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Comum

Comunismo
de comunidade ou comum?
Comum! Comum?
Posso, sendo antípoda, ser comum?
Em igualdade homem
vermelho no sangue, azul na vendagem?
Comum, apenas comum?
E a comunidade?
Coitada vendada à verdade
da iniqüidade das vendas
Roupagem, vestes,
que vistes, tu, sobre a pele

Cabe no núcleo
a sondagem do porvir
Assim como em pequenez
em um só verso, o universo
Sabe o comum o poeta?
Não sabe, talvez desejasse saber
Ou não desejasse nada
apenas o nada, o risível, o louco
Quando entrecruza, a realidade beira a loucura
e quando reflete, a loucura beira a sanidade
Mas assim como se prospecta óleos negros
também o poeta prospecta a vida, cava, revira
E só por que cava e revira
lhe vale uma verdade, uma existência?
Não sabe, não pode,
o poeta ri de si próprio embutido no fosso

Se o caroço se reveste de fruto


é porque precisa ser espalhado
Mas no poço sem água
sobra caroços mal-resolvidos
Não brotam, não nascem,
são infecundos na possibilidade de nascer
Assim o poema
está todo escrito, está todo no porvir
O poema está todo prontinho
todo em puro deleite
Porém cabe à terra desenlaçar
e desatar o início, o sofrível início
O problemático início
é o descolar do chão de uma ave
Porém ao voar, não encontra limites
age por agir, voa sem rumos
Cabe ao homem de letras
tirar os poemas para vôos belos

Entretanto a comunidade
o comum, se afligindo em furor
Batendo de fronte com fronte
todos relegando os vôos
Sabe o poeta valorar
ainda que no vazio, um sabor
Entretanto o incomum atual
do comum, renegar e destruir possibilidades
Inúmeras até, são esgotadas
para que o fim de semana chegue logo
No fim de semana, mármore
no fim de semana, ouro
Durante a semana?
Aço, concreto, ossos

Nas ossadas das letras


sobraram poucos caminhos
Quase mortas, estão essas letras
só não morreram, pois vendem
Mas desossando e remexendo
há insistentes, insistentes malucos
Velhacos na dor, martelando
suas posições e imposições
Não choram, são bem solenes
até um tanto frios ao mexer com mortos
Mas recriam a vida em versos
de versos sentiram, de versos caíram
E mundos na lama
sabem rememorar passados e presentes
De natais a aniversários
sabem da igualdade do tempo comum
Comunicar descomunalmente
as brechas das portas atuais
Cerradas de medo, cerradas de dor
mas me pergunto, o chumbo já passou?
Se do chumbo já foi o que resta?
Resta o aço e concreto de valores
Querem alguns mais desprovidos
ter acesso a esse mundo imundo
Mais profundo é o poço
dos caroços jogados, mas não percebem
Muda somente os metais
do chumbo para o ferro
Mas o ácido da vida
corrói todos eles, sem culpa alguma

Sabe o poeta sofrer em verso


mas das letras não padece
Só recluso do uso confuso
das cores dessas telas estáticas
Ele promete que sairá
a luz do sol, anda muito pálido
Mas se lembrou da advertência
“essas ruas andam muito perigosas”
Mais perigosa a vida sem fim
obsoleta, sem uso, desprovida
A melancolia dilacerou mais um pouco
daquele só, e desejou novos ares
Precisava respirar, o tempo estava empoeirado
a poluição não permitia o mais elementar, respirar
E sem respirar ares novos
padeceu até o poeta de novas idéias
Sentiu-se doente, enfermo
mas sem febre, nunca queimaria
Afinal tudo aquilo passaria
tudo há de passar, já diziam
O problema era não acreditar
nos dizeres populares
Pobres dos homens
que eram comuns
Não por escolha
mas escolhidos a dedo
Preenchiam e enchiam o mundo
com suas deficiências para servir
Serviam a todos aqueles empolados
homens de terno, que tampouco ajudavam
Eram todos assim, comuns
uns de terno, outros de macacão
E a comunidade sofreu
padeceu de sua paralisia
Não tinha idéias, nem ideais
só remédios para patologias não identificadas
Carregavam jornais, carregavam livros
e queria o poeta saber, que livros?
Eram daqueles bem acessíveis
transformavam monges em executivos
O poeta perdeu-se
o tempo se perdeu, não tinha assuntos
As informações se perdiam
em redes nunca vistas
Mas de toda a censura
o poeta não sofria, mas sofria
A censura do público
aliás do telespectador
Chorou, o poeta chorou
não tinha caminhos
Tudo trilhado, tudo sem inovação
a poesia por voar, caiu em esquecimento
Aliás, caiu no cimento
e de lá não sairá tão cedo

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