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CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS- CCSA

CURSO DE DIREITO
Disciplina: Direito Constitucional I
Docente: Prof. Dr. Hugo Assis Passos
Discente: Penelopy Chaves

Resenha do texto “Ativismo Judicial: notas introdutórias a uma polêmica


contemporânea” Georges Abboud e Gilmar Mendes
ABBOUD, Georges; MENDES, Gilmar Ferreira. Ativismo judicial: notas introdutórias a uma
polêmica contemporânea. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 108, n. 1008, p. 43-56, out.
2019.

O presente artigo se dispõe a esclarecer algumas dúvidas em relação ao ativismo


judicial no Brasil. Os autores Mendes e Abboud buscam estabelecer o significado de
“ativismo judicial”, e entender os limites da interpretação constitucional e controle de
constitucionalidade. Outro ponto relevante para a discussão é uma dita “verdade
incômoda” sobre a falta de ideologia no ativismo judicial e também o entendimento de
que o ativismo judicial é uma ingerência insidiosa sobre o legislativo e o judiciário.
Mendes e Abboud consideram que o termo “ativismo judicial” gera muita
confusão semântica, confusão essa que faz posições políticas antagônicas usarem essa
expressão de maneira equivocada. Os autores recorrem à literatura norte-americana para
conceituar o termo “ativismo judicial” que, segundo o escritor Doug Bandow, seria uma
questão relativa aos limites da interpretação da Constituição. É importante ressaltar que
o controle de constitucionalidade gera um problema para o constitucionalismo visto que
este pode ser encarado como uma dimensão contramajoritária.
Para Mendes e Abboud, a atuação contramajoritária, a afirmação de direitos
fundamentais contra maiorias democráticas, exercidas pela judicial review, são essenciais
na democracia brasileira devido sua fragilidade. No entanto, vale lembrar que o controle
de constitucionalidade não pode ser caracterizado como ativismo judicial, posto que esse
dispositivo está previsto na própria Constituição de 1988. Por isso, no Brasil, o que é
ocorre é mais preocupante, e se trata da suspensão, por parte do judiciário, dos pré-
compromissos democráticos. Há uma troca do direito institucionalizado nas leis e
jurisprudência pela ideologia e/ou política. Nesse sentido, os autores consideram o direito
enquanto paradigma autônomo de normatividade e o problema seria a discricionariedade
judicial na sua pior forma e mais atual. Aqui surge, então, uma discordância com os
autores, pois consideram o ativismo judicial vazio de ideologia, não havendo como
diferenciar bom ou mau ativismo.
Como os autores não apresentam um conceito de ideologia, é possível supor
através do contexto que se trata de um conjunto de valores/ideais que regem a vida de
cada indivíduo.1 No entanto, esse conceito foi superado temporalmente, e passou a ser
considerado como um sistema de ideias que elaboram uma compreensão da realidade.
Para a filósofa Marilena Chauí, a ideologia, como conhecemos, nasce na modernidade,
quando a forma da sociedade e da política são vistas como produto do corpo social. Sendo
assim, a ideologia é uma prática social de aparência.2 Partindo disso, vamos voltar ao
ativismo judicial, para Pablo L. Manili, o bom ativismo é aquele que proporciona
benefícios para o jurisdicionado como criar direitos, amplia as garantias processuais para
a proteção de direitos, controla excessos do poder, entre outros. No entanto, para Mendes
e Abboud, essa perspectiva é perniciosa para o Estado Democrático de Direito. Portanto,
no Brasil, o que Manili defende como bom ativismo seria apenas atribuir força normativa
ao que está previsto na Constituição, ou seja, um dever imposto.
Para corroborar essa posição, os autores utilizam um artigo de Carson Holloway,
que trata de dois casos onde o termo “ativismo judicial” foi usado tanto por progressistas
quanto por conservadores em relação às duas determinações da Suprema Corte dos EUA.
Halloway conclui em seu texto que tanto esse quanto aquele lado do espectro ideológico
pode ser acusado de ter uma oposição seletiva ao ativismo judicial. Isso leva os autores a
depreenderem que o juiz ativista pode ser progressista ou conservador, basta que ele deixe
de procurar respostas no direito e fabrique a partir da ideologia, com isso seria impossível
dividir bom ativismo e mau ativismo. Entretanto, é possível se pensar que a discussão se
o ativismo é bom ou mal se reduz ao maniqueísmo.
Como dito anteriormente, a ideologia se apresenta como prática social, é quase
que imperceptível, pois ela trabalha com lacunas no discurso, existindo pelo que ela não
diz. Nesse sentido, conceber o direito como um paradigma autônomo normativo se torna
ideal, pois bem sabemos que a construção do direito parte de uma luta política. Se não
temos a mesma constituição de 1967 é porque houve uma disputa política para uma
mudança de regime do Estado. Se a Constituição de 1988 é tida como a Constituição

1
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia. 8 ed São Paulo. Editora Saraiva, 1993
2
CHAUÍ, Marilena. Ideologia e Educação. Pág 25
Cidadã isso se deu pela participação ativa da sociedade civil, movimentos sociais e
diversos partidos políticos, atribuindo-lhe um caráter plural e inclusivo.
No livro “Como as democracias morrem”3, dos cientistas políticos Levitsky e
Ziblattt, é explicitado que a nova forma da escalada do autoritarismo se dá a partir o
enfraquecimento lento e constante de instituições críticas, como o judiciário e a imprensa,
erodindo as normas políticas postas. Ao trazer esta análise para o Brasil, pode-se perceber
que há uma tentativa de enfraquecimento do que funda o Estado Democrático de Direito,
a Constituição de 1988. Partindo disso, é possível entender que nos dias atuais fazer o que
está previsto na carta magna é um ato de caráter político, não partidário, mas em defesa
de um regime governamental.

3
LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as democracias morrem. 1 ed. Rio de Janeiro. Editora
Zahar, 2018

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