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DOI: 10.2436/20.2003.02.98 http://scq.iec.cat/scq/index.

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A química das tintas e dos pig-


mentos. Um tema gerador para
o ensino e a problematização de
aspectos científico-humanísticos
La química de les pintures i dels pigments com a fil conductor per a l’ensenyament
i aspectes problemàtics de la investigació científica i humanística
40
Chemistry of paints and pigments as a guiding theme for teaching. Problematic
aspects of scientific and humanistic investigation
ISSN 2013-1755, SCQ-IEC Educació Química EduQ número 13 (2012), p. 40-46

Welington Francisco / Universidade Federal do Tocantins. Campus de Gurupi


Wilmo Ernesto Francisco Junior / Universidade Federal de Alagoas. Campus de Arapiraca

resumo

As tintas e os pigmentos fazem parte de nossa vida desde a pré-história, quando os povos primitivos as usavam
para decoração de cavernas e rochas. No entanto, com o passar dos tempos, tanto as tintas como os pigmentos se
tornaram produtos bastante comercializados e úteis na e para a sociedade. Neste artigo, o objetivo é discutir a quí-
mica das tintas e dos pigmentos como um tema gerador, abarcando questões históricas, composições, processos de
fabricação e impactos ambientais, enfatizando um caráter científico de cunho mais humanístico.

palavras chave
Tintas, pigmentos, tema gerador, educação científica humanística.

resum

Les pintures i els pigments estan presents en la nostra vida des de la prehistòria, quan en la civilització primitiva
s’utilitzaven per a la decoració en coves i minerals sòlids. No obstant això, durant l’evolució del món, les pintures i
pigments han transformat una gran quantitat de productes comercialitzats i útils per a la societat. En aquest arti-
cle, l’objectiu és analitzar la química de pintures i pigments com un fil conductor que abasta temes històrics, com-
posicions, processos de fabricació i impactes ambientals, amb èmfasi en un caràcter científic humanista.

paraules clau
Pintures, pigments, fil conductor, educació científica humanística.

abstract

Paints and pigments have been present in our life since prehistory when primitive civilizations used them to decorate
caves and solid minerals. However, during the evolution of the world, paints and pigments have transformed a lot of
commercial and useful products for society. In this article, the goal is to discuss chemistry of paints and pigments as a
guiding theme: covering historical issues, compositions, manufacturing processes and environmental impacts, and
emphasizing a scientific humanist nature.

keywords
Paints, pigments, guiding theme, humanistic science education.
Química i societat
A tinta é uma mistura de possibilitando uma profícua apro- a coloração preta a pirolusita
vários insumos que juntos pas- ximação da relação CTS (Ciência- (MnO2, óxido de manganês) (Mello
sam por um processo de cura Tecnologia-Sociedade) com os e Suarez, 2012).
(reações químicas que transfor- conhecimentos científicos. É nes- No Egito, o uso das tintas e
mam a estrutura polimérica se sentido que este trabalho visa dos pigmentos tinha essencial-
linear em estrutura polimérica tri- debater a química das tintas e mente a função artística, sendo
dimensional), formando assim um dos pigmentos, incluindo um bre- empregadas na decoração das
filme opaco e aderente. Esse filme ve histórico, seus componentes, pinturas de sarcófagos ou papiros
formado tem como finalidades a sua produção e os seus impactos de manuscritos e paredes. Na
proteção superficial de materiais ambientais, levando em conta região eram empregados diversos
contra a corrosão, identificação de uma perspectiva científica de pigmentos naturais como nas
problemas em tubulações e embe- cunho mais humanística (Santos, pinturas rupestres, no entanto, os
lezamento de peças, acessórios e 2008), que almeja problematizar egípcios foram os primeiros a
ambientes (Fazenda, 2009). uma formação mais social e críti- desenvolverem os pigmentos sin- 41
Na sua formulação, a tinta ca dos estudantes, fornecendo téticos de coloração azul, que
geralmente apresenta uma parte uma fonte para auxiliar o traba- eram empregados nos preparados
sólida que forma a película ade- lho de professores do ensino das tintas. O pigmento Azul do

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rente no material a ser pintado médio e futuros professores Egito (CaCuSi2O6) foi produzido a
(resinas ou veículos), imersa em (licenciandos). partir da calcinação de uma mis-
um componente líquido, na tura de sílica (SiO2), óxidos de
maioria das vezes volátil (solven- A história das tintas cobre (CuO e Cu2O) e sais de cál-

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tes orgânicos e às vezes água), Acredita-se que as pinturas cio (p. e. CaCl2). Para ligar esses
sendo considerada também uma rupestres sejam os primeiros pigmentos naturais, os egípcios
emulsão. Um terceiro componen- registros de utilização das tintas usavam goma arábica, clara e
te importante são os pigmentos, pela humanidade. Geralmente, gema de ovo, gelatina e/ou cera
que conferem a coloração para as essas pinturas expressavam hábi- de abelha. (Fazenda, 2009).
tintas. Em algumas formulações tos triviais como cenas de pesca e No Oriente, tanto os chineses
são adicionados os aditivos, que caça, de guerra e até mesmo de quanto os japoneses utilizavam
auxiliam desde o processo de sexo, onde a população utilizava, uma série de pigmentos naturais
armazenamento até a formação na verdade, pigmentos de origem para inventar diversas cores.
do filme. inorgânica finamente triturados Além desses pigmentos, surgiu a
Os pigmentos são definidos como: hematita (Fe2O3, óxido fér- primeira tinta de escrever, conhe-
como um particulado sólido, rico) para a cor vermelha; goethi- cida como nanquim (tinta-da-chi-
orgânico ou inorgânico, que seja ta (FeO(OH), óxido ferroso com na), empregada em manuscritos
insolúvel no substrato que será água de constituição) para o datados de 2000 a. C. A primeira
incorporado. Ademais, os pigmen- amarelo; para a coloração branca composição da tinta nanquim era
tos não podem reagir quimica- a caulinita [Al2Si2O5(OH)4] e para uma dispersão de partículas de
mente com o material que ele
será disperso (Bondioli, Manfredi-
ni e Oliveira, 1998). Podem ser
conhecidos também como coran-
tes e possuem como principal
característica proporcionar a cor
por dispersão mecânica no meio.
É exatamente pela produção de
cores, por meio dos pigmentos, é
que as tintas se tornaram tão
atrativas esteticamente.
Desta forma, o estudo das tin-
tas e dos pigmentos permite
debater diferentes conceitos quí-
micos, tais como propriedades de
substâncias, tipos de ligações quí- 
micas, forças intermoleculares, Figura 1. Estruturas químicas dos principais ácidos graxos presentes nos óleos de
reações químicas dentre outras, linhaça e cânhamo.
dentre outros (fig. 2), que substi-
tuíram os pigmentos a base de
metais pesados de alta toxicida-
de, tais como o vermelho de
chumbo (Pb3O4, cinábrio (HgS),
amarelo de Nápoles [Pb3(SbO4)2] e
o branco de prata
(2PbCO3.Pb(OH)2). Ademais, surgi-
Figura 2. Estruturas químicas de pigmentos sintetizados: 1 – verde de ftalocianina; ram diferentes resinas sintéticas
2 – amarelo Hansa; 3 – anil Índigo; 4 – púrpura de anilina. como as epóxi, as acrílicas, as
alquídicas, as vinílicas, as celuló-
carbono em água. Atualmente, o óleos de linhaça (Linum usitatissi- sicas, as de poliésteres etc, que
nanquim é preparado com nano- mum) ou cânhamo (Cannabis rude- serão discutidas adiante.
42 partículas de carbono esferoidais, ralis) para produzir essas tintas, Dentro dos aspectos históricos
conhecidas como negro de fumo, conhecidas como tintas a óleo. apresentados podem-se desenvol-
que é uma dos tipos de carvão Uma das principais propriedades ver muitas atividades. Primeira-
mais puros. Ele é produzido a das tintas a óleo é sua estabilida- mente, poderia ressaltar a impor-
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partir da combustão parcial dos de frente à umidade e demais tância da evolução dos processos
gases metano (CH4) ou acetileno intempéries. Tal propriedade está para fabricação e utilização das
(C2H2), de acordo com as equa- relacionada com o processo quí- tintas, problematizando o valor
ções descritas abaixo: mico de polimerização das das tintas em cada época e o que
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duplas ligações presentes nas seus usos (como as pinturas nas


CH4 (g) + O2 (g) → 2H2O (g) + C cadeias carbônicas dos ácidos cavernas, os escritos nos sarcófa-
(fuligem) graxos dos óleos vegetais de gos) representam nos dias atuais
2CH≡CH (g) + O2 (g) → 2H2O (g) + 4C linhaça e cânhamo em contato enquanto patrimônio histórico-
(fuligem) com o oxigênio da atmosfera. Os cultural da humanidade. Ques-
principais ácidos graxos encon- tões disparadoras do debate
As civilizações gregas e roma- trados nos óleos de linhaça e poderiam ser: «Quem tem acesso
nas também contribuíram para a cânhamo estão descritos na fig. 1. a essas informações?», «As pes-
evolução das tintas. Nessa época Porém, só foi a partir da Revo- soas que não trabalham direta-
surgiu a técnica conhecida como lução Industrial que a tinta pas- mente com esses aspectos têm
afresco, que utilizava como veícu- sou a ser desenvolvida como como buscar esse conhecimen-
lo um tipo de argamassa consti- conhecemos hoje. O uso de resi- to?», «E onde buscar?», «Por que
tuída de cal (CaO, óxido de cál- nas a base de copal (resinas estes desenhos e grafias são tão
cio), areia (composição básica de duras, vítreas e extraídas de cer- valiosos para a sociedade?»,
SiO2, óxido de silício) e água. Com tas árvores da floresta tropical) e «Onde buscar tais informações e
a argamassa ainda fresca eram âmbar despontaram na Revolu- relatos?», «Será que existem
misturados os pigmentos, os ção Estadunidense e, em 1790, essas decorações no Brasil?».
mesmos usados pelos egípcios, e foram construídas as primeiras Na era renascentista, o inte-
o produto era aplicado direta- fábricas de vernizes na França, resse em utilizar a tinta para
mente sobre paredes, colunas, Alemanha e Áustria. No entanto, questões artísticas está relaciona-
estátuas, etc. Após a evaporação foi na Grã-Bretanha e na Holanda do ao pensamento filosófico
da água, gerava uma camada que despontou o emprego de pro- vigente da época. Nesses aspec-
dura que mantinha a coloração dutos sintéticos na produção das tos, podem-se desenvolver ativi-
inicial (Mello e Suarez, 2012). tintas e que começou a fazer par- dades interdisciplinares envol-
Na época renascentista, cres- te de estudos científicos. vendo a literatura, a filosofia e a
ceu o interesse pelo uso de óleos Os primeiros resultados con- história. Perguntas do tipo «O que
vegetais na produção de vernizes cretos destas revoluções foram às levou a mudança tal abrupta na
e tintas. Durante esse período sínteses de novos pigmentos, utilização das tintas?», «Que
cada artista era seu próprio fabri- como a púrpura de anilina, o influências esse novo pensamen-
cante de pigmentos e ligantes. branco de titânio (TiO2, óxido de to fez para a época e para as
Artistas como Rembrandt e Cuyp, titânio), o negro de fumo (supra- futuras?», «E em relação ao
ambos holandeses do século XVII citado), o anil de índigo, o amare- melhoramento das tintas, será
e Leonardo da Vinci, usavam lo Hansa, o azul da Prússia que a nova visão alavancou estu-
ligantes a base de vernizes de ([Fe(CN)6]4-), o verde ftalocianina dos futuros?», podem ser orienta-
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doras de debates. Cabe destacar
aqui questões relacionadas à
contaminação por chumbo de
vários pintores ainda no século XX.
Exemplo disso é caso de Cândido
Portinari, morto poucos anos
depois de finalizar sua grande
obra Guerra e Paz, que se encon-
tra na sede da ONU em Nova
York, realizada quando o artista
já se encontrava debilitado.

Figura 3. Principais solventes orgânicos empregados na produção das tintas.


Componentes da tinta
O avanço tecnológico refletiu 43
diretamente no desenvolvimento
das tintas, cuja composição
sofreu várias alterações e cada

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vez mais novos componentes sur-
gem com diferentes funções. No Figura 4. Representação da equação geral da síntese de resinas alquídicas e resi-
entanto, a composição atual das nas de poliésteres.
tintas possui matérias-primas

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básicas que são empregadas em de pesquisa das indústrias, desta- gadas na proteção de veículos,
todos os tipos de tintas. Os com- cam a importância das tintas a edifícios e mobiliários.
ponentes básicos são: as resinas, base de água para diminuir o uso É salutar que a equação descri-
os pigmentos e os solventes. Con- excessivo de solventes orgânicos. ta acima segue um mecanismo de
tudo, será dado um destaque Um bom exemplo são as tintas reação do tipo substituição
maior nas resinas que são os látex. nucleofílica, onde o nucleófilo (par
compostos responsáveis pelas No período da Revolução de elétrons livres no átomo de oxi-
propriedades gerais das tintas. Industrial e consequentemente gênio do álcool) ataca o centro
com os avanços tecnológicos dis- reativo do ácido carboxílico (car-
Resinas poníveis, foi possível o desenvol- bono ligado à dupla ligação com o
As resinas, também conheci- vimento de variadas resinas sin- oxigênio). Ressalta-se ainda que a
das como veículos, compõem a téticas com diferentes funções produção dessas resinas é prove-
parte líquida da tinta, juntamen- e aplicações. Destacam-se hoje niente de uma reação de equilí-
te com o solvente. A principal em dia: brio que necessita ser catalisada
função das resinas é a formação por ácido ou por base. No primeiro
das películas, as quais são res- Resinas alquídicas (RA) e resinas caso, é importante que os quími-
ponsáveis pelas propriedades físi- de poliésteres (RP) cos responsáveis pela síntese
co-químicas das tintas, como São polímeros produzidos a retirem o produto formado cons-
resistência, brilho, secagem, ade- partir da reação química entre tantemente para diminuir sua
rência dentre outras. Essa pelícu- um ácido e um álcool, chamada concentração no equilíbrio e, con-
la é formada por meio do proces- de reação de esterificação (fig. 4). sequentemente, a reação tem seu
so de cura, que nada mais é que A diferença é que as resinas equilíbrio deslocado para a forma-
a polimerização das resinas, em alquídicas são produzidas a partir ção dos produtos, uma vez que
uma estrutura tridimensional, de óleos vegetais e as resinas de isso é de interesse no ponto de vis-
após a evaporação dos solventes. poliésteres não. As RA apresentam ta industrial. Já no caso da catálise
Esses solventes em sua maioria como vantagem o baixo custo na básica, o equilíbrio é deslocado
são compostos orgânicos voláteis fabricação, porém, possuem baixa para o produto na etapa final da
de diferentes classes orgânicas resistência química. São usadas reação, favorecendo novamente a
(fig. 3). O tipo de solvente deve em tintas que secam por oxidação formação do produto de interesse.
ser compatível com as proprieda- ou polimerização com calor. As RP Reação semelhante a essa em
des das resinas e os pigmentos, são empregadas para a fabricação outros processos industriais são as
sobretudo, em termos de solubili- de primers e acabamentos de cura sínteses de biocombustíveis, que
dade e dispersão. Muitos estudos, à estufa, ou seja, formação de utilizam como reagentes os óleos
sobretudo nos próprios centros plásticos. Tais resinas são empre- vegetais e o glicerol.
ou sintético), composição quími-
ca (orgânicos ou inorgânicos),
preparação e uso. Geralmente, os
pigmentos orgânicos apresentam
tons mais brilhantes e um poder
 de coloração maior. Em contra-
Figura 5. Representação da reação de substituição nucleofílica entre a epicolidrina e partida, os pigmentos inorgânicos
o bisfenol A para produzir a resina epóxidica. apresentam maior estabilidade
química e térmica (Bondioli, Man-
fredini e Oliveira, 1998).
Alguns pigmentos possuem
propriedades anticorrosivas como
o zarcão (mistura de tetróxido de
44 chumbo – Pb3O4, contendo de 1 %
a 2 % de PbO ou plumbato de
Figura 6. Representação da formação do polímero de adição polimetacrilato chumbo Pb2PbO4) e cromato de
zinco (ZnCrO4), conhecido como o
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de metila.
primer (Gentil, 2007). Além dos
pigmentos orgânicos apresenta-
dos na fig. 2, são utilizados ainda
pigmentos inorgânicos como: o
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dióxido de titânio (TiO2) e óxido


de zinco (ZnO) para a obtenção da
coloração branca, óxido de ferro
 (FeO) para a coloração preta, ver-
Figura 7. Representação da formação de um copolímero vinílico. de de cromo (Cr2O3) para a zcor
verde, pó de alumínio (Al, metali-
Resinas epóxidicas principalmente em vernizes auto- zado) dentre outros (Gentil, 2007).
Também conhecidas como motivos, apresentando excelentes No entanto, o que vale desta-
resinas epóxi, essas resinas são resistências químicas e mecâni- car é como esses pigmentos apre-
polímeros caracterizados pela pre- cas, além de excelente brilho. sentam essas cores. No caso dos
sença de grupos glicidila em sua pigmentos orgânicos a coloração
estrutura molecular. São sintetiza- Resinas vinílicas surge devido à absorção da luz
das a partir da reação de polime- São polímeros obtidos de ace- branca (radiação eletromagnética)
rização por condensação entre a tato de vinila com outros monô- pelos grupos cromóforos (partes
epicolidrina e o bisfenol A (fig. 5). meros, sendo a reação realizada da substância que apresenta liga-
Sua principal característica é a em meio à emulsão com a água ções duplas em um sistema con-
forte adesão às superfícies que (fig. 7). Sua principal aplicação é jugado) das substâncias em certos
serão pintadas, sendo utilizados na produção das tintas látex usa- comprimentos de onda e conse-
em pinturas protetoras de navios, da na pintura de residências em quentemente a reflexão da cor
tambores, latas de conserva etc. geral. complementar à absorção. Nos
pigmentos inorgânicos a cor surge
Resinas acrílicas Pigmentos por causa da transferência de car-
São polímeros de adição pro- Os pigmentos são compostos ga entre o doador e o receptor.
duzidos a partir do monômero insolúveis nas resinas, ficando Quando o pigmento absorve a luz
metacrilato de metila (fig. 6). São dispersos nela. São os responsá- branca, elétrons livres presentes
consideradas resinas nobres, pois veis pela coloração das tintas no doador (na maioria dos casos o
oferecem excelentes resistências e pela estimulação dos clientes átomo de oxigênio) ficam excita-
químicas, graças às ligações car- pela variedade de cores. São cha- dos e são transferidos aos orbitais
bono-carbono que são muito mais mados de pigmentos tintoriais e d (níveis mais energéticos) dos
resistentes do que ligações ésteres devem apresentar como qualida- metais de transição que estão
presentes em resinas alquídicas e de principal a retenção da cor ligados ao oxigênio. Quando esses
de poliésteres. Seu custo é mais durante um longo período. Os elétrons retornam ao estado fun-
elevado devido suas melhores pigmentos são classificados de damental (baixa energia), ocorre à
propriedades e são utilizadas acordo com sua origem (natural reflexão de uma cor característica
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que está relacionada com a ener- dos avôs dos estudantes com a mentos e os solventes. Estes
gia liberada. situação atual, traçando assim podem interferir no meio ambien-
Ao abordar tais conhecimen- um paralelo entre as necessidades te de diversas formas, sendo a
tos científicos, podem-se montar sociais e humanas de uma época principal delas a emissão de com-
atividades sobre interações inter- e outra; ou realizar uma pesquisa postos voláteis para a atmosfera.
moleculares, funções orgânicas, de campo para saber o que as Esses compostos são emitidos nas
propriedades e reações de com- cores influenciam os consumido- etapas de combustão incompleta,
postos orgânicos e inorgânicos, res, na hora da compra de um. na limpeza dos equipamentos ou
solubilidade e iniciar algumas dis- mesmo quando ocorrer vazamen-
cussões no caráter CTS com ênfa- Aspectos e impactos ambientais tos das embalagens, durante a
se nas condições humanas como: causados pelas tintas produção das tintas.
– O que influenciou nas Tanto o uso quanto a produ- Os efluentes líquidos são
mudanças das resinas naturais ção das tintas são indispensáveis outro tipo de impacto ambiental.
para as sintéticas? Como foram hoje em dia. Seja para embelezar A maior fonte de emissão de 45
debatidas essas questões? Será um determinado local, proteção efluentes é a lavagem entre os
que a sociedade (consumidores) de materiais ou para fins econô- lotes de cores. Geralmente é utili-
participou ou fora excluída? micos pessoais ou sociais. No zado água, algum solvente orgâ-

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– O que aconteceu com os entanto, muitos dos componentes nico ou até mesmo hidróxido de
preços das tintas com esse empregados na produção das tin- sódio (NaOH). Esses efluentes
conhecimento tecnológico incluí- tas são altamente tóxicos e contêm altas concentrações de
do? Ainda existem tintas que uti- podem levar a danos ambientais, resíduos sólidos e solventes que,

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lizam resinas vegetais? Quais? caso não se tome os devidos cui- geralmente são jogados no solo
– Qual a importância de ter dados com os descartes, armaze- ou nas águas, sem nenhum trata-
diferentes resinas para compor as namentos ou produção. mento prévio.
tintas? No que elas influenciaram e Além desses fatores, existem Os efeitos causados pelos
influenciam a qualidade das tintas? outros não menos importantes efluentes dependem do tipo de
– Se essas mudanças não fos- que incluem o consumo de água, poluente que está agregado. Quan-
sem pensadas, quais consequên- ás vezes excessivo, e o uso de fon- do esse poluente for óleos e gra-
cias poderiam ser enfrentadas tes de energia indiscriminado. xas, eles afetam a transferência de
pela humanidade? Quanto ao uso da água, quem oxigênio da atmosfera para o meio
– O que realmente difere as sofre o maior impacto ambiental hídrico devido à baixa solubilidade
tintas à base de água ou à base são os aquíferos subterrâneos, pois destas substâncias na água, tra-
de solvente orgânico? A qualidade a exagerada perfuração desses zendo sérios danos a vida aquáti-
mudou? Se sim, o que foi feito poços leva a uma grande diminui- ca. Quando o poluente são os sol-
para buscar a qualidade futura? ção do nível de água. Com isso, há ventes, eles poluem diretamente
– Houve uma diminuição no um aumento gradativo dos custos, solos e águas, alterando o pH. Essa
impacto ambiental? Os detento- principalmente no bombeamento alteração pode levar a mortes de
res desta tecnologia mostraram das águas e na produção. vegetação e animais, provocando
resultados favoráveis? Em relação às fontes de ener- uma cadeia de impactos ambien-
– Esse investimento gerou gia, muitas das fábricas de tintas tais. Em relação aos pigmentos e
aumento nos preços? Qual o utilizam óleo diesel, óleo combus- aditivos, a maioria deles apresenta
impacto na sociedade? tível ou gás natural para a gera- metais pesados na composição.
ção de calor nas operações. Estes Estes metais pesados são extrema-
Para problematizar a utilidade tipos de fontes de energia contri- mente tóxicos e cancerígenos,
dos pigmentos, questionamentos buem bastante para o aquecimen- levando a grandes prejuízos
do tipo «Por que os fabricantes to global, uma vez que liberam ambientais e consequentemente à
usam e abusam das cores?», grandes quantidades de monóxi- sociedade. A melhor forma de
«O que essa “mágica” ajuda em do de carbono (CO2) e outros óxi- combatê-los é substituindo-os por
marketing e vendas do produto?», dos derivados de nitrogênio (NOx) outras substâncias.
poderiam ser uma alternativa. e enxofre (SOx), além de compos- Todas essas questões podem
Atividades voltadas para pesqui- tos particulados na atmosfera fazer parte de um projeto de pes-
sas e projetos também podem ser (Guia técnico ambiental..., 2006). quisa, organizado e mediado não
aplicadas. Um exemplo seria pro- Dentro dos componentes tóxi- apenas pelo professor de química,
por uma pesquisa de comparação cos, irritantes ou corrosivos mas como um projeto pedagógico
das variedades de cores na época podem-se citar as resinas, os pig- da escola que inclua também a
participação dos licenciando, pois tos ambientais, percebendo a Guia técnico ambiental tintas e ver-
permitirá uma maior aproxima- importância desse conhecimento nizes: Série P+L (2006). São Pau-
ção e uma experiência fidedigna tecnológico, mas associado às con- lo: CETESB. Secretaria do Meio
para esses futuros professores. dições humanas em todos os pon- Ambiente.
Esse projeto pode ser guiado sob tos de vistas. MELLO, V. M.; SUAREZ, P. A. Z. (2012).
as diretrizes da chamada química «As formulações de tintas
verde, que visa à utilização de téc- Considerações finais expressivas através da histó-
nicas químicas e metodologias Sem dúvida, as tintas fazem ria». Revista Virtual de Química,
que reduzem ou eliminam o uso parte da vida desde tempos remo- 4(1): 2-12.
de solventes e reagentes poten- tos. A evolução nos processos de SANTOS, W. L. P. (2008). «Educação
cialmente tóxicos, ou a geração de fabricação e na composição está científica humanística em uma
produtos e subprodutos que são diretamente atrelada às novas tec- perspectiva freireana: Resga-
nocivos à saúde humana ou ao nologias, equipamentos, máquinas tando a função do ensino de
46 ambiente. Incluir tais atividades e matéria-prima de melhor quali- CTS». Alexandria, 1(1): 109-131.
na escola pode proporcionar um dade. No entanto, é importante
aprendizado mais crítico sobre os salientar que estes conhecimentos
impactos ambientais provocados e as diversas aplicações devem
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pelos produtos industrializados e condizer com a necessidade e a


informar sobre doze princípios realidade da humanidade, pois só
que regem a química verde: assim a ciência pode ser mais bem
1° Prevenção. compreendida.
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2° Eficiência atômica. Portanto, este artigo buscou


3° Síntese segura. apresentar a química das tintas Welington Francisco
4° Desenvolvimento de produtos como um tema gerador, apresen- É mestre, licenciado e bacharel em
seguros. tando diversos apontamentos com Química pelo Instituto de Química de
5° Uso de solventes e auxiliares o intuito de promover um apren- Araraquara–UNESP. Atualmente é pro-
seguros. dizado científico com caráter mais fessor assistente da Universidade
6° Busca pela eficiência de energia. humanístico. Assim, espera-se que Federal do Tocantins (UFT, Campus de
7° Uso de fontes de matéria-pri- este texto possa auxiliar professo- Gurupi), do colegiado de ciências exa-
ma renováveis. res de química e licenciandos em tas e biotecnológicas. Suas principais
8° Evitar a formação de derivados. química (futuros professores) para áreas de atuação são instrumentos
que, sempre que possível, estimu- metodológicos de ensi-
9° Catálise.
no/aprendizagem e ensino de química.
10°Produtos degradáveis. lem a educação científico-huma-
E-mail: welington@uft.edu.br.
11°Análise em tempo real para a nística em suas aulas, problemati-
prevenção da poluição. zando o papel dos avanços
12°Química intrinsecamente tecnológicos para a sociedade e a
segura para a prevenção de melhoria das condições humanas,
acidentes. contribuindo para que os estudan-
tes possam pensar mais critica-
Vale ressaltar que o uso das mente a ciência enquanto propul-
tintas é sem dúvida importante sora destes avanços.
para a sociedade, contudo, o que
está em projeção aqui é a forma- Referências Wilmo E. Francisco Junior
ção dos estudantes com uma visão BONDIOLI, F.; MANFREDINI, T.; OLIVEIRA, É bacharel/licenciado em Química,
científica humanística. Assim, os A. P. N. (1998). «Pigmentos mestre em Biotecnologia e doutor em
Química pelo Instituto de Química de
estudantes não podem simples- inorgânicos: Projeto, produção
Araraquara–UNESP e mestre em Edu-
mente tomar decisões do tipo: «as e aplicação industrial». Cerâmi-
cação pela Universidade Federal de
tintas são prejudiciais para o ca Industrial, 3(4): 13-17.
São Carlos. Foi professor da Universi-
ambiente» ou «temos que parar de FAZENDA, J. M. R. (2009). Tintas:
dade Federal de Rondônia e atual-
usá-las». É fundamental que as Ciência e tecnologia. São Paulo: mente é professor da Universidade
atividades desenvolvidas propi- Blucher. Federal de Alagoas. Suas principais
ciem a manifestação de habilida- FREIRE, P. (2011). Pedagogia do oprimi- áreas de atuação são educação em
des e competências que lhes per- do. Rio de Janeiro: Paz e Terra. ciências (química), experimentação,
mitam avaliar as possibilidades e GENTIL, V. (2007). Corrosão. Rio de leitura e escrita.
possíveis soluções para os impac- Janeiro: José Olympio. E-mail: wilmojr@bol.com.br.

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