo judeu Avicebron, Abubaker (autor de um curioso romance filos6fico) e, sobretudo, Avempace, que descreveu o ilinerdrio seguido pelo homem para reunir-se ao inielecto agente, substancia una e comum a todos os entendimentos possiveis. E essa, ainda que obscuramente expressa, a doutrina da unidade do intelecto, cujo maior nome foi Averroés. A obra de Avenroés que, como seus predecessores, procurou conciliar Filosofia & dogma representa a maturidade e a culminancia da tradigéo aristolélica no pensamento muculmano da Idade Média latina. Esse trabalho teve grande influéncia sobre a escoléstica. Em esséncio, 0 averroismo susteniava a etemidade do mundo, que, por haver sido criado por Deus, néo linha na eternidade uma contradigéo. Esse mundo criado e elemo teria —O Curso lire de Teslogio | BACHAREL RENASCER surgido por emanagao do primero prinefpio criador, mas sua etemidade exige também @ eleridade da matéria, na qual subsisfiriam, desde sempre e enquanto posibilidades, «as formas extraidas por Deus para formar as coisas, ¢ née inlroduzidas na matéria. A essa elemidade da matéria reagiram Tomés de Aquino ¢ os antiaverroisias, a doutrina de Avertoés, no entanto, iria marcar ainda trés outros momentos histéricos: no principio do século XIll 0 averroismo latino de Siger de Brabante), no final desse mesmo século {por meio de Duns Scotus, Pietro d’Abano, Marsilio de Padua e ouiros) e na segunda metade do século XV (com os avertoistas da Universidade de Padua). Ao século XY perience também o limo valor expressivo da filosofia érabe, Aben-ialdun, de tendéncia neoplaténica 3. Grandes Movimentos 3.1. Atomismo Enire as teorias dos flsofos gregos sobre a composigtio da matéria, 0 atomismo foi aquela cujas intuigées mais se aproximaram das modernas concepgées cientificas. ‘Atomismo, no sentido lato, & qualquer doutrina que explique fenémenos complexos em termos de particulas indivisiveis. Enquanto as chamadas teorias holisticas explicam as partes em relagéio ao todo, o atomismo se apresenta como uma teoria analitica, pois considera as formas observaveis na natureza como um agregado de entidades menores. Os objetos e relacées do mundo real diferem, pois, dos objetos do mundo que conhecemos com os nossos sentidos. 3.1.1. Atomismo classico A teoria atomista foi desenvolvida no século V a.C. por Leucipo de Mileto © seu discipulo Demécrito de Abdera. Com extraordindria simplicidade ¢ rigor, Demécrito conciliou as constantes mudangas postuladas por Herdclito com a unidade e imutabilidade do ser propostas por Parménides. Segundo Demécrito, 0 todo, a realidade, se compée néo sé de particulas indivisiveis ov “étomos" de natureza idéntica, respeitando nisso 0 ente de Parménides em sua unidade, mas também de vacuo, fese que entra em aberta contradicéio com a ontologia parmenidea. ‘Ambos, ente e ndo-ente ou vacuo, existem desde a etemidade em métva inieragio e, assim, deram origem ao movimento, o que justifica o pensamento de Herdclito. Os dtomos por si 36 apresentam as propriedades de tamanho, forma, impenetrabilidade e movimento, dando lugar, por meio de choques entre si, a corpos visiveis. Além disso, a0 contrario dos corpos macroseépieos, 08 étomos néo podem interpenetrar-se nem dividir-se, sendo as mudangas observadas em cerios fendmenos quimicos ¢ fisicos alribuidas pelos atomistas gregos a associacées @ dissociacées de dtomos. Nesse sentido, o sabor salgado dos alimentos era explicado pela disposigtio inregular de éiomos grandes ¢ pontiagudos. Filosoficamente, 0 atomismo de Demécrito pode ser considerado como o pice da filosofia da natureza desenvolvida pelos pensadores jénios. O fildsofo ateniense Epicuro, & RENASCER Cureo Live de Teolooia | BACHAREL criador do epicurismo, entre os (séculos IV e Ill o.C.) e © poeta romano Lucrécio, dois séculos depois, enriqueceram o atomismo de Leucipo e Demécrito, atribuindo aos dtomos @ propriedade do peso e postulando sua divistio em “partes mfnimas", além de uma “espontaneidade infema”, no desvio ou declinagdo atémica que rompia a trajetéria vertical do movimento dos dtomos, © que, em termos morais, explicava a liberdade do individuo, Desenvolvimentos posteriores, a doutrina atomista teve pouca repercusséio na Idade Média, devido & predominancia das idéias de Platéo e Aristételes. No século XVII, porém, essa doutrina foi recuperada por diversos autores, como o francés Pierre Gassendi, em sua inierpretagio mecanicista da realidade fisica, ¢ pelo alemao Gottiried Wilhelm Leibniz, que the deu um sentido mais metafisico em sua obra Monadologia, Também os ingleses Robert Boyle e Isaac Newton aceitaram algumas idéias da doutrina atomistica, ao sustentarem que as variagées macroscépicas se deviam a mudangas ocorridas na escala submacroscépica. No século XX, com base no modelo da feoria atémica, o inglés Bertrand Russell postulou © chamado “atomismo légico", em que transpés para a Iégica os conceitos analiticos subjacentes ao atomismo classic. Atomismo e teoria atémica. Ao comparar-se © atomismo grego com a ciéncia atual, 6 necessdirio destacar que © primeiro, dada a unidade de filosofia e ciéncia, pretendia tanto solucionar os problemas da mutabilidade e pluralidade na nalureza quanto encontrar explicagdes para fendmenos especificos. J4 a moderna teoria atémica tem seu interesse centrado na relacdo entre as propriedades dos étomos @ o comportamento exibido por eles nos diversos fendmenos em que esiio envolvidos. Attavés do controle das reagées nucleares, alcancou-se um novo nivel, no qual os dtomos séio descritos como constituidos por particulas elementares, as quais podem transformar-se em energia e esta, por sua vez, em particulas. 3.2. Dialética Desde os gregos até 0 fim da dade Média, a dialética esteve identificada com a légica, ao longo da histéria, porém, enriqueceu muito seu significado, até tomar-se, com Hegel e Marx, uma das categorias mais importantes do pensamento tloséfico. ‘Coma mesmaraiz da palavra didlogo, dialétiea pode significar dualidade, mas também oposicéo de razées, atitudes ou argumentos. A ideia de oposigéio, antiiese ou contradictio, porém, embora essencial é nogtio de dialética, néio esgota seu significado. Para os filésofos gregos, era essencialmente um método légico de perguntas e resposias que permitia chegar & conclustio verdadeira. Modemnamente, adquiriu sentidos e inflexdes diferentes e tornou- se uma espécie de peda filosofal do nosso tempo, uma maneita dindmica de interpretar 0 mundo, 08 fatos hisiéricos e econémicos e as préprias idéias. Em Socrates, « dialética inclu’ 1rés momentos: a hipStese, definicao prévia e proviséria do que se pretende conhecer; a ironia, inlerrogalério que leva o interlocutor a raconhecer a ignoréncia do que pretendia saber; e a maiéutica, arte de dar é luz as idéias adormecidas 1no espirito do interlocutor. Podia ser utllizada como simples método de debate, ou para a avaliagio sistematica de definicdes ou ainda para investigacio e classificacdo das relagies —&. 3ENASCER, Curse Live de Teslogia | BACHAREL entre conceitos gerais e espectficos. Analisando os didlogos de Plato, firmados no proceder dialético, nota-se o limitado alcance do método, em que a conclusio é apenas uma repeticéo, termos diferentes, da proposico inicial. Para Aristételes, a dialética platénica é um método menor quando confrontado com os da ciéncia Os pensadores renascentistas ¢ racionalisias, de modo geral, néo tiveram grande prego pela dialética, que consideravam 0 método proprio das grandes summas teolégicas escoldsticas. No fim do século XVIll, Kant a utilizou nesse sentido, transferindo para 6 plano transcendental a eficécia da dialética. Dialética hegeliana. Na primeira metade do século XIX, Hegel fez da dialética um fator essencial de seu sistema, mas néo a concebeu como método ou uso da razéio, e sim como um momento da propria realidade. Para ele, a dialética consiste na continua tendéncia dos coneeitos a se transformarem em sua prépria negacdo, come resultado do conflito entre seus aspecios contraditorios intemos, 0 que dé origem a outros conceitos Em Hegel, a dialética é, portanto, a esirutura do real que, entendido como processo, envalve trés momentos: o da identidade, do ser em si {tese); 0 da negacdo, do ser para si (antitese); e 0 da negacéo da negagtio, do ser em si e para si (sintese). © momento propriamente dialético do procasso 4 o da negagéo, implicito no anterior, da finitude do dado. © proceso, porém, 86 & dialético porque néo se detém na negacéio, que o imobilizaria. Pala nega¢éo da negacio, alcanca nova posicéo, ou positividade, que contém ‘0s Momentos anteriores @ os supera, na totalizagéo ou sintese. Assim, a dialética se converte na manifestagdo da mudanga continua da realidade e do vir a ser do espirito absoluto -- eixo do sistema hegeliano ~ na histéria. Materialismo dialético. A idéia de dialética é central também na teoria de Marx que, diferentemente de Hegel, néo a vé como uma dindmica especulativa, traduzida no émbito das idéias ov conceitos, mas como instrumento que permite a compreensdo adequada dos fenémenos historicos, sociais e econémicos reais. Dando contetido concreto 4 formulagéo abstrata de Hegel, Marx entende a contradigéio como mola do processo histérico, tenstio que © propulsiona e © faz progredir, em constante mudanca e transicéo. 3.3, Empirismo Na histéria do pensamento, o racionalismo fundou-se sobre a crenga na capacidade do infelecto humano para compreender a realidade. Incorrev, todavia, em excessos metafisicos que fizeram dele um sistema filoséfico fechado. Diante disso, surgiria na Inglaterra o empirismo, segundo o qual nenhuma certeza é possivel, nenhuma verdade 6 absoluta, jé que nda existem idéias inatas e o pensamento sé existe como fruto da experiéncia sensivel. Empirismo € a doutrina que reconhece o experiéncia como nica fonie wilida de conhecimento, em oposigo a crenge racionalista, que se baseia, em grande medida, na razao. © empirismo dev inicio a uma nova e transcendental etapa na historia da filosofia, tornando possivel o surgimento da modema metodologia cientifica. Do ponto de vista psicolégico, & RENASCER Cureo Live de Teolooia | BACHAREL identifica-se com “censualismo” ou “sensismo”, pelo menos em seus representantes mais radicais, Comparado ao positvismo, designa principalmente o método, enquanto o positvismo designa a doutrina a que esse método conduz. Em termos estritamente gnosiolgicos, 0 que 0 coracieriza e define é a afirmagtio de que a validade das proposices depende exclusivamente do experiéncia sensivel. Na perspectiva metatisica, identifica-se © empiriamo com a doutrina que nega qualquer ovtra espécie de realidade além da que se alinge pelos sentidos 3.3.1, Caracterizagéo Nem sempre 6 facil distinguir empitismo © ceticismo, considerado o fato de que o empirismo no participa da divide universal, muitos enlendem valida sua conceituacéo como forma expressiva de dogmatismo. Todavia « dificuldade de caracteriaé-lo decorre do rnimero elevado de suas ramificacdes. O fenomenismo de David Hume e a imaterialismo de George Berkeley so duas de suas ramificagées mais significalivas, ds quais convém ainda acrescentar 0 proprio positvismo. Apesar dessas diversiicagies, alguns autores pretendem coracteri26-lo mediante seis alirmagdes bésicas, algumas delas essencialmente expressivas de suas formas mais radicais. So elas: 1) nao hal ideias inatas, nem conceitos abstratos; 2) 0 conhecimento se reduz a impressées sensiveis e a ideias definidas como cépias enfraquecidas das impressdes sensoriais; 3) as qualidades sensiveis sdio subjetivas; 4) os relacdes entre as ideias reduzem-se a associagées; 5) 08 primeiros principios, ¢ em particular o da causalidade, reduzem-se a associagbes de idéias convertidas e generalizadas sob forma de associagées habitucis; 6) © conhecimento é limitado aos fenémenos e toda a metafisica, conceituada em seus fermos convencionais, 6 impossivel. 3.3.2. Histérico (© empirismo revelou-se na filosofia grega sob a forma sensudlista, citando-se como seus representanies Herdclito, Protagoras e Epicuro. Na Idade Média seu mais significativo adepto foi Guilherme de Occam; expressou-se entdo por meio do nominalismo, cuja tese central é a nGo-existéncia de conceitos abstratos @ universais, mas apenas de termos ou nomes cujo sentido seria o de designar individuos revelados pela experiénci. © empirismo moderne tem como seus principais representantes John Locke, Thomas Hobbes, George Berkeley David Hume. Mas néo se esgoia af 0 movimento. Sem divida, Jeremy Bentham, John Stuart Mill (em que © empirigmo se converte em associacionismo) @ Herbert Spencer podem ser citados como figuras representativas do fenomenisme nos dominios da ética, da légica e de filosofia da natureza. smo enfrentou uma série de dificuldades, sendo a principal e mais profunda a que Immanuel Kant reconheceu, ao proceder, em sua Kritik der reinem Vernunft —O Curso lire de Teslogio | BACHAREL RENASCER (1781; Crica da razdo pura), & distingdo entre a experiéncia enquanto passo inicial do conhacimento e enquanto dado absoluto do conhecimento, O significado do empirismo pode ser examinado considerando a validade de suas afirmagées cantrais. Tais afirmacées séo: 1) a rejeicéo da tese das ideias inatas; 2) a negagio das ideias abstratas; 3) @ rejeigéo do principio da causalidade e, por decorréncia e generalizagao, dos primeiros principios da razéio. A argumentacéio contra o inatismo foi esqotada por Locke. Negadas as ideias inatas enquanlo ideias explicitadas, elas néo poderiam deixar de estar presentes nas criangas e nos selvagens. A possibilidade de sua preesisiéncia, meramente virlualizada ov implicita, desde logo é prejudicada, por se revelar contradi conceituagéo da consciéncia tal como a formulou descaries e tal como a admitiv Locke. A argumentacio contra a validade da teoria da absiracdo é da autoria de Berkeley. Hume considera-o definitiva e irrespondivel. Segundo Berkeley, nao se poderia conceber isoladamente qualidades que néo podem existirem separado, como cor e superficie, nenhuma condigdo existe para se pensar em cor, senéio em termos de extensdo ou superficie; a vinculagéo de uma é outra é essencial. De resto esse foi um dos caminhos explorados por Edmund Husserl, em funcdo da técnica das voriagées imagindrias, para atingir 0 reino das esséncias. Ainda segundo Berkeley, qualquer representagio seré individual. Néo se representa o homem, mas Pedro ou José. O triéngulo conceituado nunca deixaré de ser isésceles ou escaleno. A atitiea ao principio da causalidade foi feita por Hume e constitui um dos pontos centrais de sua contribuigdo epistemologia. A causalidade, entendida como poder de determinacao e como relagio necesséria, é recusada, Nenhuma fundamentagéo sensorial se Ihe poderia oferecer. Apenas se admilem sequéncias de eventos reforgadas em termos de habitos. Accita e ampliada sva validade, a critica invalida todos os chamados primeiros principios, Precisamente assim procederam Stuart Mill, Spencer e, mais modernamente, L. Rougier, Charles Serrus e todo o Circulo de Viena, 3.4, Epicurismo Os principios enunciados por Epicure praticados pela comunidade epicurista resumem-se em evitar a dor e procurar os prazeres moderados, para alcangar a sabedoria e a felicidade. Cultivar a amizade, salistazer as necessidades imediatas, manter-se longe da vida pilblica e rejeitar o medo da morte ¢ dos deuses so algumas das férmulas praticas recomendadas por Epicuro para alingir a alaraxia, estado que consiste em conservar espiito imperturbével diante das vicissitudes da vido. Epicuro nasceu na ilha grega de Samos, no ano 341 a.C., e desde muito jovem interessou-se pela filosofia. Assistiv ds ligSes do filésofo platénico Panfilo, em Samos, e as de Nausifanes, discipulo de Demécrito, em Taos. Aos 18 anos viajou para Atenas, onde provavelmente ouviul os ensinamentos de Xendcrates, sucessor de Platéio na Academia. & RENASCER Cureo Live de Teolooia | BACHAREL ie]

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