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Resumos LC
Resumos LC
ª parte)
1. Sophia de Mello Breyner Andresen e João César Monteiro: “um quarto em frente ao
mar” ou como filmar a poesia?
Filme questiona as condições de possibilidade da própria linguagem cinematográfica.
Demonstra que a poesia não é filmável e não adianta persegui-la.
“Muito mais do que um filme sobre a Sophia que, para mim, só de um modo aleatório é
parte dele, o meu filme é um filme sobre o cinema e a matéria nele.”
“A poesia não é filmável e não adiante persegui-la. O que é filmável é sempre outra coisa
que pode ou não ter uma qualidade poética. O meu filme é a constatação dessa
impossibilidade, e essa intransigente vergonha torna-o, segundo creio, poético, malgré-lui.
Creio também, e acho espantoso que a crítica não tenha dado por isso (o que alias, só
reforça uma impressão velha sobre a infinita ignorância dita), que muito mais do que um
filme sobre a Sophia que, para mim, só de um modo aleatório é parte dele, o meu filme é
um filme sobre o cinema e a matéria nele” – filme é resultado de uma reflexão sobre o
cinema: o “cinema não é mais que um itinerário que instaura o reencontro do homem
consigo mesmo”
Cena da criança criticar a mãe é aleatória
“o seu filme é resultado de uma dada reflexão
Plano de Atenas
- Atenas precisava de descer para falar com camponesas alentejana (campo contra
campo, plano vertical e baixo e cima)
- Silhuetas fanstamáticas das camponesas no horizonte - possibilidade de
intercambio ocorreu, transformação deu-se
○ Transformação do próprio pensamento grego; transformação da sociedade
ateniense (evolução num sentido monoteísta) - Atenas encarna a vontade de progresso
Não se segue a ordem da intriga - leva-nos a pensar uma ideia de narrativa por acumulação -
Mãe e filho vêm substituir o par inicial
Com uma forte componente imaginativa e uma notável vertente documental, o filme é uma
reflexão sobre as nossas raízes culturais, passando por séculos de um país com uma longa
história.
Tras os montes, mirandês - vestígios mais antigos de um tempo arcaico Esta região e as
suas tradições folclóricas despertaram igualmente o interesse das(os) cineastas
Caretos são o. diabo
Nesse sentido, o modo como João César Monteiro inicia o filme é já revelador de uma
intenção de demarcar o espaço em que se concentra a narrativa de Veredas. Um espaço
que, no entendimento do autor, não deve ser manipulado, nem profanado, um espaço que
se pretende sagrado – extensa paisagem Numa entrevista concedida a Rodrigues da
Silva, publicada no Jornal de Letras em 1992, César Monteiro revela que a lógica inerente
nos seus filmes é passar da abominação ao sagrado
Admito eu própria algumas dificuldades de compreenao do filme, mas, como já dizia César
Monetiro, “o povo não é simples ou fácil” e “só um insensato pode ter a pretensão de
perceber tudo”.
O que liga os váriso blocos do filme?
Valsa de Diabelli é obsessão do par. – o filme é construído sobre uma série de variações
desta obsessão
É um filme sobre amor e um itinerário
Travessia do Alentejo é continuação da historia da bela-flor: lugar de separação do par, mas
há sequencias da travessia do rio da morte, do esquecimento (pode noa haver perda, mas
há transofmrçaão de relação amorsosa, mae-filhp)
Atena encarna desejo de progresso (monoteísmo)
João Botelho
Faz parte de uma geração de cineastas, junto com JCM, Pedro Costa, João Mário Grilo,
entre outro, que fazem “cinema anti-espetáculo”, formalista e ascético. Quando numa
entrevista em 1996, o questionam acerca de quais as características comuns aos cineastas
portugueses, Botelho responde: “A presença da literatura e sobretudo da poesia nos
filmes, a escolha de enquadramentos secos, com uma composição muito cuidada, uma
montagem descarnada. E a falta de dinheiro, que nos leva a fazer coisas estranhas...”.
A questão da adaptação das obras literárias (e das várias artes, como bem presentes
neste filme, como a música e a ópera) ao cinema volta a entrar em palco na nossa reflexão.
A ideia de cinema (im)puro de Bazin que conjuga elementos de cooperação e “mistura”,
onde vários elementos diferentes se conjugam construindo a melhor experiência possível.
João Botelho é da geração que chega ao cinema depois do 25 de Abril e, neste caso, por
causa do 25 de Abril. A questão da democratização do cinema é muito presente nesta
geração de autores e as suas preocupações sociais reflectem-se nas suas obras: desde a
importância da demonstração da cultura rural e folclórica portuguesa em César Monteiro,
numa componente de classe que é honrada, demonstrada e respeita, a uma questão racial,
como Pedro Costa introduz, do outro lado que não é mostrado.
Duas ideias gerais do filme: (1) autonomia do som dos textos que, quando lidos em voz
alta, se elevam (assim como o cinema), a escrita (a arte) é maior que o seu ator). (2) noção
do tempo cinematográfico
Um filme inquietante, onde os objectos adquirem papéis especiais, desde os sapatos das
mulheres que dançam aos dardos da cena inicial, ou ao tecto dos próprios espaços que
frequentam as personagens, ou a mosca do escritório. O desassossego é expresso na noção
de tempo cinematográfico, “pois é apenas no tempo que a existência indeterminada pode
ser determinável”, perdido na ideia na falta de enredo (“ficção sem ficção”), num filme que
reproduz o sofrimento, a vivência. Quem fala aqui é o poeta e a sua obra, numa dialéctica
constante entre palavras e imagens, provocada pela autonomia dos sons dos textos. Textos
que, quando lidos em voz alta se elevam (assim como o cinema). Como se lia algures, o
mérito do filme é a própria “ordenação” do delírio, numa construção de imagens e
transposição, da importância dos sons e do contraste luz/sombra, na vida, no cinema e na
literatura. “Texto e cinema operam pelo grande plano como um dispositivo de ampliação do
real pela sensibilidade”, é o sensacionismo.
A ordenação do delírio e a noção de tempo cinematográfico são questões curiosas neste
filme. O livro do desassossego tem várias versões, diferentemente ordenadas, pois constitui
um conjunto de textos, de “fragmentos”, pelo que a sua ordenação vai variando. O próprio
filme, não seguindo uma lógica de continuidade, procura levar algum tipo de seguimento
nesta loucura de inspirações e divagações de bernardo Soares.
Resumos Literatura e Cinema (2.ª parte)
João Botelho filma o “infilmável”, pois sabe que o Livro do Desassossego “só existe em
voz alta”, quando o sonho é exteriorizado, numa ideia de literatura alterada, pois filma a
confusão, a não-história. Tenta captar aquela que é a essência da obra, a ligação da
imagem-palavra-som. Como diz Fernando Pessoa numa das cenas iniciais, “a arte de quem
escreve para Orfeu só serve para poucos” – assim como a arte (o cinema, aqui) só serve
para poucos (para os loucos).
O papel da arte, não como vimos em filmes anteriores onde se coloca a questão de para
quem, até como, vem de maneira diferente: para quê? O indivíduo e a sociedade, em
contraposição são uma marca: nos elementos de classe introduzidos, no deslocamento e
comportamentos estranhos de Bernardo Soares e na sua contemplação (e reflexão) do
espetáculo que o rodeia. Procura-se a conexão humana: e é bem palpável a intimidade e
aproximação que se materializa na troca da arte, visível quando BS oferece a FP o manifesto
da sua obra, como uma extensão da fragmentação do EU destes.
Apesar de considerá-lo indiferente ao sofrimento alheio (a não ser para aprofundar a sua
escrita), pelo filme há vários elementos introduzidos de diferenças sociais: quem serve e é
servido – até na fila da sopa dos pobres, quando há uma espécie de semi-diálogo, onde há
uma contradição entre as “dores de cabeça” de Bernardo Soares, homem sofrido por
condição coincidente de existência, e os que se encontram na fila, pela condição material de
classe.
A iluminação do filme é outro importante elemento, na batalha constante entre luz e
sombra demonstra também o conflito interno que surge destas reflexões. BS tem medo do
escuro, da trovoada, da confrontação com o sofrimento; mas despreza a luz, o contacto com
a realidade e a observação do espetáculo em seu redor.
Bastou para o Filme do Desassossego ter sobre si o pendor da adaptação, neste caso, o
título, para ter sobre si uma hipoteca identitária. O cinema é o plano em que a literatura se
pode pensar e ver na sua relação com todas as outras coisas e todas as outras artes, a
começar pela própria literatura, e este filme é a prova disso. A adaptação não tira a pureza
do cinema, pois não procura “muletas” na literatura, pelo menos não este cinema. A riqueza
vem deste processo e neste caso da unidade entre literatura e cinema, entre as obras e todo
Resumos Literatura e Cinema (2.ª parte)
o seu potencial. O cinema, como arte imortal, nunca perderá o seu lugar no pódio dos
deuses, pois, a meu ver, ele traz-nos algo que nem todas as artes consegues: a capacidade
de não só nos inquietar, mas ajudar-nos a fugir da vida, ao mesmo tempo que às vezes
queremos fugir deste.
Cena da taberna
“plano-sequência”, de seguimento de acções que culmina com a cena da briga, constitui
a expansão (para diante e para os lados e dentro) e a densificação que define a “textura”
desse tempo,
Travelling (cena dos dardos, FP a BS) une o espaço (Bazin), densificando-o como corpo
Aumentar das emoções quando o homem começa a cantar na taberna, acção que
provoca algum desassossego nos outros (do seu lado da barreira social). O escalar da
situação, de certa forma até assemelhável a um contexto de luta de classes, culmina numa
pseudo-tragédia – como espectadores do mundo Bernardo Soares e Fernando Pessoa
apenas observam.
A partir daqui (acho) FP e BS (des)fragmentam-se e separam-se e Bernardo Soares
vagueia na sua autonomia, sempre à escuta das conversas de estranhos, a observar os
detalhes das interacções que o rodeia
Cena espelho
Bernardo Soares, quando no espelho admite que “entre mim e a vida há um vidro ténue,
por mais nitidamente que seja a vida não lhe posso tocar”. Voltamos novamente à questão
das barreiras intransponíveis d’Os Verdes Anos.
“No Livro do Desassossego, as máscaras, os espelhos, as faces do rio são superfícies de
reflexo e meditação quando a proximidade extrema do objecto do nosso olhar, a
indeterminação dos “sonhos vagos” ou a luz demasiado forte dissolve os contornos e liberta
um “rosto à deriva”, um rosto-paisagem”
“O criador do espelho envenenou a alma humana.” (L.D.)
estrutura ao diálogo, mas sem haver história, apenas uma falsidade desta. “O livro detém
uma qualidade fragmentária com que se esquiva ao conforto da narrativa sequencial e
tematicamente focada: não tem princípio nem fim”, assim como o filme.
O filme é feito sobre a palavra (literatura e cinema), pelo que não quer imagens em
movimento que possam “distrair” o espectador.
“Vinte e oito anos depois, ao voltar a Fernando Pessoa em Filme do Desassossego,
Botelho agiria de maneira totalmente diversa e multiplicaria os cenários, transformando, de
maneira elaborada, reconhecíveis cenários naturais em Lisboa em espaços puramente
cinematográficos, por vezes espetaculares.”
A imagem do Filme é uma imagem-massa=volume=fluxo (abstracta), diferente de
Conversa Inacabada onde imagem-puzzle.
“não temos aqui a lógica: estética (modernista) da “transparência” de conversa aberta,
mas sim uma concepção de “forma” barroca e como massa