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Em um momento em que a discussão sobre discriminação racial está em destaque, a

leitura desse pequeno livro de Djamila, uma importantíssima ativista e filósofa


contemporânea nacional, permanece tão necessário. Se você tem dúvidas sobre o tema
ou se ainda não sabe como pode agir de forma antirracista - ou contra qualquer tipo de
discriminação - essa é uma obra que você precisa ler. Do meu ou do seu lugar de
privilégio, o desconhecimento não pode ser usado como justificativa para atitudes
discriminatórias. ⁣

Um livro curto, acessível e muito direto sobre como o racismo acabou se enraizando em
nossa sociedade, como podemos identificá-lo e como precisamos mudar nossos
comportamentos. É aprender que a desigualdade não implica um tratamento igualitário,
mas sim um tratamento dos desiguais na medida de sua desigualdade. ⁣

Em um dos capítulos, Djamila aborda a importância da diversidade nas leituras. Um tema
que já vem sendo tratado há tanto tempo, mas que ainda precisa ser mais conhecido. É o
impacto que uma escolha consciente dos livros pode produzir. E é justamente esse
trabalho de pessoas tão essenciais na luta contra as desigualdades que eu quero tentar de
alguma forma disseminar e mostrar meu total apoio por meio da leitura. É de textos como
esse que eu aprendo muitas das mensagens que tento transmitir por aqui. Temos que
estar abertos para aprender com o outro e dispostos a desconstruir nossos pré-conceitos

Pequeno Manual Antirracista, escrito pela filosofa, feminista e ativista Djamila Ribeiro é
exatamente o que o nome propõe: um pequeno manual sobre como ser antirracista, afinal de
contas, infelizmente, o Brasil sofre de um enorme racismo estrutural, agravado, sobretudo,
pela falta de reconhecimento dessa problemática.

Em 2018 li o fantástico Quem tem Medo do Feminismo Negro, da mesma escritora e


aquele livro me impactou tanto e transformou enormemente meus pensamentos sobre o
feminismo interseccional que, obviamente, quando soube de Pequeno Manual
Antirracista ansiei por lê-lo.
O escopo de um manual, como sabemos é transmitir uma informação, e é exatamente isso o
que Pequeno Manual Antirracista nos faz, transmite informações sobre como não ser
racista ou como ser antirracista, mas não de forma autoritária e inconsistente.

Djamila faz um passeio sobre artigos, estudos e dados estatísticos que demonstram a triste
realidade que o negro sofre em um país multicolor, onde tantas pessoas argumentam que
não são racistas, mas na prática o racismo impera soberano, porque não é um racismo
individual e sim estrutural que devemos combater, aquele racismo que está internalizado
por conta de anos de exclusão, humilhação, etc., que os negros sofreram.
O fato é que Pequeno Manual Antirracista é um tapa na cara do leitor que se vê racista
estrutural, quando se julgava não ser racista, então a proposta de Djamila Ribeiro é apontar
e nortear nossa trajetória para irmos em busca de informação ou mesmo da reflexão de
nossos pensamentos, palavras e atos.

Djamila nos motiva a nos autoexaminar e examinar o nosso entorno para ver e enxergar as
situações de racismo estrutural em nossa sociedade, ao fazer isso e associar nossa vivencia
com os estudos, informações e dados nós poderemos mudar a situação do racismo no Brasil.
Já faz um tempo que quero me aprofundar mais no antirracismo. Muita coisa
tem acontecido, muitas violências contra negros acontecendo e, por mais que
eu apoie as causas de minorias, confesso que nunca parei para estudar sobre o
assunto.

Eu queria muito ler algo, mas não sabia o que. Só sabia que queria algo de não
ficção. Então, Pequeno Manual Antirracista apareceu como indicação e
percebi que já havia passado da hora de tomar vergonha na cara e estudar
sobre.

A primeira coisa que ficou clara para mim, é que não importa quem você seja,
o que você faça, é necessário estudar sobre essas causas. Às vezes, pensamos
que não estamos ofendendo quando fazemos piadas, acreditamos que
determinadas situações são normais, mas todas são formas de preconceito.

A razão disso é o racismo institucional, que passa despercebido na maior parte


dos casos por quem realiza, mas não por quem sofre. Aquela história de
“minha intenção não foi magoar” simplesmente não funciona mais. Magoou,
foi racismo, foi errado e ponto.

Porém, nós, brancos, que estamos do outro lado da moeda, simplesmente não
percebemos e supomos que está tudo certo. Não, não está. E o único jeito de
aprendermos sobre isso é estudando. E me arrependo muito de não ter
começado antes.

É diferente ouvir de uma mulher negra o que é ser negra, porque dificilmente
isso acontece. Uma coisa é ouvir alguém relatando um caso de racismo que
aconteceu com outra pessoa, outra coisa totalmente diferente é ouvir a pessoa
que sofreu com isso te contando como foi, o que ela sentiu.

Por isso, considero esse livro essencial para qualquer pessoa. Todos temos
atitudes racistas, fomos criados assim. Porém, é nosso dever como seres
humanos buscar aprender e tentar ter sempre menos atitudes assim.

Durante a leitura, refleti muito sobre os ambientes de estudo que frequentei ao


longo da minha vida. Pensando rapidamente, foi escola, curso de inglês, de
computação, uma universidade pública, outra privada e um cursinho. Penso
que consigo contar nos dedos quantos colegas negros tive. Tenho 20 anos, em
torno de 17 anos de estudos em diversos lugares diferentes e não lembro de
quase nenhum aluno negro.

Isso me choca, sinceramente. Lembro que quando fui para a universidade


pública com 17 anos, passei por muitas descobertas. Uma coisa é você
conhecer a sua realidade e a de outros alunos na escola particular. Falamos
sobre racismo, machismo, cotas para entrar em universidades e diversas outras
coisas, mas só percebi como isso foi superficial quando entrei na faculdade e
vi que as coisas eram bem diferentes.

E hoje, pouco tempo após finalizar o livro, percebo que ainda não sei
praticamente nada. Pequeno Manual Antirracista é um excelente livro de
entrada para quem pretende se aprofundar mais sobre o assunto.

Mais ainda, ele é um livro ótimo para pessoas que querem sair um pouco mais
da caixa e ter um pouco mais de empatia.

Envolver-se com essas causas e tentar deixar de ser racista não é a coisa mais
fácil do mundo. Como dizem, a ignorância é uma benção. Saber o que as
pessoas sofrem e que você pode ter causado sofrimento não é nada prazeroso.

É muito mais fácil continuar como estamos e não sair da zona de conforto.
Entretanto, é cada dia mais necessário aprender sobre o assunto e tentar
melhorar. Não há mais desculpas para racismo, não podemos mais dizer que é
a sociedade que nos faz assim.

Pequeno Manual Antirracista nos convida, a todo momento, a refletirmos


sobre a sociedade em que vivemos e sobre as nossas ações do cotidiano,
através de subtemas como: negritude, branquitude, apropriação cultural,
sexualização. Concluída a leitura, nos daremos conta que recebemos como
presente, um caminho, que não pretende ser finalístico – como a própria
autora informa -, mas sim, algo sugestivo que passa por atitudes que nos farão
crescer como cidadãos e, principalmente, seres humanos.

Já sabemos que o primeiro passo é reconhecer que não sabemos tanto


quanto pensamos sobre o que é racismo. E por isso, podemos, sim, ser
racistas em algum grau, em algum momento, e compactuar com o
racismo. Seja nos beneficiando do privilégio branco, perpetuando
falas e pensamentos racistas ou simplesmente não falando sobre o
tema.
Muitas vezes, fazemos isso sem perceber. Justamente porque são ideias
tão arraigadas em nossa sociedade e nossas mentes, que acabam
sendo erroneamente naturalizadas. Sendo assim, o segundo passo é
parar para escutar, se informar e questionar – o mundo e a si mesmo.

Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro, é a leitura ideal


para iniciar o processo. Direto ao ponto, nos leva a questionamentos
necessários para começarmos a entender como funciona o racismo no
Brasil e como podemos contribuir para a luta antirracista.

E eu poderia falar muito mais sobre o livro, mas prefiro compartilhar


alguns dos muitos trechos que grifei:

“O racismo é, portanto, um sistema de opressão que nega direitos, e


não um simples ato da vontade de um indivíduo”.

“… para pensar soluções para uma realidade, devemos tirá-la da


invisibilidade. Portanto, frases como ‘eu não vejo cor’ não ajudam“.

“Portanto, o racismo foi inventado pela branquitude, que como


criadora deve se responsabilizar por ele […] Não se trata de se
sentir culpado por ser branco: a questão é se responsabilizar.
Diferente da culpa, que leva à inércia, a responsabilidade leva
à ação“.

“A importância de estudar autores negros não se baseia numa visão


essencialista, ou seja, na crença de que devem ser lidos apenas por
serem negros. A questão é que é irrealista que numa sociedade como a
nossa, de maioria negra, somente um grupo domine a formulação do
saber”.

Então, se você está realmente disposto a escutar, aprender e se tornar


antirracista, eu recomendo que leia AGORA o livro de Djamila Ribeiro.

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