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Desprezo

Por que o desprezo


se os olhos são em vida?
O que faz restar
do sangue errante?

Mais que a letra,


o mero marulho do mar
Mais que a pena,
a senda em sina de amar

Qual queda em destino,


sem atalho, só caminho
Assim se dá ao poeta
sacrificar sua palavra

Plácido em justiça,
cumprindo a que veio
A dizer em piedoso tom
o caos feito fúria e som

É grave ao falar
o sustento da eternidade
O ar o sustenta diante
à toda gravidade

À noite se vê
um sorriso em flor
Misto de brio
e dor

Mas faz-se fogo e fel


à beleza inclemente
Fica acre ao peito
dissimulado respeito

Noite no jamais
fez do olhar encontro
Quanto mais
encanto...

Quanto por ser,


quanto por nascer
No anseio de ir
sendo no seio do ser

Faz o demônio ao dia


seu jardim em espinho
E o tempo da esperança
se quebra sem confiança

Tudo pela miséria


entregue ao orgulho
Que se entorpece
sem pedir perdão

A indiferença se fere
e se perde ao obscuro
Sem erro ou acerto
ao deserto donde veio

O poente se esvaiu
na lenda do dia
Já no império
noturno a fenda

A trinca no infinito
compreendida no divino
De saber tão só
que no nunca é só

Mas o tempo na dimensão


do perfeito se acaba
E lá resplandece apenas
a vida...

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