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Cidade grande

Na cidade grande tudo se resolve


menos a vida humana
Colisões estrondosas, cânceres retirados,
macumbas mal resolvidas
Aqui me ensinaram de tudo,
foi-se manuais, livros, apostilas
Entretanto, em nenhum momento,
eu vi a vida em letras
Aqui se resolve aparência
e vontades, compra-se tudo
Nádegas e seios
cabelos e bromélias
Mas esquecem da vida
essa relegam ao tempo
Mais tarde se arruma
depois ela se ajeita, se enfeita
Lanternas piscantes, motores possantes
povo ignorante, vida errante
Mais trepidantes são as letras
estáticas em seu papel
Não reagem à dor
só a causam
Mas a vida em escritórios
se refrigerou e quase congelou
Anima-se nos automóveis
para não temer em buzinar
Ou, quem sabe, atropelar
a qualquer que não lhe agrade
Corre assim a vida citadina
não sem antes se perguntar
Somos bonecos de joguetes
velhos, que quase não se renovam
Mas a graça imunda está em saber
e não relegar sua pequenez no sistema
Falho mas contínuo
contínuo mas voraz
Assim a vida urbana, sem vida,
mas veloz em corroer dilemas antigos

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