Oh és tu, morte? “Amor, te amo” diz o enamorado “A morte? Amo” diz o suicida Ambos antípodas quanto ao fim, mas virá, final cruel, mas será realmente cruel? Natural? Palavras, vocês nos odeiam, destruíram a própria morte, esta é o fim da enunciação renovada Ou não? Vive dizendo aquele que morre... Quem vive espera, quem morre se redime Assim trilhamos mórbidos por fogos invisíveis, ou melhor, visíveis, os fogos-fátuos A morte olha com olhos serenos, calmos, não tem tanta pressa quanto parece, aliás, depende do espectador A perda nunca existiu para o poeta, pois é fingidor, mas para o sujeito de carne, este é a constante A perda ainda não é, mas daqui anos começa, e o terror, o pavor de perceber a linha final próxima... A juventude mascara a morte, troça dela, finge que não existe, mas quem se ri realmente é ela, sempre com paciência Crê-se em uma potência que é débil, vazia, e só se serve por breves lapsos de tempo Os jazigos e epitáfios não chocam, não ardem, só transmitem uma realidade incontestável e sem valor Porém, a maturidade... O medo surge, corrói, torna-se factível, ou melhor, plausível, tangível Já na senilidade, a aparência do fim é o próprio fim, e ter consciência da proximidade tira seu terror e redime Redime porque a morte é senão libertação do sofrimento humano, não que outras vidas existam para nossa alegria Talvez o sofrimento seja a alegria de quem vive, e a morte a tristeza de quem já não sofre