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-A Jornada do RPGista-

Capítulo 4: Tramas Políticas

“Todos na mesa se entreolharam longamente. Quando um bravo príncipe ou rei as-


O desconforto era evidente. Eram quinze ho- sume o poder no final de uma história
mens e mulheres escolhidos pela confiança do de alta fantasia épica, normalmente o
primeiro-ministro, mas nenhum deles confi- que se retrata é a beleza da política. O
ava um no outro. O governante, então, inter- monarca, nesses casos, parece ser inca-
rompeu o silêncio. paz de cometer um deslize sequer. Seu
viés de altruísmo é inquestionável. Ele
— Um de vocês terá de responder pelo que
se apresenta como o exato oposto de
aconteceu ontem.
seu antecessor político, na maioria das
Todos se entreolharam. Sabiam do peso daque-
vezes o antagonista derrotado da narra-
las palavras.
tiva. Este, por sua vez, costuma ser re-
— Vocês eram os únicos que sabiam da minha
tratado como uma personificação da
localização. Os únicos a quem confiei essa in- própria corrupção, que se importa ape-
formação. Um lugar inóspito, desabitado. nas com o poder. Deve-se ter muito
Mas isso não impediu que atentassem contra a cuidado ao apresentar estereótipos
minha vida! dessa natureza, pois há o risco de de-
Halgard evidenciou o óbvio: monstrar superficialidade na trama.
— Há um traidor neste salão, senhor.
O primeiro-ministro, então, olhou para os
agentes de sua guarda particular. Fez um me-
O Sentido da Política
neio com a cabeça e falou: ara tentar retratar a política de
— Tranquem as portas. Ninguém sairá daqui
até que se descubra quem é.” P uma maneira verossímil, é impor-
tante compreender sua essência.
Política trata sobre governança, mas
principalmente sobre poder. O poder é
A Política na Fantasia o aspecto em maior evidência em rela-
ção à política na literatura. No RPG
or mais que não se trate de reali-
não costuma ser diferente.

P dade, a fantasia imita a vida real –


em maior ou menor grau. Por
isso, a política muitas vezes é um ele-
É claro que a política, na prática, é mais
do que isso. Nenhum reducionismo fa-
lacioso pode resumir a política em dois
mento importantíssimo da história.
Normalmente, a política é retratada ou elementos e esperar que é o bastante
para a compreensão total da coisa. En-
de uma forma apaixonada e heroica ou
tretanto, há de se reconhecer a pro-
de uma maneira distópica e completa-
posta deste capítulo; não tenho aqui a
mente corrompida nas histórias.
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pretensão de fazer um longo estudo so- rua? Há um grande vale de concentra-
bre a ciência política ou sobre a filosofia ção de renda entre os populares? Par-
política, pois não seria o meio mais ade- tindo daí, é possível ver qual é a partici-
quado para fazê-lo – nem há certeza de pação do governo nesse status quo.
se o público teria tal interesse1. Uma grande realeza pode esgotar re-
A governança compreende os proces- cursos da classe comerciante por meio
sos de governar - seja por um estado, de impostos e taxas, e essa pode ser a
por um mercado ou por um sistema so- causa da pobreza. Ou pode ser que uma
cial. Aqui, utilizaremos esse termo para república possua um grande problema
nos referirmos às políticas públicas to- de desigualdade social, com elites ricas
madas pelos governos, ou seja, o que os e a maior parte da população pobre.
governos decidem fazer ou deixar de fa- Pode ser até que o governo não seja o
zer. causador da pobreza, e que ela seja he-
Já o poder se refere à prerrogativa má- rança histórica de algo que aconteceu
xima de quem governa. Todos obede- no passado e marcou a forma de vida dos
cem a autoridade de seu governante em cidadãos na atualidade. Em qualquer
decorrência do poder. Aqui, utilizare- caso, é extremamente importante e in-
mos esse termo para nos referirmos às teressante definir como o governo lida
diferentes espécies de sistemas políticos com as camadas mais vulneráveis da po-
que podem ser apresentados numa his- pulação. Quais são as suas políticas de
tória. combate à pobreza - se é que existe al-
gum - e quais são os resultados dessas
políticas.
A Governança na Política O fato é que a governança deve se pre-
uito embora haja normalmente ocupar com constantes demandas. Essas

M uma distinção entre "governo


bom" e "governo mau" em de-
corrência do grau de liberdade e demo-
demandas podem ser classificadas em
três espécies:
• Demandas novas: Decorrem do
cracia em sua relação de poder com a surgimento de fatores políticos
sociedade, há também de se levar em atuais ou novos problemas, como
conta outros fatores, em especial em questões relativas à tecnologia
como a economia se reflete na quali- na nossa sociedade do Século
dade de vida dos cidadãos. XXI, por exemplo.
Na hora de criar suas histórias, é natural • Demandas recorrentes: Ex-
descrever o quão rica é uma nação ou pressam problemas do passado
uma cidade. Normalmente essa riqueza que nunca foram resolvidas ou
é percebida pela estrutura de suas cons- foram resolvidas de maneira ine-
truções, em sua organização e, claro, na ficiente. É o exemplo da má dis-
sua população. Há muitos moradores de

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Aqueles que tiverem interesse em se aprofundar informações sobre isso nos livros e cursos de Direito,
academicamente no assunto podem encontrar mais de Antropologia, Sociologia e Filosofia.
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tribuição de renda e de proprie- apenas o governante de um local que
dades na nossa sociedade, por toma essas medidas. Existem atores de
exemplo. duas espécies:
• Demandas reprimidas: Decor- • Atores públicos: Políticos, bu-
rem da negligência da gover- rocratas, membros do judiciário
nança ou por tabus sociais. Po- etc.
dem-se citar como exemplos a • Agentes privados: Empresários,
precariedade dos presídios no comerciantes, operários etc.
Brasil ou violência decorrente de
discriminação sexual.
A resolução dos governos para esses
problemas normalmente assume uma O Poder na Política
das seguintes formas: uem governa? De onde surgiu o
• Política distributiva: Quando
o governo cria mecanismos de
distribuição de insumos para a
Q seu direito de governar? De onde
emana seu poder?
É complicado categorizar o poder.
população. A famosa e polêmica Mesmo no Direito, quando se estudam
política romana do "Pão e as formas de governo, há quem faça
Circo" é um exemplo disso. Um grandes confusões com assuntos corre-
exemplo atual no Brasil é o Be- latos, porém diferentes, tais como a
nefício de Prestação Continuada forma de Estado e o sistema de go-
(BPC) da assistência social, me- verno. As nações e povos são únicos em
diante o qual se paga um salário muitos aspectos e funcionam segundo
mínimo a pessoas com deficiên- estruturas de poder muito singulares.
cia ou idosas em baixa condição Por isso, afirma-se com frequência que
financeira. existem tantas formas de governo
• Política regulatória: Quando quanto há sociedades. Este tópico, por-
o governo cria leis que obrigam a tanto, não tem também nenhuma pre-
população a fazer ou deixar de tensão científica, mas busca meramente
fazer alguma coisa. É relativa- dar valor às narrativas, formando e in-
mente comum quando os gover- formando. Esteja avisado.
nos tratam de criminalizar al- A variedade de sistemas políticos é
guma conduta nova. imensa. Sinta-se livre para criar lugares
• Políticas constitutivas: Nor- diferentes com sistemas políticos dife-
malmente servem apenas para rentes. Quantos mais sistemas políticos
determinar a relação entre os você demonstrar em sua história, mais
poderes e instituições. É por profundidade política ela demonstrará.
meio de políticas desta espécie Seguem várias sugestões de sistemas po-
que ficam determinadas as com- líticos possíveis. Haverá a mescla de ele-
petências e responsabilidades mentos fictícios e outros elementos que
dos três poderes em um Estado não são propriamente sistemas de go-
da contemporaneidade. verno, mas como o objetivo é mais dar
Existe ainda a classificação daqueles que ideias, e não formar cientistas políticos,
podem exercer essas políticas. Não é servem muito bem ao propósito:
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• Monarquia: O governo de um cial. É comum que haja conse-
único líder, o rei. Os monarcas lhos de anciãos que legitimem o
possuem o poder máximo, às ve- líder escolhido.
zes até descritos como proveni- • Feudalismo: Não é exatamente
entes de um direito divino de go- uma forma de governo, mas um
vernar, ou seja, como se o fato de sistema complexo de classes.
serem reis decorresse da vontade Pressupõe castas sucessivas de
dos deuses. Uma monarquia suseranos (lordes superiores) e
pode ser dinástica ou hereditária vassalos (lordes inferiores). Am-
(quando o próximo rei é um des- bas essas classes eram nobres,
cendente do anterior), o que é podendo ser assumidas por du-
mais comum, mas também pode ques, marqueses, condes, barões
ser decorrente da escolha do e cavaleiros (da ordem do suse-
povo - ou dos nobres. Por vezes, rano mais poderoso ao vassalo
as monarquias possuem conse- menos poderoso). Todos pos-
lheiros e cortes de nobres que suem terras, que por sua vez são
ajudam a governar as terras. lavradas e ocupadas por servos
• Diarquia: Uma curiosa forma de (plebeus). Há uma cadeia de ju-
governo, a diarquia é um sistema ramentos entre os senhores feu-
em que o poder é exercido por dais. O cavaleiro jura fidelidade
dois chefes. Os diarcas podem ao barão que detém controle so-
ser dois reis, mas normalmente bre suas terras, que por sua vez
são pessoas com cargos ligeira- jura fidelidade ao conde que tem
mente diferentes - com poderes poder sobre as suas terras e assim
e competências distintos, como sucessivamente. O suserano
o caso de um rei e um presidente, maior é o rei. Pessoas comuns
ou dois capitães regentes. É pos- (servos) no feudalismo são sem-
sível que o poder aqui seja tam- pre pobres e sem direitos, vistas
bém exercido por um rei e um quase como propriedades de seu
chefe religioso simultanea- senhor feudal.
mente, por exemplo. Existem • República: Sistema de governo
exemplos de triarquias, tetrar- protagonizado por políticos que
quias e pentarquias, que seguem representam o povo. Os repre-
noções similares, porém com sentantes políticos normalmente
mais governantes. governam como um grupo
• Tribalismo: Uma tribo ou clã único, uma instituição como se-
normalmente tem um único líder nado, câmara ou um conselho.
que possui grandes poderes, Os seus representantes podem
como um monarca. Normal- ser eleitos ou indicados por al-
mente, neste tipo de sistema, o guma autoridade. Numa verda-
governante é mantido no poder deira democracia, o povo elege
com base em sua habilidade de diretamente seus governantes.
governar - ou habilidade mar- • Teocracia: Trata-se de um sis-
tema de governo em que apenas
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sacerdotes governam. Pode ser pública e privada dos cidadãos.
que se trate de um conselho de Muitas vezes a população em
sacerdotes ou que seja um único peso apoia o seu ditador, defen-
soberano, por sua vez escolhido dendo sua manutenção no poder
por um colegiado de sacerdotes - e apoiando a violência contra a
como ocorre com o papa. Nor- oposição.
malmente aquele sacerdote é Há ainda exemplos de formas fictícias
visto como um representante de de governo, que podem ser interessan-
sua divindade na terra, o que faz tes em histórias:
com que geralmente sua palavra • Mecanocracia: O governo exer-
não seja contestada. cido inteiramente por máquinas,
• Oligarquia: É a forma de go- similar ao que ocorre em Matrix.
verno em que apenas poucos de- Normalmente, na mecanocracia
têm o poder. Poucas pessoas, as máquinas tomam o poder por
como em um conselho ou clã, seu elevado desenvolvimento de
governam um lugar. Pode ocor- inteligência artificial e como
rer na forma de aristocracia, em forma de impedir a própria auto-
que o poder político é exercido destruição dos seres humanos.
por um grupo considerado "so- Comum em distopias futuristas,
cialmente superior"; Pode ocor- ficção científica e cyberpunk.
rer na forma de uma cleptocra- • Arcanocracia ou magocracia: É
cia, em que um grupo de ladrões a forma de governo em que os
(ou piratas) governa o local; governantes são magos, conjura-
Pode ocorrer na forma de geron- dores. Normalmente, apenas o
tocracia, em que os líderes são mago mais poderoso da região
pessoas mais velhas; Pode tam- exerce o poder. A rigor, seria
bém ocorrer na forma de uma possível, então, que houvesse um
plutocracia, em que os mais ricos duelo entre conjuradores para
devem governar; Ou pode ocor- definir uma sucessão. É possível,
rer na forma de uma tecnocracia, contudo, que a arcanocracia seja
em que apenas pessoas com de- exercida por um conselho de
terminado conhecimento téc- conjuradores com mandatos bem
nico podem governar. definidos.
• Ditadura: É um regime antide- • Necrocracia: Essa estranha
mocrático em que o governo não forma de governo pode ser sin-
permite a participação popular. tetizada como aquela em que
Normalmente, as ditaduras assu- uma figura que já morreu é quem
mem a forma totalitária, impe- exerce o poder. Normalmente é
dindo a criação de partidos de assumida como possível no
oposição, rechaçando com vio- mundo real quando se trata de
lência qualquer oposição ao seu um governo que segue os manda-
governo. Nesse tipo de governo, mentos de um governante que já
os governantes exercem um ele- faleceu. Porém, como na ficção
vado grau de controle da vida tudo é possível, pode-se assumir
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que se trata de um governo em estados ou unidades federativas), a fe-
quem exerce o poder seja um ou deração possui vários líderes autôno-
vários mortos-vivos ou necro- mos. Cada estado elege diretamente um
mantes. Neste caso, é possível governante, que não é subordinado de
que a leais súditos seja conferida ninguém. Apesar dessa autonomia, as
a honraria de se presentear com unidades federativas não detêm sobera-
o retorno do pós-morte ou coi- nia e não podem se separar do território
sas do gênero. total da federação, especialmente como
um meio de proteção econômica e mi-
litar. Todos os territórios da Federação
Organização Territorial funcionam como uma única e grande
omo o território de um lugar é nação ou país.

C governado? Como é formado?


Quais são as relações entre os
territórios vizinhos? Essas perguntas
• Confederação: Muito parecida
com a Federação, uma Confede-
ração é formada por vários terri-
são bastante relevantes e merecem uma tórios distintos, cada um deles
resposta. governado por um líder próprio.
É possível que um território seja grande A grande diferença está no fato
e complexo, formado por vários estados de que esses territórios não for-
ou províncias. Por outro lado, é possível mam uma única nação ou país,
que uma nação seja formada por uma pois cada um deles é um país. Es-
única e singular cidade. Novamente ses territórios se unem sob mes-
sem a pretensão de atingir a nevralgia mas regras de comércio, relações
científica dos termos que serão apresen- exteriores, defesa militar e união
tados adiante, mas especialmente para monetária - mas são países dis-
introduzir o leitor a noções e a ideias de tintos.
histórias e estruturas políticas, seguem • Cidade-Estado: É uma cidade
algumas ideias para diferentes estrutu- independente, com governo
ras territoriais: próprio e autônomo. É como
• Estado unitário: Formado nor- uma cidade que ao mesmo tempo
malmente por um território é um país. Vaticano e Mônaco
cheio de subdivisões (províncias, são exemplos reais de cidades-
condados ou distritos), um Es- Estado na contemporaneidade.
tado unitário pressupõe um po- • Protetorado: Trata-se de um
derosíssimo Governo Central. território autônomo protegido
Nesse tipo de estrutura, o gover- diplomática e militarmente con-
nante nomeia pessoas leais em tra outros países por um país
cada província para que atuem mais forte. Em troca, normal-
em seu nome. Não há autonomia mente o protetorado (a nação
nas decisões desses nomeados, protegida) aceita algumas obri-
pois eles respondem à vontade gações específicas que variam
do Governo Central. bastante, mas normalmente de
Federação: Também formada por várias ordem econômica.
subdivisões (normalmente chamadas de
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• Enclave: Esta estranha estrutura • Poder Judiciário: É formado
política ocorre quando um terri- pelos juízes e tribunais, e sua
tório autônomo se encontra função é julgar os litígios e apli-
dentro de outro território. Para car a lei.
dar um exemplo fácil de compre-
ender, imagine que um ovo é um
país e a gema do ovo é outro país. Poder e Mídia
Neste caso, a gema seria um en- m um cenário contemporâneo,
clave, pois é um país completa-
mente dentro do território de
outro, cercado em todas as dire-
E em que a imprensa existe, é ne-
cessário e interessante traçar
uma relação existente entre mídia e po-
ções pelo mesmo país que o en- der. A imprensa já foi chamada de
volve. O Vaticano, além de ser “Quarto Poder”, o que apenas reafirma
uma Cidade-Estado, é também a influência da imprensa na sociedade.
um Enclave. Por que a imprensa é tão relevante nas
relações de poder?
• A Escolha do que mostrar: A
Três Poderes imprensa tem o poder de esco-
esmo se tratando de um único lher o que vai mostrar à popula-

M Estado, é possível que o poder


seja fracionado em funções dis-
tintas. É o caso do fracionamento em
ção. Ela pode fazer vista grossa a
alguma informação relevante,
assim como pode enfatizar uma
três poderes, tão comum no mundo do informação específica e dar
século XXI, embora o modelo seja bem muita notoriedade a algum fato.
mais antigo. No formato de três pode- • O poder de formar opiniões:
res, uma nação fraciona o poder nas três Como a imprensa é consumida
seguintes funções: pela massa, as informações que
• Poder Executivo: É aquele res- são mostradas por ela podem ser
ponsável pela tomada de deci- enviesadas. É possível que os jor-
sões e pela formulação da maior nalistas (propositadamente ou
parte das políticas públicas e da não) manipulem as informações
governança. Normalmente é ou apenas lancem seus olhares e
exercido por um Primeiro-Mi- suas opiniões, influenciando o
nistro ou Presidente, mas tam- julgamento da população.
bém pode ser exercido por um • O poder de construir ou des-
monarca. truir reputações: Aproveitando
• Poder Legislativo: É o poder de sua capacidade de formar a
responsável pela criação das leis opinião das massas, a imprensa é
de uma nação. É normalmente capaz de dar notoriedade a algu-
composto por parlamentares (se- mas pessoas. Essa notoriedade
nadores e/ou deputados), que pode ser positiva ou negativa. A
formulam as regras que nortea- notoriedade positiva gera popu-
rão o país. laridade, enquanto a notorie-
dade negativa costuma conduzir
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ao ódio e à intolerância. Jorna- de controle da opinião pública – po-
listas corruptos podem realizar dendo determinar o resultado de elei-
vinculações equivocadas de cri- ções em um país ou elevando um senti-
mes ou fatos desabonadores mento de júbilo ou insatisfação com o
quaisquer a pessoas. Como a po- poder vigente.
pulação em geral não se importa O que é mais perigoso: as mídias sociais
com a fonte ou confirmação das possuem o potencial de milhões de jor-
informações, isso por si só já nalistas corruptos (que normalmente
pode ser o suficiente para acabar são minoria no meio jornalístico), a par-
com uma reputação. tir de onde é possível criar informações
• O poder de eleger e derrubar falsas e dispará-las tornando-as virais.
governantes: Construindo ou Uma vez que uma informação chega na
destruindo reputações torna-se internet, ela é praticamente indestrutí-
mais fácil de gerar apoio ou re- vel.
púdio a candidatos ou mesmo
lançar pessoas ignotas a um
grande patamar de prestígio. Se Corrupção
a imprensa tem o poder de influ- cientista político irlandês Peter
enciar no governo de um país,
isso pode gerar dívidas (do go-
vernante recém-eleito para com
O Mair, em seu livro “Ruling the
Void” (Governando o Vazio)
afirma que “O Poder não admite va-
a imprensa) ou ódio (do candi- zios”. É seguro afirmar que o Poder
dato que não foi apoiado pela exige que o seu detentor esteja sempre
imprensa). atento, que o agarre com força, para
Mas a palavra mídia não é uma exclusi- que não lhe escape. Em tempos de paz e
vidade da imprensa. A partir do final do tranquilidade, é capaz que o Poder não
século XX, a criação das redes sociais seja tão disputado. Isso pode gerar um
elevou a mídia a outro patamar. Hoje sentimento de tranquilidade nos gover-
em dia, qualquer pessoa com um celular nantes e um sentimento de desinteresse
pode se tornar um formador de opinião. por política na população.
As mídias sociais possuem, em poten- Entretanto, esse “relaxamento” pode
cial, os mesmos poderes da imprensa. gerar um vazio de interesse no exercício
Entretanto, a responsabilização nas mí- do Poder, o que por sua vez alerta os
dias sociais é menor, já que qualquer ambiciosos, que agarrarão essa oportu-
pessoa (mesmo as mais despreparadas nidade de tomar o poder assim que ela
ou mesmo as mais limitadas em cogni- surgir.
ção) tem acesso à internet. Isso poten- Essa noção é a base das tramas políticas.
cialmente gera um risco mais destrutivo As tramas políticas são jogos sujos cons-
a uma nação. Para aqueles capazes de tantes pela manutenção ou tomada do
manipular ou controlar as mídias sociais Poder. Nesse universo, aquele que não
de uma forma organizada e centrali- estiver preparado para guerrear com to-
zada, isso gera um gigantesco potencial das as ferramentas que dispuser pode ser
esmagado e consumido pelo sistema.

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Os ambiciosos farão o que puderem impossível que um político se
para manter-se no Poder ou para toma- alie ao lado adversário para con-
lo da oposição. Os mais escrupulosos, seguir o que quer. Ou pior: até
dispostos a agir somente dentro da le- mesmo se aliar a nações inimigas.
galidade, normalmente usam as seguin- • Emboscadas: Um político cor-
tes ferramentas: rupto é capaz de pagar para ma-
• Investimento: A primeira tar um adversário político – ou
grande ferramenta é o dinheiro. mata-lo ele próprio. Podem
Gastar com publicidade, patro- também tramar contra a vida de
cinar potenciais aliados, tudo monarcas ou de seus sucessores.
isso faz parte do jogo político – • Conspirações: Políticos inescru-
mesmo no lado “legal” da coisa. pulosos e criminosos podem se
• Aliança: A busca de apoiadores aliar a vários outros indivíduos
poderosos é uma ferramenta re- com pensamentos similares e
corrente no meio político. Não propósitos escusos.
há nada de errado nisso. • Infiltração: Os políticos cor-
• Negociação: Às vezes, o apoio ruptos podem estar ao lado dos
decorre de uma troca de favores. protagonistas e podem ser vistos
Favores políticos e financeiros por eles como leais aliados. Isso
dos mais diversos podem ser exi- é o mais perigoso de tudo. Para
gidos e realizados aqui. Mesmo um jogador de RPG, confiar em
aos olhos da legalidade, há muita um aliado é um processo emoci-
margem para atuar politica- onal de construção. Caso seja
mente com negociações. bem construído pelo Mestre, um
O problema é que, no meio político, aliado traidor pode destruir as
ninguém vem com um crachá com os di- esperanças de uma mesa e ser um
zeres “sou corrupto”. Assim, na maioria grande elemento de plot twist.
das vezes será difícil saber se algum pre-
tenso aliado ou adversário é corrupto.
Esses políticos inescrupulosos, cegos A construção de tramas
pelo Poder, são capazes de usar também fa! Foi um caminho longo per-
os seguintes meios:
• Suborno: Usam o dinheiro para
comprar ou vender serviços pú-
U corrido até aqui. A política possui
muitas facetas e muitos porme-
nores que, sozinhos, podem gerar gran-
blicos, para negociar negligên- des tramas literárias e narrativas.
cias públicas. Guarde todas essas informações e use-
• Mentira: Para pessoas deste as para criar ideias para suas histórias.
tipo, mentir é a menor de suas Com certeza, apenas ao lê-las, já é pos-
transgressões. Não se pode con- sível pensar em inúmeras e intrincadas
fiar na palavra de um político as- relações entre personagens em busca do
sim. Poder.
• Traição: Para um político cor-
rupto, mesmo a fidelidade ideo-
Bruno More Eyes
lógica pode ser vendida. Não é O Mestre Escritor
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