You are on page 1of 6

https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.

14/35579/1/Domingos%20Pascoal
%20Teixeira%20Nicolau.pdf

https://repositorio.ual.pt/bitstream/11144/5090/1/disserta%c3%a7%c3%a3o%202021-c
%c3%b3pia.pdf nália alberto

https://www.proquest.com/openview/83b9e1add0aa34edbbb7b50c9e752a3d/1?pq-
origsite=gscholar&cbl=2026366&diss=y adriana
CAPÍTULO I:

FUNDAMENTOS JUS-HISTÓRICO DA
IMPLEMENTAÇÃO DO COMPLIANCE EM ANGOLA

1.1. Definições e breves notas históricas

A palavra “compliance vem do inglês “to comply”, que significa “cumprir,


executar, satisfazer, realizar o que lhe foi imposto”, ou seja, compliance é o dever de
cumprir, estar em conformidade e fazer cumprir regulamentos internos e externos
impostos às actividades da instituição”1. No mesmo sentido fundamenta Vanessa Alessi
Manzi, ao realçar que compliance é um “acto de cumprir, de estar em conformidade e
executar regulamentos internos e externos, impostos às actividades da instituição,
buscando mitigar o risco atrelado à reputação e ao regulatório/legal”2. Para Andreia
Moreno, “compliance é o cumprimento, a conformidade, sobre as normativas vigentes
que são atendidas de forma voluntária na empresa ou instituição. Quando uma
instituição pública, ou privada, estabelece um conjunto interno composto por políticas,
processos e procedimentos, dizemos que esta instituição ou organização está
desenvolvendo um Sistema de Compliance” 3.

A necessidade de cumprimento de regras estabelecidas para a boa convivência


sempre esteve presente na sociedade, de forma que ao longo das últimas décadas
converteu-se numa condição indispensável para a boa performance das relações entre os
agentes que formam a sociedade globalizada4. Em 1960 entramos na “era do
compliance”, quando a americana “SEC – Secutities and Exchange Commission”
passou a insistir na contratação de “Compliance Officers” para criar procedimentos
internos de controlos, treinar pessoas e monitorar, com o objectivo de auxiliar as áreas
de negócios a ter a efectiva supervisão 5. Há quem fundamenta que a origem da palavra

1
PEDRO,Valdano Afonso Cabenda, A importância do compliance nas organizações face a
responsabilidade criminal das pessoas colectivas e entidades equiparadas no direito angolano, Trabalho
de fim do curso de Pós-Graduação em Compliance e Combate ao Branqueamento de Capitais, CECJES-
UAN, Luanda, 2019, p. 22.
2
MANZI, Vanessa Alessi. Compliance no Brasil. São Paulo: Saint Paul Editora, 2008. p. 15.
3
MORENO, Andreia, Módulo de compliance, Aula ministrada no curso de Pós-graduação em
Compliance e Combate ao Branqueamento de Capitais, ministrado pelo Centro de Estudos de Ciências
Jurídico-Económicas e Sociais da Universidade Agostinho Neto – CEJES UAN no ano de 2018.
4
PEDRO,Valdano Afonso Cabenda, ob. Cit., p. 22
5
Sobre esta matéria a doutrina não é unânime, sendo que, uma corrente marca os primeiros
programas de compliance nos EUA, no inicio do século XX, um período marcado pela criação da
marca o seu escopo depois da crise de 1929 6, tendo sido abordado para se referir de
medidas de precaução das actividades comerciais. Assim, embora o termo em si, no
nosso ordenamento jurídico pareça como de novidade se tratasse, a rigor, não é novo tal
como veremos no desenrolar da presente dissertação, pois a nível da doutrina, o assunto
é bastante discutido. No mesmo interregno Lothar Kuhler refere que o “compliance não
é algo absolutamente novo, mas sim uma moda cheia de anglicismos impulsionada pelo
sector da consultoria direccionado ao âmbito empresarial” 7.

1.2. Análise técnica do enquadramento do compliance no sistema


jurídico angolano

Angola é membro efectivo e de pleno direito do organismo regional do Grupo de


Combate à Lavagem de Dinheiro da África Oriental e Meridional8 desde 2012. Assim,
embora a figura em destaque remota, no mundo, há longos anos, em Angola verifica-se
o surgimento de disposições legais em matéria de compliance muito recentemente9, isto
é, o processo começa com as ratificações da Convenção das Nações Unidas contra a
Corrupção10, da Convenção da União Africana Sobre a Prevenção e Combate à
Corrupção11, entre outros, tendo em conta as exigências estabelecidas nas 40
Recomendações do Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI/FATF)12 e nas
Convenções das Nações Unidas, nomeadamente na Convenção Contra a Criminalidade
Organizada Transnacional (Convenção de Palermo), Convenção Sobre o Tráfico Ilícito

Federal Reserve System e pelo nascimento das agencias reguladoras do sector financeiro e, a outra
corrente aponta a crise de Wall Street de 1929 como um dos factores determinantes para o surgimento da
função compliance. Veja-se MANUEL, Leonildo João Lourenço Manuel, ob. cit., in “Caracterização do
conceito e função compliance”, p. 136.
6
Para mais desenvolvimento, consultar as lições de SILVEIRA, Renato de Melo Jorge y SAAD
– Diniz, Eduardo. Compliance, Direito Penal e Lei anticorrupção. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2015, p. 247 sgs.
7
Cfr. KUHLER, Lothar. Compliance y Derecho Penal en Alemania, in. Responsabilidad de la
empresa y compliance, Santiango Mir Puig, Mirentxu Corcoy Bidasolo e Victor Gomez Martin - Dir.
Madrid – Buenos Aires – Montevideo: Edisofer - Bdef, 2014, pp. 89-91, in. PEDRO,Valdano Afonso
Cabenda, ob. Cit., p. 24.
8
Cfr. Relatório de 2016 da UIF Unidade de Informação Financeira, República de Angola.
9
PEDRO,Valdano Afonso Cabenda, ob. cit, p. 26
10
cfr. a Resolução da Assembleia Nacional n.º 20/06, de 23 de Junho, in. PEDRO,Valdano
Afonso Cabenda, ob. cit, p. 26.
11
cfr. a Resolução da Assembleia Nacional n.º 27/06, de 14 de Agosto
12
Vale aqui recordar que Angola foi admitida como membro efectivo e de pleno direito do
organismo regional do tipo GAFI (FSRBS) - ESAAMLG – Eastern and Southern Africa Anti - Money
Laundering Group (Grupo de Combate à Lavagem de Dinheiro da África Oriental e Meridional
(ESAAMLG) baseado em Dar es Salaam, Tanzânia; na 12.ª Reunião do Conselho de Ministros desse
Organismo, realizado em Agosto de 2012, em Maputo -Moçambique, sendo a Unidade de Informação
Financeira de Angola admitida como membro de pleno direito do Grupo Egmont em Junho de 2014. Cfr.
Relatório de 2016 da UIFUnidade de Informação Financeira, República de Angola.
de Estupefacientes e Substâncias Psicotrópicas (Convenção de Viena) e Convenção para
a Supressão do Financiamento do Terrorismo, é que em Angola tornou-se premente a
adopção obrigatória por parte dos entes colectivos mormente, instituições financeiras
bancárias, de programas de compliance, motivada em parte pela criminalização do
branqueamento de capitais, e inúmeras infracções que lhe são subjacentes, bem como
pela consagração expressa da responsabilidade criminal das pessoas colectivas e
equiparadas de forma a assegurar-se a conformidade com os padrões internacionais13.

Termos em que, “a cultura do compliance enquanto ferramenta de prevenção ou


mitigação de fraudes, corrupção e demais delitos cá entre nós, está apenas sedimentada
no sector financeiro, isto é, nas instituições financeiras” 14, principalmente nas
instituições financeiras bancárias sob supervisão do BNA. Nestes termos, como bem
fundamenta a doutrina angolana, “os primeiros normativos sobre matérias de
compliance no sistema financeiro angolano registaram-se no mercado bancário […]”15.

É nesta ordem em que se instituiu os Avisos e Instrutivos do BNA, conforme


podemos conferir16:

 o Aviso n.º 01/2013, de 19 de Abril, sobre Governança Corporativa 17, que no


seu artigo 9.º n.º 5, al. d) estabelece que «No contexto da adopção de uma
comissão executiva formalmente instituída, os administradores não
executivos, integrando no mínimo por 1 (um) independente, orientam-se para
o controlo e avaliação do desempenho da comissão executiva, nos termos
previstos na Lei das Sociedades Comerciais, e para as matérias relativas à
estratégia de negócio, estrutura orgânica e funcional, divulgação da
informação legal ou estatutariamente prevista e operações relevantes em
função do seu montante, risco associado ou características especiais,
focalizando-se, em: analisar e debater os relatórios produzidos pelas funções
chave do sistema de controlo interno, ou seja, auditoria interna, compliance e
gestão do risco;

13
PEDRO,Valdano Afonso Cabenda, ob. Cit., p. 27.
14
Cfr. Idem.
15
Cfr. MANUEL, Leonildo João Lourenço Manuel, ob. cit.,in Regime Jurídico do compliance
em Angola” que refere que “os primeiros normativos sobre matérias de compliance no sistema financeiro
angolano registaram-se no mercado bancário […]”, p. 138.
16
PEDRO,Valdano Afonso Cabenda, ob. Cit., p. 27.
17
Publicado no Diário da República, I série, nº 73, de 19 de Abril
 O Instrutivo n.º 02/17, de 30 de Janeiro, sobre Teste de Esforço, que se refere
ao risco de compliance, como modalidade do risco operacional. Assim como
o Aviso n.º 07/2016 de 22 de Junho, sobre Governação dos Riscos que se
refere também ao risco de compliance, como modalidade do risco
operacional, definindoo, como o risco proveniente de violações ou
incumprimento de leis, regras, regulações, contratos, práticas prescritas ou
standards (padrões) éticos.

Neste sentido, sem nos olvidarmos do acima vertido sobre a consagração do


compliance, podemos ainda realçar que por outra via que a necessidade de se
implementar um programa de compliance no direito societário angolano decorre
fundamentalmente do estabelecido nos termos do artigo 19.º da Lei n.º 34/11 de 12 de
Dezembro de 2011 - Lei do Combate ao Branqueamento de Capitais e do
Financiamento ao Terrorismo, sob a epígrafe “obrigação de controlo”, nos termos do
qual “todas as entidades sujeitas 18, incluindo as respectivas filiais, sucursais, agências,
ou qualquer outra forma de representação comercial, com sede em território angolano
devem dotar-se de políticas, processos e procedimentos, nomeadamente em matéria de
avaliação e gestão do risco, auditoria e controlo interno adequados para verificar o
cumprimento dos mesmos, bem como procedimentos adequados para assegurar critérios
exigentes de contratação de empregados, de forma a permitir-lhes que, em qualquer
altura, estejam aptas a cumprir as obrigações preconizadas pela presente lei” 19.

No mesmo sentido, o panorama fundamenta-se a necessidade da implementação


da figura em causa, no âmbito societário20, com base ao artigo 5.º, n.º 2, alínea b), da Lei
n.º 3/14, de 10 de Fevereiro - Lei Sobre a Criminalização das Infracções Subjacentes ao
Branqueamento de Capitais, ao estabelecer que as pessoas colectivas e entidades
equiparadas com excepção do Estado, de outras pessoas colectivas públicas e de
organizações internacionais de direito, são responsáveis pelos crimes previstos no
capítulo II da presente lei e em demais legislação penal, quando cometidos: por quem
18
Entidades sujeitas são as entidades financeiras e não financeiras tal como definidas no artigo
3.º da presente lei (cfr. artigo 2.º, al. g) da Lei n.º 34/11 de 12 de Dezembro de 2011.
19
A violação do disposto no artigo 19.º da presente lei, constitui uma transgressão, nos termos da
al. p), do artigo 48.º, punida com multa, cujo montante varia consoante a infracção seja perpetrada por
uma entidade financeira ou por uma entidade não financeira, conforme estatuído no artigo 49.º, ambos da
Lei n.º 34/11 de 12 de Dezembro de 2011.
20
No âmbito da protecção dos investidores, nos artigos 10.º a 12.º do seu Regulamento n.º 1/15
de 15 de Maio, a CMC consagrou para os agentes de intermediação a obrigatoriedade de implementação
de um sistema de compliance baseado na adopção de políticas e procedimentos adequados a detectar
qualquer risco de incumprimento dos deveres a que estejam adstritos. Cfr. MANUEL, Leonildo João
Lourenço Manuel, ob. cit., p. 139.
aja sob a autoridade das pessoas referidas na alínea anterior em virtude de uma violação
dos deveres de vigilância ou controlo que lhes incumbem. Decorre ainda da imposição
legal estatuída nos termos da Lei n.º 12/15, de 17 de Junho – Lei de Bases das
Instituições Financeiras, que regula o processo de estabelecimento, o exercício de
actividade, a supervisão, o processo de intervenção e o regime sancionatório das
instituições financeiras, no seu artigo 142.º, n.º 2, al. d) estatui que “a gravidade da
infracção cometida pelos entes colectivos e entidades equiparadas é avaliada,
designadamente pelas seguintes circunstâncias: […] d) Actos dos arguidos destinados a,
por sua iniciativa, repararem os danos ou obviarem os perigos causados pela infracção”.
O mesmo fundamento resulta da Lei n.º 5/18, de 10 de Maio - Lei da Concorrência, ao
sustentar nos termos da al. h) do n.º 1 do artigo 23.º, que “as multas a que se refere o artigo
anterior são fixadas tendo em consideração, entre outras, as seguintes circunstâncias: al.
h) o comportamento do infractor na eliminação das práticas restritivas e na reparação
dos prejuízos causados à Concorrência”.

You might also like