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Os estudos de gramática na escola devem ser vistos com uma questão de grande

relevância. Segundo Possenti (1996) há 3 concepções de gramática

Ao ler o prefácio da Gramática Escolar da Língua Portuguesa (2ª edição), do ano


de 2010, de Bechara, observamos um sujeito/autor que proclama dois distintos
discursos. Se por um lado o discurso do autor possui certa carga de modernidade, como
quando fala em “fatos linguísticos” adicionados à gramática com a interferência e
contribuição que leitores e colegas fizeram sobre a primeira edição, bem como à
menção de que a 2ª edição possui redação mais clara, isso, talvez se justifica na
necessidade de o gramático buscar uma garantia, ou seja, uma concessão participativa
em relação às regras, o lado linguista do autor para inscrever seu trabalho, contudo, não
abandona a teoria gramatical e a tradição gramatical, quando menciona, por exemplo
que a referida gramática surge com o objetivo de “alargar a competência idiomática dos
usuários”.
Por falar em “redação mais clara de algumas passagens”, será que, de fato, há
essa clareza na gramática normativa de Bechara? Vejamos.
O autor inicia a gramática fazendo uma introdução com Fundamentos da teoria
gramatical, no qual, inclusive, escreve um tópico sobre os saberes da competência
linguística, afirmando que a língua não é o único elemento que utilizamos para nos
expressar, no entanto, há a necessidade de dominar 3 saberes: elocutivo, idiomático e
expressivo. Ao falar sobre o saber elocutivo, o autor coloca entre as definições, que tal
saber “consiste em falar em conformidade com: a) os princípios gerais do pensamento”
(BECHARA, 2010, p. 7-8), o que lembra as concepções de linguagem, abordadas por
Travaglia, a concepção de Linguagem como expressão expressão do pensamento afirma
que as pessoas não se expressam bem porque não pensam; Bechara inclusive dá alguns
exemplos daquilo que considera “mau desempenho do saber elocutivo”, um dos casos
exemplificados é a do falante que cita equivocadamente um cidade brasileira qualquer,
julgado se tratar da capital, ou seja, demostrando falta de domínio de certas
informações. Ao falar sobre o saber idiomático, o autor enfatiza o saber e a norma
tradicional. O autor segue e escreve um tópico diferenciando “O exemplar e o correto”,
caracterizando este como “juízo de valor” que depende da funcionalidade de qualquer
variedade regional, social ou de estilo, o que, por exemplo, pode considerar como
normal e aceito dizer “hoje é cinco”, já a língua exemplar estrutura-se num uso de
língua de acordo com a sua etiqueta social, ou língua histórica e é justamente este tipo
de língua que a gramática normativa leva em conta, o autor inclusive dá destaque em
negrito ao fazer tal afirmação, apesar de também deixar claro que o correto e o exemplar
contemplam a competência linguística geral do falante.
Para concluir a teoria gramatical, Bechara faz um tópico para diferenciar a
Gramática descritiva e a normativa.
Sobre a descritiva, o autor afirma que se trata de uma “disciplina de natureza científica”,
que “não está preocupada em estabelecer o que é certo ou errado no nível do saber
idiomático.” (BECHARA, 2010, p. 14). Já sobre a gramática normativa, o autor diz que
...não é uma disciplina com finalidade científica e sim pedagógica, elenca os
fatos recomendados como modelares da exemplaridade idiomática para
serem utilizadas em circunstâncias especiais do convívio social.
A gramática normativa recomenda como se deve falar e escrever segundo o
uso e a autoridade dos escritores corretos e dos gramáticos e dicionaristas
esclarecidos. (BECHARA, 2010, p. 14- grifos do autor)

A normatização da língua permanece em evidência na tessitura enunciativa que,


inclusive, apela quando afirma que ela é a utilizada por pessoas tidas como referência e
de importância, como dicionaristas, gramáticos e escritores corretos, chama-se a atenção
para os adjetivos esclarecidos e corretos, é como se a gramática normativa fosse a única
fonte para o sucesso, o único caminho correto para quem almeja ocupar bons espaços na
sociedade.
Em seguida, ao falar do tópico Sujeito e Predicado, o autor limita-se a dizer que
o termo referente de uma predicação se chama sujeito (BECHARA, 2010, p. 15)

Gramática consultiva

A gramática com sua função consultiva serve aos interesses da Instituição Escolar e
daqueles que esmeram por um tratamento estético da língua

“o domínio efetivo e ativo de uma língua dispensa o domínio de uma metalinguagem


técnica.” (POSSENTI, 1996, p. 53)
“Não vale a pena recolocar a discussão pró ou contra a gramática, mas é preciso distinguir
seu papel do papel da escola — que é ensinar língua padrão, isto é, criar condições para seu
uso efetivo. É perfeitamente possível aprender uma língua sem conhecer os termos técnicos
com os quais ela é analisada.”

“surgem no segundo século antes de Cristo apenas, e não surgem para que possam ser
aprendidas pelos falantes, mas para orgenizar certos princípios de leitura que permitissem
ler textos antigos, exatamente porque o grego ia mudando e, sem poder aprender o grego
antigo, como poderiam os novos falantes entender textos antigos?” os gregos escreveram
antes de existir gramática

Conhecer a língua e conhecer a gramática são coisas diferentes, assim como saber
regras e saber usá-las também são conceitos diferentes.

REFERÊNCIAS

BECHARA, Evanildo. Gramática escolar da língua portuguesa. 2. ed. Rio de


Janeiro: Nova Fronteira, 2010.

POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP:
Mercado de Letras, 1996.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de


gramática. 11 ed. São Paulo: Cortez, 2006.

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